agosto 30, 2007

Vou contar uma história...

Era uma vez... (Que bela maneira de começar uma história...)

Uma menina, que sentia que era diferente de seus pares. Resolveu buscar “caminhos alternativos” e outros pares, para evitar a solidão. Nesses caminhos foi encorajada a ser diferente mesmo, que sendo diferente se pode mudar o mundo. Esse mundo cruel onde o “capitalismo” é selvagem e o conhecimento é para privilegiados. Sendo assim, seguiu seus pares, chegando ao “ativismo” das idéias de igualdade. Não eram momentos bons na França, onde a igualdade, a fraternidade e a liberdade não andavam muito entrosadas. Uma praticamente convergia com a outra.
A liberdade dava aos pares a mesma chance de aprender, de trabalhar e também de dormir, de viver de vadiagem, se perdendo em aventuras no Moulin Rouge. E seu preço era dado em uma vida plena de entretenimento ou uma bela construção de um futuro sólido, moldado sob os alicerces do trabalho suado. E tanto um como outro poderiam ser vizinhos.

A igualdade dizia que ela tinha a mesma chance de ser bela como a primeira dama do Moulin Rouge. De usar as mesmas lingeries das damas da corte, mesmo elas sendo cinco vezes menores que as carnes gordas que a envolvem. Mas nem tudo é possível, principalmente que a igualdade não esclarece quem é o professor e quem é o aluno. São todos iguais. “Uns mais iguais que os outros”. Na igualdade não existiam “classes dominantes”. A não ser que você seja detentora dos “conhecimentos obscuros” que fazem ser a “líder espiritual” do caminho para o paraíso. Se só você sabe que tudo não passa de um estágio para chegar ao paraíso, que toda a sua “luta” não é uma simples ideologia, mas sim o Valhalla!

Foi ficando mais velha e caindo nas conversas de ex-igualitários que tentavam alcançar o poder para assim fazer a fraternidade com os que necessitavam dela. Fazer com que o Estado não seja igualitário para quem “não merece” e sim fazer justiça com os aparelhos do Estado. Fazer uma nova sociedade superior.

Não muito mais velha foi aprisionada por este Estado fraterno que ajudou a criar e foi parar num “centro educacional regenerador”, onde passou o fim dos seus dias rezando escondida, pois lá todos eram de outra religião...

Enquanto isto na Revista Playboy...

Não é engraçado que muitas grandes boas entrevistas estejam justamente na Revista Playboy? Teve em 2006 se não me engano, infelizmente não sou leitor da Playboy, (e se o fosse garanto que ler seria secundário, hahahahaha) Fernando Henrique Cardoso e até artigo de Olavo de Carvalho.

Quando era moleque lembro que fazíamos listinhas para ver quem seria musa da Playboy naquele ano. Ana Paula Arósio nunca fora fotografada e nem Luana Piovani... Lembro de uma, cuja capa era Kátia Pedrosa, e dentro havia um ensaio maravilhoso com a modelo Cindy Crawford. Anos depois somente a Carla Perez e a loira e a morena do “Tchan” apareciam disputando com tiazinhas e feiticeiras...

É lógico que esta postagem quer dizer mais do que está escrito, mas se você não entendeu, não se preocupe, é porque você é normal. E se entendeu, é exatamente sobre este assunto mesmo.

Nada melhor que...

Nem tudo esta perdido. Este final de semana terá no programa do ex-senador Artur da Távola, Antonio Vivaldi! Interpretando “as Quatro Estações”, a Orquestra de Câmara de Hanover, sob a regência de Adam Kostecki.

A Orquestra de Câmara de Hanover é formada por músicos que também atuam como solistas e fora criada em 1964, tendo nos últimos anos se apresentado com outros solistas internacionais de grande envergadura.

O Programa “Quem tem medo de música clássica?” é apresentado pela TV Senado aos sábados, ás 10 e 18h e aos domingos, às 10h, 18 e 00h.

Fora algumas de suas interrupções, os programas costumam ser ótimos.

Pato Fu: Kid Abelha e Blitz

Uma das bandas que nunca dei atenção é Pato Fu. Uma menina como vocalista e um som pop. Nada de mais. Diga-se, das bandas novas (nem tão novas), principalmente de Minas Gerais, como Skank, Jota Quest e Patu Fu, acredito ser a mais criativa como pop e um tipo de fusão até razoável. Não me atrai. Prefiro dentre as três o Skank. Soa mais original, um som mais próximo ao que eu espero ouvir, mesmo.

Ouvindo discos antigos do Kid Abelha, algumas passagens me lembraram o Pato Fu. Ou melhor, é nítida certa influencia desses discos e dos discos da Blitz. Para mim, que aos seis anos de idade lembro de gostar de certa música da Blitz – “Você não soube me amar” - e que logo depois conheci Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, com duas músicas inesquecíveis – “Como eu quero” e “Fixação” – Patu Fu soa como algo daqueles anos. Um pouco de peso em algumas horas, como no caso da música “Eu”, mas aquela proposta dos instrumentos japoneses não passa de discurso. Melhor mesmo é ouvir uma banda madura, como o próprio Kid Abelha, que não perdeu a identidade mesmo num momento em que quase todas as bandas de sua geração se perderam, caso de Titãs em “Titanomaquia”, a saída de Dinho Ouro Preto para formar o Vertigo. Na época nem achava tão ruim essa falta de personalidade das bandas, mas hoje olho até um pouco com desconfiança. Após o momento rock´n roll parecem ter mergulhado na MPB, como Nando Reis e o pior exemplo: Paulinho Mosca.

