julho 22, 2007

Um golpe em 1961...

Desde 2005, com uma pausa de reflexão bastante grande, venho apurando dados para uma pesquisa que sempre me chamou a atenção. Sempre tive muita curiosidade a respeito do referido “Golpe Militar”. Uma questão de lógica se firmava ali. Em 2004, tive um dos primeiros indícios do que sempre desconfiei. Aparentemente eu sempre desconfio de respostas prontas e rápidas, ou aquelas que dão margem a versões. Primeiro de tudo dessa pesquisa esta sendo a coleta de dados. Segundo aspecto a coleta de versões, que são importantes por acompanharem fatos, mesmo que a interpretação deles seja menos importante. A bibliografia sobre o período, de 1964 a 1984 é bastante escassa e o pior de tudo que os agentes, de um dos lados, praticamente não mais existem. Do outro parece existir sempre um viés ideológico. O pior de tudo é não saber onde realmente estou pisando.

Para mim esta pesquisa será de fundo científico, e, claro, tem um objetivo maior, que deverá servir para no futuro como base para outra pesquisa. Eu procurei saber primeiramente por que o estudo de história no Brasil sempre foi muito complicado. Primeiro os agentes da história não faziam questão de escrever sua versão e, segundo, quando o faziam era quase fantasiosa. Ter acesso a um livro como “A Arte da Política”, de Fernando Henrique Cardoso, é quase uma raridade brasileira. É um livro baseado em fatos, não em versões. O interessante que é escrito por um agente da história, o próprio presidente. Voltando ao caso do “Golpe” a primeira vez que tive contato com algo reproduzido de forma um pouco mais isenta, foram os quatro volumes escritos por Elio Gaspari: “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Derrotada” e “A Ditadura Encurralada”. São notas que não acabam mais. Mas finalmente pela primeira vez alguém mostrou de cara que o período não foi homogêneo. O que já vários pesquisadores apontavam para isso, principalmente no primeiro período, governado pelo Marechal Humberto de Alencar Castello Branco.

Outro caminho que resolvi acrescentar foi mapear nomes e fazer uma breve biografia de cada agente. Comecei e não acaba mais de aparecer nomes. O mais interessante foi saber que Castello Branco fora chefe de gabinete do presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra, eleito em 1945 e governado até o final de seu mandato em 1951, onde passou democraticamente a presidência para Getulio Vargas, eleito em 1951. No aprofundamento da pesquisa, é nítido que o governo de Dutra, onde se destacaram alguns planos desenvolvimentistas, aparecem outras questões, como a própria eleição de 1945, onde surge o Brigadeiro Eduardo Gomes. Fernando Moraes, um escritor que tem já em seu currículo algumas biografias, entre elas uma que agora deverá sair em breve, escreveu recentemente uma biografia sobre o Brigadeiro Montenegro. Eduardo Gomes e Montenegro foram duas figuras importantes no cenário nacional, normalmente em lados opostos.

O mais interessante de fazer esta pesquisa é que ela “não se enquadra no perfil” da minha formação. Foram-se os tempos em que o meio acadêmico brasileiro era formado de reais pesquisadores. Hoje em dia, uma formação tem que se pautar em diretriz especifica da formação do seu “perfil”. Ou seja, não importa que você tenha um plano de pesquisa com hipóteses, material bibliográfico, metodologia de trabalho, identificação de todo os agentes promotores, o fato de ser arquiteto me impede de trabalhar um tema da sociologia ou história (desde que não seja ligada diretamente à história da arte). Logo decidi fazer esta pesquisa com próprio empenho e com o auxilio de alguns outros curiosos. Mas sempre me restringindo a encontrar os fatos e conclusões sozinho. O mais interessante esta sendo ver que a maré é bem contraria a lógica dos fatos. E se fica num clima de mais expectativa para ver os fatos se desdobrarem. Isso inclui um recente lançamento do livro, que ainda não tive a oportunidade de ler, do ex-ministro do exército General Sylvio Frota. Cada ano aparece mais possibilidades, o que era de se esperar, afinal já passa de mais de vinte anos de abertura política.

O que é interessante que não foi uma “guerra” da qual existiu lados vencedores e fracassados. E justamente por isso existiu anistia, para os dois lados. Isso é de uma importância altíssima e sem esse detalhe se complica muito o entendimento de vários aspectos desse período histórico. Como falei logo no começo do texto, um fato que me chamou muito a atenção foi um artigo do jornal “O Estado de São Paulo” de 2004, mostrando uma lógica do que aconteceu naquele ano de 1964. Não reproduzo o artigo aqui, pois existe todo um caráter de assegurar as minhas fontes e mais ainda, checar por todos os lados a hipótese. Se fosse conclusivo eu colocaria aqui e daria meu endosso, como prova. O que mais quero com essa postagem é que a reflexão de um período não cabe em poucas linhas e poucas idéias e nem foram poucos os que agiram para uma coisa e outra coisa. E muito menos serve de prova uma reportagem de jornal. Em setembro desse ano tinha planejado uma viagem, por onde passaria em Washington, justamente para ter acesso a mais documentos desse período, na visão americana. Não tenho pressa para seguir esta etapa da pesquisa ainda, pois muita coisa já pode ser acessada e necessito de muito mais tempo do que eu me dedico a esta pesquisa para as devidas traduções dos trechos do que já tenho (e o que é de domínio público). Além da versão americana tem a versão francesa dos fatos. Esta quase obscura para as lentes deficientes da crítica histórica brasileira.

