janeiro 31, 2009

O João

Falei que precisava falar sobre João Pereira Coutinho. Claro, se está no meu blog é para falar bem. Para falar mal existem outros blogs de outras pessoas. Eu não costumo falar mal de ninguém, desde que eu não tenha vontade; não sou santo.

Mas Coutinho vem me impressionando. Eu tentava pensar em alguém com idade semelhante a minha e com idéias semelhantes. Encontrei primeiramente Daniel Piza, pouco mais velho. Depois Coutinho, que por sinal o conheci por Daniel Piza, quando fizeram um bate bola em que entre uma das iniciativas dos dois era fundar o clube do ponto e vírgula (quando digo conhecer é ser apresentado a obra, não pessoalmente).

Mas o que me faz falar mais dele é sobre a questão do senso de humor. Eu me divirto muito lendo alguns detalhes que escreve. Além de seu humor tem uma opinião bem apontada sobre fatos e sobre conceitos, dos quais também compartilho. Mas fala de pequenas coisas com uma maneira que eu às vezes me mato de rir em pensar como escreve com aquela calma, aquele momento que eu já teria perdido o senso de humor.

Outro dia lia o blog de Reinaldo Azevedo e lá falava de alguém que se incomodava com eles dois e mais Demetrio Magnoli, Diogo Mainardi e mais sei lá quem. Não tinha o nome do Olavo de Carvalho no meio, mas em questão de tempo se associaria estes todos como uma “conspiração”. Para quem lê cada um desses autores sabe que há muitas diferenças entre eles. E nada de mal nisso. Todos eles sempre agregaram mais cultura em suas colunas do que muitos outros que pregam o desaparecimento deles. E o melhor de tudo, todos eles tem bom humor; pelo menos já os flagrei rindo, alguns até pessoalmente.

Mas voltando aos escritores. Inicialmente me matava de rir com Mário Prata. Depois não escreveu mais para o Estadão e não li mais nada dele. Mas ele é mais velho, da geração dos meus pais, não é a mesma coisa de ler alguém com quase a mesma idade. A geração dos quarenta e poucos é bastante divertida, com Mainardi, Reinaldo Azevedo e outros. Entre todos é claro que Olavo de Carvalho é o mais profundo, o mais complexo. Mas pensar neles todos como um bloco? É coisa para quem não os lê. E não os lê não porque o que escrevem não tem valor, mas por questões ideológicas.

Quando a esquerda fez sua revisão (no Brasil isso aconteceu?), muito se fez para avançar em termos culturais. É nítido ver que isso ainda é um pouco de tabu. Seria o mesmo que, fazendo uma analogia arquitetônica, dizer que gostar de determinado arquiteto significa gostar de toda sua obra, sem exceções. Quando leio as crônicas de Artur da Távola, nota-se sua total revisão daquele mundo idealizado e apresenta muitas outras novas iniciativas. Quando da sua morte, a TV Senado apresentou uma entrevista sua de 1999, que já falava de sua revisão de conceitos, de muito tempo. Assim se pode falar de Fernando Henrique Cardoso, de Fernando Gabeira. Claro que ainda existem dinossauros da “vanguarda do atraso”. Mas é questão de tempo para que uma nova forma de ver o mundo, como ele é, seja mais influente do que a forma de mudar o mundo, de fazer um “novo mundo”. Essa revisão era óbvia, alimentada que foi por inúmeros pensadores desde as décadas de 1930 e 1940, como George Orwell, Aldous Huxley, Ortega y Gasset, entre muitos outros. Ler estes colunistas hoje é rever tudo que foi escrito e é conhecido dos “fazedores de novos mundos”. Não sei dizer, mas como escreveu Piza outro dia, dessa Era Obama já se pode dizer que o pensamento dos anos 1960 está acabando (e também sua extensão festiva dos anos 1970). Vamos ver como isso se dará no tempo. Por enquanto vou me divertindo lendo Coutinho. Abaixo um pequeno trecho:

“Uma das experiências mais fascinantes da existência humana é atender o telefone às 6 da manhã, quando os comprimidos para a insônia começavam a fazer efeito, e descobrir que o telefonema foi engano. Claro que existe uma experiência ainda mais fascinante: é a mesma pessoa voltar a telefonar 15 minutos depois, quando o nosso corpo e a nossa mente já regressavam ao seu delicioso limbo. E ser novo engano.

Aconteceu hoje, ou seja, há uma hora, e eu permaneço sentado na cama, com a terrível sensação de que o sono não volta e que a pessoa responsável por me arruinar o domingo jamais será punida pela leviandade.

E então imagino como tudo seria mais justo se existisse um mecanismo no próprio telefone que nos permitisse eletrocutar a pessoa do outro lado da linha. Nada de violento, apenas uma descarga terapêutica que a ensinasse a pensar com toda a cautela se o número de telefone é o correto e se telefonar às 6 da manhã é avisado.
Infelizmente, a tecnologia nunca está onde é precisa.”

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/joaopereiracoutinho/ult2707u488773.shtml

Uma literatura

Felizmente algo que se pode dizer com boca cheia: a literatura ultrapassou os limites dos séculos e ainda hoje é impar. Novo paradigma, a internet, só aumentou o interesse por literatura. Hoje é muito mais fácil ler autores novos, mesmo sendo dificílimo encontra-los no meio de uma porção, cada vez maior, de escritores e de blogs e de sites.

Mas a leitura só cresceu com a tecnologia. Ao contrário das duas outras artes que falei abaixo, o teatro e o cinema, a literatura média nacional cresceu. Se ainda estamos longe daquele ideal, trata-se de um pouco de paciência. Até dez anos atrás pouca gente tinha acesso à internet. Ainda hoje muita gente tem acesso e lê somente e-mail e acessa o orkut. Aumentar o acesso pode aumentar e melhorar a leitura, porém, o que mais cresce é a ausência de leitura e uma escrita pobre. Mesmo assim, para quem gosta de literatura está bem melhor que os grupinhos fechados do cinema e do teatro. Quem almeja escrever hoje tem a possibilidade de fazer um blog (eu, exemplo...). Pode deixar seus piores e melhores textos disponíveis. Só este fato já é mais animador do que as dezenas de milhares que simplesmente passam o tempo na internet.

Eu praticamente estudo no meu tempo de lazer. Lembro-me dos conselhos de Schopenhauer de que não se deve ler mais do que se pode absorver. Vejo constantemente isso acontecendo. Pessoas terminam de ler algo como obrigação, algo como provar que leio não sei lá quantos livros por mês, e ao questionar livros de um ano atrás simplesmente não sabe do que se trata.

Lendo outro dia um texto no site da revista Dicta & Contradicta falava que nem sempre a leitura faz a pessoa melhorar. No mesmo site assisti a entrevista de João Pereira Coutinho, que mereceria uma postagem só para ele, onde ele fala que leu coisas entre os quatorze anos e os dezoito que são comuns a jovens dessa faixa etária e que também se tornou um selvagem, como todo jovem. Então ler com um método e com uma direção faz perder menos tempo e ganhar mais na grandeza da arte das letras.

Nesse momento estou lendo Joseph Conrad. Terminei Juventude e comecei O Coração das Trevas. Logo que terminar vou tentar assistir ao filme Apocalipse Now, de 1979, que lembro de pedaços. Isso porque logo na introdução do livro fala que Apocalipse... foi baseado em Coração das Trevas. O livro também integrou do programa “Expedições pelo Mundo da Cultura” em 2006, em Curitiba.

Ando lendo também muitos contos. Desde Machado de Assis até contos de terror. Tenho uma pastinha com um monte de contos a ler. O interessante que nenhum deles é novo. Gostaria de ao menos achar um novo autor que pudesse falar que encontrei sozinho e na internet. O que tenho a dizer que ainda não li os livros de meu colega de Escola Técnica Federal: Alexandre Heredia. Mas com certeza na hora que der um pequeno tempo lerei, com prazer.

Estou também escrevendo algumas outras coisas. A idéia de fazer as breves memórias em Diary of a Madman me deu mais um monte de outras idéias. E depois não digo que escrever é a principal arte? Estive vendo há tempos atrás um programa com o arquiteto Isay Weinfeld que falava que fazer um roteiro para cinema ou fazer uma casa tem um desenvolvimento igual. Deve ser este o fato de estar gostando tanto de escrever e de projetar.

Do Teatro

O teatro é das artes cênicas a mais complexa e mais simples ao mesmo tempo. Mais simples, pois é onde se deve começar a arte dramática, a interpretação, o humor. A mais complexa porque o tempo de resposta de seu espectador é quase simultâneo. Não há muito tempo entre a atuação e a resposta. No cinema o ator faz algo sem saber se está caminhando no sentido que queria e posteriormente as interpretações são múltiplas. Já no teatro é o momento. Não há tempo para convencimento, a cena tem de ser perfeita.

