agosto 19, 2007

O beijo da morte

Uma das conspirações sobre o final das ditaduras na América Latina se coloca no Brasil como a morte de Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart, sob circunstâncias duvidosas, dentro do mesmo período de tempo. Dentro do romance dos jornalistas Carlos Heitor Cony e Anna Lee, “O beijo da morte”, de 2003, são colocados alguns aspectos sobre como a colaboração era feita entre as ditaduras da América do Sul (Paraguai, Argentina, Brasil e Chile) e sobre a abertura para democracia. Dentro desse aspecto, as três maiores lideranças no Brasil eram, naquele momento, exatamente Carlos Lacerda, João Goulart e já com certa idade, Juscelino Kubitschek. O fato dos três firmarem um acordo de uma aliança democrática foi, digamos assim, o desafeto para com os três do Regime Militar de Exceção. No livro existem partes um tanto quanto complicadas de se entender, e onde exatamente acaba o romance e começa o aspecto documental. Sem contar algumas passagens obscuras e a falta talvez de documentos como as fotos do acidente na Rodovia Dutra, causador da morte de Juscelino, são complicados e dão somente margem a especulação, mas nada trazem de realmente novo. E a parte que mais deixa certa suspeita se refere exatamente quanto à participação indireta de agentes americanos, que além de ficar somente no aspecto de dúvida, o único documento do livro na verdade não prova nada. E é um documento já conhecido. Existem aí mais detalhes que não sei até onde vão.

Descobri mais outros títulos referentes a esta pesquisa (saber mais aqui): “Ernesto Geisel”, de 1997, infelizmente já esgotado, “Dossiê Geisel”, de 2002, “Visões do golpe: a memória militar de 1964”, “Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão” e “A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura”, todos de Maria Celina D´Araujo, Gláucio Soares e Celso Castro. Geisel foi o presidente militar que iniciou o processo de abertura política. Pelo livro de Geneton Morais Neto, “Dossiê Brasília”, Fernando Henrique Cardoso chegou a jantar com ele após eleito presidente. Nada mais simples que entender o período como aspecto histórico e não mais como ranço.

Passados pouco mais de vinte anos de abertura política, o que mais impressiona é a atual falta de preceitos democráticos daqueles que se diziam perseguidores da democracia. O fato mais importante está se realmente em 1964 tinha alguém mesmo interessado em defender a democracia. Como escreve o jornalista João Mellão Neto:

“(...) 1964 foi um "annus horribilis". Não por causa do movimento dos generais, mas porque, com o impasse criado, qualquer que fosse o desfecho, ele seria necessariamente trágico.
Chegou um momento em que todos, indistintamente, ansiavam por um golpe. Brizola, à esquerda, pregava o fechamento do Congresso para que se implantassem as reformas de base. Lacerda, à direita, pregava que o Congresso fosse fechado para viabilizar as reformas modernizantes. A direita venceu.
Indagação pertinente: se as esquerdas tivessem vencido, o regime subseqüente seria menos cruel ou autoritário? Com certeza, não.
Vale lembrar que as esquerdas de então não eram "light" como hoje. Vivia-se o apogeu da Guerra Fria e o vezo stalinista ainda predominava. Direitos humanos não constavam de suas bandeiras e pregava-se abertamente a revolução armada, a supressão da burguesia e a ditadura do proletariado...
A democracia, em 1964, não acabou por acaso. Simplesmente não havia uma única voz que a defendesse. (...)”.
Leia na integra aqui.

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