setembro 11, 2007

Guardas da Fronteira

”Antes de atirar o vaso na TV
eu ouvi o que ela dizia:

”quando não houver mais amanhã
será um belo dia"
estranha coisa pra se dizer
antes de dizer os números da loteria
mas é assim que eles fazem
e fazem muito bem
e nós não fazemos nada, nada, nada nada
além além do mito
que limita o infinito
e da cegueira
dos guardas da fronteira
antes de atirar minha tv pela janela
eu ouvi o que ela dizia:
"quando não houver mais ninguém
será um belo dia"
estranha coisa pra se dizer
antes de vender mais mercadoria
mas é assim o mundo que nos cerca:
nos cerca muito bem
e as crises e cicatrizes não nos deixam ir além
além do mito
que limita o infinito
além da cegueira,
das barreiras das fronteiras...
foi então que eu resolvi jogar
as cartas na mesa e o vaso pela janela
só pra ver o que acontece na vida
quando alguém faz o que quer com ela...
acontece que eu não tenho escolha
por isso mesmo é que eu sou livre
não sou eu o mentiroso
foi Sartre quem escreveu o livro
não sou a fim de violência
mas paciência tem limite
além do mito
que limita o infinito
além do dia-a-dia
que esvazia a fantasia"

Guardas da Fronteira - Engenheiros do Hawaii (1987)
O ideal é sempre colocar quem escreveu a música antes da letra música, mas sendo Engenheiros do Hawaii prefiro inverter essa lógica. Mostrar uma letra com certa lógica, mesmo eu não gostando muito dessa música em específico, acho uma importante pista para algumas questões de cultura desse disco de vinte anos atrás. “A revolta do Dândis”, disco que praticamente inicia a fase de maior sucesso do trio formado por Humberto Gessinger, tem referencias de Jean-Paul Sartre e de Albert Camus, evidente na faixa título. Eu me pergunto sempre se outras bandas da mesma época tinham referencias da alta cultura? Quando me falam de Legião Urbana eu volto a me perguntar, mas fazendo música? Afinal quem era o guitarrista do Legião Urbana? Não que Augusto Licks seja alguma coisa, mas Engenheiros eram três pessoas, seus discos tinham temas, havia alguma influencia de rock progressivo, de Pink Floyd, de Rush, mas passava longe das técnicas musicais destas bandas. Mas as letras eram boas.

Já pensei em pesquisar um pouco letras de outras bandas, mas Engenheiros do Hawaii eu acabei por escutar desde os 13 anos de idade, nunca me preocupando em ver se suas letras fazem ou não sentido. Mais tarde, e não em virtude deles, comecei a escutar Rush, entre outras bandas, de estilos distintos. Mas não sei dizer por que suas letras para mim fazem sentido. Saber das pequenas influências me faz gostar mais ainda de suas letras. Hoje vendo bem, muitas são datadas. Mas valem como registro de uma época. Já escrevi aqui várias vezes que gostei desde sempre dessa geração rock nacional, mas hoje, eu acredito ser as letras de Engenheiros do Hawaii mais completas no que me interesso hoje. Além daqueles anos em que eu assistia aos shows dos Engenheiros, guardo muitas lembranças de vários pequenos trechos de suas canções. Um dia ainda organizo uma coletânea desses pequenos trechos. Por hora deixo esta letra ai para pensar em que escolha pode-se ter e por que dentro dessas escolhas podemos ou não ser livres?

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