fevereiro 02, 2008

Quantidade de informação...

Certa vez, para ser mais exato dia 2 de setembro de 1995, fui a um workshop de um guitarrista chamado Marty Friedman. Na época tocava no Megadeth, uma banda que definiria como speed metal, trash metal, ou sei lá, megadeth, ta bom... Já diz tudo... E nesse workshop Friedman mostrou muito do que se chama de carisma. Conversou com todo mundo, tocou guitarra, executou muitas músicas de seus álbuns, que entre outros produtores tem Kitaro. Na sua obra, Friedman coloca inúmeros orientalismos em seus temas e é basicamente uma obra instrumental, tocada com violões, sendo a guitarra como moderadora, valorizando os temas. Já sua obra anterior, junto ao guitarrista Jason Becker, que parou de tocar com problemas de saúde, fez dois álbuns históricos: “Speed Metal Symphony”, de 1987 e “Go Off!”, de 1988. A banda se chamava Cacophony. E seu álbum de estréia chamava “Dragon´s Kiss”, de 1988, que inclui a participação de Jason em duas faixas. Nesse período tocava bem pesado: “Speed metal”... Após a entrada no Megadeth em 1990, seus álbuns “Scenes” (1992) e “Introduction” (1993), não contemplavam nenhuma música que tivesse qualquer relação com o Megadeth. Eram praticamente álbuns instrumentais com grandes doses de violões e temas que lembravam muito a temática “new wave”, de canções como as da cantora Enya.

Durante aquele workshop fora perguntado a Friedman, sobre o porquê da decisão de fazer discos que nada tem a ver com o trabalho do Megadeth, e ele disse com todas as letras que não era um trabalho de complemento do Megadeth e sim aquilo que ele sentia. E, claro, como sempre acontece no Brasil, querem fazer intriga e concorrência com outros guitarristas e fora perguntado o que achava de Steve Vai, Malmsteen e outros. O que ele foi “politicamente correto” respondendo que gostava dos sons, mas que havia muita informação naqueles álbuns. O que ele tentava deixar mais claro, mais limpo, diria. Esta informação é de uma maturidade incrível. Acho que demorei esses anos todos para entender o que ele dizia com aquilo... O que não me faz gostar menos de Malmsteen e Vai...

Com quantidade de informações dizia é que não é necessário se colocar todos os recursos existentes para se conseguir belas melodias e que existia certo excesso no que se fazia. Eu colocaria de outra forma, que não me sinto extremamente seguro. Eu acredito que as influências orientais de certa forma tendem a deixar a sonoridade mais sensível. Um guitarrista como Malmsteen, é de certa forma mais ocidental que Friedman, que incorporou muito desse espírito oriental na sua música. Já Malmsteen não; é um promotor da cultura ocidental. Da mais alta cultura musical ocidental; de Beethoven e Mozart a Bach e Paganini. Nenhuma das duas formas de pensar a música esta errada. Mas são formas diferentes de se fazer as músicas. Incomparáveis. Não existe relativismo para tal oposição.

E com o estudo e o tempo, nada mais complexo para mim, de entender até onde existe o conflito de ocidente e oriente. Conflito este que já foi estudado por René Guenón em seu livro “A crise do mundo moderno”. O que é estranho que uma frase como a de Friedman, num workshop de música, de uma música que tem preconceito desde seu surgimento com Elvis Presley, pode suscitar debate sobre questões do oriente com o ocidente.

Por outro lado, a influencia oriental na arquitetura sempre foi grande. Desde Frank Lloyd Wright com sua viagem ao Japão, como a arquitetura de Tadao Ando, entre outros. De certa forma, o conceito de “clean” está bastante ligado ao lado oriental da arquitetura. E a quantidade de informações que são colocadas na arquitetura reflete muito essa forma de pensar. Mas como certa vez li em algum lugar, Picasso se referia a beleza clássica como a única existente. Fico por aqui, com minhas dúvidas e minhas poucas conclusões, mas o que posso afirmar que ao nascer no ocidente, muito daquilo que me cerca me forma. De certa forma consigo entender cada vez mais o que fez Guenón sair de Paris para morar no Cairo, assim como um escritor como Albert Camus se fixar em Paris. Gostaria que as fronteiras entre uma coisa e outra fossem maiores, assim como um leigo acredita ser...

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