Agora dizer que eu escuto isso tudo ai em cima é brincadeira... Muita coisa me chega pela televisão e outro tanto de amigos, mas eu no fundo no máximo escuto aqueles mesmos dos anos 80 e alguma coisa nova como o disco da Paula Toller. Muita coisa que tem até certo sucesso (hoje em dia me pergunto se o sucesso é tal, por que falam tanto da mídia?) como Marisa Monte, Ana Carolina e Zélia Duncan, não conheço nada. Praticamente não escutei. Assim como bandas como Detonaltas, o Rappa, Charlie Brown e mais uma monte que simplesmente sei que existe, mas não escutei e não conheço os integrantes. E como sempre me diz um amigo, acha que nada perdi em não ouvi-las.

Das cantoras atuais me chamam atenção Adriana Calcanhoto, Na Ozzetti e Céu (Maria do Céu). Vanessa da Mata e Maria Rita (faz tempo) ainda não escutei para ter uma opinião formada. Dos cantores e bandas não tenho nada que realmente possa destacar. Como disse no começo do texto, acho Skank interessante, mas não é algo novo, assim dizer. O que é ruim avaliar que nos anos 80 se fazia já um tipo de música sem compromissos, algo chamado grosseiramente como “comercial” e atualmente está pior ainda. Certas letras simplesmente não dizem nada de coisa nenhuma. E o pior disso tudo que alguns picaretas se auto-intitulam “intelectuais” fazendo uma música que simplesmente não deixa espaço para dizer que é muito ruim, pois se você a acha ruim é que não entendeu... Um tipo de música que busca um público interessado em ter “cara de conteúdo”. Como diz certo amigo meu essa gente só se reúne para ficar pior, para ampliar sua ignorância. É a ignorância coletiva... Imbecil coletivo...

O pior são os “medalhões” da MPB. Estes sempre com pompa, com cachês altíssimos e considerados intocáveis, mesmo com versos como Eta, Eta, Eta / é a lua / é o sol / é a luz de Tieta... A crítica de música esta cada vez pior. Vale ainda dizer que não sou contra sons ditos “comerciais”, é entretenimento. Mas fazer deles “grandes compositores” é triste demais.

Ensaio sobre a cegueira

Certa vez lembro de ter lido uma crônica de Mário Prata em que tomava sol olhando para as garotas na piscina fingindo que lia um Saramago. Lembro em 1997, quando Jose Saramago foi ao Mackenzie, junto com Sebastião Salgado e Buarque de Holanda (que ficou por uns 30 minutos na palestra). Lembro também de uma vez questionado sobre o que estava lendo e falei sobre “Ensaio sobre a Cegueira”. Acredito ter entre meus amigos poucos que gostam de Saramago. Lógico, dentro do número de pessoas que lêem.

Não me importo muito com o que se fala sobre Saramago, mas gostei de “Ensaio sobre a Cegueira”. O livro tem uma dinâmica muito boa, com aqueles parágrafos intermináveis, e é um livro bastante duro, triste. Os personagens não têm nome, sendo descritos por suas atitudes, como o ladrão do carro, a mulher de óculos escuros, a mulher do médico, etc. Certa hora acreditava que me perderia, mas não. Bastante denso e com uma mensagem muito curta, o livro é bom. Não presto atenção no que Saramago diz a respeito de política, é melhor preservar meus ouvidos... Aliás, isso sempre me intrigou: por que alguém famoso por ser escritor insiste em mostrar sua opinião sobre política e ainda de forma tão desastrosa? Felizmente sabe como separar sua literatura de sua posição política. O próximo livro dele será “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, muito provavelmente. Sempre tive curiosidade por ele.
De Saramago aprendi uma coisa bastante importante sobre escrever: quando perguntado como escreve tantos livros, simplesmente disse que escreve duas a três páginas por dia. Mas todos os dias. Isso demonstra que uma obra se começa com duas ou três páginas diárias. Não talvez só com o talento. Esse caminho é talvez o mais importante ensinamento que ele pode dar.

agosto 28, 2007

Hora da diversão

Eu nem tinha idéia do assunto até um amigo me falar. Mas até ai ter um campeonato mundial... O Air Guitar é a arte de tocar uma guitarra imaginária, mais ou menos. Pareceu interessante... Mais aqui.

agosto 27, 2007

Um pouco sobre os Clássicos

Um tempo atrás soube de um estudo de T.S. Eliot sobre os Clássicos. Vou citar a passagem do livro de Reinaldo Azevedo que o contém:

“Num magnífico ensaio chamado “O que é um Clássico?”, T. S. Eliot ilumina, como quase sempre, a inteligência: “(...) um clássico só pode aparecer quando uma civilização estiver madura, quando uma língua e uma literatura estiverem maduras; e deve constituir a obra de uma mente madura. É a importância dessa civilização e dessa língua, bem como a abrangência da mente do poeta individual, que proporcionam a universalidade. (...) A maturidade de uma literatura é um reflexo da sociedade dentro da qual ela se manifesta: um autor individual – especialmente Shakespeare e Virgílio – pode fazer muito para desenvolver sua língua, mas não pode conduzir essa língua à maturidade a menos que a obra de seus antecessores a tenha preparado para seu retoque final. Por conseguinte, uma literatura amadurecida tem uma história atrás de si. (...) Dentro de suas limitações formais, o clássico deve expressar o máximo possível da gama total de sentimento que representa o caráter do povo que fala essa língua.” (De Poesia e Poetas, T.S. Eliot apud Azevedo, Reinaldo. Contra o Consenso. São Paulo: Editora Barracuda, 2005.)
Após este texto li outro de Daniel Piza que tratava de compor o porquê ler os Clássicos (aqui). Ele acredita que os clássicos devem ser lidos também por prazer. E tudo isso serve mais especificamente para entender que o que é chamado por “alta cultura” é mais accessível do que parece. Os fatos que levam muita gente a não ler os Clássicos esta na preguiça, na total falta de tempo ou mesmo numa falta de prioridade de valor. Este terceiro também poderia relacionar com uma falta de crítica literária no Brasil, o que também poderia melhorar o caminho para valorizar certos clássicos.
Não creio que seja o único caminho de um escritor, o de conhecer primeiro os clássicos para depois escrever, mas não acho que a literatura que não passa por um caminho assim pode amadurecer tardiamente. Talvez seja este o motivo que eu não leia autores recentes...

Tinta preta na arquitetura

Um dos três edifícios que formam o complexo Tomie Ohtake.
Centro Educacional - Guarulhos
Concreto pintado de preto - Hotel Unique
Perspectiva do Hotel Unique

Vou falar sobre um aspecto específico da obra recente do arquiteto Ruy Ohtake: pintura preta em algumas de suas obras recentes. Duas de suas obras – Instituto Tomie Ohtake e Hotel Unique – trazem ao debate a arquitetura contemporânea produzida na cidade de São Paulo. Normalmente a forma surpreende os transeuntes, trazendo muitos tipos de comentários. No começo se dizia que o Hotel Unique era um barco, depois uma melancia, assim como falam dos pilares em forma e carambola do Instituto Tomie Ohtake. Isso não traz nada novo para o debate, mas o que chamo a atenção é especificamente a pintura preta nas pareces de concreto retorcidas do Hotel Unique e outra obra de Ruy Ohtake em Guarulhos, que trazem a cor preta para o ambiente urbano.

A forma da arquitetura de Ohtake traz essa polêmica por não se tratar na verdade de uma forma preestabelecida. Um semicírculo não é uma forma por si só já definida. Não é a mesma coisa das casas pós-modernistas, cuja lembrança de uma remete a um binóculo estilizado. O pluralismo da pós-modernidade não deixa um “cânone” para ser seguido e trás inúmeras interpretações distintas sobre como classifica-lo, ou melhor, tentar classificar por pontos específicos comuns, trabalho feito com grande empenho e não divulgado pela professora Eunice Abascal, dentro do curso de arquitetura da Universidade Mackenzie. Assim como outro trabalho relevante para entendimento de algumas teorias da arquitetura, o trabalho desenvolvido sobre os modelos arquiteturais, desenvolvido pelo professor Candi Hirano, também na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Estes trabalhos nasceram do empenho do professor Jun Okamoto, autor do livro “Percepção Ambiental e Comportamento” (aqui), que introduziu o estudo de teoria da arquitetura dentro da já referida faculdade. Não é um conteúdo fácil de assimilar, tendo em vista que é necessária maior pesquisa do que somente os apontamentos em sala de aula.

Mas voltando ao Ruy Ohtake, o debate teve alguma relevância graças a suas novas obras e fez também desapertar no púbico leigo algum interesse no que estaria acontecendo, assim como também despertou desafetos múltiplos. Normalmente a pintura em preto de uma parede ou fachada estava vinculada a um tipo de arquitetura transitória. Algo que estaria no estudo de Cândi Hirano dentro do modelo arquitetural ativista (só aqui daria para escrever muito mais, mas sem exageros). Estaria ligado a uma casa noturna, um restaurante, uma loja, algo que teria uma dada pré-determinada para ser mudada. Seria algo como uma atração momentânea, que após certo período de tempo perde a força de marco referencial. Já na obra de Ohtake, vemos que a essência do projeto pede essa cor. Seja por estar dentro de uma estrutura que trabalharia o sentido da visão ou de certa forma como melhor opção ao vandalismo (pichação). Mas sua interpretação no meio urbano é algo que estamos vendo cada dia sedimentando na mente, fazendo um desenho mental da cidade.

Mais sobre Ruy Ohtake aqui.

agosto 26, 2007

A diferença entre...

Sempre me perguntei qual a diferença entre crônica, conto, novela e romance. Uma crônica é um pequeno texto escrito para jornal, não por um jornalista, mas por um escritor que pela crônica criticava questões cotidianas. O conto, a novela e o romance não são a mesma coisa só que com diferença de tamanho, sendo o conto mais curto, a novela nem tanto e o romance longo, o que não realmente corresponde à verdade. O conto tem na sua estrutura apenas, resumidamente, um único drama. A novela, muito confundida com a questão da telenovela, é uma sucessão de dramas, de certa forma infinita. O romance já é esta sucessão conectada, formando um círculo. Dando um final não sendo possível prosseguir a sucessão dos dramas. Nesse aspecto, a telenovela é mais um romance do que propriamente uma novela.
Estou sendo bem resumido, mas é um começo para analisar essa questão de estrutura.

