maio 31, 2007

Depoimento de uma geração

Dois livros importantes na bibliografia da teoria da arquitetura são “Morte e Vida de Grandes Cidades”, de Jane Jacobs e “Depoimento de uma geração” de Alberto Xavier. Um, aparentemente, nada tem a ver com o outro. Já que um trata de encontrar caminhos para o que aconteceu nas cidades, o outro é uma coletânea de textos de vários autores diferentes sobre um mesmo período da arquitetura moderna brasileira. Vamos deixar “Morte e Vida...” um instante de lado e tratar de falar um pouco sobre o livro de Alberto Xavier.

Lançado originalmente em 1987, a edição que tenho é a de 2002, ampliada. O livro trata desde os primeiros textos sobre o modernismo no Brasil, e a arquitetura moderna brasileira. É um compendio de textos de vários autores, desde o começo do século XX. Neles se encontram textos de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Artigas, Rino Levi. São textos que seriam difíceis de se reunir, se não fosse o livro, pois, muitos deles, são de jornais e revistas que não mais existem. É realmente uma obra importantíssima para pesquisa e referencia como base teórica. Mas, como não podia deixar de ser eu a achar que ainda poderiam ter alguns textos a mais, como “A Cidade do Homem Nu” de Flávio de Carvalho. Se não me engano no livro há dois ensaios dele. Eu gosto bastante da obra de Flávio de Carvalho, então sempre vou achar que falta um pouco mais dele em tudo. Para ler mais sobre Flávio de Carvalho clique aqui.

Mas o importante não é exatamente o livro em si. Esse livro, digamos, faz um terço do trabalho. Trata de forma importante o modernismo e consegue fazer do modernismo a base teórica para se pensar na crítica do modernismo. Vamos tentar interpretar isso e voltar no tempo em 1987. Nos anos 1980 já se pensava na arquitetura depois do movimento moderno. Alguns livros monográficos já sinalizavam novos rumos na arquitetura. Mas a crítica estava um tanto quanto morna e a reflexão sobre isso ainda engatinhava. Vale lembrar que no exterior já a muito essa crítica existia. Só lembrando do Centro Georges Pompidou, já tinha mais de uma década em 1987. O Instituto do Mundo Árabe era uma obra recém inaugurada. Claro que isso é fácil de falar hoje, onde a informação é rápida e abundante (no ocidente, claro). Livros são publicados, a internet facilita muito o acesso a imagens, fotografia digital. Até me arrisco a dizer que visitar os locais se tornou um pouco mais acessível, ao que era na década de 1980.

Mas vamos ao por que o livro só faz um terço do trabalho. O que vinha antes dele, tudo aquilo que a arquitetura moderna contestava, os textos de Christiano Stockler das Neves, a obra de Ramos de Azevedo e a cidade construída, segundo Benedito Lima de Toledo, de tijolos. Certo que hoje já dispomos de material publicado desta época e de épocas anteriores, como o livro de Benedito Lima de Toledo, “São Paulo: Três Cidades em Um Século”, republicado recentemente. E alguns outros autores como Carlos Lemos, que escreveu um livro sobre Ramos de Azevedo. Mas não temos uma, digamos, enciclopédia, que seja fonte de consulta para esta arquitetura. Não temos digamos assim, o livro que seria a base para alguns argumentos defendidos em “Depoimento...”.

Um detalhe que sou obrigado a colocar é que o movimento moderno tentou mudar a face das cidades, tomando São Paulo como exemplo, mas não conseguiu apagar a cidade anterior construída. Não só o modernismo tentou isso, como também a cidade de tijolos, a cidade de 1890 a 1930, tratada também no livro “O Prelúdio da Metrópole”, de Hugo Segawa, tentou fazer isso com a cidade de taipa. Assim como existiram planos de se demolir três quartos de Paris, para a reconstrução da cidade.

Após este período da reconstrução, houve a reflexão se esta construção foi benéfica ou não, onde se perdeu as qualidades da cidade antiga, inclusive existe um texto, um pouco heterodoxo, de Christian de Portzamparc, chamado “A Terceira Era da Cidade”, ou algo parecido, publicado em número especial da revista Óculum. Dentro destes textos de reflexão sobre o modernismo, poderia incluir como um marco, o livro da jornalista Jane Jacobs, “Morte e Vida de Grandes Cidades”. No original é The Death and Life og Great American Cities. Na tradução para o português foi excluído o fato de ser uma crítica sobre as cidades americanas, pois, de certa forma são críticas universais. Lembrando que o livro foi escrito em 1961. Ou seja, a terceira parte desse trabalho trataria de mostrar as criticas ao modernismo e os novos rumos da arquitetura. Principalmente no Brasil. Qual o rumo da arquitetura brasileira nos últimos 20 anos? Se formos buscar no micro universo da cidade de São Paulo, temos dois momentos no passado de uma arquitetura reconhecidamente paulista. Foi a arquitetura bandeirista e o modernismo da chamada “Escola Paulista”.

Uma parte do trabalho esta disponível, outra em andamento e esta terceira? Nos livros que abordam esse tema, temos ainda a presença muito forte de arquitetos modernos, ou ligados a esse movimento, e um distanciamento da produção geral da arquitetura nas cidades. Bem, o que tenho a dizer que existe um longo trabalho pela frente. Mas, mais do que isso, o trabalho de se produzir arquitetura de fôlego, já que eu não sou simplesmente um crítico e faço parte dos entes realizadores (dos legalmente capacitados para tal obra).
Acho que este texto ainda pode ir mais longe...

maio 30, 2007

Inglaterra x Brasil

Nesta sexta-feira, às 16:00h (horário de Brasília) teremos o Jogo Brasil x Inglaterra. Será a primeira vez que vou avaliar o Dunga como técnico desde que tenho um blog. Não sei por que, eu tinha esquecido de falar dele. Ele esta durando mais no cargo do que eu imaginava. Desse jogo, na verdade não espero muita coisa. Como todo amistoso, deve ser aquela coisa morna. Mas com a escalação que fez, vai talvez parecer uma várzea. Será que terão quantos amarelos? Será que sai um vermelho? Para Inglaterra seria a revanche daquele 2 a 1 da Copa de 2002?

Dunga escalou para o amistoso os goleiros Helton (Porto-POR) e Doni (Roma-ITA), os laterais Maicon (Inter de Milão-ITA), Daniel Alves (Sevilla-ESP), Gilberto (Hertha Berlim-ALE) e Marcelo (Real Madrid-ESP), os zagueiros Juan (Bayer Leverkusen-ALE), Alex Silva (São Paulo), Alex (PSV-HOL) e Naldo (Werder Bremen-ALE), os meias Elano (Shakhtar Donetsk-UCR), Gilberto Silva (Arsenal-ING), Edmílson (Barcelona-ESP), Josué (São Paulo), Mineiro (Hertha Berlim-ALE), Diego (Werder Bremen-ALE), Kaká (Milan-ITA) e Ronaldinho Gaúcho (Barcelona-ESP) e os atacantes Robinho (Real Madrid-ESP), Jô (CSKA-RUS), Vágner Love (CSKA-RUS) e Afonso (Heerenveen-HOL).

Bem, depois do dia 1º, temos dia 5 amistoso contra a Turquia. E o presidente Luis Inácio Lula da Silva fará parte da torcida brasileira no jogo em Londres. Será uma escala de sua viagem para Índia. Ou seja, se perder, já sabemos quem é o pé frio.

Esotérico ou Exotérico?

Algumas palavras, ao escrever rápido, podem dizer muito ou mudar o sentido de uma frase. O pior são aquelas palavras que querem exatamente dizer o contrario da sua verdadeira condição. Usadas notadamente em ironias.

O fato de se chamar algo esotérico de exotérico configura uma ótima ironia. Um é exatamente o antônimo do outro. Esoterismo é, segundo dicionário da Enciclopédia Mirador (7ª edição – 1982), ”doutrina secreta que alguns filósofos antigos comunicavam apenas a alguns discípulos” e exotérico “que expõe em público (doutrinas filosóficas)”. O esotérico é também “relativo ao esoterismo, reservado aos iniciados, profundo, recôndito” e exotérico é ainda “exterior, trivial, vulgar”. Esses pequenos detalhes somente vistos na escrita do bom português.

maio 29, 2007

Rapto ou seqüestro?

O rapto do garoto de ouro”. Era da série Vaga Lume, da editora Ática. Não li. Mas o que me chama atenção para um livro infanto-juvenil é exatamente a questão de trazer a palavra rapto logo no título. Marcos Rey (1925-1999) foi um maravilhoso escritor. Li dele, quando criança “O Mistério do Cinco Estrelas” e “Um cadáver ouve rádio”. E seu irmão, Mario Donato (1915-1992), escreveu uma obra que ficou conhecida após uma mini-série na Rede Globo: “A Presença de Anita” (1948). Diga-se, escreveu muito antes de Vladimir Nabokov (1899-1977), autor de "Lolita", escrito em 1955. Assim como, da mesma forma que Marcos Rey, durante a entrevista de Reali Jr. no Programa do Jô, foi falado de rapto do embaixador norte americano.

Mas vamos à diferença entre rapto e seqüestro. Rapto, segundo dicionário da Enciclopédia Mirador (7ª edição – 1982 – O mais completo que tenho), é “crime, que consiste em tirar do lar doméstico uma mulher, com o fim de submetê-la à satisfação de instintos libidinosos (...)”. Segundo o mesmo dicionário, seqüestro é “ação ou efeito de seqüestrar (...)”e por sua vez seqüestrar é “enclausurar ilegalmente (...)”. São quase sinônimos. Porém, raptar também pode ser roubar, assim como um rapto é por assim dizer, um seqüestro. Porém nem todo seqüestro é um rapto.

maio 28, 2007

The Who

Se há uma banda que eu posso dizer claramente quem me mostrou, essa banda é o The Who.
Pedi para minha amiga Cláudia (blog tombando paris) me mandar o link de uma matéria feita por ela sobre Keith Moon, baterista do The Who. Lembro como se fosse hoje, recebendo esta matéria por e-mail (http://www.portaldorock.com.br/destaquemusicos21.htm). Uma maravilha! Foi em 2003 e lembro muito bem dos detalhes da matéria.

maio 27, 2007

Tiburón

Uma amiga é fascinada por tubarões. Gosta de ver filmes e ler a respeito deles. São peixes muito interessantes. Minha sobrinha tem um Super Trunfo de tubarões. Alguns, segundo informação das cartas, vivem abaixo dos 100 metros de profundidade.

Um amigo de meu pai, adora elefantes. Fala da lenda do “Caminho dos Elefantes”. Fala sobre a memória do animal e sobre seus hábitos. Fala sobre a extração do marfim e outras barbaridades cometidas contra os pobres e gordos elefantes.

Tive uma namorada veterinária. Até hoje não sei se ela gostava ou não mais de gatos ou de cachorros. Mas tratava tão bem dos gatos que tenho a desconfiança que se tratava dos felinos.

Eu gosto muito dos felinos. De todos, desde os mais selvagens até os menos selvagens, como o gato domestico. Que em muitas horas parece um selvagem. O gato é um dos poucos animais domésticos que mantém seus hábitos selvagens aliado com sua vida conjunta com nós, humanos. O cachorro é praticamente um dependente humano. E, por isso, talvez, seja o cachorro interage muito mais com o ser humano. Às vezes além da conta.

