Não odeio a obra de Oscar Niemeyer (ou o próprio). Ainda mais que isso nem seria necessário, o próprio Niemeyer pode fazer isso por si mesmo. Mas o fato de Niemeyer nos últimos anos vem produzindo muita arquitetura. E essa produção com certeza não se poderá analisar agora, já. Mas com certeza, como ocorre com suas obras de quase 70 anos, fica muito mais fácil de saber o que deu certo e que não deu. E o que interessa é saber o que deu certo. Podia começar falando do Parque do Ibirapuera, da idéia da marquise, atualmente abandonada por Niemeyer em seus novos projetos. Mas ainda essa crítica seria ainda complicada, pois muitos de seus projetos sem marquises são bons e alguns outros como o conjunto da Pampulha, a marquise pequena mostra uma funcionalidade e uma força plástica interessante. Principalmente que tem uma razão forte para ter ou não ter uma marquise. Mas não é dessa obra de Niemeyer, da obra pública, da obra de uso público, que quero criticar, mas sim da obra privada, da residencial.
Certa vez, um arquiteta, professora da FAU-USP, que trabalhou com Niemeyer, me disse que sua obra era dividida em cinco momentos diferentes. Destes momentos não lembro ao certo, já que não se tratava de uma aula e sim de um bate-papo informal, mas seria o primeiro praticamente a busca por uma identidade, começando entre os anos 1930 e 1940, com a obra do Pavilhão do Brasil, em conjunto com Lúcio Costa, com o Conjunto da Pampulha, onde estaria sendo iniciada sua fase mais formal, da busca por uma plasticidade. Outro momento estaria estabelecido pela plasticidade dada pela estrutura, onde a obra, como nos palácios de Brasília, se destaca a estrutura dando corpo à obra. Meu problema em definir estas fases é que não são definidas nitidamente cronologicamente. Por exemplo, o Memorial da América Latina estaria inserido nesta segunda fase. E antes dos edifícios de Brasília, temos toda uma obra urbana, com os edifícios Copan e Montreal, por exemplo. Que esta seria a fase que Niemeyer simplesmente abandonou e cronologicamente seria a segunda fase. E justamente a esta fase que coloco minha crítica. Mas para terminar de expor quais seria as outras duas fases, seria uma obra projetada para o sítio urbano, o local da obra. Seria a fase do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do Caminho Niemeyer, onde além de dialogar com o sítio urbano, a obra representa toda uma simbologia, adotada até oficialmente pela prefeitura de Niterói. E a última fase é a intervenção na sua obra construída, caso do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e da obra inacabada do Parque do Ibirapuera, intervenção feita cerca de cinqüenta anos depois do projeto original.
Mas voltando àquela obra residencial, constituída praticamente nos anos 1950 e inicio dos 1960, principalmente na cidade de São Paulo, Niemeyer teve até “filial” de seu escritório na cidade. Foi ali um momento que não se pode afirmar categoricamente, mas é a fase mais comercial de Niemeyer, onde talvez seja das poucas vezes que trabalhou para a iniciativa privada, para especulação imobiliária. No Copan, uma das maiores estruturas residenciais construídas pelo movimento moderno, onde atualmente habitam cerca de 5000 moradores, aparecem muitos dos desafios de se construir uma cidade. E é exatamente ai que entra minha crítica: no maior desafio de se consolidar as novas propostas para a cidade, Niemeyer abandona essa nicho de mercado. Hoje tece criticas ao Copan, falando da especulação e da deformação da sua obra pelas lojas que existem no térreo do edifício.
É estranho que toda vez que vou à Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, observo como o edifício de uso misto – lojas, escritórios, consultórios médicos e odontológicos e residências numa mesma estrutura – seja muito bem utilizada e mantenha uma manutenção bastante boa, de seu projeto original. O Conjunto Nacional e o Copan são contemporâneos, dois frutos de uma cidade que se desenvolvia rápido naquelas décadas de 1950 e 1960. É interessante lembrar da obra de David Libeskind, autor do projeto do Conjunto Nacional, praticamente esquecido nos livros sobre a arquitetura moderna.
