fevereiro 04, 2008

“Flying in a blue dream”

O mais legal das praias, de Santa Catarina, Rio de Janeiro como do Guarujá ou litoral norte de São Paulo, é que cada pedacinho de areia parece sempre diferente. Desde a praia do Tombo, até Laranjeiras, tudo parece flutuar... E nada melhor que escutar o meu disco predileto do Sr. Satriani...
Lá no começo dos anos 1990, quando ia constantemente para a Vila Caiçara, na Praia Grande, costumava fazer este disco ecoar na quadra da minha casa. Se não era Satriani, era Steve Morse e suas “Tumeni Notes”... Em dias menos inspirados, fazia uma seleção de fitinhas K7 com sons variados, entre clássicos como “Born to be Wild” de Steppenwolf, “Cocaine” de Eric Clapton, principalmente uma versão ao vivo de 1977, “Hey You” de Bachman-Turner Overdrive e “My Generation” do Who, ou baladas como “Hotel California” dos Eagles, “Behind Blue Eyes” do Who ou “Love Hurts” do Nazareth.

O engraçado que muita coisa que ouvia no final dos anos 1980, como Manowar, Metallica e Slayer, naqueles anos de praia, quase todos os finais de semana, não rolavam muito bem... Lembro, em 1993, de fazer meus pais, tios e convidados implorarem para trocar uma fitinha K7 com a gravação do novo disco do Deep Purple, “The Battle Rages on...”. Bom lembrar desses anos... O mais interessante que tinha uma enorme quantidade de fitas K7 de cantores como Dio e Ozzy Osbourne, e bandas como Whitesnake e Van Halen, e não lembro de nenhuma vez escuta-los na praia. Lembro de escutar o “Balls to Picasso” de Bruce Dickinson, mais nada...

Se um dia escrever um diário de memórias, com certeza ele será regado de músicas e momentos, como o de ouvir “Sinner” do Judas Priest durante a aula de desenho técnico na Escola Técnica Federal. Era de uma fitinha gravada por uma amiga minha que era fã de Judas Priest. Eu não conhecia praticamente nada da banda. Ela gravou a fita para me apresentar a banda, e logo muitas das músicas que selecionou eu não parava de ouvir, como “Hell Bent for Leather”, “Exciter”, “Painkiller” e “Breaking the Law”.

Um momento mágico para mim foi assistir ao filme “Alta Fidelidade”. Não lembro nem quando foi direito, se não me engano em 2004. O filme já era, digamos, “velho”, como sempre eu vejo os filmes muito tempo depois de lançados. É um filme que o personagem principal fazia uma seleção de músicas e gravava numa fita K7 e entregava para sua “amada” da época. O interessante que ele fazia sempre um Top 5 de tudo, inclusive de suas ex-namoradas. Uma maravilha de filme! O que me identifiquei muito foi o fato de também fazer fitas K7 para presentear. Não à toa ganhei aquela do Judas Priest. Presenteei uma vez uma fita K7 com músicas selecionadas de três álbuns do Mr. Big. Foi um bom resultado! E a última fita que fiz foi em 2003, o que já estava defasado, pois os cd´s já dominavam praticamente tudo... Era uma gravação do lado A com músicas de Dave Lee Roth e o lado B com Sammy Hagar, incluindo uma única música de sua carreira fora do Van Halen: “Red Voodoo”. O pior que foi num momento que cismei em não cortar mais o cabelo até que me formasse na faculdade... Seis meses de “cachinhos castanhos”... Estava com a cara do Sammy Hagar em OU812... O pior foi um amigo que mora nos Estados Unidos de passagem por aqui disse que meu cabelo parecia o do Eric Marmo na novela “Mulheres Apaixonadas” (que passava na Rede Globo à época). Foi a fase Sammy Hagar II...

O interessante de gostar muito de música que em certo ponto se tenta começar a tocar. Descobri logo de cara que tinha certa tendência para tocar blues, mesmo gostando muito mais de rock´n roll. Até hoje, quando toco, por puro hobbie, acabo indo para um formato blues. Tentei em três momentos formar uma banda. No terceiro fiz três shows e descobri que não era o que eu queria. Compor e tocar são coisas interessantes, mas fazer show nem tanto. Um tanto de nervosismo e outro tanto de insegurança, mas o que mais eu não gostei foi da exposição. No primeiro show, fiquei sentado num banquinho o tempo todo. Nos poucos momentos que meus solos apareceram eu queria era me esconder. Só havia amigos vendo, o que foi ótimo. Nos outros dois shows foram numa feira de artesanato chamada Festart. Onde havia mais gente e muito menos gente prestando atenção no que tocávamos. Chegamos a tocar a mesma música por quatorze minutos, entre solos e improvisos. E no segundo show da Festart tocamos uma música da Legião Urbana. Foi ali que comecei a pensar em quanto estava fugindo do que eu imaginava tocar. Eu detesto Legião Urbana e tocar “Será” estava sendo estranho, ainda mais porque a versão ficou péssima. Depois disso resolvi que não teria banda, pelo menos por um tempo. Imaginava eu tendo uma banda e tocando “Flying in a blue dream”...

