outubro 11, 2007

Imagens

O grito da Independencia - Pedro Américo
Na adolescência, lembro de ver as paredes dos quartos das amigas recheadas de fotos. Depois tudo virou clean, óbvio. Afinal, a idéia de quadro de fotos serve até certo momento. Nada contra quem as tenha até hoje, mas duvido que estejam representadas todas as fases da vida. Podem refletir sobre isso, tenho certeza que lá estão fotos de uma época, meio que não se faz um update das fotos regularmente. Isso quando o namorado não implica com as fotos dos ex.

Desde que iniciaram as câmeras digitais, as fotos e os momentos vão se perdendo. Pois, além do fato de não ser impressa, as fotos vão se perdendo em cada formatação dos hard disks. Em alguns anos poucas serão as fotos lembradas daqueles momentos. Tudo passa, nessa nova era tudo passara mais rápido ainda e sem passado. Têm também aqueles que perdem as fotos dos filhos. Imagina não ter as fotos das várias fases dos filhos? As festas de 2, 5, 10 anos de idade. Tudo se perde. Muitos amigos me falam que suas fotos são da infância, depois já adulto, não tem meio do caminho.

Veja que o passado recente já muitas vezes não existe mais. Os lugares mudam, mudam os bares, os restaurantes, as lojas. Imagina só ir a um bar onde Al Capone bebia, quando estava na Florida? Isso, na Florida, existe: o Tobacco Road, estabelecido desde 1912. Quero ver achar algo assim no Brasil... E as pessoas nem se dão conta disso. Outro dia soube de uma resistente, Le Casserole, um restaurante francês no Largo do Arouche, aqui no centro de São Paulo.

Uma vez, andando por Munique, havia uma placa, informando que ali naquele local cinco soldados resistentes ao nazismo morreram. Existe uma placa informando que alguém se escondeu no Mosteiro de São Bento (minha memória não é tão boa assim, para lembrar disso 17 anos depois), onde o Papa Bento XVI se hospedou quando esteve em São Paulo, este ano. Aliás, durante minha vista à Catedral de Salzburg, estava gravada no piso da catedral a data em que o Papa João Paulo II havia celebrado missa.

É duro tentar avisar às pessoas de que a perda de referencia histórica é ruim. Uma cidade sem tradição é uma cidade sem cultura. É um povo sem cultura. Kevin Lynch passou anos estabelecendo conceitos para os landmarks, para hoje se ter uma cidade que os despreza. E olha que São Paulo é mais antiga que muita cidade, onde existe já certa história no imaginário corrente. Basta ver a falta de destaque para o Museu do Ipiranga, onde nas suas proximidades nascia o país independente (certo que há uma mística história ai nesse fato, mas o que importa é nem essa referencia está explicita de forma adequada ao turismo e à memória urbana).

Tratar da cultura e da história começa tratando da própria cultura e da própria história. Se de certa forma o homem comum (homem massa, definido por Ortega y Gasset) não se importa com ela, por que se importaria com a historia coletiva, a história da cidade?

Um comentário:

João Batista disse...

Um amigo tinha a porta interna do guarda-roupas recheada de fotos. Depois comprou um quadro de avisos e botou na parede para rechear. Curiosamente, todos pensavam que o cara era bicha, não por este motivo, já que estes não chegavam a conhecer seu quarto... Aliás, ele só tinha amigas, com exceção de dois amigos, eu incluso. Interessante esses caras que acabam só com amigas. Eu também tive muitas amigas, mas com o passar do tempo acabei quase que com um monopólio de amigos.

Não gosto de fotos, não gosto das fotos da minha infância, não gosto das fotos de hoje. Gosto de fotos que tiro com garotas americanas lindíssimas, aliás, gosto de fotos de garotas americanas lindíssimas independente da minha presença. Está tudo na minha cabeça. Rememorar claramente, fazer este esforço, se torna necessário. Não há nem segunda nem terceira via. Ou você rememora, ou esquece. A humanidade viveu perfeitamente bem sem fotografias por milênios. Estou com os índios: sim, uma parte de sua alma se perde nas fotos. Se hoje não se faz grande esforço para preservar as fotos da destruição do Hard-Disk ou sistematicamente fotografar cada etapa da vida, não é grande surpresa. A não ser que as fotos estejam aí para compensar a perda da capacidade autobiográfica, como um instrumento para dar uma ajudinha.

São Paulo é uma cidade suja e feia. Ninguém cuida da sua própria calçada, do seu próprio gramado. Alguns cuidam de seus muros, talvez inevitáveis numa cidade tão grande quanto São Paulo, que atrai oportunistas, desesperados e bandidos. Aqui ninguém dá a mínima para sua propriedade, exceto pelas cédulas de dinheiro, e pois, pela propriedade alheia. Fiquei sabendo que num supermercado Extra, cadernos estavam emporcalhados com os adesivos que vêm de brinde numa primeira folha: acontece que as crianças ficam colando os adesivos caderno adentro. Ora, onde é que estão os pais desses vândalos? Se ninguém lhes ensina agora o caminho certo, que tipo de adultos se tornarão? Uma foto deste dia sim, será estampada na cara dos pais quando o dia deles chegar. A desgraça do Brasil é laboriosamente construída, todos os dias. Não há nada de errado com o país. O resultado foi escolhido. É uma opção por parte daqueles que não vêem nada de errado em permitir que seus filhos se entupam de vídeo-games piratas, sem nem mesmo tentar se justificar, quanto mais assumir o erro. O que podemos esperar de crianças que crescem tendo a pirataria como natural? Que respeitem a propriedade alheia?

Os três textos

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