Agora, duas questões são necessárias para complicar essa minha crítica: a decadência do centro da cidade, onde fica o Copan, diferença de público usual do Conjunto Nacional, e a obra incompleta do projeto original do edifício Copan. O Copan era muito que um simples edifício residencial em seu projeto original. Onde hoje existe um prédio do Bradesco era o local onde seria construído um hotel, completando o conjunto. Olhando o boom dos hotéis ocorrido ao final dos anos 1990, aquele projeto inacabado poderia ter dado outro rumo aquele pequeno pedaço do centro de São Paulo. Com a decadência do centro de São Paulo, praticamente um fenômeno dos anos 1970, tudo o que estava no centro acabou se deteriorando rápido, e, hoje, devido a novas demandas tecnológicas, o centro terá uma dificuldade muito maior de se renovar. Aquelas estruturas todas, hoje sucateadas, se somam a um monte de imóveis vazios e abandonados por todo o centro.
Uma solução, não muito prática e nem barata, é a demolição de muita coisa no centro e intenção de se renovar, mesmo, com novas obras, novas construções. Se existe dinheiro para construir em locais sem infra-estrutura, como Alphaville e Berrini, não faltaria dinheiro para renovar o centro. Mas uma questão emperra esse processo e faz tudo caminhar em sentido contrário. Primeiro que os imóveis no centro, mesmo estando sucateados, velhos e muitas vezes vazios, são caros. Não existe a menor intenção dos donos de imóveis não deixarem de ganhar com a especulação, muitas vezes fomentada pelo Estado (ao contrário do que o próprio Estado se diz a fazer). A cada novo plano estatal de renovação do centro os donos de imóveis esperam por ganhar mais, não importando muito com as questões de qualidade. É um retrocesso, pois as empresas que interessam - as que têm recursos para renovar verdadeiramente - optam por estar em outras regiões onde seu custo de implantação é mais barato. Basta refletir sobre a atual mudança dos escritórios administrativos das indústrias se transferirem para as proximidades de suas próprias fábricas.
Mas deixando a especulação imobiliária burra de lado, pois, diga-se, ela é a geratriz da atividade comercial imobiliária, sem a qual não existe iniciativa comercial na construção civil, a fuga de Niemeyer nesse momento é uma das críticas que praticamente nunca se fizeram, pois esta estava sempre encoberta por uma ideologia. Se foi opção ideológica naquela ocasião, não pode hoje falar da falta de estética das cidades (ainda mais que em nenhum momento real, nos anos 1950, o Brasil teve a menor hipótese de se tornar socialista). Nesse princípio, tanto Vilanova Artigas e Affonso Reidy, não poderiam nunca ser confundidos com Niemeyer, pois os dois trabalharam junto ao Estado para construção de habitações coletivas, buscando soluções para o déficit habitacional (que ainda hoje existe e ninguém sabe nem qual é a quantidade). Era outra forma de atuação, mas a falta destes arquitetos, comprometidos com seus ideais, simplesmente deixou a cidade sob o domínio de construtoras que estavam pensando somente nos números regulamentados pelo burro plano diretor de índices e taxas. Enquanto a poética dominava a arquitetura, a cidade que tinha uma demanda a ser atendida estava abandonada de soluções decentes para arquitetura. E hoje continua... Acertadamente muitos arquitetos envolvidos na construção de uma cidade melhor, veja o claro exemplo do bairro de Higienópolis, onde arquitetos como Vilanova Artigas, Rino Levi, Victor Reif e outros construíram verdadeiras obras de arte para a tal “iniciativa privada”, sem desvalorizar a urbe, muito pelo contrário. A maior prova disso é o edifício Louveira, de Artigas, na Praça Vilaboim. Agora, seguramente eu não sei em que momento se rompeu essa boa qualidade de intervenção dos arquitetos. Mas o momento atual pede intervenção urgente e de forma livre, deixando mesmo o capital atuar (coisa que duvido que aconteça, o que me faz quase pensar em desistir de dar soluções, já que a burra elite pensante acredita que as pessoas são máquinas. Ainda não entenderam que estas idéias coletivistas nunca darão resultado, pois essência da sociedade é o indivíduo em sua relação com outros indivíduos, e não com um grupo único, que costumam chamar de “sociedade”).