Cobras, iguanas, coelhos, porquinhos da índia, araras, passarinhos em geral, praticamente não acaba mais, as possibilidades de se ter um animalzinho de estimação. Mas até hoje não vi alguém ter um tubarão de estimação. O mais engraçado até hoje foi uma girafa. Mas nunca soube de um tubarão. Que será que se tem contra os tubarões? Não é por espaço, garanto, pois a girafa ocupa um bom espaço, com certeza.

TV a cabo

Para quem gosta de televisão, como eu, ter uma televisão por assinatura é natural. É caro também. Era um dos prazeres que tinha, quando assinava todos os canais. Lia muito menos e via muito mais filmes. Descobri nessa época que não conseguia lembrar dos nomes dos filmes, mas lembrava praticamente todos os detalhes. Comecei então a saber um pouco sobre cinema, ainda mais com os comentários de Rubens Ewald Filho, na HBO. Que em sua maioria eram prolixos, mas depois de ver o filme e ver aqueles detalhes apresentados naqueles clippings com o diretor, etc, ajudava muito.

É importante salientar que eu detestava ir em salas de cinema. Isso começou na infância, passou pela adolescência, e chegou à fase adulta, passando por uma fase, que hoje classifico como “rebeldia direcionada ao cinema”. Sim, em 1994 praticamente me recusava a comentar sobre filmes. Achava aquilo uma das piores coisas do mundo. Um bando de metidinhos a se vangloriar que viam uns filmes bem meia boca com mensagens idiotas. Assim via as pessoas que até hoje se maravilham com a sétima arte do miolo mole. Logicamente sou suspeito para comentar cinema. Tenho aversão a filmes “cabeça”. Que chamo de filmes “cabeça-de-repolho”. Eu quero que se dane a mensagem do diretor. Eu gosto mesmo de fotografia e enredo. Uma boa história não precisa de “mensagem do diretor”. Ela fala sozinha. Não preciso e não quero proselitismos a lá Michael Moore. Não há necessidade de entender o filme sob o viés do diretor. Tanto é assim que a crítica sempre fala dos filmes bons mal e dos ruins bem. Não que todos os críticos sejam assim. Existem críticos muito bons, diga-se. E os filmes que estes não comentam, normalmente são por estarem abaixo de suas críticas. Uma boa lógica de pensamento, que demorei anos para descobrir. E outros anos para descobrir estes críticos.

Mas como minha aversão mudou? Na verdade não mudou. Com a TV a cabo tive acesso a um número muito maior de filmes, entre eles filmes franceses. O cinema francês, que eu conheço muito pouco em seus detalhes, me encantava ver no Eurochannel. Tinha também uns filmes ingleses muito bons. Isso data de pouco menos de 10 anos. Até então eu era viciado em filmes de ficção cientifica ou de produções como “Rambo”, “Exterminador do Futuro”, “Batman”, etc. Ainda hoje gosto muito do “Homem Aranha” e “X-Men” e, claro, nada melhor do que ver num mesmo dia (maratona) a trilogia de “De Volta para o Futuro”. Sem contar os “Mont Phyton”, “Top Secret” e as seções da tarde “Curtindo a Vida Adoidado”, “Agarra-me se Puderes” entre outros. Nada disso visto no cinema, mas sim no vídeo cassete e na televisão. Sempre longe da moda. O que é ótimo, pois somente o que foi bom, continua sendo comentado dois, três anos depois. São inúmeros os casos de filmes que as pessoas falaram tanto na época e pouco tempo depois parecia que ninguém mais sabia do que se tratava. Um deles foi “O Que é isso companheiro?”. Não escuto ou leio ninguém falando desse filme (que eu não assisti). Parece que nunca houve. Falam do Fernando Gabeira, mas não por causa do filme. E falam dele a pouco tempo, desde que começou a ter projeção na Câmara. Nada ligado ao tema do filme.

Passada esta fase, hoje tenho visto de tudo. De cinema europeu a cinema nacional, sem normalmente errar na escolha dos filmes. Gostaria de ver muito mais e ter meus canais de TV de volta. Eu acho muito mais interessante ver que vai passar um filme e assistir, sem pensar em escolher um filme. Eu gosto de ser surpreendido pelo filme. Só a TV por assinatura nos trás isso.

Mas uma dúvida persiste: porque tem tanto comercial na programação da TV a cabo?

Mais uma de Mario Prata

Durante a Copa de 98, Mario Prata escrevia para o Estadão da França. Escreveu uma série de crônicas. Ele, Matthew Shirts (não sei se ainda é, mas foi editor da National Geographic Brasil) e Chico Buarque de Holanda. Esta crônica em especial, publicou depois do fim da Copa, aquela perdida para a França na final. Naquele período, os três se conversavam para que as crônicas não tivessem ou não abordassem o mesmo tema, ficando assim repetitivas. E assim posto para vocês mais um texto na integra de Mário Prata. Este foi publicado em 12 de agosto de 1998, no jornal O Estado de São Paulo.
PS: Reali Jr. lançou um belo livro recentemente: “As margens do Sena”.
A Última de Paris
Por Mario Prata
Entre os telefones que me poderiam ser úteis em Paris, numa folha de papel, estava o do Reali Jr.

- Qualquer problema em Paris, liga para o Reali. Tá lá há 25 anos, sabe tudo de Paris. Além de ser uma figura adorável.

Enquanto pude e não precisei, não procurei o Reali. Mesmo porque não o conhecia e nem sabia se ele me conhecia. Acontece que, um dia, eu precisei desesperadamente do Reali.

Quando eu disse para ele o meu problema, ele não acreditou. Mas o caso saía dos meus pés e caía nas mãos dele.

Foi o seguinte. Sei lá por que, mas toda a torcida hospedada no Meridien-Etoile ficou gripada logo que chegamos. Menos eu. Mas peguei frieira. Da braba. Partindo do princípio que desodorante tem álcool, comecei o meu tratamento por ali. Não, o desodorante não era francês. Não deu muito certo. A coisa progredia. Meu francês - foi nos primeiros dias - ainda era aquele do ginásio. Mas tinha um livrinho com as frases todas. Com a pronúncia e tudo. Estudei muito bem estudado e fui para a farmácia. A mocinha me olhou, deve ter achado que eu era belga - pelo sotaque -, olhou para os meus pés e falou uma frase imensa que, absolutamente, não estava nos meus planos. Disse, fazendo um movimento ritmado com os dedos perto do narizinho francês. É, ela achava que eu estava com chulé, que deve ser uma palavra francesa. Não apenas pela pronúncia.

Aquilo não ia dar certo. Eu ainda tentei:

- Fri-eeeei-ra!

Depois em francês, acentuando o a final:

- Frieirá!

Ela trouxe uma meia elástica, pois deve ter achado que eu estava com frio nos pés. Agradeci em latim e fui embora, procurar outra farmácia com uma mocinha mais culta.

Na segunda farmácia me venderam um cortador de unhas, um curativo para calos, duas lixas e um pozinho que eu presumi fosse para chulé.

A coisa tava feia, sem as meias da vovó Maria. Queimava. Carne viva.

No meu Larousse de bolso, nada de frieira. Nem a Magdala, da Stella Barros, sabia como era frieira em francês. Dia seguinte tinha jogo em Nantes. Ia ter de andar e muito. Foi quando me lembrei do Reali. Liguei, ele mesmo atendeu. Nos apresentamos, um ficou levantando a bola do outro, os dois ficaram reclamando que estávamos trabalhando demais, os dois concordaram que o Brasil não ia longe e foi chegando a hora de eu entrar no assunto. Os preâmbulos todos já estavam esgotados. Expliquei o meu problema, totalmente sem jeito. Houve um silêncio profundo, penalizado e respeitoso do lado de lá de Paris. Quase achei que tinha caído a linha. Ele:

- Estava pensando aqui, sabe que eu nunca soube de um caso de frieira em Paris? Acho que francês não tem frieira, não. Primeiro Mundo tem essas vantagens.

- Então a frieira é brasileira mesmo. Trouxe ela de avião. Trata-se de uma frieira de primeira classe, executiva. Talvez um bom banho, de imersão dos pés em vinho branco francês.

O Reali disse, então, que lembrou lá de um super-Larousse que tinha tudo. Mas ele achava muito difícil ter frieira. Duvido, foi a última palavra dele antes de sair do ar. Deu um tempo, voltou e eu escutava ele virando as páginas, com pressa, sabendo que a minha frieira não podia esperar em pé.

- Tem!!! É incrível, tem! Veja você, há 25 anos na França e nunca soube que frieira é engerule.

- Engerule?

Ele corrigiu a minha pronúncia, desejou boa sorte, bom trabalho e marcamos um delicioso almoço para o dia seguinte. Meu pé ia ficar bom, é claro.

No dicionário do Reali tinha frieira. Eu tinha frieira, mas na farmácia não tinha remédio pra frieira. Definitivamente, francês não tem frieira.

Dias depois, contra o Brasil, provariam que não têm frieira, mas têm uma bruta e solidária frieza. E, contra ela, um só Valium não valeu nada.

SBT – Viva a noite

Por que o SBT faz uma nova versão de “Viva a Noite”, vinte e cinco anos depois? Eu nem sabia disso até poucas horas atrás... Esse SBT, cada vez pior. Faltam idéias? Garanto que não... Faltam pessoas de talento? Também não... Então o que falta? Se arriscar em programas novos. Só isso. Tentar acreditar na criatividade de novos talentos.

maio 26, 2007

O Roupão - Mario Prata

Não sou muito fã de postar textos no blog. Pois, se você sabe do que se trata, pode ir direto no site oficial e ler este e outros tantos. Mas e se você não conhece o escritor? Como poderia conhecer se alguém não o apresentasse? Sim, é verdade. Mas como meu intuito é dar minha opinião, não seria prudente colocar um texto de outro autor se não fosse por algum motivo. O motivo de hoje é rir. Somente esse. Li este texto abaixo em 1998. Está tão vivo na minha memória como se fosse hoje. Têm outros tantos da mesma época, publicados no jornal O Estado de São Paulo, todas às quartas-feiras. Eu até guardei as tiras de jornal. Ficaram guardadas por anos. Foram ficando cada vez mais amarelas. Muitas eu digitei e até fiz um site. Mas sempre achei especial este texto. Foi publicada em 19 de agosto de 1998, na revista Isto É.

O Roupão

Por Mário Prata

Me lembro bem da primeira vez. Eu terminei o banho, era de manhã, umas onze, sábado. Uma calça moleton, tênis, camiseta e, por cima, o roupão. Roupão branco, mangas largas, abaixo do joelho, cinto amarrado. Branco como bundinha de nenê. Na altura do peito esquerdo o logotipo do São Pedro, Spa-Médico. Me sentia bem, muito bem, com o roupão.

Foi lá, no spa, que eu comecei a usar roupão. Gostei. O roupão passou a ser, para mim, uma espécie de símbolo da liberdade, uma ajuda à auto-estima. Além do conforto, denotava limpeza, banho-tomado, pureza, estar de bem com a vida. Branco. Branquinho.

Pois então era sábado e lá estava eu aqui na frente do computador, a jogar paciência, tentando uma idéia. Reinaldo e Mateus me ligam e convidam para tomar umas antes da feijojada na casa do Mateus.