O que achei maravilhoso de tocar no Festart que era uma local ao ar livre, numa praça, e o meu amplificador Fender ecoava no meio daquele cenário. Uma sensação incrível! Toquei de chinelos, como sempre sonhei. Acredito que por ter visto em 1999 um show de Gilberto Gil (show fechado, em homenagem por ter ganhado o Grammy) fiquei impressionado com todos os músicos tocando descalços e todos vestidos de branco. Desde então acho que tenho que tocar sempre de chinelo ou descalço. Ano passado, ao assistir o “Altas Horas”, a cantora Luiza Possi também tocou descalça. Não vou dizer que é 100% original, mas me agrada muito a idéia.

Bem, passada a idéia de ser músico, tive também a oportunidade de fazer um teste para ser apresentador de televisão. Nem deveria ter ido em frente para fazer o teste. Duas outras oportunidades que tive de aparecer na TV foram péssimas. Uma foi uma entrevista para MTV em 1998, no workshop do guitarrista Yngwie Malmsteen e a outra foi uma participação num programa de mesa redonda na AllTV, onde fiz o teste. Na entrevista travei e não conseguia falar coisa com coisa, além disso, estava emocionado por ter visto o Malmsteen tocar “Too Young To Die Too Drunk To Live” minutos antes, música da época em que tocava na banda Alcatraz, que para um fã como eu tinha sido um momento mágico. A mesa redonda eu simplesmente fiquei quieto. O coração batia desesperadamente e não conseguia emitir nenhuma frase com mais de três palavras, algo como “muito bem”, “é, eu gosto” e “ta bom”. O teste foi interessante. Gostei muito de fazê-lo, na verdade. Fiz uma pauta interessante sobre política, mas com os três minutos que tinha, falei tudo em 45 segundos, muito rápido e sem técnica alguma, ainda mais que não estava nem um pouco acostumado a ouvir minha própria voz no fone de ouvidos, o que dá uma sensação de ser extraterrestre ou estar participando de um filme de ficção científica. Logicamente eu não passei, mas a história entra para minha lenda pessoal.

Após estas duas experiências que foram muito próximas até, eu resolvi que se um dia fosse trabalhar com algo diferente que a arquitetura seria a escrita. Pensei no rádio, mas quando me dei conta que nunca escuto rádio, a não ser quando o jogo do Corinthians não vai passar na televisão (mesmo assim, às vezes só assisto aos gols no Jornal da Globo) ou quando vou escutar rádio, posiciono na CBN... Logo, eu não escuto a tão falada rádio Kiss FM que é um das poucas rádios segmentadas (em classic rock) de São Paulo e nenhuma outra. O que da margem aquela cara de “não sei do que está falando” quando me falam de uma música nova, que “toca direto no rádio”. Já a escrita me dá margem de escrever só dependendo de mim. Não existe a idéia de uma banda. Mas na verdade o meu erro é não ter estudado música num conservatório. Ter estudado algum instrumento de orquestra, como violino ou piano. Esta seria uma base muito melhor para mim que o estudo dos violões e das guitarras. Mostra disciplina e trabalha o que mais eu tenho problemas que é fazer atividades coletivas. Quando jogava futebol era goleiro. Detestava jogar basquete na escola e o vôlei só é interessante por não haver contato físico entre os jogadores. No fundo prefiro muito mais assistir a jogar. Gostava mesmo de natação e agora estou na minha fase de “atletismo”. Já passei pela de ciclismo, e quem sabe um dia ainda não faço triatlo. Como sempre digo, felizmente sou arquiteto... Não sei se conseguiria ser um atleta profissional ou um músico profissional. Não vou dizer como às vezes é chato demais compatibilizar o forro com o ar condicionado ou mesmo adequar os montes de quadros de energia, relógios de água e luz, tomadas, etc. Mas faço com um prazer que não sei da onde vem. Se todo mundo trabalhasse assim... Seria escutar “Flying in a Blue Dream” o tempo todo...

Um comentário:

João Batista disse...

Também só joguei como goleiro, na maioria das vezes ao menos. É a única posição humanamente digna do esporte, tanto que até tem um status especial, veja só, quando o goleiro pega a bola, se torna intocável como a realeza. Daí que todos os outros dez invejosos do time adversário tentem humilhá-lo fazendo um gol. Rsrs.

Hoje, gosto de esgrima, kendō e tiro esportivo, mas não pratico nada. As artes marciais estão ao meu alcance, mas exigem tempo demais. São boas para crianças e desocupados (alguém deveria abrir uma ONG para botar crianças abandonadas e mendigos em aulas de kendō... rsrs). Para mim, basta um facão que eu coloco essa disciplina toda de lado e vou ao estilo Rambo. Tiro nem ao alcance está, isto é, tecnicamente é permitido por lei, mas praticamente impossível de exercitar devido a taxas meteóricas e uma limitação de munição anual que lhe permite apenas uma quantidade risível de balas para praticar.

Na verdade, crianças abandonadas também poderiam receber aulas de tiro esportivo: http://www.4-hshootingsports.org/ . Que tal abrir um “instituto” Viva São Paulo e botar crianças pobres para praticar tiro esportivo? Rsrs. Seria um escândalo.

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...