Muitos atores tendem a enaltecer o teatro como a maior de todas as artes dramáticas, e deve ser mesmo, mas ao mesmo tempo diminuem o valor do cinema e da televisão. O cinema então seria mais importante, maior, que a atuação na televisão. Muito disso é verdade, mas não pelo glamour, pelo status. Mas porque a resposta do consumidor (o espectador) que é diferente. Um filme passa durante algum tempo em exibição nas salas de cinema. O ator tem que estar preparado para aquele papel na filmagem, naquelas poucas horas de aparição, de representação. E quase é eternizado por aquelas poucas horas. O erro tem de ser o menor possível, aquele é um momento único, difícil de ser reproduzido. O teatro segue a mesma lógica, porém com um público muito menor. E um dia horrível numa temporada pode acabar com uma carreira, mas é bem mais raro do que a má interpretação num filme, que pode deixar o ator sem trabalho anos.

Mas o teatro no Brasil é algo controverso. As pessoas que consomem teatro querem textos realmente consagrados. As escolas de teatro cobram caro para ter alunos realmente interessados. Não entendo muito bem isso, eu acho que deveriam ter muitas escolas de teatro, muitas mesmo. E ser uma coisa quase como tocar violão. Mas não é. O teatro é ao mesmo tempo um status, uma “divisão” entre as pessoas. As “pessoas do teatro” e as outras. Pode ver pelas pessoas do cinema. Aqueles garotos que acham que uma câmera nas mãos é o ato supremo da evolução do ser humano. Nem eles são tão afetados quando as “pessoas do teatro”.

Veja a quantidade de gente que vai ao cinema e aluga filmes e compra DVD´s sobre cinema comparado as pessoas que compram ingressos do teatro. Não à toa existem muito mais salas de cinema que teatros. Outra vez volto a falar da difusão do teatro como algo a ser consumido. Eu particularmente quero muito assistir a montagem de peças de teatro grego, como Sófocles. No entanto não vejo nem nas escolas de teatro montagens dessas peças. Seria algo como “o teatro não é popular e se depender de nós não será nunca”. Eu acho ótimo ter em New York (não vou escrever nunca Nova Iorque...) uma avenida com inúmeros teatros, mesmo que decadente. Nem se compara a Praça Roosevelt, com seus poucos e mal feitos teatros.

O teatro também é uma arte bastante cara. Seria difícil manter abertos tantos teatros com a concorrência dos cinemas, muito mais baratos. Seria também uma questão de escala, mas porque mesmo os poucos teatros ainda assim ficam vazios? Certo que minha experiência em 2007, a ultima vez que fui ao teatro, vi um teatro lotado. Bem, hoje este teatro, um dos mais importantes de São Paulo, está fechado devido a um incêndio. A peça que vi era com Paulo Autran e uma texto de Molière. Não posso tirar disso uma regra. Mas o que posso dizer é que foi caro.

Sempre quando reclamo dos valores dos ingressos, desde o cinema, o teatro e os shows, me falam que é um valor “similar” ao que se gasta numa balada. Como também não saio de casa não posso concordar em pagar R$13,00 por uma caneca de chopp, por mais alemão que este seja, mesmo se eu fosse um milionário. Acho que a balada só mudará de foco quando se puder ter um espetáculo ligado a ela. Digo isso porque nunca fui ao cinema e só ao cinema. Era uma avalanche de coisas junto, desde barzinho, pizza, entre outras.

Dizer que a concorrência com a balada é desleal é talvez não entender que o teatro precisa é se expandir e não ficar no meio das “pessoas do teatro”. Quando uma banda faz shows quer ter público que a acompanha. E esse público não pode ser formado só por músicos de outras bandas, ou seja, pelas “pessoas das bandas”. (Que analogia barata, mas tão real...) Essa expansão não creio que venha a acontecer. As pessoas que fazem teatro são muito “estrelas” para fazer esta arte entrar no “mercado”, o da “indústria cultural”.

Cinema Nacional

No ano passado fui assistir a alguns grupos de teatro novos, num projeto chamado Nunca Se Sábado. O convidado da noite era o jornalista Paulo Henrique Amorim. E ele comentou algo com tamanha precisão que até hoje considero uma de suas melhores frases. Dizia ele que o cinema nacional é acompanhado pela imprensa, que ninguém perde a entrevista com Walter Salles, mas pouca gente vai ao cinema ver os filmes dele.

Outro dia assistindo à TV Cultura, uma diretora de cinema (ou chamaria de cineasta?) comentava não entender o porquê de filmes nacionais não viajarem mais. Disse ela que os filmes são apresentados nos festivais, mas não entram em distribuição internacional.

Diogo Mainardi disse certa feita que o povo brasileiro não precisa do cinema nacional. Se precisasse os brasileiros veriam os filmes nacionais. Que o cinema nacional teria um investimento estatal inicial, mas no futuro, segundo ele vendido a nós como bem próximo, ele seria sustentável. Depois o que se viu foi um cinema nacional que depende de verbas públicas. Sim, pois o “patrocínio” das empresas privadas é descontado do imposto de renda, ou seja, o que pode ir para as escolas, hospitais, creches, vai para o cinema nacional, que ninguém vê...

Lembro de amigos cult que gostavam de ir a cinemas cult para ver os nem tão cult filmes nacionais. Os acompanhei uma vez. Não que me arrependa, mas cinema é algo menor para mim. Vejo o cinema como uma arte que está em constante aprimoramento e que no fundo depende de tantos conceitos e valores subjetivos que esgota o limite de hipóteses sobre a estética.

Quando vejo um filme baseado num livro tenho a ligeira impressão que o livro é pouco complexo ou que o diretor é muito ruim. Tanto o cinema quanto a televisão (digo as séries, as novelas) são todas decorrentes de letras, de palavras. Os roteiros são escritos, não desenhados. Até uma história em quadrinhos, para quem um dia já fez uma, sabe que a história também precisa estar toda escrita antes de iniciar os desenhos dos quadros e as dinâmicas de seqüência. Cada arte tem seu pequeno caminho, mas há de se fazer entender que nunca um país com uma literatura fraca poderá fazer cinema grandioso. Digo isso por pensar num texto de Daniel Piza, onde fala que é impossível ter uma grande literatura sem ter os escritores médios sendo consumidos.

No caso do cinema nacional já se fez ótimos filmes, mesmo que eles estejam guardados e indisponíveis. Diga-me, quanto custa um DVD de um filme nacional? Dos bons, claro... São quase indisponíveis, isso quando não são mesmo indisponíveis. De tão “bons” são caríssimos, como obras de arte... E os ruins? Continuam sendo caros...

Já me falaram que isso é o “esquema americano”, vender cultura a preços acessíveis e transformar num “mercado” a arte; a tal “indústria cultural”. Pode até ser ruim e tal, mas que é ótimo ir as Lojas Americanas (escolhi o nome propositadamente) e comprar os DVD´s que gosto por um preço bem econômico, é ótimo.

E a internet? Bem, é quase como pirataria. Não há como garantir qualidade. Mas bem que podiam fazer caixas de filmes nacionais com 5, 6 filmes dentro, a preços econômicos. Algo como os livros de bolso ou aquelas coletâneas musicais do tipo “perfil” ou “millenium collection”. Não, mas o cinema nacional...
É mesmo. O cinema nacional é tão bom, mas tão bom, que nem os brasileiros não o entendem... Imagina ter os filmes do Arnaldo Jabor numa lojinha por menos de R$10,00... Podem pensar que é uma porcaria...

janeiro 21, 2009

Diary of a Madman IV

Os dias de Titãs

“(...) Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava, eu não sabia
Que o homem criava e também destruía (...)”


Homem Primata – Cabeça Dinossauro – Titãs (1986)

Não à toa eram os anos pré-históricos. Talvez se me perguntassem qual é a primeira vez que escutei rock, eu com certeza iria dizer que era Kiss me Quick, de Elvis Presley, o maior! Certas lembranças da infância são as melhores de toda uma vida. Depois um álbum dos Beatles, Help! Mas na verdade, acho que ouvir e gostar, já entendendo um pouco do que seria rock foi o Cabeça Dinossauro dos Titãs.

Sobre o disco não tenho muito a dizer. Seria talvez o álbum mais famoso do grupo. As músicas mais conhecidas como Polícia, Família, Bichos Escrotos e Homem Primata são até hoje tocadas nos shows e suas letras atemporais, que fez deste disco um “clássico” do rock nacional. Escutar este disco naqueles anos, no começo da minha adolescência foi marcante. Naqueles anos escutava também o Rádio Pirata ao Vivo do RPM. Bons momentos.

