Há cerca de dez anos, pouco mais pouco menos, diria que desde 1995 (não tenho certeza - parece ser o início da internet no Brasil), as revistas, os vídeos, os textos, nada disso circulava com a facilidade de hoje. Depois, com a internet muita coisa nova começou a surgir e por um pequeno período os pequenos portais se tornaram famosos. Até a inauguração dos portais dos veículos de comunicação já conhecidos foi o primeiro período em que “os pequenos” tiveram chance. Até então o que se produzia para internet era, por assim dizer, novo. As imagens começaram a circular com mais facilidade e a partir de um tempo se tornava necessário “digitalizar” o mundo anterior.
Fazendo uma analogia, ao se lançar o
compact disc, o
long play (o popular vinil) se torna “obsoleto” e então se inicia o lançamento dos mais importantes álbuns na nova mídia. Da mesma forma com o DVD, o VHS se tornou obsoleto, assim começou o lançamento de filmes na nova mídia. Porém aí há uma novidade: a velocidade em que o DVD substituiu o VHS. Primeiro por um valor muito mais acessível, depois porque o cd já havia aberto um caminho entre a informática e o conteúdo cultural (aqui definido como música, cinema, vídeo) já tinha uma demanda a ser atendida.
Mas, esse conteúdo cultural, ao passo que a nova mídia – a internet – era exigida, não dava respostas seguras, como até hoje ainda há lacunas. Isso se dá por causa da interatividade que esta proporciona. Os jornais, as revistas, a televisão, o cinema, a música, todas eram mídias em que a interatividade era muito pequena, que era feira através das “cartas à redação”, das vendas e da reação do público. E esta é uma diferença entre a internet e as outras mídias. Hoje o público pode também produzir conteúdo (o que é maravilhoso).
Mas e quanto ao conteúdo produzido antes da internet? Muita coisa passou para a mídia eletrônica e esta disponível hoje, digitalizado. O que ainda não foi, fica como os discos não transformados em cd: na expectativa de um dia serem laureados. A seleção passa muitos critérios. Mas pensar que uma enciclopédia, de papel, é hoje algo “do passado”, está na mesma situação de acreditar que tudo na internet está certo, correto, atendendo a realidade das coisas. Por incrível que pareça, até o universo científico já sabe disso. Ao abordar os critérios de identificação de fontes, de referencias, existe um critério de se colocar data de quando um determinado site foi consultado. Isso já demonstra a durabilidade dos dados virtuais. Um dia o site pode estar disponível, no outro some ou muda. Dado este entendimento é que se compreende porque livros ainda são escritos. E mais: livros de textos oriundos do espaço virtual.
Por estas e outras questões, as referencias oriundas da internet hoje são “questionadas”. Há textos de Arnaldo Jabor que ele nunca escreveu; até o Mário Quintana às vezes lança um “inédito”... Mas isso não quer dizer que a opinião emitida por muitos sites, ou seja, conteúdo novo, não seja de valor. O que se faz hoje vai ter valor histórico daqui a algum tempo. Não se sabe quando. Pode ser dez anos, pode ser menos ou mais. Tudo é uma questão de chute. Mas o importante é curtir os momentos. E também curtir os momentos anteriores à internet. Eis porque se torna importante hoje a construção de centros culturais, museus, e principalmente um coisa bastante simples: bibliotecas. Não me lembro de nenhuma campanha política falando de bibliotecas. Hoje elas são algo “do passado”. Agora a idéia é a internet. Sim, é muito mais barato equipar as escolas com máquinas, disponibilizar espaços seguros, disponibilizar novas infra-estruturas, treinar professores, do que usar os recursos que não existem, com professores que não lêem, e bibliotecas sem livros. Realmente é um “admirável mundo novo”.
O pior que este texto vai ser um daqueles em que os maus leitores vão questionar: “você é contra a internet?” Que, óbvio, deve partir de mentes que não leram sequer dez livros na vida... Principalmente por ser eu um dos mais ligados a internet. E a quero livre, sempre. Não quero ter que perder a minha liberdade por mau uso de outros. E este uso, por enquanto, ainda se aprende de forma tradicional: com os pais e com os professores, de preferência nos bons livros.
De onde tirei estes pequenos questionamentos? De um texto singular que não conhecia chamado
Dos Capangas às Orquídeas, escrito por Miquel Adría. Não tenho mais o que dizer além de que uma sociedade só muda se houver qualidade. Para ser mais exato, de onde não tem nada, nada vai surgir mesmo. Não entendo por que com todas as mazelas existentes no Brasil, ainda continuamos a agir como se nada acontecesse, e uma imensidão de blogs retratam o situação como naquele comercial das Havaianas, onde quando questionados sobre a atuação situação, a crise, etc., alguém diz tristeza, e logo começam a tocar
Tristeza... Nada mais brasileiro que aquilo. Diga-se: não é o primeiro comercial em que apresenta esta mesma temática... Não vou me indignar, como era na minha adolescência nos anos 1990, em que se reclamava de tudo e nada mudava. Mas as respostas existem. E elas não estão nas mídias e sim no conteúdo cultural.