Quando ia tirar o roupão, resolvi não tirar. Estava gostoso, cômodo, macio. O clima estava para roupão. Olhei pela janela. Era um céu que pedia, implorava roupão. Qual é o problema de ir de roupão até à casa de um amigo? Tirei a camiseta. Só de roupão. No sinal, uma senhora, peruíssima, me olhou meio de lado, balançou a cabeça oxigenada. E daí? A garotinha que ia me pedir uma moedinha até desistiu. Quando cheguei, o Reinaldo e o Mateus se entreolharam. Um disse:

- Eu sabia que esse negócio de parar de beber não ia dar certo.

O outro:

- Quer dar, fala logo.

Defendi o roupão e o uso dele:

- Qual é o problema? Qual é o escândalo? Estou feio? Estou indecente? Estou atentando contra o pudor, a moral e os bons costumes? Me digam, qual é o problema?

Depois chegaram as esposas Marta e Sylvia e os comentários foram mais ou menos iguais. Só a Maria, minha afilhada, filha do Mateus e da Sylvia, que gostou:

- Legal, meu.
A partir desse dia resolvi assumir o roupão como uso diário. Para quem olhava enviezado, ia dando as minhas explicações:

- Olha o conforto. Olha o tamanho dos bolsos. Cabe tudo, ouve-se o celular. Olha as mangas. Posso usar curta e comprida. O peito: aberto e fechado. Quer saber de uma coisa? É o traje ideal para o outono numa cidade como São Paulo.

Meu filho pedia para eu não chegar da rua de roupão quando tinha amigos dele em casa. Mas como é que eu ia saber se tinha amigo dele em casa, quando voltava? Minha filha, de Londres, manda um e-mail: verdade, pai?

Comprei mais uns três ou quatro. Comecei a usar roupão o dia inteiro.

Até que fui ao cinema. De roupão. O porteiro não queria me deixar entrar. É proibido entrar de roupão. Impossível ter uma lei dessas, eu disse. O roupão está sujo? Qual é o problema? O senhor já de convir... Chama o gerente.

- Sou jornalista. Vou fazer um escândalo. Vou rodar o roupão! Olha aquele cara de bermuda. Bermuda pode? Onde é que está escrito que não pode entrar no cinema de roupão? Quero ver a lei. A lei!

- O senhor há de convir...

- Não vou convir porra nenhuma!

Entrei. A sessão não havia começado. Todo mundo olhando para mim. Ou melhor, para ele, o meu inocente roupão.

No jogo de futebol não teve problemas. Mas, no restaurante, deu galho. De novo o gerente, aquela pequena autoridade. As pessoas que entravam olhavam a discussão ali na porta.

- O problema é que vai todo mundo ficar olhando para o senhor.

- E daí? A Adriane Galisteu tá lá dentro e tá todo mundo olhando para ela. E ela não está de roupão. E daqui dá para ver o peito dela. Muito bonito, por sinal. Chama o chefe do gerente. Chama o seu Rubayat!

Deixaram entrar. Os garçons davam risinhos disfarçados. Eu lá, firme, de roupão.

Tive que ir dar uma entrevista no Jô. Não sobre o roupão, mas sobre o meu novo livro (Minhas Vidas Passadas, já a venda nas boas casas do ramo). Fui de roupão, claro. Claro que a entrevista foi muito mais sobre o roupão do que sobre o livro. O Jô até sugeriu que eu escrevesse um livro novo: Os Anjos de Roupão.

Agora, além da família, dos amigos, dos vizinhos, o Brasil inteiro a comentar o fato deu usar roupão. Foi aí que o fato se deu. Outro dia fui ao teatro e vi: tinha um sujeito de roupão. E não era personagem da peça, não. Público e notório. Nos cumprimentamos, cúmplices. Uma delícia, foi o comentário dele.

Ai comecei a notar o aumento de pessoas de roupão nas ruas, nos bares. Eles conversavam entre eles. O quente era usar roupão roubado de hotel ou spa, com logotipo.
Até que, outro dia, entrei num restaurante finíssimo e tinha dois iupes no balcão a tomar vodka. Os dois de roupão.

Um dizia para o outro:

- Francês. Hotel George V.

E o outro:

- Mas xadrez, como o meu, você nunca tinha visto, né?

Voltei para casa e pendurei o meu roupão. Nunca mais usei roupão.

Odeio andar na moda.

Por que sou corinthiano?

Tudo começou em 1981. Ganhei de meu tio, no Paraná, uma camisa do clube. Até então eu gostava mesmo de jogar bola, não de ver a bola rolando na TV. Usei a camisa até o último momento em que poderia me servir. Infelizmente não esta guardada, como parte da minha infância. Somente na minha lembrança. Inclusive aquela comemoração do meu aniversário. Lembro do bolo, do pavê de pêssegos, daquele refrigerante de cereja (Cini) que era engarrafado na popular garrafa de cerveja marrom. Em 1982 o Corinthians entrou para a história do futebol brasileiro. História essa conhecida e de domínio público. Eu era criança e isso foi tudo para me tornar corinthiano (Sim com “h”. Igual ao nome do time: Sport Club Corinthians Paulista, uma homenagem minha). E não parei mais de torcer pelo “Timão”. Não participo de nenhuma torcida organizada e não sou fanático. Só tenho minha preferência. Detesto baderneiros. Realmente eu tenho algo em comum com o atual presidente, hehehe. E com Reinaldo Azevedo. Com Washington Oliveto. Com Toquinho.
Detalhe off post: a primeira partida oficial de futebol no Brasil foi entre Mackenzie e Germânia (atual Sport Clube Pinheiros, a maior potência da natação brasileira). Diz a lenda que o Mackenzie ganhou.

Rush Again – Estádio Cícero Pompeu de Toledo

Muito boa matéria do portal do rock (http://www.portaldorock.com.br/baladasrush.htm) feita pela minha amiga Cláudia (blog tombando paris) sobre o show do Rush em 2002. Na época, todo mundo que ouviu o show, realmente falou que foi maravilhoso. O que realmente eu não tenho dúvida. Mas como eu somente vi e não ouvi nada, só posso dizer que foi muito bom, visualmente. Na música “Roll the Bones” o telão interagia com a música. Isso dava para ver, mas o que eram as máquinas de lavar roupa no palco? As dúvidas persistem...

Engraçado que o Bambi Stadium (e aqui, não é nenhuma questão de inveja, afinal como são conhecidos os são paulinos? Como são conhecidos os palmeirenses? E minha sobrinha, de 9 anos, torce para os bambis... assim como metade das crianças, atualmente... Se é pelos títulos? Sim, com certeza deva ser por isso. Só para não restar dúvida, sou corinthiano e aguardem a próxima postagem) não é um lugar ruim para se ver shows. Tinha visto lá algum Hollywood Rock. Não lembro qual. Acho que era do Red Hot Chili Peppers... Mas estava na pista (gramado).

Eu acredito que o Pacaembu (Estádio Paulo Machado de Carvalho) tem uma melhor visibilidade. Suas curvas de visão me parece melhores que as do Morumbi, que é a primeira obra construída em concreto aparente no Brasil. Necessita de uma reforma. Já existe o projeto, que elimina a pista de corrida, usada até hoje uma única vez, no PAN de 1963. Voltando ao Pacaembu, sua implantação na veia da colina favoreceu em muito a sua arquitetura, me arrisco a dizer, com muitos adornos art decó (muito bonitos, por sinal). O Estádio do Morumbi (e o clube inteiro) seria construído nos terrenos que hoje são o parque do Ibirapuera, na ocasião de sua mudança de local na cidade. O São Paulo Futebol Clube era então onde hoje esta o Estádio da Portuguesa de Desportos, no Canindé. Será que os bambis sabiam dessa história? Um bambi, que respeito muito, pai de uma amiga muito próxima, narrou para mim como eram as arquibancadas de madeira do clube no Canindé. Só para esclarecer, o São Paulo é um clube de respeito mundial. Sei dar valor a quem merece. Mas torço para outro clube, cuja história pessoal me levou a isso, além da história de quase 100 anos (importante detalhe).

Mas deixando de lado as questões relacionadas ao futebol e retornando ao Rush, concordo muito com a matéria de que o Rush deveria incluir o Brasil em suas próximas turnês. E também dizer que fiquei muito feliz de terem gravado um disco ao vivo no Maracanã, nessa mesma turnê.

O peso que o Brasil tem no exterior com seus álbuns ao vivo (Iron Maiden, Yngwie Malmsteen, Rush) mereceria a análise mais aprofundada de alguém (quem sabe até eu mesmo, mas como relacionaria o fato de um documentário chamado “Diretores”, onde colocam o Brasil como fuga de inúmeros criminosos em filmes?) quem sabe um sociólogo?
PS: E aquela materia maravilhosa sobre o Keith Moon (The Who)? Manda o link que eu publico na hora!

maio 25, 2007

Record – Nova fase

Ai... Que preguiça para escrever sobre a Rede Record, sobre sua nova fase, com novelas cheias de atores globais e ex-globais ou globais descartados. Mas só uma coisa é importante nesse processo: A Rede Record esta mais interessada em seguir o modelo global, o antigamente chamado de “padrão Globo de qualidade”, a cair nas facilidades da TV popular, onde o grande mentor intelectual é Silvio Santos.

Vamos analisar outras atrações da rede. Pela manhã faz um programa de variedades, melhor que Ana Maria Braga, talvez. Mas muito instável em suas, como direi, atrações. Mas sou obrigado a dizer que o ex-global Britto Jr. é muito bom. Ana Hickmann já mostrou ser muito melhor que Adriane Galisteu e Luciana Gimenez juntas e Eduardo Guedes é o garoto politicamente correto. Os três juntos e agora com comentários da jornalista de celebridades Chris Flores (uma paixão platônica) e o repórter Luciano Faccioli, o “Hoje em Dia” é uma das melhores alternativas para as manhãs. Junto com o programa “Aprediz”, apresentado por Roberto Justos, são as produções da Record que mais gosto.

Não sou fã de Tom Cavalcanti, ainda mais acompanhado do palhaço Tiririca fica mais difícil ainda de assistir. Certo que outro dia entrando no ar de manhã fantasiado de Ana Maria Braga e ao imitar Justos, não há nada mais engraçado! Diga-se que ele roubou a piada contada por Zeca Camargo no Programa do Jô, ao chamar: “Vem cá Britto!”. Pois, Zeca Camargo afirmou no “Programa do Jô” (ano de 2006) que seu nome é José Carlos Brito Camargo... Escolheu ele entre Camargo ao Brito, justamente pela fonética... Zeca Brito (imaginou?).

Bem, voltando a Record, suas séries também são bem escolhidas. Monk e CSI nas sextas-feiras é realmente uma boa alternativa ao programa de Luis Fernando Guimarães, da Globo (“Minha Nada Mole Vida”) e do "Globo Repórter", claro. Como já comentaram, aja paciência para TV aberta, Fernandinho! Em suma a Record tem alternativa... Para a Globo. Olhando sobre o prisma do mundo planificado, acho que a rede Record esta certa em só olhar para quem tem perfil, ou seja, a Globo.

Agora falta à Record ir atrás da qualidade da TV Cultura em sua área infantil. Eliana esta mais para adolescentes e o rapazinho ex-global (Márcio Garcia) deveria é ser demitido. Meu conselho (que pretensão a minha) é a Rede Record demitir um batalhão de gente, entre eles Paulo Henrique Amorim, Maria Cândida (e quem contratou ela deveria ser demitido junto) e até mesmo a apresentadora de jornal Luciana Liviero (ela não é jornalista, minha opinião, é uma sensacionalista). Tanta gente boa misturada a tanta gente ruim. Realmente a Record esta aprendendo, um dia chegará lá. Isso também acontece nas novelas, onde atores bons são misturados com ex-celebridades sem talento, por pura falta de aprimoramento de critérios. Nas novelas não posso opinar, pois não assisto a nenhuma delas, nem na Rede Globo.