O disco seguinte dos Titãs foi Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987), eu já tinha mudado de escola, de colegas, e mantinha até certa “distância” desses “novos” colegas. Mas as músicas Comida, Lugar Nenhum e Desordem tocavam nas rádios, fazendo com que este e Cabeça Dinossauro fossem os meus dois discos prediletos naqueles anos. E, detalhe, até hoje só escuto estes dois dos Titãs. Outras músicas foram acrescentadas ao repertório deles, mas, como eu já havia escrito, meus interesses acabaram me levando a conhecer outras bandas nos anos seguintes e deles só esses dois álbuns restauram na minha memória.

O lado interessante de se ter um disco nas mãos é manusear a capa, ler os créditos e acompanhar as letras das músicas pelo encarte. Hoje quando escuto em MP3 algum álbum novo sinto falta de algo. Aquela arte da capas, que no caso destes dois álbuns é algo incompreensível para mim. Aqueles fósseis e as colunas gregas devem fazer algum sentido. Algo não faz sentido com as músicas.

Nos anos seguintes nada mais me caiu nas mãos e nunca mais procurei saber sobre os Titãs. Hoje em dia acabo lendo alguma coisa que o Tony Belloto posta em sua seção no site da revista Veja. Não li seus livros. Escuto os sons de Nando Reis e até tive um momento, na faculdade, que falavam bastante do álbum de estréia do Arnaldo Antunes. Lembro do ultimo disco sendo vendido em bancas de jornal, daquela forma que o Lobão resolveu distribuir seus discos. Fora isso, na minha vida os Titãs marcaram este momento, os anos “pré” alguma coisa... Nunca ficaram claras as influencias musicais dos Titãs, não como são as dos Engenheiros do Hawaii, que passa a ser algo até chato, de tão evidente.

“(...) Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?


É seu dever manter a ordem,
É seu dever de cidadão,
Mas o que é criar desordem,
Quem é que diz o que é ou não? (...)”

Desordem – Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas – Titãs (1987)

Diary of a Madman III

Os anos dourados do ócio criativo
Outro dia li que aos vinte e poucos anos de idade os maiores ingredientes para a vida era tempo para sonhar, estudar e namorar. Como não concordar com esta afirmação? Queria eu ter escrito isso! Na verdade tive nesses dois anos de escrita nesse blog, além de marcar inúmeros tópicos, inúmeros assuntos, a possibilidade de um pouco de saudosismo. É estranho aos trinta e poucos pensar na adolescência, a autora da frase citada está com quase sessenta anos de idade.

Eu tinha a plena convicção que a intensidade de transformações e a velocidade das mudanças que vivi neste período eram únicas e tinham que estar registradas. Não que a velocidade não foi elevada, basta ver que às vezes certas mudanças não entram na cabeça das pessoas dos vinte e poucos de hoje.

Mas o que quero registrar aqui tem a ver com um outro texto que escrevi em 2008. É interessante escrever, registrar o que estou pensando. Ás vezes não consigo lembrar o que pensava a respeito de certos temas naquele tempo. Lembro de ter lido livros e não faço a menor idéia do que lá está escrito neles. Sei lá eu se por falta de treinar o assunto, ou se o assunto era chato, mas o fato é que simplesmente tirei da memória. O texto está separado na seção Diary of a Madman, chama-se Flying in a blue Dream.

O texto é um somatório de tantas situações e de tempos distintos, que fico aqui a pensar se alguém entendeu uma parte daquilo tudo ali escrito. Pois até os amigos de muito tempo não viveram todas aquelas situações ao meu lado. Tinha tanta gente naquele texto que só para falar delas daria para escrever mais umas quinze páginas.

Time Odyssey - Vinnie Moore (1988)
Quando estava fazendo a apresentação de Diary of a Madman, consegui me perder no texto, falando sobre Randy Rhoads. Depois dei uma pequena limpada e guardei o texto, por ter mais outras lembranças interessantes e muito provavelmente vou disponibilizar neste espaço. O fato que a apresentação ficou corrida e não coloquei de forma clara que o que nesta seção seria escrita, mais que tudo, opinião e lembranças. Era necessário ter mais material para fazer isso. E esta hora chegou. Sei lá de novo onde vai dar isso...

Numa aula da faculdade lembro de uma menina falando que não sabia desenhar. Ela perguntava por um curso de desenho que a ajudasse. O professor, no entanto, disse que aprender a desenhar só tinha um único caminho: desenhar. Desenhar para mim não é problema, mesmo que atualmente esteja muito menos treinado que nos anos de faculdade, porém escrever era algo que definitivamente não se faz muito numa faculdade de arquitetura. Este blog foi excelente na hora de soltar as palavras, assim como da mesma forma o programa “Expedições pelo Mundo da Cultura” a me fornecer material além dos escritos arquitetônicos. Nos anos de faculdade uns poucos professores sugeriram leitura de alguma outra coisa além da arquitetura, como O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, A Vida Digital, Nicholas Negroponte, e Carne e Pedra, de Richard Sennett.

O interessante é que nesses anos todos, do o curso técnico, do trabalho e da faculdade, existia tempo livre para escutar música, tocar e fazer mais um monte de outras coisas. Foi num desses momentos que descobri o livro de Domenico de Masi, O Ócio Criativo. Já escrevi sobre ele, não lembro em qual texto. Era interessante saber suas teorias para o tempo livre. Foi uma loucura de conceitos, mas a lição principal foi preencher os meus tempos livres com atividades interessantes.

Uma atitude foi além de escutar as músicas, prestar atenção às letras, desde a construção das rimas e os significados e contextos das frases (ou seriam versos?). No caso das músicas (finalmente falando do texto Flying... até agora era só introdução) elas estavam associadas a momentos. Imagine você na praia, dentro de casa, com uma chuva do lado de fora, comum no verão chuvoso e úmido brasileiro. O que fazer se não assistir TV ou escutar um música. Quando criança levava meus carrinhos. Depois a caixa de carrinhos deu lugar para uma de fitas K7. Mais tarde os cds começaram a me acompanhar, mas sempre com uma ressalva: tinha tanto cuidado que ficava furioso de ver um deles fora das devidas caixas. Estas situações acontecem ao se viver em sociedade...
High Tension Wires - Steve Morse (1989)
Até hoje fico com saudades de escutar as fitas K7 na praia. Hoje com DVD, MP3 e outras coisinhas, além da minha atual aversão ao sol, freqüento muito pouco este ambiente de praia. Isso é bom por um lado, porque tenho a sensação de eliminar a parte ruim. As chuvas parecem mais constantes nas minhas recordações; não lembro de ter um verão não chuvoso. Ler na praia era algo incompatível: areia e água não combinam com folhas de livros. Por fim, todas as aventuras “litorâneas” acabaram tendo uma trilha sonora. Lembro de um novo álbum, caso do guitarrista Vinnie Moore, Time Odyssey (1988) e outro do Steve Morse, High Tension Wires (1989). Dava para escutar a fita inteira repetidas vezes, captando vários detalhes das músicas. Mesmo sendo álbuns de música instrumental, perceber os detalhes das cadencias melódicas e os arranjos é algo emocionante. Diria que escutar estes discos complexos, repletos de informação, são elementos formadores para se entender música. E é impossível não fazer isso com tempo. Poderia estar assistindo a programas de televisão de domingo e lá estava eu escutando Morse. Era uma abstração, mas era muito mais legal que ver o Fausto Silva. O interessante era tocar depois. As melodias estavam na cabeça. De Masi conseguiu descobrir a diferença entre jogar o tempo fora e fazer dele algo impossível de ser “estudado”. Esta cultura não passa pelas academias. Mas essa característica é a mais gritante dentro delas. Como na abertura do livro, a frase de Arthur Rubistein: “Descansar? Descansar de quê? Eu, quando quero descansar, viajo e toco piano.”

janeiro 20, 2009

Diary of a Madman II

“(...) eu pago os meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade, eram as grades da prisão


eu pago os meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade era só solidão”


O Preço – Humberto Gessinger Trio (1996)

Foto: Randy Rhoads (1956 - 1982).

Lembranças. Muitas delas dão aqueles diários loucos que fazem muitos “mudarem suas vidas”. Nem de perto tenho esta pretensão. Quem me dera escrever algo como On the Road e ter, tantos e tantos anos depois, edições comemorativas. Certo que se me perguntassem qual livro gostaria de ter escrito, aquele que retornamos de tempos e tempo para reler, eu diria que o “fininho” O Estrangeiro, de Albert Camus, me deixa ainda sem fôlego com aquele início, o ritmo e com a falta de acabamento. É muito desafiador. E pensar que passei anos sem conhecer Camus e lendo Sartre...

O fato que quando tive a idéia de escrever um álbum de memórias, mais do um diário, já que nem é escrito diariamente, era justamente falar de como vivia antes de conhecer coisas que agora são parte de mim; algo inseparável.

