setembro 29, 2007

Micro Tendências

Ontem estava escrevendo sobre a Tais, a personagem da Alessandra Negrini e por coincidência toquei de leve num assunto, que hoje, ao ler o blog da jornalista Patrícia Campos Mello, correspondente do “Estadão” nos Estados Unidos, tratava indiretamente do mesmo assunto. Falava sobre o livro de Mark Penn, “Microtrends – the small forces behind tomorrow big changes”, (aqui) que trata justamente de pequenas tendências que podem ser mercados interessantes. Ao se adaptar isso à questão da televisão, podemos supor que existam mercados televisivos para 1 ou 2% da população. Isso é em torno, no caso do Brasil, entre um milhão e oitocentas mil a três milhões e seiscentas mil pessoas. Seria este um mercado pequeno? Talvez. Tudo depende do negócio. Mas há de convir que muitos negócios hoje existentes não chegam a ter trinta mil clientes.

O pior de tudo é ouvir que a escala de negócios não é interessante... Realmente um país que pensa em números, crise superada, não consegue visualizar a crise dos indivíduos. Engraçado que isso nada tem a ver com economia, administração, novos negócios, etc. Tem mais a ver com um discurso do arquiteto francês, Christian de Portzamparc, que tratou de apontar a sua teoria das quadras abertas esse dado pertinente sobre a crise dos números e a crise dos indivíduos. Pois, na França, o governo sabia o número do déficit habitacional e produzia conjuntos habitacionais de cinco mil, dez mil unidades. Ao se encerrar este ciclo, o dos números, se iniciou o processo de qualificar as quadras, a rua e o ambiente. Isso dada do começo dos anos 1970. É por sinal uma das maiores críticas do movimento modernista.

A maneira francesa, não só francesa, como alemã ou inglesa, foi industrializar a construção civil. Ou seja, com uma escala, as cinco mil, dez mil unidades, as construtoras tinham como trabalhar a melhoria do valor dos imóveis. Valor da construção, mais específico. Nada mais moderno do que isso. Era realmente a industrialização da habitação. Não seria a máquina de morar, mas seria a máquina de fazer moradias. Isso pode ser estudado mais profundamente no livro de Paulo Bruna, “Arquitetura, Industrialização e Desenvolvimento”, datado do começo dos anos 1970. Só para dar um norte, até hoje a industrialização da construção no Brasil é pequena. E ninguém sabe qual o déficit habitacional brasileiro, nem mesmo de cidades se sabe. Isso por que hoje temos um ministério das cidades...
Sinto em dizer que não é uma questão também de críticas ao governo, mas de despreparo de corpo técnico para atuar nessas questões. Ainda temos hoje muita divergência em implantar sistemas de industrialização e também a divergência a respeito de como gerir estes empreendimentos. Como o ex-governador do estado de São Paulo Mário Covas afirmava, o problema do Brasil é falta de capitalismo, ou em suas palavras, falta de um choque de capitalismo. O interessante que esta parte, lembrada ano passado em carta de Fernando Henrique Cardoso, nunca é estudada a sério pelos “perseguidores” dos “imperialistas” e do “capitalismo”. Ou melhor, dizendo, para ser mais exato, eu acho até que os “perseguidores” nem tem noção do que dizem, tamanha as barbaridades que exclamam.

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