fevereiro 10, 2008

Odeio Odiar

“Odeio Odiar” é praticamente uma categoria do pensamento politicamente correto. Na verdade o que difere os bárbaros da civilização reside em muito no fato de barrar os ódios. Ódios de todo tipo, desde aqueles nacionalistas (o que é bem diferente de patrióticos) até aqueles em que se há uma categoria ou até mesmo uma pessoa para ser odiada. Agora tem certas coisas que mereceriam ser odiadas. Mas, como na música de Humberto Gessinger, “eu não consigo odiar ninguém” (*).

Cada dia que passa vejo que pessoas que nunca simpatizei justamente por parecerem cães raivosos com o tal “status quo”, quando lá chegam parecem piores ainda dos que lá estavam. Parece uma inversão histórica e quando alguém fala nessas “verdades” logo vem essa mesma corja acusa-lo de cão raivoso. O que eu acho estranho que na hora que existia a hipótese de um debate, a corja sumiu. O tal cão raivoso deles é para mim um professor e não por sua raiva a estes infelizes, mas por sua inteligência mesmo. Sua inteligência real. À corja nunca sequer dei atenção a suas lamentações, talvez seja o ponto de hoje não ter ódio deles; nunca lhes dei ouvido. Nunca acreditei no seu preço por um outro mundo possível. Passei até por um “alienado”, mas nunca sequer entrei no seu pequeno debate forjado. Muitas dúvidas ainda tenho hoje, mas as certezas são luzes que só foram acesas pela busca de respostas e não pela aceitação das “verdades forjadas” da corja.

Não acredito em bem coletivo, mas em idéias individuais que formatam padrões do que se espera ser coletivo. O que me faz escrever este texto sem nomes e com breves pausas pode residir na hipótese de existir pessoas mal intencionadas que, segundo Robert Musil, podem usar qualquer coisa contra você. Falando em bem coletivo, um parque não é um bem coletivo. São agrupamentos individuais que só são possíveis graças ao espaço projetado para ele. Não acho que um atleta ou casal de namorados tendem a ser “coletivos”, mas sim individuais. O próprio agrupamento urbano é de certa forma individual. São muitas as questões acerca de como se pode ou não ser pejorativo o termo “individualista”. De certa forma, muitas pessoas preferem deixar o destino de suas vidas nas mãos de outras pessoas. E muitas delas acreditam que com isso fazem a melhor escolha e não acreditam na hipótese que outros possam não compartilhar disso. Sem contar aqueles que em seu pensamento conseguem ver vantagens nessas trocas.

Como gostaria de só falar de música, acho que algo novo está nascendo nas minhas convicções. Não diria que seja como naqueles músicos de jazz dos anos 1930, 1940, que compunham temas e saiam pela vida a tocá-los e dividir suas graças com outros sem um destino. Isso levou a muitos a se perder pelo caminho. Talvez uma nova etapa que se compõe de idéias mais antigas, que em certas horas foram completamente esquecidas.

Somente uma vez não segui aquele meu lema adolescente que é “retroceder nunca, desistir jamais”. Tive que voltar atrás. Bem, uma vez só e porque era na verdade um passo mal dado. Tinha dado outros passos mal dados antes, mas esse foi o que chamam de “maior”. E de tão maior só tive que retroceder. Nem esse foi digamos “prejudicial”. Mas preciso dar outros passos e estou numa sinuca. Como é difícil estar motivado a isso. E o pior que talvez tenha que estar próximo a corja... Urg! Isso não é nada animador...

(*) “Não quero seduzir teu coração turista
Não quero te vender o meu ponto de vista
Eu tive um sonho e há muito não sonhava
Lembranças do futuro que a gente imaginava
Nem sempre foi assim, outro mundo é possível
Pode até ser o fim mas será que é inevitável

Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só por que não consigo odiar ninguém
Do goleiro ao centroavante
Do juiz ao presidente
Eu não consigo odiar ninguém


Não consigo odiar ninguém – Humberto Gessinger - 2007

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