outubro 21, 2007

Rede Globo - Nem sempre...

Não é a toa que a Globo está sempre em primeiro lugar nos índices de audiência. A concorrência é tão ruim que nem adianta muito tentar comparar. Mas será que sua programação é tão boa mesmo? Vamos a alguns detalhes: Sua grade é a mesma há muitos anos, com três telenovelas inéditas e uma reprisada por dia, de segunda a sexta, e aos sábados somente as três inéditas. Os horários são basicamente os mesmos, não alterando muito a rotina de audiência de seus telespectadores. Tem uma série/novela/escola de atores no período da tarde que teoricamente atende ao público adolescente. Nas manhãs, acho que ainda hoje, é dedicada praticamente às crianças, após o programa de Ana Maria Braga. É, sem dúvida, uma televisão popular. São poucos os momentos de real programação com conteúdo de qualidade, no sentido cultural, da alta cultura. No geral é entretenimento. O jornalismo segue uma linha não muito crítica, com um jornal matinal, um jornal de variedades no meio do dia, o famoso Jornal Nacional, antes da famosa novela das oito (os dois reais maiores índices de audiência da emissora) e alguns programas variados, como seriados, sessão de filmes, futebol, finalizando o dia com o Programa do Jô.

O que acontece com outras emissoras? A grade é impossível de se identificar. Os horários não são lá muito respeitados, principalmente no SBT. Por ter sempre três novelas ao mesmo tempo, a quantidade de atores é enorme na Globo. Isso leva a uma lógica básica: se tem maior quantidade de gente, tem maior possibilidade de ter os maiores e melhores atores também. Porém, isso custa muito caro. O que faz a Globo ter custos muito elevados, assim tendo que ter enormes audiências para ser auto-sustentável. Isso em muitos casos é complicadíssimo. Não sobra muito espaço para experimentações e tudo acaba saindo muito igual. Por ter essa grade fixa e rígida, o que é um respeito ao telespectador, se complica ao transmitir, por exemplo, o futebol às quartas-feiras, ao vivo. Assim fazendo o jogo mudar de horário... Em outros lugares do mundo, se passaria um compacto ou gravação, não ao vivo... O que deixa muito brasileiro no exterior com saudades da transmissão completa ao vivo. Só para se ter uma idéia, no Japão sempre é transmitida, pela TV aberta, somente o compacto das corridas de F1. Isso ninguém fala...

Outra coisa. A Globo praticamente contratou todas as pessoas de talento das outras emissoras. Isso pode ser chamado de compra de concorrência, mas no fundo, é uma falta de aposta em inovação das outras redes de televisão. Existe uma tendência de copiar a Globo, ou de viver em função dela, como os múltiplos programas de fofocas das TV Band e Rede TV! Isso sim, é péssimo. A Globo sempre se renova, mas vive praticamente em função dos seus quadros, entendidos, muito diferentemente que outras redes de televisão brasileira, como valores individuais. Nunca a Globo fez de seus talentos ou dos comprados da concorrência, uma simples commodity, como já ocorreu com a Record e a Band.

Claro, não posso deixar de mencionar que existe sim uma história anterior da Rede Globo. História esta que esbarra sim no atual momento de revanchismo em que vive o Brasil. Não é normal mentir tanto em relação ao “monopólio” da Rede Globo. Sim, é uma empresa de mercado. Vive de dinheiro de anunciantes privados (e também estatais). Tiveram inúmeros momentos em que teve problemas financeiros, principalmente com sua TV a Cabo, a Net. Sua expansão para conseguir chegar aos locais mais distantes desse enorme Brasil foi sim uma estratégia de sobrevivência, mais do uma idéia de monopólio. Claro, deixa muita gente sem opção de outros canais. O mercado é aberto à entrada de capital novo em redes de televisão. Em suma, não há dinheiro em outras emissoras porque não há interesse em investir nesse mercado. (Aqui vale mencionar a Gol Linhas Aéreas. Num mercado extremamente fechado, entre Varig e TAM, entrou e conseguiu superar as concorrentes. E este também é um mercado que depende de concessão estatal). O que é incrível é ver que se pode fazer televisão regional, caso da MTV, que somente em São Paulo e Rio de Janeiro é transmitida em sinal aberto. É inacreditável que no Brasil, com tanta diversidade cultural, tudo, desde bancos como televisão, precisa ser de abrangência nacional. Nos Estados Unidos isso não acontece, levando em conta que lá se chega a ter horas de diferença de fuso-horário, o que inviabiliza esse tipo de programação. Mais: as novelas vendidas para outros paises geram uma receita interessante para a emissora, fazendo um novo tipo de mercado, que muito poderia ser copiado por produtoras independentes, da mesma forma como um estúdio de cinema. Idéias não faltam, o que falta talvez seja bom senso...

Agora, sobre a melhora da programação, é realmente uma exigência da população. Televisão não foi feita para educar (nem para deformar), assim como cinema, teatro, música. Escola serve para ampliar a cultura e educação de um povo, mas a presença e a atenção dos pais são, sem duvida nenhuma, essenciais. Não adianta pensar que a TV Pública trará uma solução. Soube de alguns índices de audiência da extinta RCTV. Tinha cerca de 30% da audiência e hoje a TV Pública que a substituiu não chega aos 5%. Sem contra que num Estado já bastante oneroso na vida do brasileiro, deixá-lo pagar mais esta conta se torna ridículo.

Bem, mas para se ter a noção de todo sempre é necessária ter uma concorrência. Hoje a única TV a Cabo que não pertence a Globo é a TVA, do Grupo Abril. Outra vítima de pessoas de má fé, que os acusam de “monopólio” da mídia, em relação à revista Veja, a mais lida e vendida revista brasileira. Mas esta concorrência tem que se impor por competência e não por “medida provisória”. Todo mundo sabe que se fosse possível o investimento internacional no mercado televiso, tudo seria bem diference, inclusive a Globo... Mas é proibido por lei, e admito, ainda bem. Nem sempre investimento internacional é bem vindo. Prefiro a Globo nacional a uma Globo internacionalizada. Ainda mais nesse país em que a pessoa ter opinião é como ser um extraterrestre. Instituições não podem ter “lado”. É uma cultura do “patrulhamento ideológico”. O detalhe que esse não ter “lado” tem sempre um lado...

Um comentário:

Anônimo disse...

Por falar em programas,há um que acho excelente:às quintas,22:40horas na cultura- Opinião Nacional com Alexandre machado. trata de assuntos do 'dia" com excelentes participantes.

angelica@fuchsia.com.br

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...