julho 06, 2007

A cidade e o rio

Em 2003 tive a oportunidade de ficar uma manhã inteira conhecendo o edifício do BankBoston, atual Itaú Personalité, na Av. Luis Carlos Berrini, aqui em São Paulo. Lá fomos orientados por toda a equipe de facilities, nome empregado por eles para a equipe de infra-estrutura, normal a qualquer banco que tenha um número a se considerar de agencias. Lá passamos por todas as áreas e uma das mais interessantes foi exatamente a de negócios em bolsa de valores, cujo ar condicionado trafega pelo piso e não pelo teto. Assim o teto tinha um desenho diferenciado e com acústica mais eficiente. Um prédio de muito boa tecnologia, digna do escritório SOM - Skidmore, Owens & Merrell. Mas no final disso tudo, entramos novamente numa questão de escala. O BankBoston tinha naquele momento 70 agências. É muito fácil falar em tecnologia e controle quanto se tem uma rede pequena. Tanto é assim que nunca conseguiu aumentar a rede, ficando restrito a algumas agências localizadas em endereços famosos. Normalmente casas restauradas e convertidas em agência. Tudo muito interessante, mas pouco prático e se mostrou ter um alto custo financeiro.

Esta introdução na verdade nada tem a ver com o tema, mas foi nessa visita que um livro, patrocinado pelo BankBoston, chamado “As Cidades e os Rios”, que não consegui achar em lugar nenhum para conhecer seu conteúdo, foi apresentado. Apresentado e comentado, porém, se comentou que as cidades todas têm uma forte ligação com os rios que por ela passam. Por esse motivo, então, o edifício se localizava a beira do Rio Pinheiros. Mais um papinho, ou seria o inicio do papinho, daquela visita, que, falando francamente, foi uma visita de instalações e não de arquitetura.

Agora, voltando a idéia da cidade e dos rios, São Paulo foi fundada na colina formada por três rios: Anhangabaú, Anhembi e Tamanduateí. Hoje todos invisíveis, canalizados. Além disso, se formos recolocar a região da Av. Luis Carlos Berrini nas origens da história da urbanização paulista, esta estaria na cidade de Santo Amaro. Também sendo colonizada e formada por seus caminhos fluviais, pelo Rio Pinheiros e Jurubatuba.

Conforme escrevi em trabalho acadêmico no ano 2000:

“(...) Acerca do Colégio de Piratininga formaram-se vários aldeamentos indígenas em virtude das aldeias fundadas pelos padres da Companhia de Jesus que depois foram agrupadas em torno de capelas construídas já por proprietários de terras locais e comunicavam-se com o Colégio através de precários caminhos terrestres ou por rotas fluviais. Alguns aldeamentos desapareceram, outros formaram núcleos fixos, como as aldeias de Pinheiros, Embú e Ibirapuera, esta localizada na margem esquerda do Rio Geraibatiba, hoje Jurubatuba, que deu origem à vila de Santo Amaro.(...)”

Se ampliarmos isso, veremos que a vida urbana depende de muitos aspectos para se manter, digamos, viva. Aquele fenômeno das cidades fantasmas no meio oeste americano, se deu por não mais ter recursos minerais para se manter viva a cidade. Enquanto existia o ouro, se mantinha viva a cidade artificialmente, como até hoje é mantida Las Vegas. Assim como ao se estudar duas das civilizações antigas, os egípcios e os persas, sem a relação com os Rios Nilo, Tigre e Eufrates, nunca teriam prosperado. Em suma, a idéia de se falar dos rios paulistas hoje, se faz necessária. Pois, no mundo se resgata a cultura da cidade relacionada ao rio. Este não sendo mais uma barreira, mais sim um lugar. Da mesma forma as paradas das estradas de ferro também contribuem para a formação de novos centros urbanos, assim como no litoral os portos tinham esse fator de agregar em torno de si.

O fenômeno paulista tem outras diferenças, pois se aqui o rio foi fator para se fundar a cidade, onde existe pesquisa que fora construída uma fortaleza, claro, não de proporções iguais àquelas construídas no litoral, sua importância como entreposto comercial só viria a acontecer ao final do século XIX, já no ciclo do café.

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