abril 08, 2007

Autodidata

“(...) A infância foi feliz em Ipanema. Eu diria que foi feliz e algo triste. Triste porque um traço que me acompanharia toda vida, ali se acentuou: o autodidatismo. Aliás ninguém perdoa o êxito de um autodidata. O autodidata não é o que aprende sozinho. Essa é a forma externa do autodidatismo. O autodidatismo é aquele que ensina a si próprio. Ensina a si próprio como? Com o que vai gradativamente a descobrir nos caminhos da existência. Se for atento a esses caminhos e a si próprio, o autodidata é sempre um limitado e um inseguro. Ao mesmo tempo alguém sempre capaz de continuar e de certa forma de crer em si, como dizia o poeta Rudyard Kipling, quando todos em de redor duvidam. (...)”

Artur da Távola

Um comentário:

João Batista disse...

Eu costumava pensar o mesmo até me deparar com Mortimer Adler. Autodidata o escambau! Se for ler os clássicos, você terá uma centena de mestres! Certo, então não é isso que autodidatismo quer dizer. O autodidata é aquele que não tem educação “formal”, não tem “deproma”. Mas isso é reduzir o conceito de autodidatismo até as partes mais insignificantes! Se tivéssemos um sistema de educação das Artes Liberais, faria sentido, mas temos educação especializada onde o “deproma” significa apenas conhecimento aprofundado em uma área pequenininha em detrimento de todas as outras, e pior, mesmo a educação especializada verdadeira não é para qualquer um, muito menos para todos. Não, o autodidata é aquele que, desobedecendo a todos os apelos, decidiu não se limitar, decidiu se especializar no universal, independentemente do “deproma” que possua. Sim, o autodidata não é perdoado porque ele representa um risco ao sistema, prova que ainda é possível aprimorar-se apesar de todo empenho totalitário para reduzir o mundo do conhecimento a uma escola técnica de burocratas e peões cerebrais.

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