Mas uma questão eu coloco aqui, e, sem dúvida, é mais importante e honestamente pautada mais por uma lógica do que por uma questão de versão. Se existiu “apoio” americano para o “Golpe”, existia apoio soviético para a “revolução”? Muito importante para esclarecer certas dúvidas é que quando um sistema de segurança é desarticulado ou extinto seus documentos não podem simplesmente ser colocados como acesso público. Pois ali existe verdade, mesmo que grande parte seja fruto de paranóia ideológica. Sabe-se de muitos documentos da CIA. Sabe-se das suas atuações no exterior. Assim como se sabe da Interpol, dos sistemas de segurança franceses e dos israelenses. O que não se sabe, ou melhor, não se publica em português, sobre como agiu a KGB e em que paises tiveram suas articulações. Nitidamente sabe-se das articulações em Cuba. Isso é fato, e não versão. E, como já disse um grande estudioso num assunto ligado a Maçonaria, é que o êxito de uma sociedade secreta é permanecer secreta.

Aos amigos só tenho a dizer que esperem com muita paciência a minha emissão dos fatos. Pois, por mais que este tema me agrade muito, ele no momento é secundário. E mais que isso, a importância dele para se entender o atual momento, passados estes mais de vinte anos, vem perdendo sua importância e assim digo que estamos chegando à adolescência da redemocratização no Brasil. E como qualquer adolescência é cheia de verdades que se desmancham com a idade e a maturidade.

A maturidade é proveniente daquilo que não se entende. O esforço para o entendimento é em grande parte escutar e observar as atitudes daquilo que está próximo à sua volta. Não se deixar levar pela proximidade dos fatos e assim captar a sensação e desta ter a certeza nas atitudes tomadas. É lógico que a proximidade da minha família com a do Presidente João Belchior Marques Goulart me anima bastante para tocar esta pesquisa, que acredito publicar na forma de um livro em 2016. Essa data tem todo um plano. Não é à toa. Desde os anos 1960 a distancia entre as famílias aumentou, praticamente quando da mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília. O que tenho são os inúmeros depoimentos daqueles meus tios e tias velinhos, dos quais muitos já se foram. Mas era agradável demais conversar com eles. Em muitos casos ouvia as histórias de São Petersburgo, quando criança, e achava que era somente uma época. Nunca esperaria ver, com meus próprios olhos, aos quatorze anos, que aquelas histórias dos anos 1940 eram mais vivas do que nunca, naquele início de anos 1990.

E para finalizar este pequeno texto, tenho em mente uma outra pesquisa, que já andei muito nos últimos dois meses. Esta sim, ligada ao meu “perfil”. Falarei mais dela em breve.

Notas de Rodapé

Ao falar de Fernando Moraes, ele é o biografo de ACM – Antonio Carlos Magalhães. Ele iniciou estes trabalhos biográficos em 1996. Estava com eles não conclusos justamente esperando a aposentadoria do então senador, falecido nesta última sexta-feira, 20 de julho de 2007. Esperava lançar esta biografia já com ACM fora do meio político, pois isso é muito ruim para um biografo fazer uma biografia de quem ainda atua e tem possibilidades de influenciar direções nacionais, caso do senador. O que ele poderia ter feito é um primeiro tombo, Volume I, algo assim, e tentar dividir o período político do senador. Pois o lançamento da biografia com ele já fora da cena terrestre, deixa uma dúvida de suas críticas ao escritor. E por outro lado deixa Moraes a trabalhar mais tranqüilo, sem a pressão de colocar fatos constrangedores. Não sei, mas preferiria a versão analisada pelo biografado.

Por que 1961?

Bem, esse título não poderia nascer se não de uma música que ouvi aos quinze anos de idade. Isso dá outro tópico. Mas vai a letra:
O Sonho é Popular (1991) – Engenheiros do Hawaii

“a pampa é pop
o país é pobre
é pobre a pampa
(o PIB é pouco)
o povo pena mas não pára
(poesia é um porre)
o poder
o pudor
VÁRIAS VARIÁVEIS
o pão
o peão
GRANA, ENGRENAGENS
a pátria
à flor da pele
pede passagem...PQP
o sonho é popular
eu li isso em algum lugar
se não me engano é Ferreira Gullar
falando da arquitetura de um Oscar
o concreto paira no ar
mais aqui do que em Chandigarh
o sonho é popular
UMA PÁGINA ARRANCADA
UM SEGREDO MANTIDO
EM PASSAGENS SUBTERRÂNEAS
SOB A PRAÇA DA MATRIZ
UMA STÓRIA MAL CONTADA
UMA MENTIRA REPETIDA
ATÉ VIRAR VERDADE
(UMA PÁGINA VIRADA)
UMA PÁGINA SUBTERRÂNEA
UM SEGREDO ARRANCADO
EM PASSAGENS MAL CONTADAS
ATÉ VIRAR VERDADE
A VERDADE A VER NAVIOS
UMA MENTIRA REPETIDA
...REPETIDA, REPETIDA
NUMA PÁGINA QUALQUER
UM GOLPE EM 61
UM GOLPE QUALQUER
NUM LUGAR COMUM”

2 comentários:

passaportecultura disse...

Ludo
vc escreve textos enormesssssssss
rs
vc podia ter feito a facul de jornalismo hehe
pois é. concordo com vc.. o tempo estimado para a construção do novo aeroporto pode virar piada mesmo( isso se n rolar a troca de presidente e o próximo alegar que o aeroporto n foi prometido no governo dele) kakaka

Denis disse...

Parabéns pelo artigo. Realmente algo de extrema importância e que a mídia em geral faz com que os brasileiros deixem de lado. Aguardo ancioso pelo livro.

Denis.

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