Sempre um Papo

Busquei no site da Câmara Federal e descobri que todos os programas da TV Câmara estão disponíveis para assistir. Acabei de assistir o “Sempre um Papo” com o arquiteto Isay Weinfeld, que trata de seu livro, com texto escrito por Daniel Piza. Sem contar que fala também sobre seu início de carreira e sobre sua passagem no cinema, onde produziu alguns curtas-metragens. Muito bom mesmo, o papo...

Bruno Tolentino

No Youtube tem uma entrevista inteira com Bruno Tolentino, do programa “Sempre um papo”, da TV Câmara. Lá fala de quanto tempo demorou a escrever seus livros de poesia, sendo o mais curto nove anos. Uma entrevista muito boa, porém já demonstrava mesmo que sua saúde estava debilitada. Fora isso, ele parece meio louco... E os temas de suas poesias eram de uma forma bastante inusitada. Gostei bastante da parte em que se refere a Glauber Rocha e José Guilherme Merquior.
PS.: o jornalista Reinaldo Azevedo já havia passado um link, em seu blog, acho que é dia 20 de agosto. E lá esta uma integra de uma entrevista com Bruno Tolentino na revista Veja.

Beautiful Boxer

Como sempre meu domingo começa com “Esporte Espetacular”. Mas hoje o programa, que sempre é bom, estava melhor. Perdi a corrida de F1, infelizmente. Teve uma pequena reportagem sobre o boxeador que ganhou dinheiro com o boxe e conseguiu pagar sua operação para mudança de sexo, permitida na Tailândia. A história virou filme, chamado Beaufil Boxer, de 2003. Dirigido por Ekachai Uekrongtham, das Filipinas, o filme conta a história de Nong Toom que hoje é Parinaya Charoemphol (com esses nomes, não dá para saber se é homem ou mulher mesmo...). E o programa fez até uma breve entrevista com Parinaya. No fundo seria o homem que lutou para libertar a mulher que vivia dentro dele.

Obviamente eu não vi o filme, que participou do festival de Berlin de 2004. O detalhe mais interessante do programa que não deu interesse se ele era homossexual, mas sim de sua luta pessoal, não mostrando nenhuma polêmica. E é como deve ser visto mesmo. Se fosse naqueles programas sensacionalistas... E ainda pelo que consta, o diretor conseguiu fazer do filme um bom cinema, não caindo também nesse sensacionalismo. É uma história interessante e felizmente bem narrada.

agosto 25, 2007

Jane Jacobs, Aldo Rossi e Robert Venturi

Digo que ainda poderia colocar Gordon Cullen e Kevin Lynch nessa postagem, mas ainda não é o momento. Jane Jacobs é autora do clássico livro “Morte e Vida das Grandes Cidades“ (The Death and Life of Great American Cities), de 1961, pede a volta da ordem da cidade pela valorização da rua, a única não arquiteta destes três autores que compõe o tema dessa postagem. Aldo Rossi é autor do livro “A Arquitetura da Cidade” (L´Architettura della Cittá), de 1966 onde, segundo Roberto Segre afirma “(...) Na Europa, Aldo Rossi e os irmãos Krier defendem o valor simbólico dos monumentos e da malha original ainda existente nas cidades européias, como representação do genius loci dos lugares, e a necessidade de novas inserções que dialoguem com as preexistências ambientais. (...)” E por fim Robert Venturi é autor do livro que seria o denominador comum entre os dois primeiros: “Complexidade e Contradição em Arquitetura” (Complexyty and Contradiction in Architecture), de 1966.

Conforme também afirma Roberto Segre: “Na segunda metade do século 20, o acelerado processo de crescimento da população urbana no mundo, nos países industrializados e nos subdesenvolvidos, tornou incontrolável o desenvolvimento de novas estruturas urbanas. O planejamento urbano e regional tentou estabelecer padrões básicos de organização do território pelo Estado central ou pelos governos municipais - lembremos as experiências européias da Inglaterra, França, Holanda e dos países da Escandinávia -, mas a pressão da iniciativa privada, a especulação da terra urbana e da construção de moradias e a ascensão do consumo como função privilegiada pela proliferação dos shoppings impossibilitaram o sucesso das políticas de planejamento territorial.(...)”, se a solução dada por estes três autores e outros tantos mais, teve uma maior valorização, pois não simplesmente ignora que exista uma sociedade que deveria ser mudada, mas simplesmente dá soluções entendendo a sociedade como ela se compõe, se comporta. A idéia não é contrapor uma maneira de viver com uma já tradicional forma de vida. O erro esta exatamente nisso: não representar a sociedade e se criar uma idéia de nova sociedade que nunca aconteceu. O arquiteto Miguel Forte sempre afirmava que a arquitetura é o reflexo de todas as épocas, por ela se consegue saber como os povos viviam quais seus hábitos, suas limitações.

