agosto 27, 2007

Tinta preta na arquitetura

Um dos três edifícios que formam o complexo Tomie Ohtake.
Centro Educacional - Guarulhos
Concreto pintado de preto - Hotel Unique
Perspectiva do Hotel Unique

Vou falar sobre um aspecto específico da obra recente do arquiteto Ruy Ohtake: pintura preta em algumas de suas obras recentes. Duas de suas obras – Instituto Tomie Ohtake e Hotel Unique – trazem ao debate a arquitetura contemporânea produzida na cidade de São Paulo. Normalmente a forma surpreende os transeuntes, trazendo muitos tipos de comentários. No começo se dizia que o Hotel Unique era um barco, depois uma melancia, assim como falam dos pilares em forma e carambola do Instituto Tomie Ohtake. Isso não traz nada novo para o debate, mas o que chamo a atenção é especificamente a pintura preta nas pareces de concreto retorcidas do Hotel Unique e outra obra de Ruy Ohtake em Guarulhos, que trazem a cor preta para o ambiente urbano.

A forma da arquitetura de Ohtake traz essa polêmica por não se tratar na verdade de uma forma preestabelecida. Um semicírculo não é uma forma por si só já definida. Não é a mesma coisa das casas pós-modernistas, cuja lembrança de uma remete a um binóculo estilizado. O pluralismo da pós-modernidade não deixa um “cânone” para ser seguido e trás inúmeras interpretações distintas sobre como classifica-lo, ou melhor, tentar classificar por pontos específicos comuns, trabalho feito com grande empenho e não divulgado pela professora Eunice Abascal, dentro do curso de arquitetura da Universidade Mackenzie. Assim como outro trabalho relevante para entendimento de algumas teorias da arquitetura, o trabalho desenvolvido sobre os modelos arquiteturais, desenvolvido pelo professor Candi Hirano, também na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Estes trabalhos nasceram do empenho do professor Jun Okamoto, autor do livro “Percepção Ambiental e Comportamento” (aqui), que introduziu o estudo de teoria da arquitetura dentro da já referida faculdade. Não é um conteúdo fácil de assimilar, tendo em vista que é necessária maior pesquisa do que somente os apontamentos em sala de aula.

Mas voltando ao Ruy Ohtake, o debate teve alguma relevância graças a suas novas obras e fez também desapertar no púbico leigo algum interesse no que estaria acontecendo, assim como também despertou desafetos múltiplos. Normalmente a pintura em preto de uma parede ou fachada estava vinculada a um tipo de arquitetura transitória. Algo que estaria no estudo de Cândi Hirano dentro do modelo arquitetural ativista (só aqui daria para escrever muito mais, mas sem exageros). Estaria ligado a uma casa noturna, um restaurante, uma loja, algo que teria uma dada pré-determinada para ser mudada. Seria algo como uma atração momentânea, que após certo período de tempo perde a força de marco referencial. Já na obra de Ohtake, vemos que a essência do projeto pede essa cor. Seja por estar dentro de uma estrutura que trabalharia o sentido da visão ou de certa forma como melhor opção ao vandalismo (pichação). Mas sua interpretação no meio urbano é algo que estamos vendo cada dia sedimentando na mente, fazendo um desenho mental da cidade.

Mais sobre Ruy Ohtake aqui.

3 comentários:

João Batista disse...

A carambola faz parte da sustentação ou é apenas - fico pronto para levar um tapa na cara - decorativa?

O edifício em si é interessante. Parece um aglomerado simétrico de pequenas unidades quadrangulares, observando que as unidades laterais finais do ultimo andar que parecem estar cortadas pela metade. Não tenho a menor idéia de como isso se relaciona com a base. Mas aquela carambola me causa angústia. Sinto necessidade de removê-la...rsrs... Ta bom, você pode traçar uma diagonal ligando as extremidades através do espaço vazio entre os andares. Deste ângulo a carambola parece ter o comprimento igual à profundidade do edifício. Inclinando-a no mesmo ângulo das vidraças vermelhas da base, ela se encaixa perfeitamente nas tais extremidades, formando a tal diagonal. Agora por que não tomar o comprimento desta linha como diâmetro de um circulo, e sim fazer essa carambola ovalada? Além do fato de um círculo não caber, não sei, preciso de mais proporções geométricas...rsrs...

Não sei o que dizer sobre o preto. Ao menos é uma cor (quer dizer, a combinação subtrativa de cores, rsrs). Melhor que o cansativo concreto exposto ou branco acinzentado (por encardido de pó) do Niemeyer...rsrs... É claro que ignoro qualquer perspectiva histórica, desconheço-as, ora bolas (por falta de tempo, claro). A época do concreto armado exposto deve ter tido defensores entusiasmados, assim como espero que tenha tido seus críticos também...rsrs...