Logo que entrei na faculdade meio que perambulava em busca do que fazer, do que ler, do que estudar, do que os músicos, os artistas, as personalidades que gostava estudavam, em suma, o que eram as influencias deles. Um dos primeiros a me deixar intrigado era Ozzy Osbourne, não à toa esta parte do blog eu “batizei” com o nome de uma de seus discos; uma de suas músicas. E tinha que ser dessa fase, junto a Randy Rhoads. Como já contei na primeira parte, havia escutado Ozzy a primeira vez em 1991, e até 1994 tinha praticamente todos os discos. Mas existia um momento anterior.

Desde os treze anos de idade algo me chamava atenção nos Engenheiros do Hawaii. À época, em 1989, tocava muito no rádio a música Terra de Gigantes e não lembro ao certo se alguns colegas de classe foram ao show ou não, mas eles estavam numa fase bastante ascendente. Logo em 1990 lançaram o, acredito eu, mais famoso álbum da banda: O Papa é Pop. Foi um estouro de músicas nos rádios e a novidade dos clipes na MTV recém inaugurada, aos fins de 1990. Foram as músicas para o rádio: O Papa é Pop, Era um garoto... e Perfeita Simetria (esta só disponível no cd, não no vinil), os clipes de Exército de um Homem Só, Pra ser Sincero e uma música do segundo álbum, de 1987, Refrão de Bolero. Tudo isso tocava sem parar no rádio e na MTV.

Foi em 1991 que assisti a primeira vez os Engenheiros do Hawaii ao vivo. Era no antigo Palace, em São Paulo. Até hoje não sei dizer se lá cabem quatro mil pessoas ou mais ou menos. Sei que era bastante gente e um show com uma banda de pouco mais de cinco anos de estrada. Nos anos seguintes acompanhei todas as temporadas de shows. Um dia um rapaz me vendeu os quatro primeiros discos dos engenheiros, em vinil, por um preço bem camarada (algo como o preço de um cd). Foi a primeira vez que tinha a discografia completa de uma banda. Isso já era no final de 1991. O incrível disso é que naqueles anos também estava conhecendo tantas outras bandas e músicos que num certo momento a banda de Gessinger ficou um tanto quanto de lado. Acho que em 1994 nem sequer sabia dos projetos e dos discos lançados. Mas, como sempre, algo fica guardado.

Em 1996 entrei na faculdade. O curso de arquitetura tinha tudo de desafiador. Não conhecia ninguém do meio, e tinha uma única idéia totalmente cumprida ao término do curso. Nada foi tão interessante como saber o que queria antes mesmo de entrar no curso. Não sabia ao certo as etapas que tinha que passar, mas sabia que ia aprender aquilo que queria aprender, aquilo que tinha vontade de saber e ninguém ensinava. Só tive sensação igual há poucos anos, quando uma busca interminável por questões achou um novo caminho, onde também sei onde quero chegar, mas as etapas são um pouco mais longas. Quando falo que muito acontece ao mesmo tempo e tenho a total sensação de “estar pagando os pecados por acreditar que só se vive uma vez”.

Mas foi exatamente na faculdade, numa solidão maravilhosa, pois uma das melhores situações da faculdade de arquitetura é o ato de projetar totalmente sozinho e individualmente, onde a criatividade, um conceito e uma meta são exigidos ao mesmo tempo. Um conceito aprendido durante o curso técnico era o de buscar a informação com o professor. Nisso eu acho que aprendi mais no corredor falando com os mestres do que em aulas que praticamente ninguém estava interessado. Foram ali que surgiram as muitas indicações bibliográficas. Depois foi só passar na biblioteca e ler pelo menos um livro por mês. É... Existe sempre um esforço invisível.

Um dia achei um livro para vender numa livraria em frente ao Mackenzie do arquiteto Vilanova Artigas: Caminhos da Arquitetura. Li em alguns dias praticamente o livro todo. Sem entender lá muita coisa, estava no segundo semestre. Mas o livro foi me acompanhando durante o curso, afinal era uma coletânea de textos com temas variados, deste o Frank Lloyd Wright, Corbusier, até temas políticos e conceituais. Até hoje tento achar algumas respostas lá no livrinho, já meio velinho. Não à toa também este blog chama Arquitetando Caminhos...

Humberto Gessinger Trio (1996)

O que é mais interessante desse início de faculdade esta justamente na “volta” dos Engenheiros do Hawaii na minha “lista” de bandas. Sempre fiquei intrigado com as letras de Gessinger. Sempre alguma delas fazia sentido para mim em algum momento. E aquele ano de 1996 ele havia lançado um projeto chamado Humberto Gessinger Trio. Tinha de tudo naquele disco. Era uma fase que meus “caros colegas” estavam fazendo um monte de coisas que não me interessavam à mínima. Era uma solidão fantástica escutar Engenheiros novamente e estudar a história das artes, as arquiteturas e criar. O mais interessante era ver que tinha lido muita coisa por conta daquelas músicas. O próprio Sartre estava entre essas coisas. Mas só muito tempo depois fui ler o Moacyr Scliar de O Exército de Um Nomem Só...

Uma parte negativa disso é que estava lá, ao lado dos colegas, e ao mesmo tempo afastado e sem compartilhar praticamente nada daquilo que estava estudando e nem sequer sei o que pensavam ou o que estudavam. Hoje enxergo muito melhor isso, principalmente quando encontro algum colega num desses eventos “arquitetônicos”. A infinidade de arquiteturas que faço hoje, não tem definição quando me perguntam mais especificamente o que ando fazendo. Um dia talvez possa só responder “estou dando aulas”... Isso facilita muito o trabalho de ter de explicar. (Será que sou tão impaciente assim?) Mas a lição principal é que no fundo sempre estará sozinho em seus projetos. Uma ou outra pessoa te acompanhará, mas a decisão final será sempre sua. E no tempo certo. É um pouco duro aprender isso, mas é bem melhor do que o “brasileiríssimo” deixar a vida te levar... Num certo momento é aquela idéia inicial que te movimenta.

PS: Este texto esta escrito numa língua que acredito ser português. Não esta de acordo com muitas regras, não. Principalmente esta nova que unifica o português de Portugal com o brasileiro. Gosto tanto da grafia portuguesa... Fazer o que, um dia eu me adapto...

Obama hoje

Hoje é a posse de Obama. Já falam de “posse histórica”. Tudo relacionado à Obama é histórico. Vamos ver daqui a três meses, ou os 100 dias que eles falam tanto. Se não fizer nada, o que é até bastante normal, a realidade vai fazer o “mito” desaparecer. E verão que não passa de mais um presidente democrata, jovem, sem experiência e cercado de gente estranha. Falam muito de Obama, mas até agora não sei quem ele é...

Mas a posse já está sendo histórica: vinte mil homens para fazer a segurança; não há caixas de correio e os celulares não vão funcionar nas proximidades dos FBI, Capitólio e Casa Branca. Como escrevi outro dia, os sistemas de segurança de Bush são muito bons, admitido por qualquer democrata.

Basta esperar que não haja nenhum transtorno, pois ai sim, isso viraria uma “ocasião histórica”, no mal sentido. Na verdade torço para que Obama se saia bem. Mais cedo ou mais tarde vai ser nos Estados Unidos que vou morar. É quase uma tendência... Um dia já pensei isso de Lula... Acho que no fundo continuo sendo aquele otimista idiota, bem latino-americano. O mais interessante de Lula é que não achei que ele fosse se sair tão mal em tão pouco tempo. Aí nem precisei sequer falar que torcia para dar certo. Ele mesmo se encarregou de fazer com que esse mínimo de otimismo bocó desaparecesse. Bem, torcer para dar certo já que está não era a minha opção inicial.

Interessante, gostaria de saber por que falar de Obama acaba sendo falar de Lula. Deve ser algo que os dois têm em comum: uma propaganda positiva que não esclarece o debate, deixando de lado tudo que é realmente importante.

Na eleição de 2002 votei em José Serra, que se houvesse outra opção ele não seria nunca “meu candidato”. Até cogitei a idéia de votar em Ciro Gomes; até acho que ele fala coisa com coisa, como no caso do “gigante adormecido”. Mas foi um sopro de inteligência no meio de um monte de abobrinhas. Em 2006, Lula ganhou meio não sei como. Alckmin era minha opção, antes mesmo de se definir como candidato. Mas sei lá eu o que aconteceu.