Vamos por partes: Quais as reais soluções dados pelos arquitetos brasileiros para a construção de moradias de interesse social? Elas estavam mesmo valorizando todos os aspectos urbanos? Depois de um tempo como se comportaram? Qual era (ou é) o real déficit habitacional brasileiro? Nota-se que com todas estas perguntas sem suas respostas não se consegue ir muito longe. Acho extremamente fácil atribuir toda a culpa de um urbanismo falho e com pouca qualidade à iniciativa privada especulativa. Ou aos mandatos políticos responsáveis pelas políticas urbanas que nunca foram implantadas. Isso não esvazia o problema, pelo contrário, o piora. Se todos os problemas brasileiros fossem resolvidos pela tríade emprego público, condomínio fechado e plano de saúde...

O difícil de ser arquiteto num país sem cultura não esta na atribuição profissional da arquitetura, mas sim nos objetivos a que ela se propõe. Naqueles objetivos que são os de sua atribuição e aqueles que foram sendo agregados e retirados sem a menor reflexão dos temas. Não existe problema sem solução, pois ai seria uma catástrofe, não problema. Conforme escreveu Edson Mahfuz em seu blog: “(...) É muito comum que alguém se refira ao projeto (...) como “a planta”. Sendo assim, não é de estranhar que o projeto não seja visto como uma das duas partes mais importantes de um processo de construção e, que por conseqüência, encontre dificuldades em ser remunerado condignamente.
Que os clientes saibam exatamente do que consiste um projeto me parece importante não apenas para que o nosso trabalho possa ser melhor entendido e valorizado, mas também para que possam exigir dos profissionais que contratam aquilo a que têm direito.
A rigor, um projeto é um conjunto de documentos que serve para orientar a construção de um edifício, espaço aberto ou objeto. O sucesso ou fracasso de qualquer uma dessas empreitadas depende do grau de aprofundamento e detalhamento do projeto.(...)”
(continua aqui).

Logo, com toda esta lógica, fica um tanto quanto difícil não estranhar a falta de entendimento quando a arquitetura se depara com um público de menor poder aquisitivo. Acredita-se que o trabalho do arquiteto onera a conclusão da obra, assim fazendo a “arquitetura sem arquiteto”, a um custo além de financeiro (igual), social (bastante inferior) diferentes. Não se trata aqui de defender as idéias de Jacobs, Rossi e Venturi, mas acrescentar que a arquitetura não se faz somente de fatores ideais e nem para públicos ideais, nem muito menos médios ou medianos. Se fosse fácil qualquer um faria, não? Assim como a auto-medicação, a “arquitetura sem arquiteto” é também uma prática que merece atenção dentro do contexto brasileiro.
Mas voltando aos três autores, é interessante lembrar que existe uma diferença de pensamento entre Europa e Estados Unidos. Um país com distâncias continentais e outro continente com cidades com dinâmicas de espaço bastante complexas, sem contar os aspectos de preservação do patrimônio histórico. O problema (não só no Brasil, como América Latina) é esquecer desses dois aspectos acontecendo ao mesmo tempo. Por questões ideológicas, certas questões urbanas estudadas por americanos não são estudadas nas universidades brasileiras. Seria como se um procedimento médico cirúrgico ou um medicamento fosse menosprezado por ser de origem americana. Não só é misturar problemas, mas total falta de responsabilidade. Basta ler “O Jardim de Granito” (1995), de Anne Whiston Spirn, e notar que muitos dos incidentes naturais como enchentes e alagamentos, poluição dos rios e solo, não são somente realidades urbanas brasileiras. Não quero aqui dizer que o Estado deveria se incumbir disso, mas para que existe o CREA mesmo? Assim como a OAB, o conselho de arquitetos é que deve se preocupar mais com estas questões, principalmente a de popularizar idéias de bom urbanismo e arquitetura entre os mais leigos. Lembrando que bom urbanismo é aquele que cumpre as suas funções e não um estilo de beleza estética.

A lógica da picaretagem

Uma das primeiras situações que um picareta tem em mãos é exatamente a certeza de que você acredita nele antes de ter certeza de se tratar de um picareta. Uma questão um pouco sem lógica, acredita-se primeiro e desconfia-se depois. Ou melhor, se acredita em suas palavras antes de qualquer dúvida. Depois com a reflexão das palavras acontece a dúvida. A dúvida é a pior parte. Faz com que tudo pare naquele momento. Se não parar é como se tornar cúmplice daquilo. Para isso se criaram critérios para evitar um pouco essa possível fé cega. O problema que o picareta sempre trabalha para driblar esses critérios e agir sempre na condição de menor precaução, assim sempre à margem do processo. Normalmente os critérios são subjetivos, sempre contendo uma margem de erro nem sempre suportável.

Basta saber que o picareta que me refiro pode ser institucional, não necessariamente humano. O problema que toda instituição é na verdade uma pessoa, um grupo, uma corja... Tirar o joio do trigo não é tarefa fácil, pois às vezes há aqueles inocentes úteis para chegar ao objetivo, que nem sempre é conhecedor das estratégias de concepção do plano e muito menos sabe o real objetivo, ou se o objetivo que busca é aquele que lhe foi dado ou se é um reflexo dele que importa.