Certa vez, um arquiteta, professora da FAU-USP, que trabalhou com Niemeyer, me disse que sua obra era dividida em cinco momentos diferentes. Destes momentos não lembro ao certo, já que não se tratava de uma aula e sim de um bate-papo informal, mas seria o primeiro praticamente a busca por uma identidade, começando entre os anos 1930 e 1940, com a obra do Pavilhão do Brasil, em conjunto com Lúcio Costa, com o Conjunto da Pampulha, onde estaria sendo iniciada sua fase mais formal, da busca por uma plasticidade. Outro momento estaria estabelecido pela plasticidade dada pela estrutura, onde a obra, como nos palácios de Brasília, se destaca a estrutura dando corpo à obra. Meu problema em definir estas fases é que não são definidas nitidamente cronologicamente. Por exemplo, o Memorial da América Latina estaria inserido nesta segunda fase. E antes dos edifícios de Brasília, temos toda uma obra urbana, com os edifícios Copan e Montreal, por exemplo. Que esta seria a fase que Niemeyer simplesmente abandonou e cronologicamente seria a segunda fase. E justamente a esta fase que coloco minha crítica. Mas para terminar de expor quais seria as outras duas fases, seria uma obra projetada para o sítio urbano, o local da obra. Seria a fase do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do Caminho Niemeyer, onde além de dialogar com o sítio urbano, a obra representa toda uma simbologia, adotada até oficialmente pela prefeitura de Niterói. E a última fase é a intervenção na sua obra construída, caso do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e da obra inacabada do Parque do Ibirapuera, intervenção feita cerca de cinqüenta anos depois do projeto original.
Mas voltando àquela obra residencial, constituída praticamente nos anos 1950 e inicio dos 1960, principalmente na cidade de São Paulo, Niemeyer teve até “filial” de seu escritório na cidade. Foi ali um momento que não se pode afirmar categoricamente, mas é a fase mais comercial de Niemeyer, onde talvez seja das poucas vezes que trabalhou para a iniciativa privada, para especulação imobiliária. No Copan, uma das maiores estruturas residenciais construídas pelo movimento moderno, onde atualmente habitam cerca de 5000 moradores, aparecem muitos dos desafios de se construir uma cidade. E é exatamente ai que entra minha crítica: no maior desafio de se consolidar as novas propostas para a cidade, Niemeyer abandona essa nicho de mercado. Hoje tece criticas ao Copan, falando da especulação e da deformação da sua obra pelas lojas que existem no térreo do edifício.
É estranho que toda vez que vou à Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, observo como o edifício de uso misto – lojas, escritórios, consultórios médicos e odontológicos e residências numa mesma estrutura – seja muito bem utilizada e mantenha uma manutenção bastante boa, de seu projeto original. O Conjunto Nacional e o Copan são contemporâneos, dois frutos de uma cidade que se desenvolvia rápido naquelas décadas de 1950 e 1960. É interessante lembrar da obra de David Libeskind, autor do projeto do Conjunto Nacional, praticamente esquecido nos livros sobre a arquitetura moderna.
Agora, duas questões são necessárias para complicar essa minha crítica: a decadência do centro da cidade, onde fica o Copan, diferença de público usual do Conjunto Nacional, e a obra incompleta do projeto original do edifício Copan. O Copan era muito que um simples edifício residencial em seu projeto original. Onde hoje existe um prédio do Bradesco era o local onde seria construído um hotel, completando o conjunto. Olhando o boom dos hotéis ocorrido ao final dos anos 1990, aquele projeto inacabado poderia ter dado outro rumo aquele pequeno pedaço do centro de São Paulo. Com a decadência do centro de São Paulo, praticamente um fenômeno dos anos 1970, tudo o que estava no centro acabou se deteriorando rápido, e, hoje, devido a novas demandas tecnológicas, o centro terá uma dificuldade muito maior de se renovar. Aquelas estruturas todas, hoje sucateadas, se somam a um monte de imóveis vazios e abandonados por todo o centro.
