Se um dia tivesse que fazer um relato da minha vida talvez buscasse ver nos fatos que acho interessantes tentar completa-los com as datas associadas a eles. Não sei por que, mas já tentei pensar em todos os candidatos que já votei na vida e não consigo lembrar de vereadores, deputados estaduais, federais e senadores. Lembro das copas e olimpíadas, cidades e lugares, pessoas ou locais de estudo, cursos e locais de trabalho. Tudo tem uma história.
Das eleições eu não vou ficar falando em quem votei desde 1992, não creio ter interesse. Os candidatos que votei e não ganharam ou os candidatos que ganharam e foi um lixo, mas de certa forma não me arrependo de nenhum voto, muitos deles numa situação de falta de opção. Somente me arrependo de ter votado presidencialismo naquele plebiscito de 1993. Nunca fui praticante do voto útil. Acho desnecessário. Não votei no plebiscito sobre o desarmamento, em 2005, que, como o outro de 1993, não debatia as questões realmente relevantes.
As copas e as olimpíadas eu sempre assisti. E marcaram de formas bastante distintas. A primeira copa que recordo é a de 1982. Lembro de adorar ver as bandeiras dos times e daquele resultado de Hungria 10 x 1 El Salvador. A Espanha, país sede daquela competição, havia empatado com o Brasil em um estranhíssimo 0 x 0. Fora isso lembro da tristeza daquela derrota contra a Itália. Ainda sobre aquele mesmo ano e sem sair do tema de futebol, o Corinthians foi campeão paulista, com a famosa democracia corintiana.
Em 1984 ocorreram os jogos olímpicos de Los Angeles. As minhas memórias daqueles jogos são as medalhas de prata no vôlei e futebol. Lembro da medalha de ouro no atletismo, mas a maior de todas as lembranças foi na natação, a medalha de prata de Ricardo Prado. Naqueles anos minha maior vontade era fazer natação. Acho a natação um dos esportes mais interessantes.
A copa de 1986 aconteceu no México. Foi ali a primeira vez que torci por um time além do Brasil. Era a seleção alemã de Franz Beckenbauer. Infelizmente a seleção de Maradona se fez bicampeã mundial naquela copa. O Brasil perdeu para a França de Michel Platini, mesmo tendo até aquele jogo o goleiro Carlão invicto. O técnico Telê Santana tinha feito seu bom trabalho.
1988, a olimpíada que não assisti praticamente nada. Foi em Seul, Coréia do Sul. Lembro da medalha de ouro de Aurélio Miguel. Lembro bem mais da minha professora de português. Não sei por que, foi ela naquele ano talvez mais marcante do que a competição. Deve ser por ela ter proibido os alunos de lerem Jorge Amado. Três anos depois, o tal Jorge, em “Quincas Berro D´água”, era o livro indicado por outra professora, sem nenhuma ressalva.
Eis que em 1990 a Alemanha se consagra tricampeã na copa da Itália. A Argentina retira o Brasil nas oitavas de final. Uma professora de geografia quase incita um linchamento por agradecer a única aluna argentina da classe pela retirada do Brasil na copa. Era uma professora meio louca, que só falava que os alunos notas “A” seriam estudantes da USP dentro de alguns anos. Péssimo ano. Foi um ano preparatório para os seguintes. Tive uma ótima professora de matemática e a mesma de 1989, muito boa de português. Esta professora de português certa vez achou que havia “sócios” durante a realização das provas. Suspeita que fora declarada quando da sua certeza de que eu não fazia parte dessa sociedade. Fiquei feliz naquele momento em ver meu mérito reconhecido. Afinal, eu não era um estudante muito apegado aos métodos. Para ser mais exato, acho que o autodidatismo já se anunciava. Como escreveu um leitor, na verdade quando se estuda algo sozinho, seus mestres podem ser aqueles dos livros. Hoje mesmo, quando ao tentar chegar a uma solução arquitetônica tive a ajuda do mestre Vilanova Artigas.
Barcelona, 1992. Os jogos olímpicos que o Brasil brilhou muito no vôlei. Ouvia dizer que depois dessa vitória o esporte iria crescer muito no Brasil e etc. Não vi nada acontecer. O bom vôlei apresentado pela seleção até hoje não tem reflexo nos clubes e em campeonatos regionais, como também não teve naquela prata de 1984. Tudo permanece sempre igual no Brasil, mesmo mudando tudo.
Tetracampeonato de 1994. A copa dos Estados Unidos foi o início de uma geração campeã mais outra vez, em 2002. Mas 1994 foi um ano atípico. Comecei a trabalhar naquele ano. Fui dispensado do Exército, foi meu último ano de Escola Técnica Federal e início de um ciclo de dúvidas que ainda hoje me acompanham. Foi o inicio das seleções de “se”. Como uma grande amiga me disse, ao pensar no “se” forja-se um simulacro de uma vida possível, mas não da sua vida necessariamente. Tudo errado poderia resumir bem o que se passou comigo dali para frente. Mas ao se tomar uma decisão esse é o preço. Enfrentar isso é difícil, mas não impossível.