O picareta usa todas as armas em suas mãos. Usa as pessoas, as movimenta como um jogo de xadrez. Quando lhe é surpreendido, normalmente foge por tangentes, sendo a pior de todas mostrar glórias visíveis, que nem sempre são montadas sob uma lógica da realidade. Ou melhor, explicando, são reais, mas são como um carro no consórcio, ou um financiamento da casa própria em atraso, elas existem, porém não sólidas como um carro velho ou uma casa quitada. Num mundo de aparências, nem sempre a realidade é fator determinante.
As duas principais armas contra a picaretagem é a experiência de vida e a solidez de uma vida. Com as experiências se aprende caindo nas mãos dos picaretas e a cada uma se aprende como não cair de novo no mesmo golpe, porém quem disse que o golpe se repete? A solidez de uma vida se faz de inúmeras formas diferentes e a mesma formação, como por exemplo, religiosa, não faz com que uma pessoa fique acima de suspeitas. São exatamente nas formações que se configuram as aparências que escondem a lógica da picaretagem. Não importa religião, família, formação acadêmica, mas a verdade que compõe o “eu” interior. Não é uma questão de consciência, pois esta pode ser comprada sem que ela saiba do objetivo por trás dela. Assim como a inteligência (conhecimento) é a pior das commodites, onde a pessoa quando menos a têm, menos sente sua falta, facilitando a lógica da picaretagem.

agosto 24, 2007

Anos 80... Heavy Metal Times...

Como escrevi antes (abaixo, aqui) durante o início da minha adolescência ouvia aquele rock nacional dos anos 80. Ouvia e ao mesmo tempo era um gostar meio desconfiado. A verdade veio poucos anos depois. Acredito que dos 12 aos 14 era basicamente aquilo mesmo, Titãs, Paralamas, Engenheiros... Após os 14 anos conheci a origem do rock´n roll. Até então eu conhecia algo como Elvis, Beatles e Roling Stones. Mas o começo de tudo se deu com um disco chamado “...And Justice for All” (disco mesmo, um vinil... em 1990). Depois de Metallica, segui com Yngwie Malmsteen, Accept, Manowar, Judas Priest e outras bandas. Casualmente em 1991, com o sucesso de Guns´n Roses o rock´n roll se tornou algo bastante popular no Brasil. Praticamente uma moda. E ali encontrei o que realmente me chamava a atenção. Daquele momento tenho ainda grande estima por muitas bandas, mas destaco que guitarristas como Steve Vai e Yngwie Malmsteen são hoje o que mais escuto, ao lado de bandas como Rush e Megadeth. Tudo parece não mudar com os anos... E isso me agrada.

agosto 23, 2007

Como piorar uma disputa

Alguém me perguntou se eu preferia Gilberto Gil ou Caetano Veloso. A disputa era dura já. Eu piorei: cantando ou falando?

Nada contra eles, como pessoas. Mas que eles são ícones de consumo e não intocáveis vertentes da cultura popular. Diga-se de passagem, nada fora de suas músicas tem interesse nessa cultura popular. O fato de Gil ser ministro da cultura não implica que suas idéias realmente ultrapassem sua obra musical. Isso não é impossível, mas não é o padrão, digamos, como teoria. Eu particularmente prefiro ouvir algumas músicas de Gil a muitas de Caetano. Mas não tenho interesse maior por eles. Não consigo ver neles toda essa profundidade, da qual já vi alguns professores de português se referindo.

Existe ai um fenômeno de mitificar certas figuras da dita cultura popular brasileira. Em vez de deixar acontecer, a imposição de certos artistas se dá de forma um tanto autoritária. Não vejo neles maldade, mas que existe um pouco de falta de abertura e de autocrítica (deles) existe.

Esse fenômeno já é antigo. E está nos lugares mais engraçados. Falava eu com uma amiga sobre como eram os fãs da banda Engenheiros do Hawaii. Eram uns quase fundamentalistas. Do outro lado tinham os fãs da Legião Urbana, comentando que seu letrista era espetacular. Só não falavam da música. E nos últimos tempos venho pensando em quanto o Lobão criou mitos pessoais e um discurso. Se tiverem coisas boas nele, não me cabe questionar, pois nos meus onze, doze anos eu gostava de ouvir “Vida Bandida”, “Corações Psicodélicos”, “Chorando pelo Campo”, “Me chama” e principalmente “Vida Louca Vida”, que o refrão me fez refletir bastante. Era um momento para mim, ouvia Titãs, Paralamas, Ultraje a Rigor e, claro, Engenheiros do Hawaii. O que é triste é ver que eles se mantiveram no “mercado” com uma produção um tanto quando mais duvidosa que sua inicial.

