janeiro 31, 2009

Cinema Nacional

No ano passado fui assistir a alguns grupos de teatro novos, num projeto chamado Nunca Se Sábado. O convidado da noite era o jornalista Paulo Henrique Amorim. E ele comentou algo com tamanha precisão que até hoje considero uma de suas melhores frases. Dizia ele que o cinema nacional é acompanhado pela imprensa, que ninguém perde a entrevista com Walter Salles, mas pouca gente vai ao cinema ver os filmes dele.

Outro dia assistindo à TV Cultura, uma diretora de cinema (ou chamaria de cineasta?) comentava não entender o porquê de filmes nacionais não viajarem mais. Disse ela que os filmes são apresentados nos festivais, mas não entram em distribuição internacional.

Diogo Mainardi disse certa feita que o povo brasileiro não precisa do cinema nacional. Se precisasse os brasileiros veriam os filmes nacionais. Que o cinema nacional teria um investimento estatal inicial, mas no futuro, segundo ele vendido a nós como bem próximo, ele seria sustentável. Depois o que se viu foi um cinema nacional que depende de verbas públicas. Sim, pois o “patrocínio” das empresas privadas é descontado do imposto de renda, ou seja, o que pode ir para as escolas, hospitais, creches, vai para o cinema nacional, que ninguém vê...

Lembro de amigos cult que gostavam de ir a cinemas cult para ver os nem tão cult filmes nacionais. Os acompanhei uma vez. Não que me arrependa, mas cinema é algo menor para mim. Vejo o cinema como uma arte que está em constante aprimoramento e que no fundo depende de tantos conceitos e valores subjetivos que esgota o limite de hipóteses sobre a estética.

Quando vejo um filme baseado num livro tenho a ligeira impressão que o livro é pouco complexo ou que o diretor é muito ruim. Tanto o cinema quanto a televisão (digo as séries, as novelas) são todas decorrentes de letras, de palavras. Os roteiros são escritos, não desenhados. Até uma história em quadrinhos, para quem um dia já fez uma, sabe que a história também precisa estar toda escrita antes de iniciar os desenhos dos quadros e as dinâmicas de seqüência. Cada arte tem seu pequeno caminho, mas há de se fazer entender que nunca um país com uma literatura fraca poderá fazer cinema grandioso. Digo isso por pensar num texto de Daniel Piza, onde fala que é impossível ter uma grande literatura sem ter os escritores médios sendo consumidos.

No caso do cinema nacional já se fez ótimos filmes, mesmo que eles estejam guardados e indisponíveis. Diga-me, quanto custa um DVD de um filme nacional? Dos bons, claro... São quase indisponíveis, isso quando não são mesmo indisponíveis. De tão “bons” são caríssimos, como obras de arte... E os ruins? Continuam sendo caros...

Já me falaram que isso é o “esquema americano”, vender cultura a preços acessíveis e transformar num “mercado” a arte; a tal “indústria cultural”. Pode até ser ruim e tal, mas que é ótimo ir as Lojas Americanas (escolhi o nome propositadamente) e comprar os DVD´s que gosto por um preço bem econômico, é ótimo.

E a internet? Bem, é quase como pirataria. Não há como garantir qualidade. Mas bem que podiam fazer caixas de filmes nacionais com 5, 6 filmes dentro, a preços econômicos. Algo como os livros de bolso ou aquelas coletâneas musicais do tipo “perfil” ou “millenium collection”. Não, mas o cinema nacional...
É mesmo. O cinema nacional é tão bom, mas tão bom, que nem os brasileiros não o entendem... Imagina ter os filmes do Arnaldo Jabor numa lojinha por menos de R$10,00... Podem pensar que é uma porcaria...

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