setembro 23, 2007

A Arquitetura Assassina

Falando um pouco sobre a recente história brasileira, tentava ver casos em que a arquitetura, ou melhor, aspectos ligados à arquitetura, podiam tirar vidas. Podia se chamar de engenharia ou de tecnologia assassina, também. Um dos casos que foi colocado como caso estranho à época, até hoje muita gente passa por este transtorno e nada mudou. O caso da morte do Ministro Sérgio Motta em 1998, contaminado por bactérias devido à falta de limpeza dos dutos de ar condicionado. Depois de sua morte ocorreu uma manutenção em todos os sistemas de ar condicionado de todos os ministérios e autarquias federais. Até hoje conheço muita gente que tem alergia ao ar condicionado e tenho quase certeza que estes aparelhos não têm manutenção adequada. O ar condicionado não é assassino se a manutenção é bem feita, mas com certeza se mal feita é uma das coisas mais maléficas. Uma questão é óbvia, se sua resistência esta baixa, o contato com este meio não propicio, caso do Ministro, o caminho é extremamente delicado.

Outras duas questões são as obras que desabaram da construção do Metrô em janeiro, onde a engenharia falhou nas contenções de segurança. Um acidente que gerou a morte de sete pessoas. Uma questão de lógica invertida é pensar que poderia ter acontecido com a obra pronta. Não, não poderia. Pois a contenção é feita somente no período de obras. Foi uma tragédia, mas não foi anunciada. Caso do acidente da TAM, onde a pista já havia certas restrições e gerou então, a partir de uma falta de prevenções de engenharia, o pior acidente da aviação brasileira. Nota-se que Congonhas já havia problemas desde outro acidente da TAM, o do jato que caiu sobre o bairro do Jabaquara a mais de 10 anos. Isso sem contar as várias vezes em que o trânsito foi interrompido em São Paulo, causado por caminhões que danificarem as pontes mais baixas. Uma delas foi a passarela em frente ao Aeroporto de Congonhas. Em todos os casos tenta-se só por a culpa no motorista, no piloto, na chuva... Não na falta de uma estrutura de engenharia e arquitetura. Nem é falta de estrutura, mas sim projetos mal feitos. Se estes fossem mapeados, pelo menos se saberia quantos problemas temos para resolver e cobra-los das administrações públicas.

Mas todas essas, por mais escondidas que possam ser, são visíveis por sua escala. Mas aquelas sobre as bactérias nos dutos do ar condicionado, a LER (Lesão por Esforço Repetitivo), a falta de postura e a iluminação não adequada nos escritórios só mostram sua cara um bom tempo depois. As grandes empresas já têm programas para LER, manutenção dos dutos e filtros de ar condicionado e preocupação a respeito da iluminação. Além até de questões relacionadas à ergonomia dos mobiliários utilizados em seus ambientes. Agora que este debate fica sempre num ambiente muito restrito, sabendo-se que existem normas técnicas a muito tempo, a mais de década, sobre todos estes aspectos. Assim como atualmente a NBR 9050, da ABNT, sobre acesso aos portadores de deficiência, vem sendo usado como critério de aprovação de novas construções, deveria se ter um debate mais atendo a outras normas e a proibição de certos produtos, principalmente as lâmpadas fluorescentes de origem chinesas, que não atendem as especificações de normas técnicas. Para ser mais exato, fabricar uma lâmpada não é como produzir uma alface. E para as duas coisas existem problemas sérios envolvidos, como atualmente o problema da infecção por ingestão do Trypanossma cruzi na poupa de açaí, outra época fora a cana-de-açúcar, as lâmpadas chinesas são muito mais baratas e podem ter saída de raios UVB em maior quantidade que o permitido na norma e não ter a capacidade de iluminação suficiente. Tudo relacionado a um processo de desinformação.

A solução para isso é informação, debate, fiscalização séria e, principalmente, uma lei de proteção contra produtos, tanto de origem estrangeira como nacional, que não seguem as normas oficiais brasileiras. Se a empresa não tem condição de fabricar uma tomada sob conformidade da norma esta deve ser definitivamente fechada. Apontamos isso para uma questão de qualidade e não de quantidade e valor. Ao se querer fazer de uma arquitetura, uma engenharia ou uma tecnologia não assassina e promotora do progresso, só existe o caminho da qualidade.

Um comentário:

João Batista disse...

Mas exceto pelas pontes, iluminação, e talvez também a ventilação, o resto é questão de arquitetura? Pensar em arquitetura assassina me remete a antiga ponte de entrada da Assembléia Legislativa aqui de São Paulo que não tinha corrimão, guarda-corpos, ou como queira chamar. Rsrs. Era assassina, mas muito mais divertida de se caminhar.

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