Vôlei de praia talvez seja a maior novidade daqueles jogos olímpicos de Atlanta, realizados em 1996. Foi uma competição muito interessante. Ouro e prata para o Brasil no vôlei de praia. Primeiro ano com TV a cabo. O fiasco de Zagallo ao ganhar o bronze no futebol, recebendo a medalha um dia antes do previsto. Era bixo na faculdade e inicia uma nova fase. Estava em delírio. Um bom ano, repleto de pequenos detalhes que começaram já no reveillon, passado em Boa Esperança, MG. Naquele ano assisti a três shows, sem exagero, inesquecíveis, tanto pelo momento pessoal como pela formação das bandas: Yngwie Malmsteen, Ritchie Blackmore´s Rainbow e AC/DC.
Tudo se esperava da seleção de 1998. O vice-campeonato até hoje parece estar na garganta. O pior de tudo foi se repetir a dose em 2006... A copa de 1998 foi a que assisti praticamente a todos os jogos e onde me divertia rindo sem parar das crônicas de Mário Prata sobre as aventuras bretãs. Na TV Globo surgiu Olivier Anquier, o padeiro. Ele foi o escolhido para apresentar a França aos telespectadores globais. Este ano também marca a saga que se mantém pelas duas copas seguintes: o fato de estar desempregado durante o período da competição. Nesta competição o Chile voltou a participar, após punição de duas copas devido ao incidente ocorrido no Maracanã nas eliminatórias da copa de 1990. No jogo contra o Brasil, o Chile simplesmente amarelou, tomando 4 gols.
A América e a Austrália. Poderia assim relatar o ano de 2000. Primeira vez que estive nos Estados Unidos. Foram quase dois meses nas terras de Tio Sam. Nada mais que cruzar os Estados Unidos do Atlântico ao Pacífico, passando mais de oitos estados (dentro de um Grayhound). Diria que ver a Olimpíada de Sydney depois do meu retorno foi um fantástico quadro de boas vindas. Daquela olimpíada lembro do Jô Soares ser enviado para lá com seu programa, e mal entrar no ar. A apresentadora Ana Paula Padrão, a mais gata jornalista acima dos trinta anos de idade, foi o grande destaque televisivo. Das competições, lembro de ter ficado madrugadas assistindo basquete e jogos estranhos. Mas não consigo recordar de nada além do australiano Ian Thorpe na natação.
Uma copa disputada em dois paises ao mesmo tempo. Sim, em 2002 a copa foi disputada no Japão e na Coréia do Sul. Brasil pentacampeão. Cafu escreve em sua camisa “100% Jardim Irene”. Algo tão inesquecível como o “Obrigado Sena” (somente com um “N”) esticado pelos jogadores em 1994 na vitória do Tetra. Como pude esquecer de comentar: em 1994, nos últimos minutos da final, eis que se não quando, entra em campo Viola! Sim, o jogador que tinha feito o Corinthians ser campeão brasileiro com seu 1 x 0 sobre o Guarani, em 1988. Tão bom quanto ver os jogos da copa de 2002 nas madrugadas, normalmente em bares, esta copa pareceu ser a copa sem adversários para o Brasil. O jogo de Brasil x Inglaterra foi um dos destaques daquela competição.
Em Atenas, os jogos olímpicos de 2004 foram os que mais gostei de ver. Adorei ver a faixa da torcida “Camisa 12” (do Corinthians) esticada durante os jogos de vôlei da seleção de ouro. O incidente com o maratonista brasileiro segurado pelo imbecil no último dia de competição foi lastimável. A seleção de futebol não foi classificada, assim como a de basquete masculino. Fazia um frio em São Paulo durante a competição. Lembro de comprar pacotes de bolacha (ou seria biscoito?) Negresco para acompanhar os jogos, debaixo dos cobertores...
Finalmente a copa da Alemanha. Havia estado em 2005 na Alemanha e sentia que os alemães não acreditavam em sua seleção. E o pior: acham a do Brasil maravilhosa. Após derrota do Brasil, queria uma final com Portugal e Alemanha. Mas a Itália foi inacreditável com aqueles dois gols.
Complemento
Como pude esquecer: o melhor da copa de 1994 foi ver Roberto Baggio batendo o pênalti para fora. Em 1998 pediu silêncio quando acertou o pênalti contra a França, o que não adiantou muito para sua seleção.
Caminhar é preciso. Três perguntas se tornam importantes: Quem é você? De onde você veio? Para onde você vai? Por todas elas existe um caminho. Nem sempre chegar é o mais importante.
setembro 21, 2007
Notáveis horas de uma história recente
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Um comentário:
Só me lembro de uma Copa do Mundo, e porque a mesma foi um pretexto para me aproximar de uma garota... rsrs. Mas é fantástico o seu exercício de rememoração.
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