Quando a Obama eu gostaria de vê-lo debater com outros candidatos. McCain é um cara até bacana, mas está longe de um Ronald Reagan. A Clinton... Bem, nem sequer preciso dizer, mas a sua época já passou, se é que teve alguma. De certa forma acho que a pressão internacional e o discurso de Obama fora dos Estados Unidos eram fortes demais para ser ignorado pela estrutura média americana. Tem horas que os Estados Unidos olham para fora, sim. Ser vítima de si mesmo é o que mais engana as mentes pouco esclarecidas a respeito de América do Norte.

janeiro 19, 2009

Não é falta de aviso...

Escuto e leio em todo o lado que o governo deve fazer isso ou deva fazer aquilo. Vejo obviamente que muitas das idéias são factíveis e fáceis de aceitar, sem lá muita polemica. Outras são um pouco impopulares, mas mais do que necessárias. Impopulares no início, como toda mudança trás certo incômodo. Mas a total paralisação de tudo é algo incompreensível. E os gritos de empresários e de sindicalistas chegam a ser ridículos. Pedem condições incompatíveis com o século XXI e com a própria sobrevivência das empresas em que trabalham. Mas o que mesmo incomoda disso tudo é um discurso que se arrasta por quase quinze anos entre Fernando Henrique e Lula e nada acontece. E por que o governo não faz nada?

Se eu tivesse a perfeita resposta eu escreveria tudo em caixa alto, mas só tenho a desconfiança (de um dos lados, pois do outro é certeza) de que o governo tem um plano digno do século XIX, daqueles que poderia claramente chamar de “vanguarda do atraso”, plagiando o título do livro do jornalista Diego Casagrande.

E que se pode fazer para mudar este quadro? Muito pouco... Eu diria que quem puder que saia daqui antes que isso afunde...

janeiro 17, 2009

The girl in the other room

Diana Krall é outra cantora que aprecio muito. Não sou um conhecedor profundo de seus discos, mas seu som é muito mais refinado, um misto em jazz e pop. Diria que vai mais além ao jazz e muito menos pop que a cantora Norah Jones, cujo breve texto que escrevi sobre sua música chamei de From the jazz to the pop. Por também tocar piano as duas poderiam ter algo em comum, o que não vejo. Acho a sonoridade de Diana mais suave e mais tradicional que de Norah.

O primeiro trabalho que escutei de Diana foi The girl in the other room, de 2004. Um trabalho bastante refinado de voz e de uma emoção incrível. É mais um daqueles discos que se tem de colocar para escutar várias faixas consecutivas. Já havia falado sobre isso quando falei do álbum da cantora Céu, a respeito da atmosfera que certos tipos de álbuns geram. E este trabalho não é diferente. E é um dos trabalhos que os críticos acham maravilhoso e que acabam não sendo tão populares, principalmente pela atenção aos detalhes e a falta daqueles refrões repetitivos. Entendo um pouco o que os críticos dizem, porém entendo também o outro lado da música, da música que aparece numa hora qualquer, num momento de desatenção, onde o refrão, a música mais simples, se encaixa.

O que é incrível nesse álbum é a máxima do arquiteto Ludwig Mies van der Rohe: “menos é mais”. O álbum de Diana é simples, porém o refinamento dessa simplicidade gera um efeito todo especial. Nada melhor que tirar excessos e fazer arranjos onde as pausas e os pequenos efeitos valorizem ao máximo a bela voz de Diana. É... O Elvis Costello é que tem sorte de ser casado com esta mulher!

Mais uma pequena particularidade: The girl in the other room inicia com uma faixa chamada Stop this Wolrd, num standard de blues muitíssimo conhecido. Só ouvindo para entender...

Umas linhas sobre George W. Bush

Meses atrás o filósofo Olavo de Carvalho fez uma breve avaliação do governo Bush, da qual vou reproduzir parte. O texto integral está aqui.

Por Olavo de Carvalho:

O que quer que se pense de George W. Bush, seis coisas a respeito dele ninguém tem o direito de negar:

1. Ele manteve seu país totalmente a salvo de ataques terroristas por oito anos.
2. Ele derrubou um regime genocida culpado do assassinato de 300 mil iraquianos.
3. Ao contrário do que alardeia a grande mídia com mendacidade histérica, ele fez isso por meio de uma guerra que ao longo da História foi, comprovadamente, a que menos vítimas civis produziu.
4. Ele praticamente desmantelou a resistência terrorista no Iraque, matando 20 mil militantes da Al-Qaeda e forçando a maioria dos remanescentes a buscar refúgio no Irã.
5. Ele promoveu no Iraque a mais rápida e espetacular reconstrução pós-bélica que já se viu, tornando a economia iraquiana mais próspera do que era antes da guerra.
6. Ele implantou a democracia no Iraque – e ela funciona.

Desses seis fatos tiro duas conclusões:

a) Ele foi o melhor chefe de segurança que os EUA já tiveram.
b) Ele foi o melhor presidente que o Iraque já teve.


Comento

George W. Bush foi um presidente sem grandes expectativas, num momento onde a economia mundial crescia, mesmo com as guerras que Olavo de Carvalho comenta, a crise nasceu em outro território por conta de outra situação. Claro, no Brasil a imprensa nunca vai admitir o que está escrito acima, e muita gente também não enxerga isso, o que já não é problema meu. Também não enxergavam quem foi Jackson e até hoje se escrevem livros sobre ele (nem pense que o estou comparando a Jackson...).

Jimmy Carter também não tinha muita popularidade ao fim do seu mandato. Assim como George H. W. Bush, só ocuparam a Casa Branca por um mandato. O único que é diferente é Bill Clinton, mas com sua popularidade não conseguiu eleger nem seu vice, Al Gore, e nem John Kerry em 2004.

Mas o fato que eu avalio não mais ou menos importante é que o mandato de Bush chega ao fim e estará passando a faixa presidencial a outro presidente também democraticamente eleito. Sem mudar nada na Constituição Americana. Sem fazer “sabotagem” ao seu sucessor, sem ter culpado seu antecessor pelos problemas que herdou (Iraque e Afeganistão – só para lembrar). De certa forma o Brasil ainda esta muito longe de uma democracia.

Num outro texto, Olavo de Carvalho diz que “os políticos americanos têm a mania de registrar suas propostas em livros antes de apregoá-las de cima dos palanques eleitorais. Seus adeptos seguem o exemplo, e seus adversários lhes respondem com outros livros. E os livros (...) têm de ser muito bem escritos, senão a mídia ranheta não lhes presta a mínima atenção. A cada novo pleito, é uma biblioteca inteira de opiniões, de críticas, de análises, de depoimentos, de projetos que aparece na praça. A produção intelectual de uma só eleição americana supera de longe, em volume e qualidade, tudo o que se escreveu sobre política no Brasil ao longo de aproximadamente meio século.

Pode ter certeza disso tudo que está escrito acima. Observem as biografias de John McCain, Barack Obama e Hillary Clinton, as duas ultimas lançadas no Brasil (por que será que não lançaram nada de John McCain? Nem o livro Faith in my Fathrers ou Hard Call. Será que não interessa aos brasileiros saber quem quase foi presidente dos Estados Unidos?).

Falta debate no Brasil. Falta muito para se chegar a um George Bush. Não adianta falar em Fernando Henrique Cardoso, se até hoje ninguém escuta o que ele diz, nem mesmo em seu partido. Mas isso fica para uma próxima ocasião.

Esta semana...

Na foto: Geroge H. W. Bush (84), Barack Obama (47), George W. Bush (62), Bill Clinton (62) e Jimmy Carter, (84).

Esta semana Barack Hussein Obama tomará posse como presidente dos Estados Unidos da América e as perguntas que estão nas capas de Época e Veja são se estaria se iniciando mais um século americano ou o final de uma Era. Da Época não sei do que se trata. Da Veja recebi e li por alto as matérias que estão nessa edição. Não saberia falar muito mais sobre o assunto, a não ser que terça-feira todos os holofotes estarão voltados para Washington.

A esperança é a de que Barack Obama mude tudo e que o mundo se transforme. O fato é que em termos de diplomacia as coisas devem melhorar. Mas o anti-americanismo é mesmo algo que não se cura. Não é porque não gosto de Obama que eu vou fazer proselitismo anti-americano. Os Estados Unidos continuam sendo o país mais rico do mundo e isso, acredito eu, Obama não vai mudar.É também um mamute militar e o perigo de se mexer nisso é muito maior do que se acredita. Eis certas questões que sinto não entrarem no debate.

Mas o que importa mesmo é que Obama leu e releu a obra completa de Abraham Lincoln. Fará uma posse semelhante à de Lincoln e quer se basear na mais americana das fontes. (Bem, eu sei que Obama tem um partido e muita gente por trás que pode atrapalhar, mas é muito mais preparado do que um Lula... Minha antipatia com ele está em termos políticos, por não gostar desse grupo dos Clinton e do Partido Democrata, assim como também não gosto de boa parte do governo Bush, principalmente do começo do governo. Assim como gosto da secretária Condoleezza Rice).