Em relação a Globo, tenho que colocar algumas poucas palavras. Se a Globo realmente voltar a fazer televisão de boa qualidade (para quem não sabe do que estou falando, digo para acompanhar na TV Câmara o programa "Ver TV") e lembrar de todas as séries que a Globo produziu, entre elas as mais recentes (de boa qualidade) “A Casa das Sete Mulheres”, “Alto da Compadecida”, “Hilda Furacão”, “JK”, e esquecer tudo que produziu de ruim (péssimo) como “Amazônia” (e tudo que a Perez fez). Ai que a Record vai ter que trabalhar mais sério ainda. E digo mais: Se a televisão aberta é ruim com a Globo, seria muito pior sem ela.

Quanto à parte religiosa, fora o “Fala que eu te escuto” (que nem aparece na grade da emissora) parece uma televisão comercial. Com a história que tem a Record, não poderia ser somente uma rede religiosa. E aqui emendo mais uma opinião: Em uma democracia, creio na liberdade da emissora transmitir aquilo que seu público quer ouvir. Logicamente sem abusos e desrespeito às outras religiões. Não se constrói algo na destruição de outro. Muito menos se constrói uma religião na negação de outra. Veja porque SBT e Band atualmente estão piores, enquanto a Record esta cada vez melhor. E isso nada tem a ver com dinheiro. Escolhas de programação e qualidade não são motivadas por dinheiro. Lembrando Otaviano Costa e Luciano Huck, na Band, Serginho Groisman, no SBT, e as séries infantis da Cultura, ainda hoje imbatíveis, ao se comparar orçamentos e audiência. Basta saber para que veio. Ou melhor, seguir as três perguntas: Quem é a rede Record hoje? De onde ela veio e qual sua história? Para onde quer ir?

If

“If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,(...)”

Rudyard Kipling

Lembrando da transcrição de parte do depoimento de Artur da Távola, encontrei a referência sobre o belo poema de Rudyard Kipling (1865-1936), “If”.
Para ler na integra o poema todo clique aqui.

maio 24, 2007

Rush - Morumbi 2002

Essa questão dos ciclos esta realmente me incomodando. Não consigo entender, mas consigo lembrar de alguns deles. Aos 15, 16 anos eu escutava com muita constância a banda canadense Rush. Era para mim uma das melhores bandas que eu conhecia, e conheço (diga-se). Com meu inglês muito primata eu conseguia entender alguns poucos momentos das letras. Mas o que sempre me chamou a atenção é sua sonoridade. Outro power trio como Rush eu me arrisco a dizer que não conheço. Outros trios são interessantes, como a famosa fase de Jimi Hendrix, ou o trio de Jaco Pastorius (que talvez vá mais além do rock´n roll a que me proponho resenhar). Mas Rush sempre toca profundamente. O que me indica, digamos assim, em termos de influencia, é a gravação de “Anthem”, faixa do álbum “Fly by Night” de 1975, por Yngwie Malmsteen em seu álbum “Inspiration”, de 1996. Diga-se que este álbum me trouxe uma contribuição: Uli Roth. Mas isso fica para outra hora.

Mas voltando a Rush, falar deles aqui é a minha lembrança em 1999, ao comprar o álbum “Fly by Night” em cd. Era uma volta. Uma pergunta naquele momento apareceu: “Porque parei de ouvir essa banda?”. Cuja resposta até hoje não sei. Parei de ouvir Rush em 1993 e 1994, voltando somente em 1999. Em 2002 o único show que fui durante o ano todo foi exatamente Rush no Estádio do Morumbi (Estádio Cícero Pompeu de Toledo – Projeto do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, de 1950).

Este show teve inúmeros momentos engraçados. Nenhuma relação ao Rush, propriamente dito, mas não me contenho. Tenho que narrá-los. É sempre bom lembrar que este foi o show que vi, mas não ouvi nada. Pior som de todos os tempos. O engraçado foi no meio daqueles mais de 10 mil pessoas, encontrar um amigo que nem sabia que iria ao show na mesma arquibancada que tinha comprado ingresso (eram separadas e de acessos independentes). Sobrou-nos apreciar o visual do show. Tinha levado um binóculo. Mas depois de certo tempo, nem o binóculo, nem nada nos fazia prestar atenção no show (nem as máquinas de lavar roupa que estavam no palco, sabe-se lá pra que...). Às vezes vinham momentos de som. Digamos que talvez umas quatro músicas foram ouvidas, logicamente não completas. E, pra variar, estávamos na área mais alta, próximo à mureta. Em determinada hora, a mureta se transformou em banheiro público. O que fez depois aparecer uma cascata de xixi pelas arquibancadas. Evitando o tédio, um amigo, cujo nome preservo aqui (mas ele saberá logo), não parava de gritar: “Ae Mijão!” para cada um dos improvisadores de sanitários. E então a cascata cessava por uns instantes e o “Mijão” ficava olhando para trás, com receio de quem estava gritando. E nós todos se matando de rir, de sua cara de “sou mijão arrependido”. O melhor do show foi nosso show... De Horror.

E esse mesmo amigo ainda teve uma história momentos antes, no mesmo dia do show, em seu prédio. E esse mesmo amigo ainda teve uma história momentos antes, no mesmo dia do show, em seu prédio. Estava ele na portaria do prédio, de roupas negras, jaqueta de couro (wear by show). Então o porteiro pergunta a ele o que ia fazer. Ele responde:

Amigo: Vou ao show do Rush.
Porteiro: E onde vai ser esse show?
Amigo: Será no Estádio do Morumbi. Aquele antro de Bambis (Essa segunda frase eu complementei, mesmo que ele não tenha falado, ele vai concordar).
Porteiro: Essas meninas... Mal começam e já vão tocar no Morumbi.*

* Sim, o porteiro confundiu Rush com Rouge (banda de mulheres formada por um programa do SBT na mesma época desse show).
E estes foram os momentos mais marcantes daquele show. Uma das minhas bandas prediletas e sou obrigado a dizer que ainda quero vê-los (na verdade escutá-los) ao vivo algum dia. São essas as condições de se ver shows em São Paulo? Não me respondam... Posso me emocionar!

maio 23, 2007

Sessão de Domingo – SBT ainda?

Lembrando da falta de programação do SBT, aos domingos, na “Sessão de Domingo”, os filmes eram reprisados logo após terminarem. Era a sessão que Silvio Santos sempre comentava os filmes, dizendo: “Este eu não vi, mas é muito bom”. E a popular e muito bem lembrada sessão das 10, tinha até piada: “Dez filmes repetidos 10 vezes, nunca às 10 da noite...” Assim como Jô Soares brincava com o horário do “Jô Onze e Meia” que ia ao ar sempre depois da meia-noite... SBT... A segunda? Dá até para entender porque a Record passou à frente.

PS – Os filmes eram bons mesmo, muitas vezes... Com isso concluo: Silvio Santos não mentia. Ele não tinha visto mesmo!
PS2 – Hoje ele deixa repetindo o jornal da noite... Sem contar àquelas épocas que Hermano Hening ficava na madrugada cumprindo as horas que as televisões são obrigadas por lei a transmitir telejornalismo.

Safenados e Safadinhos!!!!

Corrigindo a postagem anterior: o programa de Fausto Silva na Band (em 1987) era “Safenados e Safadinhos”... imaginem em que poderia estar pensando quando escrevi “Safados e Safadinhas”... (risos)... Ou pior: em quem... (mais risos).

Band – menos paulista, mais populista.

A TV Bandeirantes, que em seu nome trás uma ligeira ponta paulista, já que os bandeirantes, as bandeiras e até mesmo a arquitetura bandeirista é colocada como uma das características do Estado de São Paulo, mudou as cores de sua logomarca para verde e amarela – bandeira nacional, das anteriores vermelha e preta – bandeira do Estado de São Paulo. Isso já tem alguns anos. E de lá para cá, vem popularizando sua programação. Seu jornalismo vem ficando cada vez menos opinativo e cada vez mais pautado nas mesmices e proselitismos (com claras ressalvas a Joelmir Beting e Ricardo Boechat). Sou obrigado a afirmar que simpatizo com Mariana Ferrão e Fernando Vieira de Mello e gostava de ver o Band Esportes, na época de Kajuru.

Sem contar o jornalismo não sobra muita coisa para se ver na Band. A atual novela “Paixões Proibidas”, que é uma co-produção com a RTP, parece não ter caído no gosto do público brasileiro. Assim como o SBT com a Televisa mexicana, a Band buscou Portugal para co-produzir suas tele-novelas. Caminho seguido também pela Rede TV!, como já citei em outra postagem, em sua futura série “Donas de Casa Desesperadas”, versão tupiniquim para “Desperate Housewives”. Não que a Band me despertasse lá grandes paixões, mas era a melhor cobertura de futebol, tinha bom jornalismo (tempos de Marília Gabriela) e conseguia ter alternativas de programação de TV, como “Safados e Safadinhas” de Fausto Silva (anos 1980), O+ (Otaviano Costa) e H (Luciano Huck). Sem contar a reprise de “Confissões de Adolescente” (ou será que era o segundo ano da série?).

Atualmente, pela manhã, a Band é um festival de programas femininos. Desde Daniel Bork, Leão Lobo e Claudete Troiano. Pela tarde, parece que continua. Depois novela, o programa do truculento Datena (subproduto a lá Ratinho) e mais nada... Tempos atrás ainda tinha o Leão – Gilberto Barros, acabando com a noite. Um programa que parecia uma mistura de Silvio Santos com Luciana Gimenez. Para quem teve a produção no passado de uma das novelas mais lembradas pelo público - “Os Imigrantes” – (vale dizer, mais lembrada sem ser da Globo, assim como “Pantanal” e “Dona Beija” da Rede Manchete) a atual fase da Bandeirantes é realmente uma desperdício. A Band e a Rede TV! seguem juntas o caminho do SBT, onde qualidade televisiva é um mero detalhe –inexistente.

maio 22, 2007

TVS

Inconformado como a Rede TV! é ruim, consegui encontrar algo pior. O SBT consegue ser muito ruim, somente comparável à Rede TV! atualmente. No blog Teleguiados, de Cristina Padiglione (http://blog.estadao.com.br/blog/padiglione/), consegui descobrir que o SBT não informa os filmes aos jornalistas. Que o SBT esconde os filmes. Lembrando ainda de todos os mandos e desmandos que o Silvio Santos fez ao longo dessas quase três décadas em sua TV, me obriga a dizer que ele é o pai intelectual da Rede TV! e também o sumo inspirador da fase atual da Rede Bandeirantes (próxima postagem). É sem dúvida o maior dos animadores de TV, de uma geração, onde vivo e atuante sobrou somente Raul Gil, mas que não podemos deixar de lembrar de Abelardo Barbosa – Chacrinha, e de Édson Cabariti – Bolinha. A minha opinião pessoal é de não nutrir nenhuma saudade deles. Acho Silvio Santos muito melhor que todos juntos. Não sou exagerado como José Simão (sic) que lhe atribuiu voto em uma pesquisa recente sobre homem mais importante para o Brasil.