Diga-me uma coisa, o que você acha daquela tecnologia anti-terremoto de separar edifícios em blocos menores e colocar suspensões e amortecedores em suas fundações, ou melhor, como suas fundações (e no topo, contrapesos)? Imagine o hotel barco/melancia com essa tecnologia aplicada, não para proteger a construção de nenhum terremoto, e sim para balançá-la intencionalmente a fim de simular o balanço de um navio. Rsrs...Ta bom, não sei com que dinheiro se pagaria a conta de luz para manter o negocio em movimento, então seria necessário buscar uma daquelas soluções de “movimento perpetuo” para baratear a brincadeira. Falando mais sério, não seria uma solução caríssima (sem simulação de movimento, apenas passiva) para remover aquelas paredes laterais? A não ser que estejam ali intencionalmente, como “decoração” (desculpe o termo leigo), como parte intencional do todo. Mas então, colocado sobre molas e com um contra peso, ou o edifício balançaria sozinho de um lado ao outro só um pouquinho, eventualmente rachando quando o movimento fosse interrompido no meio...rsrs...ou quem sabe o vento mantivesse a coisa toda equilibrada, a não ser que as paredes sejam mesmo redundantes, o que realmente aparentam ser devido a largura pequena, apesar de talvez corresponder a menor força exercida sobre elas pelo andar superior menor, que talvez esteja apoiado principalmente desde o centro do edifício, como indica a grande base que acompanha a curva do hotel, base esta que precisaria ter o ângulo de curvatura modificado para permitir o livre balanço da estrutura.

Ok, provavelmente nada disso é arquitetura e sim, em grande parte, engenharia. Pô, mas eu bem que tentei no caso do primeiro edifício, não foi?

D. Fernandinho disse...

Então, a carambola é estrutural sim.

Mas quanto à engenharia, sempre é um desafio propor uma arquitetura e ela ter um conceito e este conceito gerar um conceito de engenharia que gera então uma obra de engenharia que é na verdade uma demanda humana. O que importa no fundo é a função social que ela vai gerar. Ai esta a qualidade no todo. Ou seja, é caro fazer um edifício que amenize um terremoto? Mas quanto vale uma vida? Assim como é útil para que a produção das hortaliças francesas chegue à Inglaterra mais rápido, mas a que preço? Fazendo o túnel além de chegar rápidas as hortaliças, as pessoas, as cargas e o correio seriam então justificados um túnel? Tudo é muito relativo. Assim como dentro de uma cultura fazer as pirâmides do Egito e enterrar o faraó com todos os escravos e a mulher é relativo... É para ficar louco... Acho que sua idéia de ir para o Mosteiro e administrar a produção de vinho é mais válida.

João Batista disse...

Rsrs... ok, não posso ser arquiteto, acabaria embarcando em um projeto megalômano que terminaria por vir por terra, sem a necessidade de nenhum terremoto. Então só me resta continuar a emitir opiniões infundadas...rsrs. Lembrei agora que roxo, a cor da carambola, é a mistura de vermelho e azul, cores das janelas. Eis o motivo de a carambola ter dois planos: um representa as vidraças azuis, o outro as vermelhas, são perpendiculares para indicar uma combinação, o encontro que se dá no centro. Base e topo se combinam, o edifício que cresce rumo ao céu azul depois retorna a terra vermelha através da coluna. E ela é curva porque parece que o fim da estrutura no chão é curva também. Ta bom, é só uma caixa de vidro, ou melhor, caixas de vidro empilhadas uma em cima da outra, com uma coluna que não tem vergonha de ser saliente (não que devesse ter, eu gosto de colunas!).

Se eu sair enxergando coisas por aí, como faço com esse edifício, temo ser rejeitado por qualquer mosteiro por insanidade, restando apenas a parte do vinho, ou seja, encher a cara com ele...rsrs.

A sim, existem arranha-céus gigantes que balançam um pouco com o vento não existem? Deve existir quem se sinta mal, ao menos por um tempo, nestes edifícios, ao menos nos últimos andares. Então é claro que um hotel que balance teria certa dificuldade em arranjar hospedes, exceto por marinheiros e insones...rsrs. Se bem que existe aquela ponte em Londres, recente, que balançava de um lado ao outro devido a passada (ou também ao vento?) dos pedestres, e que apesar de perigoso por aproximar a estrutura de um ponto de desgaste ou ruptura, era um tanto divertido. Não que eu fale por experiência própria...Rsrs. Nem estive lá, nem me agrada balançar sobre um rio gelado e cheio de corpos de crianças sacrificadas e gatos mortos...rsrs. Prefiro a antiga ponte bem sólida do Ibirapuera. Aliás, taí algo para agradecer ao Niemeyer. Não sabia que a área havia sido cotejada para a construção do Estádio do Morumbi. Cruz credo! Moro perto e prefiro infinitamente o parque. Então obrigado Niemeyer!

Os três textos

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