O importante é esperar. Não há mudança rápida numa democracia. O importante é sentir como serão estas mudanças no decorrer do ano. Como diz no Fantástico o apresentador Cid Moreira: “estamos de olho!”

Da Magia à Sedução

Practical Magic foi traduzido para o Brasil como Da Magia à Sedução. O filme que tem como protagonistas Sandra Bullock e Nicole Kidman, numa história sobre feiticeiras. Na verdade as duas são filhas de uma feiticeira e foram criadas por duas tias, conhecidas como feiticeiras na pequena cidade em que viviam. Mas o enredo principal é que qualquer homem que se apaixonasse por uma delas morreria.

Uma história interessante, com momentos de humor e de fantasia. Não sei se teria paciência para assistir outra vez, porém a maior lembrança desse filme está em saber que não era nenhum lançamento quando o assisti, isso em 2000, quando estive pela primeira vez em visita aos Estados Unidos.

Por ter assitido lá, não consigo até hoje lembrar do nome em português – Da Magia à Sedução. Sempre lembro desse filme e da trilha sonora que contem This Kiss com Faith Hill. De certa forma era para ser um filme com muito mais destaque, pois naquele momento eram duas das mais interessantes atrizes de Hollywood (continuo interessado e muito nas duas até hoje). Nem sei dizer se à época fez sucesso, mas com uma história de amor, ou melhor, duas, já que a irmã menos certinha era a Nicole, e uma história policial, devem ter tido seu momento.

É interessante lembrar desse filme tantos anos depois e tudo isso por uma música.

Faith...

Faith Hill é uma cantora que gosto muito. Muito mesmo. Devo ter vários álbuns dela. Não sei se é porque sua música é meio light e é legal ficar ouvindo no carro ou trabalhando, ou se é porque seus discos sempre são boas doses de música pop com outras boas doses de country music. Lembro do álbum Faith (1998) em especial, cuja primeira faixa é uma das minhas músicas prediletas: This Kiss.

Lembro de ter escutado esta música pela primeira vez durante o filme Practical Magic, com as atrizes Sandra Bullock e Nicole Kidman. Logo à primeira audição estava já entre minhas prediletas.

Após a passagem do furacão Katrina, em 2005, houve um show beneficente de televisão com a participação de Faith Hill e seu marido, o cantor Tim McGraw. Faith fez um show maravilho, cantando com muita emoção. Se eu já gostava dela, ali era o momento de se tornar um dos maiores fãs (exagero).

Tem muita gente que não gosta do “estilo” country, não sei se por “achar” que possa ter algo em comum com nosso similar nacional ou se realmente ao pensar no rótulo acha que tem a ver com a música tradicional americana. O country talvez seja o estilo musical que mais tenha se modificado na ultima década. Diferentemente do Brasil, lá as cantoras, cantores e grupos tocam e cantam o que gostam. Se o sucesso não os alcançar é porque não era para ser mesmo. Não há truques e nem uma “crítica” que sugere que coisas absurdamente chatas sejam consideradas boas por critérios dignos de eruditos, sendo que são populares... Tanto o é que o American Idol de 2005 teve como ganhadora uma cantora neste estilo country – Carrie Underwood - e o segundo colocado um cantor de hard rock – Bo Bice.

Mas voltando a Faith Hill, além de ser uma mulher lindíssima canta muito bem e seus discos, com boas diferenças ainda são bastante constantes. Gostaria de um dia ter a oportunidade de vê-la ao vivo, pois a melhor forma de se avaliar uma cantora ou um grupo é sua apresentação ao vivo. Estou no aguardo de seu novo álbum, que deverá ser lançado em breve no Brasil.

Uma balada ao amanhecer...

Hoje acordei escutando uma música da Fergie, tocando na televisão. Não me era estranha sua melodia, mesmo tendo total certeza que desconheço a carreira da cantora. O que me chamou a atenção foi sua letra, um tanto romântica e sem graça, porém com alguns detalhes que gostei, como esta parte:

(...) The path that I'm walking, I must go alone
I must take the baby steps til I'm full grown,full grown
Fairy tales don't always have a happy ending do they
And I forseek the dark ahead if I stay (...)

Big Girls Don´t Cry - Fergie (2006)

Engraçado que a letra me parece meio desconexa. Mas ao mesmo tempo a melodia parece tão familiar. Ontem escrevi sobre Madonna, lembrar de Fergie hoje é até interessante. Lembro de ter falado que o melhor do Rock in Rio Lisboa era ela e a Ivete Sangalo... (aqui e aqui).

Bem, mal posso falar da carreira de Fergie, mal conheço também o Black Eyed Peas, porém parece ser interessante, do ponto de vista melódico. Não sei se compraria um disco deles. Mas me parece ser muito melhor a ouvir outras músicas “eletrônicas”, e uma afirmação: Fergie realmente canta e encanta...

janeiro 16, 2009

Fico a pensar e não entendo...

Dentro do ambiente musical algo sempre chama muito a atenção: a veneração ao ídolo. Parece até comum falar nisso, mas me incomoda o fato de como são tratados os tais “fãs”. Em muitos casos como perfeitas aberrações da natureza. Como se fosse um escândalo fazer alguma loucura para ver o ídolo querido. Bem, até eu achei certo absurdo o que fizeram alguns para ver Madonna, no mês passado, tanto em São Paulo como Rio de Janeiro.

E é exatamente isso que fico a pensar e não entendo. Fazer uma loucura aos dezesseis anos, aos vinte, até mesmo aos trinta tem sempre aquele tom de recordações da juventude. Mas até agora não entendi a “filosofia” de Madonna, por exemplo, para empolgar tantas platéias ao redor do mundo. Já me falaram que é uma estratégia de marketing, que ela tem uma superprodução de show, que empolga com sua sensualidade no palco, entre outros mil atributos. Mas para mim não passa de uma cantora pop dos anos 1980. Não precisaria escrever mais para notar que não sou fã de sua música, mesmo gostando de um de seus discos, True Blue, de 1986. Eram naqueles anos que Madonna despontava e lembro de ouvir até que consideravelmente bem este LP... E gostar.

Não sei por que depois tive um completo desinteresse na sua arte. Após este LP seguiram-se vários, com vários momentos, inclusive com a vinda dela pela primeira vez ao Brasil em 1993. Nesta época se consolidava uma opinião a respeito de certos artistas pop, a que só vinham ao Brasil quando em completa decadência artística. Ainda em 1991, tentavam buscar uma substituta para Madonna, ou algo que se assemelhava tanto em sonoridade como também em beleza e sensualidade. Paula Abdul era uma das cotadas, assim como Janet Jackson e Cyndi Lauper. Como se vê nenhuma delas substituiu o mito Madonna. Um dia quem sabe vão parar de tentar achar “genérico” de artistas...

Mas saindo de Madonna para os fãs de Madonna, estes lotaram os estádios. Tudo bem que poderia haver uma quantidade de pessoas curiosas para assistir ao show, como um passa-tempo ou uma “baladinha”, mas o que lotou os estádios foram mesmo os fãs. Isso não se pode ter nenhuma dúvida. Como ela fez para ter fãs novos não faço idéia, pois não creio que o show foi de pessoas com quarenta anos, os que tinham vinte e poucos nos anos 1980, ou por adolescentes do início dos anos 1990, agora com trinta e poucos. Isso gera o mito. O que não entendo é fascínio que ela trás, com uma bagagem um tanto quanto vazia. Sensualidade e música pop (algumas de boa qualidade) não é nenhum mérito dela. Certas cantoras dos fins dos 1990 e início dos 2000, como Faith Hill e Shania Twain, tem muito mais a oferecer musicalmente do que Madonna. Claro, tirando o fato de que estas cantoras têm uma pitada muito mais country do que pop (meio eletrônico), mas que um show ao vivo delas é música verdadeira, de instrumentos e voz, não um espetáculo teatral. Talvez seja este espetáculo teatral o que esperam seus fãs.

Quanto à formação do mito, não vejo hoje novos ícones para empolgar a juventude. Por pior que possam ter sido aqueles anos 1990, ainda havia muito dos anos 1980 nacional, como Titãs, Paralamas, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial e Legião Urbana, e existia uma quantidade incontável de bandas de hard rock com seus discos ainda quentes e com grandes shows acontecendo. Num breve histórico sem muita profundidade colocaria a edição do Rock in Rio II, as edições do Hollywood Rock, os shows do Guns n`roses de 1992, o AC/DC de 1996 e as edições de Philips Monsters of Rock. Sem contar outros como Skol Rock, transmutado nos anos 2000 para Skol Beats.