Na história do SBT já existiu Jô Soares (que era muito bom naqueles anos), continua existindo Hebe Camargo (patrimônio do SBT, diga-se), Carlos Alberto de Nóbrega (Silvio Santos e os amigos) e Augusto Liberato - Gugu (alguém que um dia já foi considerado um substituto para o “Mestre dos Domingos”), e mesmo assim o SBT é uma televisão de somente um dia por semana: domingo. Eu até hoje não sei como o SBT era a segunda emissora no ranking até pouco tempo atrás. Eu entendo que a aposta era ser o canal de maior número de atrações de entretenimento. Assim como a Band já apostou no jornalismo, na música, nas novelas... Mas Silvio Santos não criou novas alternativas e seu gás parece estar acabando. Parece que a boa fase de sua emissora esta somente no passado, onde já teve séries de muito sucesso, como “Pássaros Feridos” e “Raízes”, e programas como “A Casa dos Artistas”. Tudo no SBT sempre foi baseado na audiência. Até o infantil “Chaves” ainda entra no ar, tapando os buracos da grade, dando boa audiência. Teve épocas que era o desenho da “Pantera Cor-de-rosa”. Já fez de tudo com o seu talento, que temos que admitir, até já incomodou a Globo. Esta adquirindo suas poucas experiências satisfatórias, entre elas Serginho Groisman e “Programa do Jô”, sem deixar substitutos ao SBT.
Mas boa fase do SBT era mesmo quando chamava TVS... Passava um monte de filmes americanos de segunda linha e tinha um monte de propaganda da “Liderença Capitalização”. Não que hoje seja diferente com a “Telesena” e o “Carnê do Baú”. Mas inesquecível era o Domingo no Parque... não me agüentei a até antecipei na postagem anterior um dos slogans de Silvio Santos e Lombardi.

Tennis Montreal

Porque você é jovem!

(risos)

Rede TV!

Será que existiu algum momento interessante na Rede TV!? No início era João Kleber e Monique Evans. Depois surgiu Adriane Galisteu, Fabiana Saba e Luiza Mel. Com a saída de Galisteu, entre no ar Luciana Gimenez!!!! Segundo José Simão, Lucianta Gimenez, a vingança das loiras. Mas nem tudo esta perdido. “Desperate Housewives” é uma boa série. Diga-se, muito melhor que “Betty, A Feia”. Infelizmente se eu assisti mais do que meio capítulo de qualquer uma das séries foi muito. Mas soube pelo programa do Amaury Jr. que uma versão brasileira do seriado estará em breve no ar. Ou seja, na Rede Tv! além do Amaury Jr. e do “Pânico”, este merece mais um parágrafo, terá uma produção de uma série rodada na Argentina.

Sobre o “Pânico na TV”, acrescentaria que é um programa de baixo nível, algumas vezes engraçado, mas é auto destrutivo. Não consigo nem classificar de adolescentes as brincadeiras feitas pelo grupo. È uma diferença enorme de um “Casseta e Planeta”, que já não é lá grande coisa. Esta no ar na rádio Jovem Pan a alguns anos, talvez a mais de década, com imitações e brincadeiras, que não se pode nem chamar de entretenimento. Nesta linha esta a diferença entre humor e um subproduto popular de chacota, onde qualidade não é requisito. Tanto é verdade que o programa oscila muito entre uma semana e outra. Mas chega de perder tempo com a Rede TV!, a televisão que não se importa com qualidade.

maio 21, 2007

Cenas do cotidiano III - O mundo planificado

Outras cenas são a falta de lembrança de suas vidas. Lembre-se de onde vocês vieram e qual caminho tomaram para estar até aqui. Esse blog não chama “Arquitetando Caminhos” a toa. Não é uma forma romântica de escrever e se comunicar, mas um fim em si mesmo. Um ato de melhorar a minha performance na escrita. Nada melhor que uma forma onde qualquer pessoa possa interagir com seus comentários. Mas voltando a armar seus caminhos através de suas lembranças, uma das coisas que me chama muito a atenção entre conversas de amigos é exatamente a falta de recordação sistemática do caminho pelo qual andou. Parece esquecer que o mundo é redondo e não planificado.

O que quero dizer com isso? É muito simples. À medida que vamos crescendo vamos largando certas coisas e vamos valorizando outras. Nada tão simples como isso. Mas quando somos obrigados a recuar, independente dos motivos, caímos na armadilha de achar que não podemos fazer tais coisas, pois não competem com o grau de estudo e de, digamos, status. Como se isso fosse realmente importante. E isso gera falta de motivação. Identifico a falta de motivação para seguir como uma das causas de não observar o caminho. Parece uma cena de guerra em declínio, onde o general sabe que a derrota esta próxima e não mais insiste em tentar lutar. A cena exatamente contraria a do Cavaleiro Negro do filme “Em Busca do Cálice Sagrado” de Monty Python. Esses, como direi, padrões fazem com que as pessoas esqueçam que existe vida abaixo do plano em que estão vivendo e que estas fases nada mais são do que aprendizado para um planejamento menos baseado em variáveis e mais sustentável.

É importante aprender com estes momentos. E ter a humildade de reconhecer estar neles. Saber e ter consciência de que se trata de caminho e não de ponto de chegada. E detalhar que nada tem a ver com idade e tempo. Nessas horas o olhar comparativo para o lado sem se enxergar é muito pior, o que pode levar a facilidade de pensamentos. Sempre temos a percepção que tudo parece mais fácil para o lado. Um CEO de uma grande corporação, certa vez afirmou que quanto mais se preparava, mas as pessoas falavam para ele que tinha sorte. Em seu texto “O Simbolismo da Cruz”, René Guénon trata de esclarecer alguns detalhes sobre como funcionam alguns conceitos relacionados “ao olhar horizontal e vertical”. Muito difícil para mim explorar estes conceitos aqui. Estou ainda tomando a amplitude deles. Mas num mundo onde se lê “O Monge e o Executivo” fica cada vez mais difícil de falar em René Guénon e seus clássicos “A Crise do Mundo Moderno” e “O Reino da Quantidade e o Final dos Tempos”.

Cenas do cotidiano II – Falta de tempo

O que mais escuto são as pessoas reclamarem da falta de tempo para fazer as coisas. Tento sempre controlar minha fúria a respeito dessa falta de tempo e tentar discorrer pelas causas da falta de tempo. Uma coisa é falar que o trabalho toma muito tempo. No meu trabalho, onde a criatividade é um dos maiores valores, o tempo é sempre uma questão relativa. Em algumas situações, algo genial se faz com rapidez e às vezes algo muito estúpido toma dias sem soluções agradáveis. Em muitos momentos vejo que as teorias do sociólogo italiano Domenico de Masi, contidas em seu livro “O Ócio Criativo” são de enorme valor para compreender esse fenômeno da criatividade.

Da mesma forma, quando não estou mais no escritório, o trabalho continua rondando a mente. O acúmulo de informação é base essencial para solucionar questões técnicas relativas ao trabalho e adequação dentro das estéticas utilizadas. Isso transmite uma sensação de prazer, que ultrapassa os limites do profissional e do pessoal. Essa sensação transpira para todas as situações do cotidiano. Os detalhes de como é decorado certo restaurante e quais acabamentos foram utilizados nos banheiros, assim como também aqueles detalhes da rampa da garagem do edifício, das aberturas do respiro das garagens e até mesmo do desenho das vagas são captados por causa da minha profissão diferentemente de um leigo.
Onde arrumo tempo para atualizar meus, vamos chamar assim, arquivos? Em todas as horas livres, oras. Até sou tolerante com as pessoas que justamente dizem não ter tempo pelo stress diário a que são submetidas, tendo que ler e responder mais de 100 e-mails por dia. Mas se suas jornadas de trabalhos não passam de 12 horas diárias (bom ver a reportagem de Veja São Paulo, de maio de 2007, sobre alguns arquitetos que estão a mudar as fachadas de São Paulo, onde a maioria diz trabalhar mais que 12 horas diárias, alguns até conectados 24 horas por seus telefones), sobra ai certo tempinho ocioso. Como diz de Masi, falta administração do tempo ocioso também. Uma coisa é certa: a pessoa que não usa seu tempo livre para ampliar seus horizontes, fecha os atuais. Não existe nada que não passe por ciclos e estes não são exatamente de fácil assimilação. Além de seu repertório não aumentar, os novos ciclos às vezes trazem inversão dos valores até então aprendidos. Em suma, a falta de tempo de hoje pode ser sua catástrofe anunciada num futuro próximo. Vale lembrar nesse final de texto, que a divisão feita por René Descartes entre corpo e mente, pode não ser a coisa mais perfeita. Vale talvez lembrar dos filósofos gregos, onde se dividia entre corpo, mente e alma, um pouco mais acertada. E nada de esotérico nisso. Nada de religioso. Basta entender a diferença de cultura e inteligência.

maio 20, 2007

Cenas do cotidiano I – Os restaurantes, bares e afins

O prazer de comer num bom restaurante não é algo para desavisados. Não é uma questão de simplesmente saciar a fome. Existe uma atmosfera e um motivo. Almoços de negócios, jantares de comemoração, jantares românticos, pizza com os amigos. Uma infinidade de motivos. A tolerância aos locais é a variação mais interessante das cenas do cotidiano. A tolerância ao erro do garçom, ao erro do cozinheiro, ao erro da recepcionista em relação à seção fumante e não fumante e até mesmo à demora ou falta de determinada bebida, acarreta no critério máximo onde as relações humanas estão diretamente ligadas às relações comerciais.

Uma das piores coisas do mundo, relacionada à cultura brasileira nos restaurantes, esta na frase “até o último cliente”. Uma falsificação das mais grosseiras. Se fosse assim, o local funcionaria 24 horas por dia. Pois o que impediria a entrada de clientes? Seria a frase adequada: “admitimos clientes até determinado horário”. Pois, situação das mais chatas, é ter o piso lavado enquanto ainda se esta na mesa, ou ver as cadeiras sendo colocadas em cima das mesas vizinhas, ou a pior de todas: pedir a conta e ela estar na mão do garçom. Ou a variante, não pedir e a conta chegar. Tudo isso é evitado desde que se tenha um horário melhor entendido pelo cliente. É ruim ser tratado assim, mas também há de entender o lado de funcionamento da casa. Certa vez em uma saída noturna, isso no ano de 2000, na Califórnia, o DJ simplesmente desligou o som à 1:30 com a frase inesquecível: “Ok, ok. Tomorrow ten o´clock.” Critério é critério. Ninguém reclamou e todos se dirigiram tranqüilamente para saída. Para mim não foi tão simples entender, depois de ver inúmeras cenas como em um aniversário de uma amiga (que estando com ela teria que agüentar até o último convidado ir embora), onde o DJ muda o som, para as musicas mundialmente conhecidas como “fim de festa”. Ou seja, ser expulso dos lugares de formas variadas faz parte da cultura brasileira do “até o ultimo cliente”.

Outra questão esta na valorização indevida de locais. Como a “melhor pizzaria”, o “melhor molho”, a “melhor feijoada”. Nada pode ser o melhor se não na opinião do emissor. As questões relacionadas ao preço, atendimento e qualidade do produto poderiam no máximo apontar como uma das melhores opções, mas nunca uma das variantes ser o tomo, a identidade. Tanto é assim que sempre depois da emissão de alguma frase “melhor” é seguida de alguma variante de tolerância duvidosa. Um exemplo é Joakin´s Hamburger. Hambúrguer muito bom, batatas boas, maionese boa, mas o refrigerante vem num copo de plástico a lá Mc Donald´s. Por um preço bem diferente de Mc Donald´s, diga-se. Mas é um dos únicos locais onde a seção de fumantes simplesmente não tem a menor importância, pois sempre tem lugar e quase nunca é ocupada por fumantes.

