agosto 03, 2007

Prazer em escerver

Já imaginava que iria gostar de escrever. Não sei ainda se esta forma de blog é a mais interessante, mas é a forma mais fácil, no momento. E pensando nisso eu não consigo entender por que não comecei antes. Em 2004 já tinha uma boa vontade de escrever. Só achava que me faltava algo. Não que não falte hoje, mas felizmente eu encontrei um caminho por entre os muitos que andei. Não sei se é o certo ou errado, mas é um que me faz andar mais que os outros pelos quais passei.

Não sei, mas esse negócio de ler livros da moda nunca me cativou. Não sou adepto de modismos. Não estou nem ai para certa literatura e achava que isso era um problema antes. E por causa disso eu deixava de escrever. Afinal, como não saber o que anda sendo escrito no momento? E esse querer conhecer o novo me levava sempre a conhecer o velho. Todo escritor falava de um livro que tinha lido ou de um autor e assim ia caminhando sempre apontando para o passado.

Durante a infância li bastante coisa. Lia uma série chamada Vaga Lume, da editora Ática. Gostava mesmo dos livros do Marcos Rey. Dessa série li “O Mistério do Cinco Estrelas”, Um Cadáver Ouve Rádio”, “A Ilha Perdida”, “Os Barcos de Papel”, “A Serra dos Meninos”, “Açúcar Amargo” e mais um monte. Lembro de uma professora da sexta série, em 1988, indicou “Os Meninos da Rua Paula” e “O Gênio do Crime”. Deve ter indicado outros, mas eu só lembro desses ai. Iniciei a leitura e nunca terminei de “O Tempo e o Vento” que era minha distração na sexta série ao lado de assistir “TV Pirata” (a série “O Tempo e O Vento”, de Érico Veríssimo, teve uma versão em mini-série na TV Globo).

Comecei a ler crônicas em 1997. Muitas crônicas. Era um texto pequeno, não tomava tempo e normalmente tratava de um assunto interessante sem muita profundidade. Mário Prata às quartas-feiras no Estadão. Ganhei um livro dele: “100 crônicas de Mario Prata - O Estado de São Paulo”. Foi uma das primeiras vezes que deu vontade de escrever, de ser escritor. Por ele comecei a ler outros livros. Ler o que ele meio que indicava indiretamente, como Nelson Rodrigues, José Saramago, Eça de Queiroz e Machado de Assis. Já tinha lido algo durante o segundo grau. Nada de leitura resumida. Dedicava-me a ler o todo do livro sempre. Tive uma enorme surpresa durante o meu terceiro ano de segundo grau, em 1993, ao ler um livro de contos de Monteiro Lobato. Dele só conhecia os escritos infantis. Foi muito bom mesmo ler Lobato. Tiveram mais outros livros, um deles que admito, foi barra para ler e que tive uma nota muito ruim na prova: “Os Lusíadas”. Esse já foi em 1991, no primeiro ano do segundo grau. Mas até 1997 eu só lia o que era indicado mesmo pela escola e uma coisinha ou outra, como “O Mundo de Sofia”, que foi já indicação no primeiro semestre da faculdade de arquitetura, em 1996.

Mas voltando às crônicas, meio que dividia meu prazer com a leitura sobre teoria e história da arquitetura, crônicas e muita música. Foi o período da faculdade que acredito ter sido o mais promissor em termos de cultura de massa, ou cultura pop. Muitas coisas da televisão também foram muito legais, como “A Comédia da Vida Privada”, ou “A Vida Como Ela É”, baseada na obra de Nelson Rodrigues. Além de “O Primo Basílio” e “Os Maias”, que li após assistir às séries. Quanto às crônicas, fui aumentando de autores. Do Mário Prata conheci o Mathew Shirts e por sua vez as séries de crônicas escritas durante a Copa do Mundo de 98, por Mário Prata, Mathew Shirts e Chico Buarque. Das influencias de Mário Prata cheguei a conhecer cronistas que ele gostava. Nessa época as crônicas de Mário Prata também eram publicadas na revista Isto É (que hoje pode ser chamada de isto era...).

