maio 08, 2007

Frank Lloyd Wright e a Arquitetura Orgânica (2003)

Este texto que vai abaixo eu apresentei em 2003, em meu trabalho de final de graduação. É um sub-capítulo em que escrevo um pouco sobre o arquiteto americano Frank Lloyd Wright (1867-1959). Retirado do contexto, cujo tema do trabalho era “A Arquitetura e o Espaço Coletivo”, este texto vai despontar alguns inúmeros trechos desconexos, que já tinham sido abordados ou que são abordados a posteriori neste mesmo trabalho. Atualmente venho revisando partes deste trabalho para reflexão e extensão dos temas abordados. Mas Frank Lloyd Wright atualmente ainda toma muito do meu tempo de estudo. Vale postar o texto original apresentado a pouco mais de três anos.

Frank Lloyd Wright e a arquitetura Orgânica

Wright tinha uma postura, que segundo vários de seus biógrafos foi um filosofo da natureza, por ter levado a extremos as suas preocupações com a inserção da arquitetura nas diversas paisagens que projetou. Em contraste com seus colegas contemporâneos, como Le Corbusier, Wright poderia ser considerado quase um anti-urbanista, pelo menos aos moldes do urbanismo no apogeu da Revolução Industrial nas primeiras décadas do século XX. Acreditava que a integração da arquitetura na paisagem “(...) deixaria o ser humano experimentar e participar do encantamento da beleza natural, podendo alcançar com isso maior plenitude de vida.”[1]

Seu modelo de cidade, Broadacre, qual desenvolve em alguns de seus livros, é a unidade mínima de um acre para cada indivíduo. Esta proposta não gera centros, pois divide em pequenos “mercados de estrada” que forneceriam tudo sem a necessidade de longos deslocamentos. Em uma de suas colocações, propõe que o homem “(...) trocou seu contato original com os rios, os bosques, os campos e os animais pela agitação permanente(...)”[2]. Dessa linha de pensamento, destaca-se a famosa obra “Falling Water”, onde podemos ver a integração com o sítio natural feita através do que ele chama de “planta aberta”. O conceito de espaço orgânico inspira toda a obra de Wright.

Importante destacar também, que no projeto do museu Guggenheim, em Nova York, Wright cria um espaço introspectivo, onde há a clara negação da cidade. O museu é composto de uma forma cônica, com abertura zenital, não fazendo nenhuma relação visual de seu interior com o entorno. Não que esta relação seja essencial, ainda mais tratando-se de um museu, mas é contraditória, levantando todas suas críticas a urbanização moderna.

Wright influenciou certo número de arquitetos no Brasil. Villanova Artigas teve sua influencia no início de sua carreira, fato que podemos comprovar na Residência Rio Branco Paranhos, onde o lote urbano encontra-se numa concreta limitação. Artigas tira partido dessa disposição do lote em declive, mas ao contrário Wright, abre-se, liberando a visão para o exterior, para a cidade construída.

Essa contradição dialética encontra-se na obra de Artigas, mesmo antes de seu envolvimento decidido com a política seja um pouco depois.

O mais importante aqui, é destacar como a influencia pela inserção da arquitetura na natureza se apresenta na articulação de edifícios com a rua e o entorno. Dado que Artigas, já em 1946, projeta o Edifício Louveira, já distante da estética de Wright, onde “(...) explora justamente a integração com o entorno urbano (...)”[3], onde no intervalo entre os blocos abre-se o jardim, que se põe em continuidade com a praça a frente.

Outro arquiteto, cujos seus grandes edifícios são orientados pelos princípios racionalistas, Rino Levi, em suas casas, “(...) sublinham o caráter introvertido, bem como a íntima integração natureza-arquitetura (...),”[4] o que em momento nenhum demonstra influencia estética por Wright e sim as preocupações pela integração da arquitetura. Assim como Rino Levi, Oswaldo Bratke também demonstra em sua obra preocupações semelhantes. Bratke teve influencia de Wright no começo de sua carreira, o que é bastante compreensível, pois nesta época, anos 1940 e 1950, Wright tinha muito prestígio e influencia entre os arquitetos paulistas. Fora Warchavchik e Rino Levi, todos os arquitetos ali formados foram sensíveis a essa influencia. Como Rino Levi, Bratke também fez uso do conceito de integração da arquitetura ao sítio urbano, muito mais do que das características estilísticas de Wright. No Balneário Municipal João de Aguiar Pupo, em Águas de Lindóia, em sua concepção arquitetônica toma partido das características do terreno e da paisagem circundante, respeitando a depressão natural.
São vários os exemplos de edifícios que em seu projetos valorizaram os espaços públicos e sua ligação com a rua. No edifício Piauí, projeto do arquiteto Artacho Jurado, dos anos 1950, no bairro de Higienópolis, temos a ligação das rampas de acesso ao edifício em boa harmonia com a rua. Uma ligação “aberta”, transparente, direta.

A menos de cem metros do Edifício Piauí, temos o Edifício Cinderella, também projeto de Artacho Jurado, onde podemos notar o fechamento por grades em sua entrada feito posteriormente. O tratamento das vedações no térreo desse edifício é também bastante significativo, confinando instrospectivamente os ambientes do térreo, porem gerando um desenho interessante para a rua. São dois edifícios cuja a arquitetura não esta diretamente vinculada ao movimento moderno, mas faz uso de elementos arquitetônicos de forma bastante interessante em sua articulação com a rua.
[1] FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento Ambiental para a cidade sustentável. Pág. 107.
[2] CHOAY, Françoise. O Urbanismo. Pág. 237.
[3] KAMITA, João Masao. Villanova Artigas. Pág. 14.
[4] BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea Brasileira. Pág. 273.

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