Em se falar de fumantes, eu realmente não me importo com a fumaça vinda deles. Não é a melhor coisa do mundo, porém não é a pior. O que acho interessante na maioria dos fumantes é seu vicio com culpa. Sabe que o tabagismo não é um hábito saudável, porém fumam e vivem com suas consciências culpadas de seus atos viciosos. O pior são aqueles fumantes com “estilo”. O que eu classifico como “ingenuidade materialista”. Da mesma forma, uma das questões mais abordadas em restaurantes são as pessoas que freqüentam os locais. Aquele clubinho de happy hour regado a doses de algum Label, aqueles enólogos “figurantes”, que mal distinguem um copo de vinho para Bordeaux de um para Bourgogne, são alguns dos freqüentadores de inúmeros estabelecimentos e normalmente possuem a “ingenuidade materialista”. Acreditam mesmo que aquele prazer é dado pelo consumo dos produtos e não pela atmosfera ambiental. É a busca de fatores externos para saciar aqueles internos. È o mesmo de crianças acreditarem que se tendo a maior quantidade de brinquedos serão mais felizes.

Mas sem fugir mais do tema proposto, outras situações também muito chatas nas relações comerciais de prestação de serviços em gastronomia e entretenimento, se referem às filas. Fila para entrar, fila para pagar e as outras filas praticamente desaparecem quanto mais velhos ficamos. Outra é a atuação de seguranças, os populares “leões de chácara”, que estão lá para ferver as brigas a proteger os clientes dos abusos de outros.

Uma questão que pretendo ainda analisar com mais cuidado é a dos ciclos de vida curto da maioria dos locais. Uma situação bastante confortável é encontrar um local aberto a muitos anos com seu atendimento modernizado e de qualidade. Essas questões cíclicas ainda me suscitam dúvidas e não acredito em soluções simplistas, como moda. Desde quando comida oriental foi moda?

Bem, estes são alguns pontos sobre restaurantes, bares e afins. Acredito que não cheguei à exaustão desse tema. Ainda vejo outras questões que não sei ainda como abordar referente a gorjetas e a taxa de serviço, por exemplo.

maio 16, 2007

Sarkozy e a impopularidade

Eu acho que a França terá problemas nos próximos anos. Não por má administração de Sarkozy, mas que as medidas que deverão ser implementadas por seu governo (que não foram possíveis durante o governo de Chirac) são impopulares e tendem a gerar no curto prazo certa onda de pessimismo. Coisas assim já aconteceram em outros paises europeus e o resultado final foi bom. Mas veremos como será a eleição que se aproxima para o legislativo. Se seu partido for maioria as mudanças serão breves. Se não, pode-se esperar por muito esforço e pouco resultado.

maio 15, 2007

Lobão ressurge das trevas

Acordei na madrugada de sábado, num dado momento, para desligar a televisão e lá estava ele, ressurgindo das trevas. Lobão lançando sabe-se lá o que acústico. Não era ele que dizia que discos acústicos era o fim da carreira de um músico? Não era ele que falava sobre os acústicos serem formas de promover ou de impulsionar carreiras no ostracismo? No fundo acho que ele esta certíssimo. O que acho é que pelo visto não vai vender mais do que vendem suas coletâneas no Extra ou no Carrefour...

maio 14, 2007

Sheryl Crow

Dez anos atrás estava a procura de algo novo para ouvir. Algo novo, mas que no fundo teria que soar conhecido. Um amigo tinha falado de uma cantora country chamada Sheryl Crow. Nem sabia do que se tratava e passeando pelo shopping numa loja de discos (provavelmente não existe mais a um bom tempo) um desses vendedores me mostrou uma raridade, de uma gravadora chamada Octopus. Era um cd da Sheryl Crow ao vivo, cantando musicas de seu primeiro álbum. Versões acústicas gravadas em 1995 e outras versões de 1994. E me pareceu muito bom, naquele momento. Bem diferente de seu ultimo disco... Realmente não sei o que acontece com ela... Mais: aquilo de country não tinha nada...
PS.: A capa do cd é uma das piores que já vi, mas é muito bom!!!!
Nesse mesmo ano (1997) saiu uma breve notinha na revista da TVA sobre a cantora, de um show seu apresentado, se não me engano na HBO. Lá falava que Sheryl já tinha sido cantora de apoio de Michael Jackson.

maio 13, 2007

Álvaro Siza - desenhos








Durante a terceira Biaenal de Arquitetura (1999-2000) havia uma exposição chamada “as faces dos arquitetos” ou algo assim, que expunha fotografias de arquitetos famosos. Aqui reproduzo alguns desenhos de Siza Vieira para o Pavilhão de Portugal e uma caricatura dele próprio.

Eu achei isso engraçado, pois certa feita, mostrei a cara de Jean Nouvel para uma colega de classe e ela se admirou de não se tratar de pessoa mais velha. O normal quando pensamos em um arquiteto consagrado é que este tem idade avançada.

Exemplos não faltam. Quando vi Oscar Niemeyer pela primeira vez, estava andando rápido, já um pouco curvado pela idade. Era 1998, tinha feito 90 anos de idade e caminhava para 91. Foi no parque do Ibirapurera (obra sua de 1954) numa exposição de maquetes de seus projetos que inaugurava um espaço antes utilizado pela Prefeitura de São Paulo. Já em 2004 quando o encontrei a segunda vez, em cerimônia oficial a receber o título de cidadão paulistano (no Memorial da América Latina, obra sua de 1988), estava já andando devagar, com certa dificuldade, mas muito lúcido e pronto atacar “as mazelas do mundo”. Este ano Niemeyer faz 100 anos de idade.

Encontrei outras vezes Paulo Mendes da Rocha, se não me engano já com 77 anos de idade. A primeira vez foi no auditório da faculdade, depois de proferir uma palestra, e outras vezes em eventos, até mesmo uma vez no shopping Pátio Higienópolis, quando ele acabará de sair de uma entrevista no teatro Folha, em 2006.

Mas o primeiro arquiteto de importância internacional que tive o privilégio de conhecer e conversar (pena que era quase bicho e não tinha o conhecimento de hoje) foi Fernando Távora, falecido em setembro de 2005. Fernando Távora é talvez a maior influencia de Álvaro Siza, sendo ele o arquiteto a criar a famosa Escola do Porto, uma das mais significativas expressões da arquitetura portuguesa moderna. Atualmente descobri influencias da arquitetura de Fernando Távora, o que para mim se desfazia um mistério de anos... daria para escrever horas já sobre isso... hehehe!

maio 12, 2007

Pavilhão de Portugal para a Expo 98 em Lisboa


Pavilhão de Portugal, projeto de Álvaro Siza Vieira.

Estes textos que seguem abaixo, são parte da apresentação do meu Trabalho Final de Graduação em 2003. Fazia parte de um estudo sobre estruturas em concreto protendido, onde o Pavilhão de Portugal era um estudo de caso. A postagem esta dividida em duas partes: uma referente ao pavilhão e a outra ao conceito de protensão. Uma em associação a outra completam o conceito que visualmente pelas fotos não se pode definir. E uma terceira parte, que não fazia parte do trabalho, de citações de Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura sobre a obra.

O Pavilhão de Portugal

"O Pavilhão de Portugal para a Expo 98 em Lisboa, projeto do arquiteto Álvaro Siza Vieira, é formado de dois corpos separados por uma junta de construção. O corpo A é uma cobertura suspensa de dois pórticos implantados perpendicularmente ao cais, constituída por uma lamina de concreto de 20 cm de espessura, fixada nos dois pórticos, com altura mínima de 10 metros. Essa cobertura define uma área destinada a atos públicos e representações e suas dimensões são de 65 x 50 metros. A lamina de concreto forma uma catenária pela própria força da gravidade e os cabos de protensão são deixados a mostra nas extremidades.

O corpo B é um edifício de dois pisos ao redor de um pátio, concebido em concreto, cuja estrutura inferior é constituída por pilares e no pavimento superior formado por paredes portantes.

O importante é destacar que o edifício teria função ainda não conhecida ao término das festividades. Esse foi um dos princípios da concepção deste edifício, contar com a flexibilidade e de uma imagem clara. São dois fatores bastante importantes, ou seja, o uso do concreto de uma forma bastante inovadora, possibilitando a flexibilidade e a imagem clara e marcante plástica e esteticamente da estrutura que por sua vez já é o partido arquitetônico. (...)."

Conceito de Protensão

"Pfeil propõe a seguinte definição: “Protensão é um artifício que consiste em introduzir numa estrutura um estado prévio de tensões capaz de melhorar sua resistência ou seu comportamento, sob diversas condições de carga.”[1] A protensão pode ser utilizada a muitos materiais em diversos casos.
Um exemplo clássico de protensão ou pré-tensão, seria a roda de carroça. Ao contrário do que se pode imaginar, não se trata de uma peça única. A roda é constituída de várias partes de madeira, montadas por encaixes. Em torno da roda de madeira é colocado um aro de aço cuja função é, além de proteger as partes de madeira do desgaste, solidarizar o conjunto. No momento da colocação, o aro é aquecido, de forma que seu diâmetro original aumente devido à dilatação do material. Depois de colocado, o aro se resfria, voltando à temperatura ambiente e seu diâmetro tende a diminuir até o valor inicial. A roda de madeira se opõe ao movimento de contração do aro e este aplica esforços sobre ela, solidarizando-a, protendendo-a."

[1] PFEIL, Walter. Apud VERISSIMO, Gustavo de Souza. Concreto Protendido – Fundamentos Básicos.
Siza e Moura
“Quando fui ver a pala pela primeira vez não me admirei grandemente. Os esquiços, os desenhos rigorosos, as maquetes... Nada nos dá garantias sobre o que vai dar uma idéia depois de construída. Pensei sempre que a pala deveria produzir um impacto muito grande. Quando cheguei ao recinto e finalmente vi a pala, achei naturalíssimo. Não me impressionou nada. Era o que pretendia, mas não estava seguro de o ter conseguido." (Álvaro Siza Vieira).

“O que me faz impressão na pala é o facto de um objecto que deveria ser feito com materiais leves ser feito de betão e ter um ar perene. O facto de ser de betão - contra natura - é o que produz a surpresa.” (Eduardo Souto de Moura).

maio 11, 2007

Conexão II – Saudosismo

Nada mais estranho nas minhas postagens até agora que o saudosismo encontrado nelas. Nas postagens referentes à música, nada mais interessante que lembrar de todos os momentos ligados aos shows das bandas, aos discos e, mais que tudo, da infância. Na infância que tudo começa. Cresci praticamente ouvindo orquestras, bossa nova e Elvis Presley. Um pouco de músicas folclóricas como “Olhos Negros” (do folclore russo, diga-se) e regionalismos, como certo disco de um coral alemão que cantava (em alemão) “Mulher Rendeira”. O mais engraçado que a música em alemão chamava “Cangaceiro”. Lembrar que o primeiro show que vi na vida foi de uma banda bem tranqüila (ícone dos anos 80), que nada tem a ver com o “processo” que veio a seguir.