Da teoria da arquitetura li “Paisagem Urbana”, de Gordon Cullen, meu predileto, “A Imagem da Cidade”, de Kevin Lynch, “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, de Robert Venturi, e “Arquitetura da Cidade” de Aldo Rossi, sem contar algumas coletâneas de textos organizadas pelo Professor Vicente Del Rio, como “Percepção Ambiental” e “O Espaço da Cidade”. Ou um livro que até hoje consulto bastante um texto em específico chamado “Os Centros das Metrópoles”. Além do Benévolo, “A História da Cidade”, e do melhor livro já escrito sobre São Paulo: “São Paulo: Três Cidades em Um Século”, de Benedito Lima de Toledo. E, claro, li muitos textos do Artigas e muitos textos de arquitetos modernistas. Muitos deles não me acrescentaram nada. No meio disso descobri um livro de crônicas do arquiteto Paulo Casé. Ele escrevia crônicas num jornal do Rio de Janeiro e estas foram reunidas num volume. Tinha crônica sobre Tom Jobim e outras particularidades e onde eu me deparei com algo terrível: quem era o Tom Jobim da minha geração?

Realmente a redução da cultura brasileira é evidente. Um dos poucos autores vivos que poderíamos dizer que pertence a esse grupo seleto da literatura brasileira é Ariano Suassuna. Mas a sua obra de maior interesse não pertence ao momento atual. Jô Soares já escreveu três livros: “O Xangô de Beker Street”, “O Homem que matou Getúlio Vargas” e “Assassinato na Academia Brasileira de Letras”. Não li nenhum deles. Até tenho interesse em ler. No caso são livros com começo, meio e fim. Cansa-me um bocado essa coisa de um agrupamento de vários textos virar livro. Não tanto pelo valor dos textos, mas é que é muito chato ninguém mais escrever um livro todo. A exemplo disso li “Pornopolítica”, de Arnaldo Jabor. É pior ainda. Nem as datas de quando foram escritos os textos constam do livro. Ficou claro que ele tem tanta profundidade quando Ozzy Osbourne em suas letras. Os dois me fizeram pensar muito já. Eu achava a figura do Ozzy mística aos 15 anos de idade e aos 27 a do Jabor. Hoje com mais de trinta ainda gosto de Ozzy e de Jabor, porém lhes atribuo o devido valor que têm. Em 1994, Jô Soares fazia este papel. Era quase um momento alto de sua carreira. Após isso, cada vez mais está se perdendo em seu pouco discurso. E o pior ainda, perdendo o que tem de melhor: o humor. Jabor e Jô Soares são homens cultos. Porém não o suficiente para suprir minhas dúvidas. Encontro em Nelson Rodrigues muito mais respostas que nos dois juntos. O que encontro em Graciliano Ramos então, nem se compara. De Graciliano eu li “Memórias do Cárcere”. A indicação indireta ocorreu numa palestra do arquiteto Ruy Ohtake, em 2003, quando o arquiteto Joaquim Guedes fez praticamente um discurso paralelo, e num dado momento citou “Memórias...”. O problema é que Nelson e Graciliano não dialogam com as dúvidas do momento. Para as antigas e entender o mundo são muito bons, mas para sacar o futuro me sinto um tanto quanto órfão, se não fosse por alguns outros autores, praticamente desconhecidos do grande público.

Mas voltando ao fato, escrever se tornou para mim um grande prazer. Se eu escrevo mal pouco importa nesse momento. É basicamente um agrupado de idéias e dúvidas, das quais acabo compartilhando. Isso é bom, elas ficam aqui registradas. Assim posso mudar de idéia e afirmar os por quês de uma e da outra coisa. E o melhor de tudo é não esquecer os detalhes desse tempo.

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