maio 20, 2007

Cenas do cotidiano I – Os restaurantes, bares e afins

O prazer de comer num bom restaurante não é algo para desavisados. Não é uma questão de simplesmente saciar a fome. Existe uma atmosfera e um motivo. Almoços de negócios, jantares de comemoração, jantares românticos, pizza com os amigos. Uma infinidade de motivos. A tolerância aos locais é a variação mais interessante das cenas do cotidiano. A tolerância ao erro do garçom, ao erro do cozinheiro, ao erro da recepcionista em relação à seção fumante e não fumante e até mesmo à demora ou falta de determinada bebida, acarreta no critério máximo onde as relações humanas estão diretamente ligadas às relações comerciais.

Uma das piores coisas do mundo, relacionada à cultura brasileira nos restaurantes, esta na frase “até o último cliente”. Uma falsificação das mais grosseiras. Se fosse assim, o local funcionaria 24 horas por dia. Pois o que impediria a entrada de clientes? Seria a frase adequada: “admitimos clientes até determinado horário”. Pois, situação das mais chatas, é ter o piso lavado enquanto ainda se esta na mesa, ou ver as cadeiras sendo colocadas em cima das mesas vizinhas, ou a pior de todas: pedir a conta e ela estar na mão do garçom. Ou a variante, não pedir e a conta chegar. Tudo isso é evitado desde que se tenha um horário melhor entendido pelo cliente. É ruim ser tratado assim, mas também há de entender o lado de funcionamento da casa. Certa vez em uma saída noturna, isso no ano de 2000, na Califórnia, o DJ simplesmente desligou o som à 1:30 com a frase inesquecível: “Ok, ok. Tomorrow ten o´clock.” Critério é critério. Ninguém reclamou e todos se dirigiram tranqüilamente para saída. Para mim não foi tão simples entender, depois de ver inúmeras cenas como em um aniversário de uma amiga (que estando com ela teria que agüentar até o último convidado ir embora), onde o DJ muda o som, para as musicas mundialmente conhecidas como “fim de festa”. Ou seja, ser expulso dos lugares de formas variadas faz parte da cultura brasileira do “até o ultimo cliente”.

Outra questão esta na valorização indevida de locais. Como a “melhor pizzaria”, o “melhor molho”, a “melhor feijoada”. Nada pode ser o melhor se não na opinião do emissor. As questões relacionadas ao preço, atendimento e qualidade do produto poderiam no máximo apontar como uma das melhores opções, mas nunca uma das variantes ser o tomo, a identidade. Tanto é assim que sempre depois da emissão de alguma frase “melhor” é seguida de alguma variante de tolerância duvidosa. Um exemplo é Joakin´s Hamburger. Hambúrguer muito bom, batatas boas, maionese boa, mas o refrigerante vem num copo de plástico a lá Mc Donald´s. Por um preço bem diferente de Mc Donald´s, diga-se. Mas é um dos únicos locais onde a seção de fumantes simplesmente não tem a menor importância, pois sempre tem lugar e quase nunca é ocupada por fumantes.

Em se falar de fumantes, eu realmente não me importo com a fumaça vinda deles. Não é a melhor coisa do mundo, porém não é a pior. O que acho interessante na maioria dos fumantes é seu vicio com culpa. Sabe que o tabagismo não é um hábito saudável, porém fumam e vivem com suas consciências culpadas de seus atos viciosos. O pior são aqueles fumantes com “estilo”. O que eu classifico como “ingenuidade materialista”. Da mesma forma, uma das questões mais abordadas em restaurantes são as pessoas que freqüentam os locais. Aquele clubinho de happy hour regado a doses de algum Label, aqueles enólogos “figurantes”, que mal distinguem um copo de vinho para Bordeaux de um para Bourgogne, são alguns dos freqüentadores de inúmeros estabelecimentos e normalmente possuem a “ingenuidade materialista”. Acreditam mesmo que aquele prazer é dado pelo consumo dos produtos e não pela atmosfera ambiental. É a busca de fatores externos para saciar aqueles internos. È o mesmo de crianças acreditarem que se tendo a maior quantidade de brinquedos serão mais felizes.

Mas sem fugir mais do tema proposto, outras situações também muito chatas nas relações comerciais de prestação de serviços em gastronomia e entretenimento, se referem às filas. Fila para entrar, fila para pagar e as outras filas praticamente desaparecem quanto mais velhos ficamos. Outra é a atuação de seguranças, os populares “leões de chácara”, que estão lá para ferver as brigas a proteger os clientes dos abusos de outros.

Uma questão que pretendo ainda analisar com mais cuidado é a dos ciclos de vida curto da maioria dos locais. Uma situação bastante confortável é encontrar um local aberto a muitos anos com seu atendimento modernizado e de qualidade. Essas questões cíclicas ainda me suscitam dúvidas e não acredito em soluções simplistas, como moda. Desde quando comida oriental foi moda?

Bem, estes são alguns pontos sobre restaurantes, bares e afins. Acredito que não cheguei à exaustão desse tema. Ainda vejo outras questões que não sei ainda como abordar referente a gorjetas e a taxa de serviço, por exemplo.

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