A distancia que tomei da música brasileira na adolescência se deve a dois fatores: a MPB estava mais para “MPB do B” a se interessar em fazer boa música e uma enxurrada de bandas de rock´n roll e hard rock na mídia, principalmente nos primeiros anos de MTV. Existia também um fator anterior: eu já detestava (ainda detesto) a música dançante (na época o ritmo era house e tecnopop), cujo “apelido” popularesco, em virtude do “incrível” hit “Pump Up The Jam”, era “Poperô”. Ainda bem que o apelido e o hit sumiram logo! Então era fácil entender: algo que já não gostava me afastava do “grupinho engajado” e me levava a buscar alguma alternativa, logicamente de peso. Não entendo até hoje lá muito coisa de música erudita, mas sempre me cativou muito. Mas naqueles anos finais dos 1980 comecei a gostar e admirar, o que acredito ter levado a gostar também de guitarristas como Malmsteen, Vinnie Moore, e bandas como Iron Maiden, Metallica, Manowar, Deep Purple e Van Halen. Em suma, se não fosse aqueles discos (sim, LP´s) de “Clássicos de todo o mundo” ou as coleções que tinha em casa, não poderia ter curtido tanto estes “fusion musics”.

Detestar algo não é exatamente gostar do seu oposto. Nem mesmo generalizar. Existia uma banda nos anos 80, de tecnopop, que até hoje ainda dou aquele escutada. Em seu livro, o jornalista Zeca Camargo não poderia ter escolhido outro título melhor. Nele as duas melhores personagens daqueles anos: “De A-ha à U2”. Assim como acredito que Madonna fez muitas fãs uma geração antes da minha, A-ha e U2 faziam os seus durante a minha. Mas realmente eu só me impressionei, a ponto de buscar saber muito mais sobre de onde vinha e quem era, quando escutei Malmsteen, o guitarrista sueco. Dois anos depois eu encontrei um disco seu numa loja. O melhor disso tudo foi falar para o próprio Malmsteen, em 1998, que aquele “vinil” que ele estava autografando foi o primeiro disco que comprei dele. Era “Trial By Fire – Live In Leningrad”, achado e comprado em 1991. E ele me falando a respeito, citou que no dia seguinte à esta noite de autógrafos, gravaria o segundo disco ao vivo (oficial) de sua carreira, gravado no Brasil.

Pode parecer meio estranho isso de encontrar numa loja, mas naqueles anos, encontrar um Malmsteen numa loja comum era algo muito raro. Hoje com a facilidade de ter Mega Stores nada disso parece ter sentido. E lembrar que isso era por volta de 15 anos atrás somente. Ou seja, falar de música nesse meu blog esta se tornando cada vez mais saudosista. Não por não ter algo novo que me agrade (tem, e tinha que ser nórdico, para variar), mas porque os momentos correlacionados são muito interessantes e toda hora sempre aparecem nos assuntos atuais.
Mas voltando à MPB, naquele começo de anos 90, com a MTV, se formou alguns “engajados politicamente corretos pré-fabricados”. Algo um tanto quanto citar Raul Seixas se dizendo uma pessoa de opinião fechada (nada mais medonho que ser alguém de opinião citando um artista cujo um dos principais sucessos é “Metamorfose Ambulante”, onde nos versos se definia: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo / Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes”). Formava um pessoal que tentava protestar sobre um mundo que se sabia qual caminho tomaria, mesmo assim, o mais importante era ter “atitude rebelde” e ir contra os postulados apresentados. Nisso, hoje, consigo enxergar a lógica suicida. Na época não enxergava, só me ausentava, com uma má vontade para perder tempo neles. Até para desconstruí-los aqui não perderia tempo. Era uma lógica da inversão. Era como se o bem e o mal não mais existissem (ou nunca existiram) e na existência deles estaria a falsidade, tanto denunciada. Era uma enxurrada de proselitismo sem objetivo (ou tinha objetivo oculto). Diga-se de passagem era uma armadilha que não caí sabe-se lá por quê.

maio 10, 2007

Conexão I - Postagens Gastronômicas

Minhas postagens gastronômicas realmente são conectadas... Coca-cola, milk shake e x-salada... Só faltaram batatinhas com maionese a parte. Faltou mesmo é a pizza! Agora vamos fazer uma análise da conexão destes assuntos com a cultura. Nada mais óbvio que começar a falar que é de fato uma comida ocidental. As questões referentes entre ocidente e oriente, na minha vida, nunca chegam à alimentação. Realmente eu não aprecio comida japonesa e nem comida chinesa. Agora a indiana... Árabe então! Maravilha!

maio 09, 2007

Fotos 3 – Oswaldo Arthur Bratke

Balneário de Águas de Lindóia, projeto do arquiteto Oswaldo Arthur Bratke de 1952.
Vista geral do edifício e ao fundo Hotel Glória de Águas de Lindóia
Vista interna do edifício principal.
O projeto original dos jardins é de Roberto Burle Marx.

Fotos 2 – João Batista Villanova Artigas


Esta é a casa Rio Branco Paranhos, projeto do arquiteto Villanova Artigas de 1943.

Fotos 1 - Frank Lloyd Wright

Para complementar a postagem abaixo segue algumas fotos.

Foto 01: Casa Edgar J. Kaufmann, “Falling Water”, no inverno. Integração com a natureza.




Foto 02: Museu Solomon Guggenheim, New York.

maio 08, 2007

Frank Lloyd Wright e a Arquitetura Orgânica (2003)

Este texto que vai abaixo eu apresentei em 2003, em meu trabalho de final de graduação. É um sub-capítulo em que escrevo um pouco sobre o arquiteto americano Frank Lloyd Wright (1867-1959). Retirado do contexto, cujo tema do trabalho era “A Arquitetura e o Espaço Coletivo”, este texto vai despontar alguns inúmeros trechos desconexos, que já tinham sido abordados ou que são abordados a posteriori neste mesmo trabalho. Atualmente venho revisando partes deste trabalho para reflexão e extensão dos temas abordados. Mas Frank Lloyd Wright atualmente ainda toma muito do meu tempo de estudo. Vale postar o texto original apresentado a pouco mais de três anos.

Frank Lloyd Wright e a arquitetura Orgânica

Wright tinha uma postura, que segundo vários de seus biógrafos foi um filosofo da natureza, por ter levado a extremos as suas preocupações com a inserção da arquitetura nas diversas paisagens que projetou. Em contraste com seus colegas contemporâneos, como Le Corbusier, Wright poderia ser considerado quase um anti-urbanista, pelo menos aos moldes do urbanismo no apogeu da Revolução Industrial nas primeiras décadas do século XX. Acreditava que a integração da arquitetura na paisagem “(...) deixaria o ser humano experimentar e participar do encantamento da beleza natural, podendo alcançar com isso maior plenitude de vida.”[1]

Seu modelo de cidade, Broadacre, qual desenvolve em alguns de seus livros, é a unidade mínima de um acre para cada indivíduo. Esta proposta não gera centros, pois divide em pequenos “mercados de estrada” que forneceriam tudo sem a necessidade de longos deslocamentos. Em uma de suas colocações, propõe que o homem “(...) trocou seu contato original com os rios, os bosques, os campos e os animais pela agitação permanente(...)”[2]. Dessa linha de pensamento, destaca-se a famosa obra “Falling Water”, onde podemos ver a integração com o sítio natural feita através do que ele chama de “planta aberta”. O conceito de espaço orgânico inspira toda a obra de Wright.

Importante destacar também, que no projeto do museu Guggenheim, em Nova York, Wright cria um espaço introspectivo, onde há a clara negação da cidade. O museu é composto de uma forma cônica, com abertura zenital, não fazendo nenhuma relação visual de seu interior com o entorno. Não que esta relação seja essencial, ainda mais tratando-se de um museu, mas é contraditória, levantando todas suas críticas a urbanização moderna.

Wright influenciou certo número de arquitetos no Brasil. Villanova Artigas teve sua influencia no início de sua carreira, fato que podemos comprovar na Residência Rio Branco Paranhos, onde o lote urbano encontra-se numa concreta limitação. Artigas tira partido dessa disposição do lote em declive, mas ao contrário Wright, abre-se, liberando a visão para o exterior, para a cidade construída.

Essa contradição dialética encontra-se na obra de Artigas, mesmo antes de seu envolvimento decidido com a política seja um pouco depois.

O mais importante aqui, é destacar como a influencia pela inserção da arquitetura na natureza se apresenta na articulação de edifícios com a rua e o entorno. Dado que Artigas, já em 1946, projeta o Edifício Louveira, já distante da estética de Wright, onde “(...) explora justamente a integração com o entorno urbano (...)”[3], onde no intervalo entre os blocos abre-se o jardim, que se põe em continuidade com a praça a frente.

Outro arquiteto, cujos seus grandes edifícios são orientados pelos princípios racionalistas, Rino Levi, em suas casas, “(...) sublinham o caráter introvertido, bem como a íntima integração natureza-arquitetura (...),”[4] o que em momento nenhum demonstra influencia estética por Wright e sim as preocupações pela integração da arquitetura. Assim como Rino Levi, Oswaldo Bratke também demonstra em sua obra preocupações semelhantes. Bratke teve influencia de Wright no começo de sua carreira, o que é bastante compreensível, pois nesta época, anos 1940 e 1950, Wright tinha muito prestígio e influencia entre os arquitetos paulistas. Fora Warchavchik e Rino Levi, todos os arquitetos ali formados foram sensíveis a essa influencia. Como Rino Levi, Bratke também fez uso do conceito de integração da arquitetura ao sítio urbano, muito mais do que das características estilísticas de Wright. No Balneário Municipal João de Aguiar Pupo, em Águas de Lindóia, em sua concepção arquitetônica toma partido das características do terreno e da paisagem circundante, respeitando a depressão natural.
São vários os exemplos de edifícios que em seu projetos valorizaram os espaços públicos e sua ligação com a rua. No edifício Piauí, projeto do arquiteto Artacho Jurado, dos anos 1950, no bairro de Higienópolis, temos a ligação das rampas de acesso ao edifício em boa harmonia com a rua. Uma ligação “aberta”, transparente, direta.

A menos de cem metros do Edifício Piauí, temos o Edifício Cinderella, também projeto de Artacho Jurado, onde podemos notar o fechamento por grades em sua entrada feito posteriormente. O tratamento das vedações no térreo desse edifício é também bastante significativo, confinando instrospectivamente os ambientes do térreo, porem gerando um desenho interessante para a rua. São dois edifícios cuja a arquitetura não esta diretamente vinculada ao movimento moderno, mas faz uso de elementos arquitetônicos de forma bastante interessante em sua articulação com a rua.
[1] FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento Ambiental para a cidade sustentável. Pág. 107.
[2] CHOAY, Françoise. O Urbanismo. Pág. 237.
[3] KAMITA, João Masao. Villanova Artigas. Pág. 14.
[4] BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea Brasileira. Pág. 273.

maio 07, 2007

A incrível diferença entre um agnóstico e um ateu

Parece óbvio para mim, porém...

Por Reinaldo Azevedo (em 06/05/2007)

”(...) Um agnóstico não encontra provas suficientes da existência de Deus; mas, lógico que é, sabe que não consegue provar a sua inexistência. No fundo, considera esse debate irrelevante. O ateu nega a existência de Deus de uma forma ativa. (...) Há aí a distância que separa a humildade intelectual virtuosa da prepotência, necessariamente viciosa. Um agnóstico não consegue ou não quer operar com instrumentos que não estão abrigados no escopo da razão científica; um ateu transforma a fé alheia num estigma e numa prova de uma limitação intelectual (...).