As opções eram muito maiores de grandes eventos, com grandes nomes do momento, dando a impressão da opinião que emiti acima (...só vinham ao Brasil quando em completa decadência artística) para aqueles que não estavam em evidencia naquele momento. Hoje praticamente inexistem as grandes bandas novas. Logo show de bandas em atividade com grande histórico e fãs, claro, são os grandes eventos de show no Brasil. Nisso estão Ozzy Osbourne, Madonna, Elton John, Iron Madein e aqueles nacionais todos dos anos 1980, ainda em atividade, como Capital Inicial, Titãs e Paralamas.

E como a mídia não tem o dever da reflexão, resta a este blogueiro aqui tentar colocar no papel (num blog) alguma idéia a respeito disso. Onde estão os críticos culturais para explicar a inexistência de novas bandas e novos álbuns que mostrem a história da música pop dos anos 2000? É um sofrimento, já que vender discos não representa mais nada num mundo onde a mídia pode flutuar gratuitamente em milhares de iPods pelo mundo...

Ao final da biografia de Eric Clapton, ele toca neste assunto da indústria fonográfica. Ele afirma não fazer idéia de como serão as gravadoras que hoje atuam no mercado, mas tem certeza que tudo será completamente diferente do que é hoje. Suas palavras parecem proféticas... Uma coisa é indubitável: Clapton entende mais de música e de gravadoras do eu e muitos críticos juntos...

janeiro 09, 2009

Prepare-se Obama

Estou gostando cada vez mais das ironias de Marcos Guterman:

“A equipe de transição presidencial nos EUA confirmou que a sogra de Barack Obama, Marian Robinson, vai morar na Casa Branca.”

http://blog.estadao.com.br/blog/guterman/?title=prepare_se_obama&more=1&c=1&tb=1&pb=1

janeiro 07, 2009

Sobre a Guerra Fria e outras histórias

Lendo o blog do Jornalista Marcos Guterman, este que escreve com certo humor e certa fina ironia, até um pouco de sarcasmo, falava sobre o “humanismo” de Hugo Chaves, ao mandar embora o embaixador de Israel de seu país. Eu fico impressionado com os comentários dos leitores...

Para Hugo Chaves virar um ditador basta somente algum detalhe que desconheço... Uns me dizem que é por há eleições e ele é eleito. Deixe me ver: então se há eleições diretas para presidente não é ditadura?

Bem, a única ditadura que conheço de perto é a do Brasil, entre 1964 e 1985 (entre 1984 e 1985). Eu era criança quando acabou e o José Sarney tomou posse, com Figueiredo saindo pelos fundos do palácio, sem passar a faixa presidencial a ele. Os motivos que o levaram a fazer isso não fiquei sabendo até hoje, se é porque era o Sarney, ou alguma outra condição militar. No Brasil chamam de ditadura o Período Militar de Exceção, que é o nome que adotei para descrever o período, um dos menos estudados da história brasileira. Neste período foram cinco militares a governar o Brasil (marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, marechal Artur da Costa e Silva, general Emílio Garrastazu Médici, general Ernesto Beckmann Geisel e general João Baptista de Oliveira Figueiredo) e não um único ditador, caso de Getulio Vargas entre 1930 e 1945, de Cuba, Chile, Argentina, Paraguai, Portugal e Espanha (tudo isso depois da Segunda Guerra Mundial e no ocidente, pois no oriente perderia as contas). Logicamente não peguei os anos de chumbo, o período que era bravo para liberdade no Brasil. Liberdade individual, além da liberdade de imprensa. Mas isso quer dizer que houve durante este período liberdade de imprensa e mais: eleições diretas para prefeitos, vereadores, deputados e senadores. Ou seja, eleição não é definidor de "não-ditadura"...

Desde o lançamento dos livros de Elio Gaspari estudo este período, não publicando nada do que tenho encontrado de material. Mas o que tenho encontrado de desinformação... Em 25 anos, desde que acabou a ditadura no Brasil, penso eu, achava que estaria mais fácil de estudar o período. É incrível, se fosse jornalista estaria estudando muito mais o assunto. Eu não sei fazer reportagem (e acho que se fosse jornalista também não gostaria) e encontro pouca reportagem com os principais nomes daquele período. Não encontro também uma “vasta” bibliografia. Se não fossem os livros de Gaspari, acho que mais nenhum outro livro a respeito teria sido publicado. E ele ilumina uma questão da maior importância: a total heterogenia de políticas de Estado nos cinco governos.

O pior de tudo que parece a academia brasileira não ter nenhuma vocação para estudar a história do próprio país. Não sei se porque alvos do período ou algum tipo de medo, mas eu, que era criança no período, não tenho nenhum vinculo com ele e nem com quem queria sua queda ou continuidade. Sinto livre para escrever sobre as múltiplas visões do período. O que dá uma trabalheira sem igual. Por que escrever um livro ensaio é tão complexo sobre um tema que deveria estar já estudado, com uma bibliografia monstruosa?

Sei lá eu se isso é influencia americana, mas lá, a pouco, fiquei sabendo do lançamento de American Lion – Andrew Jackson in the White House, a respeito do ex-presidente americano Andrew Jackson, um dos que mais contribuíram para a fundação do partido Democrata. Foi também militar, primeiro governador da Florida, cuja campanha militar liderou, tomando as terras da Espanha. E basta também ver que há muita bibliografia a respeito. Como se pode ver, igualzinho ao Brasil... Detalhe: Jon Meacham, autor de “American...” tem publicado em português um de seus títulos, o que duvido que aconteça com este, por ser o assunto muito pouco popular no Brasil.

Mas voltando ao Guterman, ou melhor, aos comentários dos leitores do Guterman, um deles tentava explorar a hipótese que Israel era parte dos planos da Guerra Fria. Bem, isso parece até meio óbvio... O que fica estranho é não falar da participação soviética. Se os Estados Unidos financiaram a defesa militar de Israel, fica uma questão: Por que será que Israel precisou de uma defesa militar? E se tem algo a ver com a Guerra Fria outra questão: De onde será que vêm os mísseis do Hamas?

São questões meio estranhas, mas com certeza as pessoas no Brasil tendem a esquecer que existia outro lado na Guerra Fria, além dos Estados Unidos. Mas qual deles era mesmo uma democracia?

Saindo dessa história de democracia e ditadura e indo para a questão da “terceira força”. Hoje sabemos que a Guerra Fria não tem mais os mesmos campos de atuação, a bipolarização, onde o inimigo do meu inimigo é meu “amigo”... Desde a guerra entre Irã e Iraque isso já havia terminado. Hoje não há um inimigo como a URSS (pelo menos oficialmente) e a luta com a China se dá em termos comerciais. É um mito não achar nada de estranho na Rússia com seus recentes conflitos com a Ucrânia e a Geórgia. Isso sem falar na eleição do primeiro ministro russo e do envenenamento do presidente da Ucrânia. Mas achar que Irã e Rússia são “amigos” é uma aberração.

O fundamentalismo islâmico é hoje a terceira força, em combate ora contra o que chamam de Mundo Ocidental, ora ao lado de ditadores como Chaves e o primeiro ministro russo. Falei de novo em ditadores. Mas, eles são eleitos democraticamente! Será só a eleição que define uma democracia? E no Irã, como será que se pode definir “democracia”? O engraçado que sou eu falando sobre isso... Por que eu? Será que porque eu concorde com o Guterman? Será só uma questão de discordar ou concordar? Finalizando, hoje a Guerra Fria é travada por três forças e todas podem ter “a bomba atômica”! Será que o Mundo vai acabar? Lembrei da música do Rádio Táxi:

(...) Toda a terra reduzida
A nada, a nada mais
Minha vida é um flash(Flash!)
De controles
Botões anti-atômicos
Olha bem meu amor
É o fim da odisséia terrestre
Sou Adão e você será...

Minha pequena Eva (...)”

Não poderia terminar este texto mais confuso do que comecei. Tratar da ditadura brasileira, de Hugo Chaves, de Wladimir Putin, de Victor Yuschenko, Guerra Fria e o conflito de Israel na faixa de Gaza e ainda conseguir colocar um dos temas mais inacreditáveis das letras das músicas dos anos 1980 no Brasil. Eu era criança e lembro das letras com temas sobre a “Bomba Nuclear”, aquelas que foram usadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Graças a elas sabemos que os Estados Unidos nunca mais usarão as bombas... Nenhum presidente seria louco o bastante para fazer isso no Ocidente.

Se existisse uma forma de se proibir a produção de armas bélicas no mundo, provavelmente não haveria confrontos. Mas isso serve para os dois lados... Sempre. Não adiantaria só tirar só as armas de Israel.