Mas Gilberto Gil e Caetano não falavam para esse público, ao qual pertencia. Naquele momento tinha certa diferença entre o que seria a versão nacional de rock´n roll e o que era a tal MPB. Nos anos 1990, a coisa já foi se fundindo mais. Bandas como Skank, Jota Quest ou Cidade Negra, não tocam aquilo que ficou consagrado como uma invenção de rock nacional. Hoje a distância entre Gil e eles é bem menor. Os Paralamas do Sucesso mostram mais essa fusão com a música popular. Outras bandas como Ultraje, Capital Inicial e de certa forma Titãs, praticamente foi parando de produzir material novo. Era uma onda de acústicos, coletâneas e versões de músicas. Claro que estou deixando de lado um monte de bandas novas, mas isso se dá por total desinteresse neles. Não conheço nenhuma banda nova que tenha chamado a minha atenção. O pior é me falarem que estas bandas não aparecem na mídia... Agora virou regra impor a banda via mídia... Tenho certeza que Engenheiros do Hawaii não era “produto de mídia”, principalmente pelo ódio e rejeição de muitos. Se não fosse por seus fãs acho que não teriam chego aonde chegaram. Produto de mídia dos anos 1980 poderiam ser Kid Abelha, talvez e aquelas outras bandas de uma única música. Botar a culpa na mídia é fácil... Quero ver explicar fenômenos populares como Leandro & Leonardo, Zezé di Camargo e outros...

agosto 22, 2007

Horas...

Existia um tempo em que uma pessoa, quando achava que estava louca, era quando todos ao redor pensavam ao contrário dela. Existia uma frase, que não lembro o sentido completo, atribuída a Jânio Quadros, que seria algo como somos todos loucos, porém só são considerados loucos aqueles que têm loucuras diferentes da maioria. Hoje em dia, os tempos tão mudados, onde o que é, digamos, não mais sabemos criticar certas coisas. Perdemos certa noção de valores que são o “mignon” das subjetividades. Quase que uma questão de igualdade desigual.

Li dia desses uma entrevista de Bruno Tolentino. Fiquei arrasado de não conhecer antes o que ele pensava. Tem horas que até ria de certas frases, pois eram para mim nada de mais, mas para a entrevistadora era quase uma polêmica. Não entendo certos detalhes se misturam formando mitologia (na cabeça de certas pessoas) aquilo que nada mais é do comércio de idéias. Não sei até hoje se o aspecto em que se dão certos valores, porém, só tenho a dizer que Bruno Tolentino resgatou nessa entrevista, de modo muito rápido, certas questões que me perturbavam e que nunca havia lido ninguém a falar delas dessa forma, direta e objetiva, sem classificar, mas mostrando os aspectos envolvidos na profundidade de sua natureza.

Fico feliz de descobri-lo. E triste de não ter descoberto antes de sua morte. Agora só me resta conhecer mais sua obra poética. E quanto aos loucos que hoje parecem me cercar, quero mais que todos eles se encontrem com seus espelhos. Se pudesse mudar a vida, a única coisa que mudaria seria ter usado mais filtro solar... Não, na verdade, acho que mudaria algumas poucas coisinhas. Uma delas seria ter ousado mais. Ou ter ousado menos? Difícil... Mas, o difícil não é fácil (Essa frase tem nome e sobrenome... Vicente Matheus).

agosto 20, 2007

Sandy & Junior

Eles não se separaram? Por que aparecem juntos em comerciais, programas e divulgam um cd novo? Ok, ok. A contracapa do cd os mostra se abraçando como uma despedida... E essa quem mostrou foi a Eliana, mas já os vi no Altas Horas (duas vezes), na MTV - milagre, estavam passando na hora do zaping, nunca vejo aquilo - só falta o Jô Soares...

Mas eles ainda fazem shows? Um mérito eles têm: ter feito um show muito melhor que Britney Spears no Rock in Rio III (2001). Foi realmente ridículo ver Britney Spears cantando com “play back”... O novo cd que divulgam é um acústico.

Falando em Rock in Rio, a melhor coisa do Rock in Rio Lisboa (2004) foi ver Black Eyed Peas.

Notas de rodapé

Tudo que disse acima é verídico... Sim, Britney Spears e Sandy & Junior tocaram no Rock in Rio III, junto com Iron Maiden, Rob Halford e Sepultura, além de Sting, Sheryl Crow... Por que Sandy & Junior lançaram um álbum acústico? Por que um Rock in Rio em Lisboa? Mas, sendo assim, o show do Metallica foi ruim a bessa... A Ivete Sangalo mandou muito bem e nunca tinha ouvido falar de Black Eyed Peas, que mandou muito bem, com um som realmente fantástico ao vivo.

Viva a TV desligada!!!

Realmente eu não tenho visto muito mais televisão como gostaria. Mas para que, se nela não passa o que eu realmente gostaria de ver? Escrevo isso dizendo que gosto de televisão, mas não acredito que mude muito em tempo razoavelmente curto. O mais engraçado que eu escrevo normalmente sobre televisão um pouco tímido, mais muito indignado. Eu meio que cresci com uma televisão. Lembro ter visto em 1981 um programa mostrando o Epcot. Quando fui lá, o Epcot já era bem velho... Mas à época do programa o Epcot era uma maquete, um projeto. A TV tem seus lados bons, como o rádio, que também escuto pouco. Mas fazer o que? Melhor manter ela desligada.

