janeiro 20, 2009

Diary of a Madman II

“(...) eu pago os meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade, eram as grades da prisão


eu pago os meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade era só solidão”


O Preço – Humberto Gessinger Trio (1996)

Foto: Randy Rhoads (1956 - 1982).

Lembranças. Muitas delas dão aqueles diários loucos que fazem muitos “mudarem suas vidas”. Nem de perto tenho esta pretensão. Quem me dera escrever algo como On the Road e ter, tantos e tantos anos depois, edições comemorativas. Certo que se me perguntassem qual livro gostaria de ter escrito, aquele que retornamos de tempos e tempo para reler, eu diria que o “fininho” O Estrangeiro, de Albert Camus, me deixa ainda sem fôlego com aquele início, o ritmo e com a falta de acabamento. É muito desafiador. E pensar que passei anos sem conhecer Camus e lendo Sartre...

O fato que quando tive a idéia de escrever um álbum de memórias, mais do um diário, já que nem é escrito diariamente, era justamente falar de como vivia antes de conhecer coisas que agora são parte de mim; algo inseparável.

Logo que entrei na faculdade meio que perambulava em busca do que fazer, do que ler, do que estudar, do que os músicos, os artistas, as personalidades que gostava estudavam, em suma, o que eram as influencias deles. Um dos primeiros a me deixar intrigado era Ozzy Osbourne, não à toa esta parte do blog eu “batizei” com o nome de uma de seus discos; uma de suas músicas. E tinha que ser dessa fase, junto a Randy Rhoads. Como já contei na primeira parte, havia escutado Ozzy a primeira vez em 1991, e até 1994 tinha praticamente todos os discos. Mas existia um momento anterior.

Desde os treze anos de idade algo me chamava atenção nos Engenheiros do Hawaii. À época, em 1989, tocava muito no rádio a música Terra de Gigantes e não lembro ao certo se alguns colegas de classe foram ao show ou não, mas eles estavam numa fase bastante ascendente. Logo em 1990 lançaram o, acredito eu, mais famoso álbum da banda: O Papa é Pop. Foi um estouro de músicas nos rádios e a novidade dos clipes na MTV recém inaugurada, aos fins de 1990. Foram as músicas para o rádio: O Papa é Pop, Era um garoto... e Perfeita Simetria (esta só disponível no cd, não no vinil), os clipes de Exército de um Homem Só, Pra ser Sincero e uma música do segundo álbum, de 1987, Refrão de Bolero. Tudo isso tocava sem parar no rádio e na MTV.

Foi em 1991 que assisti a primeira vez os Engenheiros do Hawaii ao vivo. Era no antigo Palace, em São Paulo. Até hoje não sei dizer se lá cabem quatro mil pessoas ou mais ou menos. Sei que era bastante gente e um show com uma banda de pouco mais de cinco anos de estrada. Nos anos seguintes acompanhei todas as temporadas de shows. Um dia um rapaz me vendeu os quatro primeiros discos dos engenheiros, em vinil, por um preço bem camarada (algo como o preço de um cd). Foi a primeira vez que tinha a discografia completa de uma banda. Isso já era no final de 1991. O incrível disso é que naqueles anos também estava conhecendo tantas outras bandas e músicos que num certo momento a banda de Gessinger ficou um tanto quanto de lado. Acho que em 1994 nem sequer sabia dos projetos e dos discos lançados. Mas, como sempre, algo fica guardado.

Em 1996 entrei na faculdade. O curso de arquitetura tinha tudo de desafiador. Não conhecia ninguém do meio, e tinha uma única idéia totalmente cumprida ao término do curso. Nada foi tão interessante como saber o que queria antes mesmo de entrar no curso. Não sabia ao certo as etapas que tinha que passar, mas sabia que ia aprender aquilo que queria aprender, aquilo que tinha vontade de saber e ninguém ensinava. Só tive sensação igual há poucos anos, quando uma busca interminável por questões achou um novo caminho, onde também sei onde quero chegar, mas as etapas são um pouco mais longas. Quando falo que muito acontece ao mesmo tempo e tenho a total sensação de “estar pagando os pecados por acreditar que só se vive uma vez”.

Mas foi exatamente na faculdade, numa solidão maravilhosa, pois uma das melhores situações da faculdade de arquitetura é o ato de projetar totalmente sozinho e individualmente, onde a criatividade, um conceito e uma meta são exigidos ao mesmo tempo. Um conceito aprendido durante o curso técnico era o de buscar a informação com o professor. Nisso eu acho que aprendi mais no corredor falando com os mestres do que em aulas que praticamente ninguém estava interessado. Foram ali que surgiram as muitas indicações bibliográficas. Depois foi só passar na biblioteca e ler pelo menos um livro por mês. É... Existe sempre um esforço invisível.

Um dia achei um livro para vender numa livraria em frente ao Mackenzie do arquiteto Vilanova Artigas: Caminhos da Arquitetura. Li em alguns dias praticamente o livro todo. Sem entender lá muita coisa, estava no segundo semestre. Mas o livro foi me acompanhando durante o curso, afinal era uma coletânea de textos com temas variados, deste o Frank Lloyd Wright, Corbusier, até temas políticos e conceituais. Até hoje tento achar algumas respostas lá no livrinho, já meio velinho. Não à toa também este blog chama Arquitetando Caminhos...

Humberto Gessinger Trio (1996)

O que é mais interessante desse início de faculdade esta justamente na “volta” dos Engenheiros do Hawaii na minha “lista” de bandas. Sempre fiquei intrigado com as letras de Gessinger. Sempre alguma delas fazia sentido para mim em algum momento. E aquele ano de 1996 ele havia lançado um projeto chamado Humberto Gessinger Trio. Tinha de tudo naquele disco. Era uma fase que meus “caros colegas” estavam fazendo um monte de coisas que não me interessavam à mínima. Era uma solidão fantástica escutar Engenheiros novamente e estudar a história das artes, as arquiteturas e criar. O mais interessante era ver que tinha lido muita coisa por conta daquelas músicas. O próprio Sartre estava entre essas coisas. Mas só muito tempo depois fui ler o Moacyr Scliar de O Exército de Um Nomem Só...

Uma parte negativa disso é que estava lá, ao lado dos colegas, e ao mesmo tempo afastado e sem compartilhar praticamente nada daquilo que estava estudando e nem sequer sei o que pensavam ou o que estudavam. Hoje enxergo muito melhor isso, principalmente quando encontro algum colega num desses eventos “arquitetônicos”. A infinidade de arquiteturas que faço hoje, não tem definição quando me perguntam mais especificamente o que ando fazendo. Um dia talvez possa só responder “estou dando aulas”... Isso facilita muito o trabalho de ter de explicar. (Será que sou tão impaciente assim?) Mas a lição principal é que no fundo sempre estará sozinho em seus projetos. Uma ou outra pessoa te acompanhará, mas a decisão final será sempre sua. E no tempo certo. É um pouco duro aprender isso, mas é bem melhor do que o “brasileiríssimo” deixar a vida te levar... Num certo momento é aquela idéia inicial que te movimenta.

PS: Este texto esta escrito numa língua que acredito ser português. Não esta de acordo com muitas regras, não. Principalmente esta nova que unifica o português de Portugal com o brasileiro. Gosto tanto da grafia portuguesa... Fazer o que, um dia eu me adapto...

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