Um agnóstico poderia dizer: “Não tenho como dizer que Deus existe; acredite quem quiser”. A fala de um ateu é bem outra: “Deus não existe; acreditem em mim!” (...) Um agnóstico é um homem tolerante, como devem ser o bom católico, o bom protestante, o bom judeu, o bom muçulmano... Um ateu é um fundamentalista, a exemplo dos maus católicos, dos maus judeus, dos maus muçulmanos, dos maus protestantes.
Mais: observem que aqueles que se dizem “ateus” são, no mais das vezes, anticristãos e, particularmente, anticatólicos. Com alguma freqüência, aceitariam orientalismos variados, cultos exóticos — alguns se supõem até pagãos à moda antiga, helênicos (era uma religião, afinal). A agnosticismo é menos particularista e, com efeito, não considera relevante qualquer forma de transcendência. (...) Deus me parece grandeza demais para ser negada num auto de fé. O ateísmo militante é antes uma neurose, uma doença do espírito. (...)”

maio 06, 2007

Acertei

Hoje acertei que o Santos seria campeão paulista e que Sarkozy ganharia a presidência da França. Quase nunca acerto nada. Eu já tinha elementos para falar de Sarkozy, mas do Santos foi puro chute. Eu tinha definido que não escreveria sobre política no blog, mas como é política da França, tudo bem. Não adianta muito escrever sobre política quando não se pode explicar aquilo que se sente, ou melhor, que se enxerga a partir de alguns pontos de vista, aparentemente, óbvios. Claro, óbvios para mim. Mas continuo com uma dúvida: Por que a vitória de Sarkozy seria o fim da Era Mitterrand? Volto eu aos estudos políticos franceses...

X-salada

Brasileiros conseguiram personalizar a arte de fazer hambúrguer. O popular “x-salada” até no nome é já uma adaptação. O “x”, que na verdade é “cheese”, no Brasil nada mais é que o simples hambúrguer com fatias de queijo derretido. Já na América, qualquer cheese burger já é um x-salada brasileiro. Em São Paulo, um x-salada vem somente com alface e tomates. Minha preferência é pelos tomates verdes. Já no interior, ou em Minas Gerais, ou Paraná, o x-salada, além de tomates e alface, é adicionado milho e ervilhas. Algo realmente muito brasileiro, onde qualquer salada tem ovos, palmito, etc... Mas voltando à arte de fazer hambúrguer, existem certos lugares onde a execução do lanche é tão primorosa que este se torna uma refeição. Atualmente minha preferência esta em alguns lugares específicos, como Chico Hamburger e o Joakin´s. Em São Paulo existem inúmeros lugares onde se pode comer um belíssimo hambúrguer. Vou citar mais três lugares: América, New´s e Fiftie´s. E em cada um você tem variações, como o hot burger do América, com queijo gorgonzola, o hambúrguer de avestruz do New´s e o pic burger do Fifities. Ainda se pode lembrar do Rockets, uma imitação do americano Johnny Rockets, onde o bolo de carne é colocado na chapa. Sem contar o famoso Na Chapa, no bairro da Aclimação. A difículdade esta sendo me tornar vegetariano. Mas neste caso, não lembro se no Chico Hamburger ou no New´s, temos a felicidade de ter o hambúrguer de soja.

Novo Mundo

Belíssimo programa de Artur da Távola apresentando a obra “Do Novo Mundo” de Antonin Dvorák (1841 – 1904). Foi apresentada a segunda parte da Sinfonia nº 9 “Do Novo Mundo” op. 95, regida pelo maestro Lorin Maazel, na Bavarian Radio Symphony Orchestra. Esta obra foi composta por Dvorák, em 1893, segundo suas impressões dos Estados Unidos, por isso o nome “Do Novo Mundo”. Seria a impressão de um checo observando a metrópole americana (New York). Estou realmente muito impressionado com a qualidade técnica dos solistas. Ainda tenho muito a aprender sobre Dvorák, mas estou realmente bastante contente com a escolha deste tema para programa “Quem tem medo de música clássica?” apresentando por Artur da Távola, na TV Senado.

É hoje!!! (de novo)

Ao mesmo tempo, hoje, Sarkozy deve ganhar de Royal nas eleições para a presidência da França. Aqui sim, tenho muito mais simpatia por ele às idéias “miolo mole” da candidata francesa. Uma candidata que faz “terrorismo” com o resultado negativo não merece nem sequer estar num segundo turno.

É hoje!!!

Santos será o campeão paulista de 2007. Afinal, só precisa ganhar de 3 x 0. Existe mais possibilidade de acontecer isso ao Cruzeiro ganhar de 5 x 0, na final do campeonato mineiro. E espero ver isso acontecer. Nada contra o São Caetano, nem muito menos a favor do Santos, só mesmo torcer pela menor possibilidade

Desconexão

Ficar uma semana sem um computador é realmente ficar desconectado do mundo. Claro, isso é um exagero. Vinha por mais de vinte dias escrevendo neste blog diariamente. Ficar sem o computador por exatamente uma semana (e para variar num momento final das entregas do imposto de renda) foi realmente ruim. A assistência técnica é a parte que me deixa feliz. Saber que após 10 anos tendo computador, ter uma boa assistência a mais de dois anos é quase um milagre. Tudo referente a computadores parece fechar e abrir conforme aumenta a velocidade dos processadores. Mas o interessante que nos últimos anos venho dependendo mais da máquina, tanto para trabalho como estudo. O que deixa a situação mais difícil.

Fazer um blog com o simples objetivo de treinar estilos de escrita e tentar possibilitar ampliar as formas de escrever mais que registrar idéias e momentos é importante ter certa disciplina para avaliar este processo. Incorporar e tentar evitar certas questões de estilo nos textos é mais importante que os assuntos abordados. Claro que nos textos abordo assuntos que de certa forma sempre quis registrar. São histórias, manias, fatos, de certa forma fazem parte de toda uma cultura, que admito “estar em processo”. Hoje faz nada mais que um mês no ar. Tirando esta semana parado, são pouco mais de vinte dias e sinto certa melhora nos textos. Tenho já conseguido cessar a irá que tenho por certos temas, assim como incorporado um pouco de humor às histórias. O que não consigo ainda me livrar (e ao mesmo tempo não sei se é realmente preciso) são as memórias, os saudosismos.
Falar de “estilo” ao escrever pode parecer algo diferente do objetivo que almejo. Então, esclarecer é preciso! Não sou e nunca fui estudioso das letras. Mesmo sempre tendo lido de tudo um pouco, nunca sai muito da minha área de concentração. O que já é bastaste para que não almeja um mestrado ou doutorado, mas não suficiente para mim. Desde 2004 venho participando de grupos de estudo dirigidos. E destes grupos tirado muitas e muitas informações. Mesmo estando fora do Brasil, período este muito rico em observação e reflexão, nunca me distanciei de estudos específicos e nem de outros temas que muito me agradam. Obviamente sempre fui autodidata em muitos temas, e continuo. Atualmente estudo em três linhas distintas e ao mesmo tempo. O que me deixa distante de muitas outras questões, que em outros tempos me interessaram mais. Tenho feito certo planejamento e esta forma de escrever em blog me ajuda a tirar um pouco a linguagem técnica que sempre usei nos trabalhos acadêmicos. Só posso dizer neste momento que tenho muita coisa em pauta ainda. Certo texto que li num fim de tarde, nos fins de 2005, me deixou ao mesmo tempo triste e feliz. Triste pois me fazia pensar rápido em planejar estes estudos todos que até aquele momento estavam espalhados e sem foco, e feliz por ter por volta dos 30 anos só e já saber o que tinha que fazer, qual caminho seguir. Um dia ainda posto este texto na integra, ao lado de outros dois ou três, que nos últimos três anos foram de muito bom uso para mim. E acrescentando que nesses últimos 10 meses venho conseguindo ter acesso aos professores que sempre estiveram na minha lista de melhores. Algo que posso creditar como sorte, talvez. Momento este muito rico para mim.

maio 05, 2007

O Mito da Arca de Noé

De uma brincadeira se pode chegar a conclusões interessantíssimas sobre alguns assuntos. Aos seis anos de idade, lembro de ter participado da festa da escola que estudava. 1982: ano da Copa do Mundo na Espanha. Não lembro ao certo qual era a comemoração, mas esta festa tinha como tema as músicas de um disco de Vinicius de Moraes chamado “A Arca de Noé”. Quem teve este disco, sabe que se podia personalizar a capa. O LP vinha com figuras dos animais estilizados e de São Francisco de Assis e se podia colar e montar a capa. Por que São Francisco de Assis e não Noé? Simples: São Francisco é o protetor dos animais. No fundo o disco tinha como tema falar de animais para crianças, com belíssimas canções interpretadas por grandes nomes da MPB. O disco é uma obra destinada a crianças. É bom lembrar que quando criança ouvia Vinicius e não Kelly Key. Pobres das crianças de hoje!

Porém não é do disco de Vinicius que quero tratar. Nem muito menos da qualidade do mercado fonográfico de hoje. A Arca de Noé é uma das histórias da Bíblia de cujo simbolismo é mais importante que a realidade dos fatos comprovados historicamente ou cientificamente. Inicialmente uma das blasfêmias mais idiotas a respeito dessa história é uma questão seguida de uma afirmação: “Somos todos descendentes de Noé? Afinal, todos teriam morrido no dilúvio.” É mesmo uma inutilidade de pergunta. O simbolismo dessa história esta no que hoje se chama de mudanças de paradigma. Obviamente seria muito difícil juntar numa arca todas as espécies animais do mundo (mas não é impossível). O simbolismo não esta em salvar a continuidade das espécies. Esta simbolicamente em salvar, ou melhor, conservar parte dos ensinamentos do antigo paradigma para o novo, que nasce, às vezes, independente de nossas vontades ou controles. Lembrar que o dilúvio é um fato da natureza, diante dos quais somos todos (seres humanos) impotentes. Tento explicar melhor: durante nossa vida nos deparamos com inúmeros fatos que nos fazem mudar de rumo. Esses fatos podem ser nossas escolhas, por livre arbítrio, ou questões das quais não temos controle, como nascimento e morte, exemplificando. E para encará-las, buscamos em nossa experiência anterior, em nossos ensinamentos, em nossa cultura, os requisitos para encarar estes novos momentos. Seria o fato de conservar valores aprendidos para uma nova realidade que nos é apresentada. É esse o aprendizado desta breve passagem bíblica.
Conservar valores ou ir buscá-los no passado não é em nenhuma hipótese retrocesso. O aprendizado interpretando o passado não é a única maneira de se ampliar o conhecimento. É sempre importante deixar claro. Existem muitas outras formas. No ofício de arquiteto, a busca pela inovação pode passar por inúmeros meios. Um deles é o “historicismo”. Interpretar a história, compreender seus vieses e suas opções relacionadas aos problemas e objetivos de determinadas épocas. Um exemplo rápido e sem muito aprofundamento esta na técnica construtiva comparada. Comparando as técnicas e materiais utilizados para as construções dos templos gregos, romanos, góticos e modernos, temos a dimensão de paradigma da técnica, função e forma (a tríade vitruviana: firmitas, utilitas e venustas). Ou seja, se algo fora realizado, segundo algum critério este pode ser sempre comparado segundo um conjunto de fatores. E dessa comparação, a conservação dos valores existentes expressivos é uma boa forma de seguir. Como disse anteriormente, não é a única.

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...