outubro 28, 2011

Por que a Europa continua sendo o centro do Mundo...

Colocar um continente em crise, com um modelo econômico que não me agrada, uma sociedade que está hoje à beira do colapso (só este item já era assunto para um livro inteiro, não só mais uma postagem), como centro do mundo pode parecer uma contradição, mas no fundo não é. Obviamente existem outros lugares onde se vive muito bem, como exemplo a Índia, onde a cultura permanece ainda mais preservada (os costumes, aqueles que na Europa e Estados Unidos andam em crise, e que no Brasil só existia no “antigamente”...), os Estados Unidos, onde se há ainda uma enorme qualidade de vida, assim como modelo econômico de Singapura, etc. Mas nada substitui a Europa em termos de produção cultural. Li esta coluna que reproduzo abaixo e fiquei a pensar em quanto eu não pertenço à “classe média alta paulistana” e consigo concordar em praticamente tudo no que escreve a jornalista.

Além de não pertencer a classe média alta, esta para qual o texto está escrito, consigo entender muitas coisas que diz, principalmente a cada tempo eu observo ao meu redor e vejo as pessoas se pautarem nesse modelo fútil – ou, como diriam os comunistas, pequeno-burguês. Eu ando de transporte público com a mesma simplicidade com a qual eu janto num restaurante mais caro, assim como ando de carro com a mesma tranquilidade e, com certeza, bem menos stress que o pessoal do referido texto. Eu sempre acho irônico quando vou a alguma obra naqueles edifícios de escritórios, onde “executivos e executivas” desfilam com todo seu stress os seus trajes mais finos e suas maquiagens mais delicadas... A única palavra que vem a cabeça é “wannabe”.

Mas deixando de lado os que não sabem viver, talvez porque nunca se questionaram, vale a pela a reportagem.

Porque a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos

Adriana Setti

No ano passado, meus pais (profissionais ultra-bem-sucedidos que decidiram reduzir o ritmo em tempo de aproveitar a vida com alegria e saúde) tomaram uma decisão surpreendente para um casal – muito enxuto, diga-se – de mais de 60 anos: alugaram o apartamento em um bairro nobre de São Paulo a um parente, enfiaram algumas peças de roupa na mala e embarcaram para Barcelona, onde meu irmão e eu moramos, para uma espécie de ano sabático.

Aqui na capital catalã, os dois alugaram um apartamento agradabilíssimo no bairro modernista do Eixample (mas com um terço do tamanho e um vigésimo do conforto do de São Paulo), com direito a limpeza de apenas algumas horas, uma vez por semana. Como nunca cozinharam para si mesmos, saíam todos os dias para almoçar e/ou jantar. Com tempo de sobra, devoraram o calendário cultural da cidade: shows, peças de teatro, cinema e ópera quase diariamente. Também viajaram um pouco pela Espanha e a Europa. E tudo isso, muitas vezes, na companhia de filhos, genro, nora e amigos, a quem proporcionaram incontáveis jantares regados a vinhos.

Com o passar de alguns meses, meus pais fizeram uma constatação que beirava o inacreditável: estavam gastando muito menos mensalmente para viver aqui do que gastavam no Brasil. Sendo que em São Paulo saíam para comer fora ou para algum programa cultural só de vez em quando (por causa do trânsito, dos problemas de segurança, etc), moravam em apartamento próprio e quase nunca viajavam.

Milagre? Não. O que acontece é que, ao contrário do que fazem a maioria dos pais, eles resolveram experimentar o modelo de vida dos filhos em benefício próprio. “Quero uma vida mais simples como a sua”, me disse um dia a minha mãe. Isso, nesse caso, significou deixar de lado o altíssimo padrão de vida de classe média alta paulistana para adotar, como “estagiários”, o padrão de vida – mais austero e justo – da classe média europeia, da qual eu e meu irmão fazemos parte hoje em dia (eu há dez anos e ele, quatro). O dinheiro que “sobrou” aplicaram em coisas prazerosas e gratificantes.