Outra questão me veio à mente agora: por que os judeus conseguem viver em paz com os cristãos e até mesmo os protestantes conseguem viver razoavelmente em paz com os católicos? Outra: Como são tratados os cristãos no Oriente Médio? (aqui).

janeiro 02, 2009

Saia Justa

Lembrava vagamente deste programa. Afinal, talvez uma das boas qualidades da TVA seja não ter o canal GNT... E nem o Futura, pois até hoje não consegui ver nenhum programa que me animasse nestes dois canais (ainda não vi o Manhattan Connection). Atualmente, o Saia Justa é apresentado pela jornalista Mônica Waldvogel, a filósofa e Márcia Tiburi e as atrizes Maitê Proença e Betty Lago. Sei que já participaram do programa, que esta no ar desde 2002, a escritora Fernanda Young e as atrizes Marisa Orth e Luana Piovani, assim como as cantoras Rita Lee, Ana Carolina e Marina Lima. Como nunca havia visto o programa, foi para mim interessante ver a discussão entre as garotas. Eu só trocaria a Mônica Waldvogel... Sua é um tanto desafinada, não acham? Sei lá eu porque está na Globo ainda... A mesma coisa me pergunto a respeito da jornalista Mariana Godoi, no SPTV.

Bem, mas voltando ao programa, fiquei impressionado em quanto as quatro ficam expostas dando suas opiniões no ar. Em muitos momentos deixam escapar pérolas. O mais engraçado quando Mônica fica acuada. Tenho risos profundos e ela sempre fugindo de dar sua opinião... Será que imaginam que nenhum homem vê o programa? Certo que é bem chato, pois eu não tinha absolutamente mais nada para ver entre os 20 minutos que esperava para começar um filme noutro canal, e este programa foi o que de melhor tinha para ver. E olha que saí com uma opinião melhor ainda a respeito de Betty Lago.

Avaliando as quatro mulheres, todas conhecidas, Betty Lago é a que mais simpatizo. Mostrou-se, nessa pequena amostra, a mais inetressante das quatro. A filosofa Márcia Tiburi é um pouco chata demais. Sem contar que fica tentando enquadrar as coisa sob o angulo da filosofia. E olha, que ela de filosofia é para mim bastante confusa. Gosta de Michel Foucault e Friedrich Nietzsche, os filósofos da confusão. Além disso, é a que tenta sempre impor suas idéias, tornando-se uma chata. Maitê tem lá os seus encantos, mas também irrita muito suas múltiplas opiniões; à diferença de Lago, Proença tem certa postura para a auto-afirmação.

Escrever quatro parágrafos para um programa que não gostei, mas que é interessante como idéia, é suficiente para mostrar o panorama geral das coisas. Outro dia, num podcast de Diogo Mainardi (em 07 de outro de 2008), perguntava se a propaganda com um jogador de futebol faz diferença na hora de aplicar dinheiro. Além disso, adicionava: “(...)Ainda mais revelador do que o comercial com Kaká é o comercial com Neto, o antigo meio-campista do Guarani, que anuncia uma corretora on-line concorrente à de Kaká. A idéia de que alguém, na hora de decidir seu futuro financeiro, possa levar minimamente em conta o testemunho de Neto explica, por si só, a crise da economia mundial, do comportamento do mercado de derivativos (...). Ao analisar a origem do estrangulamento do crédito internacional, o Wall Street Journal e o Financial Times sempre se referem à Fannie Mae e às suas hipotecas podres. Na verdade, deveriam se concentrar em Kaká e em Neto. O fato de haver investidores dispostos a seguir seus conselhos demonstra que tudo está prestes a desmoronar. (...)” Lembrei imediatamente disso na hora de pensar na opinião das quatro mulheres. É melhor ouvi-las àquelas especialistas de óculos, estilo Velma do desenho Scooby-doo, oriundas do complexo PUC-USP, que a cada três palavras colocam uma “entidade” chamada “mulher brasileira média” no meio...

janeiro 01, 2009

Diary of a Madman

Estava pensando em fazer um novo blog, com questões mais específicas que tenho postado pouco, por ter temáticas completamente diferentes dos assuntos tratados. Mas se o tempo já é escasso a este, que diria alimentar dois blogs? Então o que resolvi fazer foi uma nova “seção”. Na verdade é uma tag específica para cada postagem com tema extremamente variado, mas contínuo. Pensei num nome e Diary of a Madman, inspirado no segundo álbum da carreira solo de Ozzy Osbourne, lançado em 1981, que me leva a escrever aquilo que eu ache que é loucura, ou seja, o “diário de um louco”.

Obviamente este álbum tem toda uma história. Foi um dos últimos álbuns que comprei do Ozzy. No início dos anos 1990, o rock`n roll estourou nas “paradas de sucesso” (termo horroroso) com bandas como Guns n`Roses, Faith No More e Skid Row. Ozzy Osbourne lançou o álbum No More Tears (1991) que foi a primeira vez que tive contato com Ozzy, sendo ele um dos meus artistas prediletos até hoje. Ao tomar contato em 1991, até 1994 tinha praticamente todos os álbuns de Ozzy. Sem contar vídeos e entrevistas de revistas. Bem longe de um fanatismo, pois as revistas eram as normais de banca de jornal. Esse hábito de guardar entrevistas muito me ajudou, principalmente em trabalhos na faculdade, assim como é boa fonte de indicações.

Além de escutar a carreira de Ozzy, escutei e conheci nestes anos o Black Sabbath, a banda que fez enorme diferença no cenário musical. O primeiro contato também foi em 1991, com uma coletânea chamada We Sold our Soul for Rock`n Roll (1976). Porém, do Black Sabbath não tenho sequer uma mísera parte da discografia. O interessante que falar em ter tudo do Ozzy e não ter quase nada do Sabbath parece um “atentado ao mito” dos anos 1970. Eu, no fundo, não ligo à mínima... Exatamente esta é a tarefa dessa seção: acabar com os mitos e gostar de algo por prazer.

"Expedições pelo Mundo da Cultura" 2009

O programa de cultura “Expedições pelo Mundo da Cultura” são encontros exploratórios em torno de temas da alta cultura, voltados a pessoas interessadas em ampliar seus conhecimentos. Os cursos são ministrados em algumas cidades pelo prof. José Monir Nasser, economista, pesquisador e escritor. A forma das aulas é baseada na metodologia da Educação Liberal de Mortmer Adler e é livre para qualquer idade e qualquer formação.

Os livros estudados no curso de São Paulo serão:

Teogonia, de Hesíodo - 07 de março;
Gênesis, da Bíblia - 04 de abril;
Édipo Rei, de Sófocles – 16 de maio;
Fedra, de Racine – 27 de junho;
A Peste, de Albert Camus – 25 de julho;
Os Noivos, de Alessandro Manzoni – 22 de agosto;
Fausto I, de Goethe – 19 de setembro;
Fausto II, de Goethe – 17 de outubro;
Don Juan, de Molière – 14 de novembro e
Don Quixote, de Cervantes – data a confirmar (19 de dezembro).

Conheci o programa em 2006, começando a cursá-lo em 2007, quando da primeira edição na cidade de São Paulo. As aulas duram cerca de 4 horas e serão realizadas no Espaço É Realizações, localizado à Rua França Pinto, 498 – Vila Mariana – São Paulo - SP (http://www.erealizacoes.com.br/).

Feliz 2009!

Inicialmente quero desejar a todos um 2009 maravilhoso e que todos os planos e metas se realizem da melhor forma possível. Quero também desejar a proteção divina para todos, tanto do santo padre Pio de Pietrelcina, Nossa Senhora Aparecida, São Jorge, Santa Clara e lembrando de uma música que escutava na infância:

“(...) Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Oh! Oh!
A pé ou de avião...
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar (...)”


Andar com fé – Gilberto Gil (1982)

2009: todos o início de ano fazemos planos, promessas e mais um monte de outrois discursos, até mesmo listinhas. Porém, com o decorrer do período vamos sendo “levados” por inúmeros incidentes de percursos, o que chamamos de “acidente de percurso”. Mas para 2009 tentei uma nova fórmula: iniciar um novo ano com inúmeros planos, traçados nos últimos meses de 2008. Vamos ver se dará certo.

Fazendo uma retrospectiva de 2008, meu segundo ano neste blog, tive menos tempo para me dedicar ao blog, menos tempo para me dedicar aos trabalhos de pesquisa e menos tempo com os amigos. Logo decidi que tinha que mudar de trabalho, pois nem o dinheiro estava valendo a pena. Aí veio uma crise e tudo parece derreter... É até meio difícil ter esperança num novo ano, mas, não sendo pessimista, tenho pelo menos três projetos para este ano. Dois relacionados a educação e um a atividades que há tempos pensava a respeito. Mas as coisas tem de dar certo já em janeiro...

Algumas promessas vão se realizar de qualquer forma: perder umas gordurinhas e ver mais os amigos. São independentes do resto, felizmente!

Feliz 2009 a todos!

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...