Uma solução, não muito prática e nem barata, é a demolição de muita coisa no centro e intenção de se renovar, mesmo, com novas obras, novas construções. Se existe dinheiro para construir em locais sem infra-estrutura, como Alphaville e Berrini, não faltaria dinheiro para renovar o centro. Mas uma questão emperra esse processo e faz tudo caminhar em sentido contrário. Primeiro que os imóveis no centro, mesmo estando sucateados, velhos e muitas vezes vazios, são caros. Não existe a menor intenção dos donos de imóveis não deixarem de ganhar com a especulação, muitas vezes fomentada pelo Estado (ao contrário do que o próprio Estado se diz a fazer). A cada novo plano estatal de renovação do centro os donos de imóveis esperam por ganhar mais, não importando muito com as questões de qualidade. É um retrocesso, pois as empresas que interessam - as que têm recursos para renovar verdadeiramente - optam por estar em outras regiões onde seu custo de implantação é mais barato. Basta refletir sobre a atual mudança dos escritórios administrativos das indústrias se transferirem para as proximidades de suas próprias fábricas.
Mas deixando a especulação imobiliária burra de lado, pois, diga-se, ela é a geratriz da atividade comercial imobiliária, sem a qual não existe iniciativa comercial na construção civil, a fuga de Niemeyer nesse momento é uma das críticas que praticamente nunca se fizeram, pois esta estava sempre encoberta por uma ideologia. Se foi opção ideológica naquela ocasião, não pode hoje falar da falta de estética das cidades (ainda mais que em nenhum momento real, nos anos 1950, o Brasil teve a menor hipótese de se tornar socialista). Nesse princípio, tanto Vilanova Artigas e Affonso Reidy, não poderiam nunca ser confundidos com Niemeyer, pois os dois trabalharam junto ao Estado para construção de habitações coletivas, buscando soluções para o déficit habitacional (que ainda hoje existe e ninguém sabe nem qual é a quantidade). Era outra forma de atuação, mas a falta destes arquitetos, comprometidos com seus ideais, simplesmente deixou a cidade sob o domínio de construtoras que estavam pensando somente nos números regulamentados pelo burro plano diretor de índices e taxas. Enquanto a poética dominava a arquitetura, a cidade que tinha uma demanda a ser atendida estava abandonada de soluções decentes para arquitetura. E hoje continua... Acertadamente muitos arquitetos envolvidos na construção de uma cidade melhor, veja o claro exemplo do bairro de Higienópolis, onde arquitetos como Vilanova Artigas, Rino Levi, Victor Reif e outros construíram verdadeiras obras de arte para a tal “iniciativa privada”, sem desvalorizar a urbe, muito pelo contrário. A maior prova disso é o edifício Louveira, de Artigas, na Praça Vilaboim. Agora, seguramente eu não sei em que momento se rompeu essa boa qualidade de intervenção dos arquitetos. Mas o momento atual pede intervenção urgente e de forma livre, deixando mesmo o capital atuar (coisa que duvido que aconteça, o que me faz quase pensar em desistir de dar soluções, já que a burra elite pensante acredita que as pessoas são máquinas. Ainda não entenderam que estas idéias coletivistas nunca darão resultado, pois essência da sociedade é o indivíduo em sua relação com outros indivíduos, e não com um grupo único, que costumam chamar de “sociedade”).
2 comentários:
Haha! As lojas! Adoro as lojas! O Nações Unidas (blergh!) também está forrado de lojas no térreo. Ah, que coisa mais linda. Ao invés da imposição da vontade do maldito velhaco de Betti sobre a realidade, temos a imposição da realidade sobre a vontade.
Não sei porque não há uma crítica direta ao trabalho de Niemeyer! O custo da construção com vaos livres enormes nunca é questionado, arquitetura não é sustentável, manutenção caríssima, material usado não reciclável, a localização não leva em conta o acesso a pedestres e ciclistas, excesso de grama, excesso de vidro, falta de sombra, falta de escala humana, falta de funcionalidade. Nao tem energia solar, nada!! Essa arquitetura "escultura" esta acrescentando algo para o turismo?! Eu não consigo entender a motivacao pra essas grandes obras nao serem questionadas...
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