Do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. A classe média europeia não está acostumada com a moleza. Toda pessoa normal que se preze esfria a barriga no tanque e a esquenta no fogão, caminha até a padaria para comprar o seu próprio pão e enche o tanque de gasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga por conviver com algo totalmente desconhecido no nosso país: a ausência do absurdo abismo social e, portanto, da mão de obra barata e disponível para qualquer necessidade do dia a dia.
Traduzindo essa teoria na experiência vivida por meus pais, eles reaprenderam (uma vez que nenhum deles vem de família rica, muito pelo contrário) a dar uma limpada na casa nos intervalos do dia da faxina, a usar o transporte público e as próprias pernas, a lavar a própria roupa, a não ter carro (e manobrista, e garagem, e seguro), enfim, a levar uma vida mais “sustentável”. Não doeu nada.

Uma vez de volta ao Brasil, eles simplificaram a estrutura que os cercava, cortaram uma lista enorme de itens supérfluos, reduziram assim os custos fixos e, mais leves,  tornaram-se mais portáteis (este ano, por exemplo, passaram mais três meses por aqui, num apê ainda mais simples).

Por que estou contando isso a vocês? Porque o resultado desse experimento quase científico feito pelos pais é a prova concreta de uma teoria que defendo em muitas conversas com amigos brasileiros: o nababesco padrão de vida almejado por parte da classe média alta brasileira (que um europeu relutaria em adotar até por uma questão de princípios) acaba gerando stress, amarras e muita complicação como efeitos colaterais. E isso sem falar na questão moral e social da coisa.

Babás, empregadas, carro extra em São Paulo para o dia do rodízio (essa é de lascar!), casa na praia, móveis caríssimos e roupas de marca podem ser o sonho de qualquer um, claro (não é o meu, mas quem sou eu para discutir?). Só que, mesmo em quem se delicia com essas coisas, a obrigação auto-imposta de manter tudo isso – e administrar essa estrutura que acaba se tornando cada vez maior e complexa – acaba fazendo com que o conforto se transforme em escravidão sem que a “vítima” se dê conta disso. E tem muita gente que aceita qualquer contingência num emprego malfadado, apenas para não perder as mordomias da vida.
Alguns amigos paulistanos não se conformam com a quantidade de viagens que faço por ano (no último ano foram quatro meses – graças também, é claro, à minha vida de freelancer). “Você está milionária?”, me perguntam eles, que têm sofás (em L, óbvio) comprados na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, TV LED último modelo e o carro do ano (enquanto mal têm tempo de usufruir tudo isso, de tanto que ralam para manter o padrão).

É muito mais simples do que parece. Limpo o meu próprio banheiro, não estou nem aí para roupas de marca e tenho algumas manchas no meu sofá baratex. Antes isso do que a escravidão de um padrão de vida que não traz felicidade. Ou, pelo menos, não a minha. Essa foi a maior lição que aprendi com os europeus — que viajam mais do que ninguém, são mestres na arte dosavoir vivre e sabem muito bem como pilotar um fogão e uma vassoura.

PS: Não estou pregando a morte das empregadas domésticas – que precisam do emprego no Brasil –, a queima dos sofás em L e nem achando que o “modelo frugal europeu” funciona para todo mundo como receita de felicidade. Antes que alguém me acuse de tomar o comportamento de uma parcela da classe média alta paulistana como uma generalização sobre a sociedade brasileira, digo logo que, sim, esse texto se aplica ao pé da letra para um público bem específico. Também entendo perfeitamente que a vida não é tão “boa” para todos no Brasil, e que o “problema” que levanto aqui pode até soar ridículo para alguns – por ser menor. Minha intenção, com esse texto, é apenas tentar mostrar que a vida sempre pode ser menos complicada e mais racional do que imaginam as elites mal-acostumadas no Brasil.

outubro 07, 2011

Saxon - Unleash the Beast

Depois do show do Saxon, em 1998, um amigo – um dos mais próximos de todos os tempos -  me disse que parei de falar sobre Saxon. Faz sentido lembrando do show do Monsters of Rock...


Mas o álbum Unleash the Beast, ao lado de Innocence is no Excuse, é um dos meus álbuns prediletos desta banda que parece ser um pouco obscura para os padrões brasileiros. O Saxon não deve ter uma legião de fãs muito grandiosa, porém, estes álbuns caem tão bem aos ouvidos – ouvidos de ouvinte de Heavy Metal, diga-se; não tenho por objetivo ser “eclético” e nem mesmo “aberto à novos sons”. 


Faixa atrás de faixa, este álbum guarda muitas nuances que só o tempo vai mostrando. Claro, à primeira audição pareceu extremamente pesado, principalmente comparando ao que esperara encontrar. O ano era 1997 e o Saxon viria em turnê para o Brasil. Não vi outro show do Saxon, a não ser o já citado, em 1998. Mas todos me falaram que perdi um super show em 1997 (falam também do show do Scorpions em 1994 – pelo menos esta banda eu cheguei a ver em 1997). Nem sei sobre os lançamentos do Saxon no período posterior a este álbum, mas já é esperado um novo álbum este ano de 2011. Mas Unleash the Beast continua a ser um álbum que muito me agrada. Na época, a minha história com este álbum foi incrível. Nem lembro ao certo o que me motivou a comprá-lo, mas sem dúvida entrou para a minha lista dos álbuns mais interessantes.

Iron Maiden

Uma das bandas mais famosas do mundo e nunca havia escutado com mais calma em toda a minha vida... Pois é uma das daquelas idiossincrasias das quais somos cometidos de quando em quando...
Porém, acabei de comprar um cd – sim, um compact disc, como aqueles da década de 1990. Foi o Somewhere in Time, simplesmente a segunda melhor capa do Iron Maiden e um disco excelente do começo ao fim.  Eu sou um fã das capas de discos – aqueles em vinil – do Iron Maiden. Acho os desenhos incrivelmente fantásticos. Assim como a capa de Rest In Peace, do Megadeth, acho Killers algo inacreditável de tão bem desenhado! Essa é a minha capa número um. E, claro, o disco também é. Não sou um fã de Dianno, mas o disco tem faixas que em minha adolescência curti de forma alucinada! Iron era, ao lado de Metallica, uma das bandas ícones da minha adolescência. Incrível como eu sou um fã de Black Sabbath e Ozzy – este um fã até das besteiras – e não fui um fã alucinado de Iron... Nunca entendi o porquê disso, mas...

Os cd’s ainda têm em mim um fascínio, um pouco diferente do vinil que lembra a infância – sim, eu curti o disco do Balão Mágico -, mas muito próximo. Acho que a ideia de álbum é ainda, para mim, uma ideia que poderia permanecer; a ideia de uma obra que tem em várias músicas, a continuidade. Hoje, ao passar na Livraria Cultura – dizem ser a maior da América Latina, na Avenida Paulista – vi o lançamento de uma caixa de cd’s do Pink Floyd, com aqueles álbuns que formaram o imaginário da minha adolescência – aquele disco com a vaca na capa; ia à Galeria do Rock e olhava os discos usados (vinil usado) e sempre aparecia este – todos remasterizados. Esta realmente é uma banda que continuo passando ao largo; do Pink Floyd continuo a curtir somente o The Wall.

Mas voltando ao Iron Maiden, o fator atividade conta muito. Em 1990, aos meus incríveis 14 anos, lembro do lançamento do disco No Player for the Dying, que meu tio comprou em K7 (será que alguém ainda lembra de K7?). Em 1992 fora lançado o Fear of the Dark, e a banda tocava constantemente na MTV, que era assíduo telespectador (nem sei se era tão assíduo, pois vários programas nem lembro e muitos amigos falam ter sido os melhores anos da MTV...). E a banda segue, com a variação da saída de Bruce Dickinson e sua volta triunfal ao final dos anos 1990, junto com Adrian Smith - cujo show, Bruce Dickinson e Adrian Smith, tive o enorme prazer de assistir na pista de atletismo do ginásio do Ibirapuera em 1997 – produzindo sons com qualidade equivalente, mesmo que os fanáticos digam nem ser a mesma banda... Para quem é fã realmente há diferenças marcantes... Não poderei nuca discutir sobre isso... Mas ouvir um disco de 1986 e continuar a achar ele especial é porque realmente a força desta banda ultrapassou a barreira que todas as bandas almejam: a imortalidade clássica!

Poderia fazer um apêndice sobre o Metallica, cujo show recente no Rock in Rio não deixou dúvidas que é uma banda que tem um passado de peso e qualidade inquestionável. Porém, desde 1991 não consegui curtir nenhum álbum da mesma forma – sendo o Black álbum já algo a se questionar, mesmo eu tendo uma grande estima por este álbum (um dia poderia até escrever sobre ele em Diary of a Madman).

Bem, se alguém ainda tem dúvidas sugiro a audição de Somewhere in Time. Como já falei por aqui, Alexander the Great é uma das faixas que admiro muito!

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...