Uma vez uma educadora me disse que a TV para uma adolescente é muito menos perigosa que um computador com internet, pois o adolescente não tem “anticorpos” para filtrar a falta de critérios que tem num programa de TV e um site não é obrigado a ter mesmo. Queria vê-la falar dessa TV que está ai... Pior ainda vai ser com a tal TV Pública... Eca! Sempre algo pode piorar...

agosto 19, 2007

O beijo da morte

Uma das conspirações sobre o final das ditaduras na América Latina se coloca no Brasil como a morte de Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart, sob circunstâncias duvidosas, dentro do mesmo período de tempo. Dentro do romance dos jornalistas Carlos Heitor Cony e Anna Lee, “O beijo da morte”, de 2003, são colocados alguns aspectos sobre como a colaboração era feita entre as ditaduras da América do Sul (Paraguai, Argentina, Brasil e Chile) e sobre a abertura para democracia. Dentro desse aspecto, as três maiores lideranças no Brasil eram, naquele momento, exatamente Carlos Lacerda, João Goulart e já com certa idade, Juscelino Kubitschek. O fato dos três firmarem um acordo de uma aliança democrática foi, digamos assim, o desafeto para com os três do Regime Militar de Exceção. No livro existem partes um tanto quanto complicadas de se entender, e onde exatamente acaba o romance e começa o aspecto documental. Sem contar algumas passagens obscuras e a falta talvez de documentos como as fotos do acidente na Rodovia Dutra, causador da morte de Juscelino, são complicados e dão somente margem a especulação, mas nada trazem de realmente novo. E a parte que mais deixa certa suspeita se refere exatamente quanto à participação indireta de agentes americanos, que além de ficar somente no aspecto de dúvida, o único documento do livro na verdade não prova nada. E é um documento já conhecido. Existem aí mais detalhes que não sei até onde vão.

Descobri mais outros títulos referentes a esta pesquisa (saber mais aqui): “Ernesto Geisel”, de 1997, infelizmente já esgotado, “Dossiê Geisel”, de 2002, “Visões do golpe: a memória militar de 1964”, “Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão” e “A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura”, todos de Maria Celina D´Araujo, Gláucio Soares e Celso Castro. Geisel foi o presidente militar que iniciou o processo de abertura política. Pelo livro de Geneton Morais Neto, “Dossiê Brasília”, Fernando Henrique Cardoso chegou a jantar com ele após eleito presidente. Nada mais simples que entender o período como aspecto histórico e não mais como ranço.

Passados pouco mais de vinte anos de abertura política, o que mais impressiona é a atual falta de preceitos democráticos daqueles que se diziam perseguidores da democracia. O fato mais importante está se realmente em 1964 tinha alguém mesmo interessado em defender a democracia. Como escreve o jornalista João Mellão Neto:

“(...) 1964 foi um "annus horribilis". Não por causa do movimento dos generais, mas porque, com o impasse criado, qualquer que fosse o desfecho, ele seria necessariamente trágico.
Chegou um momento em que todos, indistintamente, ansiavam por um golpe. Brizola, à esquerda, pregava o fechamento do Congresso para que se implantassem as reformas de base. Lacerda, à direita, pregava que o Congresso fosse fechado para viabilizar as reformas modernizantes. A direita venceu.
Indagação pertinente: se as esquerdas tivessem vencido, o regime subseqüente seria menos cruel ou autoritário? Com certeza, não.
Vale lembrar que as esquerdas de então não eram "light" como hoje. Vivia-se o apogeu da Guerra Fria e o vezo stalinista ainda predominava. Direitos humanos não constavam de suas bandeiras e pregava-se abertamente a revolução armada, a supressão da burguesia e a ditadura do proletariado...
A democracia, em 1964, não acabou por acaso. Simplesmente não havia uma única voz que a defendesse. (...)”.
Leia na integra aqui.

Mr. M, Eliana, Record e Globo...

Nossa! Fico impressionado como a Record tenta copiar a Globo. Aos domingos a Rede Record apresenta um programa com a Eliana (sei lá se escreve assim, mas é aquela que um dia foi apresentadora infantil) e um dos quadros é justamente ressuscitar o “mágico mascarado” Mr. M, grande sucesso na Rede Globo cerca de dez anos atrás.

Além da apresentadora Eliana não ser lá muito, como direi, interessante do ponto de vista de qualidade de apresentação, mostrar bastidores de mágicas é realmente uma falta do que apresentar. É nítida a constatação que a jovem apresentadora, ao lado de uma outra chamada Maria Candido, devem ser as piores apresentadora da Rede. Não lembro de ver na Globo alguma vez algo assim semelhante. Ou seja, o slogan da Record, “A Caminho da Liderança”, é nada mais que propaganda enganosa. Com um jornalismo que ainda mantém Paulo Henrique Amorin e essas apresentadoras, fazem Pedro Bial, Zeca Camargo, Glória Maria e até “Big Brother”, com Alemão e tudo, serem melhores opções. Isso porque eu gosto do Zeca Camargo. Aliás, eu o prefiro ao Paulo Henrique Amorin, sem dúvidas! O tal “padrão Globo de qualidade” faz já um bom tempo que não se aplica mais na própria TV Globo e mesmo assim ela consegue ser a melhor opção em termos de TV aberta.
Muito fácil falar que a melhor opção é a TV a Cabo, mas para quem não vê que atrás dessa decadência existe uma outra muito pior, que é a da cultura brasileira. Não adianta dizer que sempre foi ruim, pois até certas novelas do passado, como “Que Rei sou eu?”, ou “Vale Tudo”, mostram que se pode fazer algo de qualidade melhor e sem perder audiência ou humor. Já essa safra de novelas da Record que tenta retratar o cotidiano é realmente uma pastelada sem tamanho. A Globo já fez isso no passado e mudou rápido em virtude se seus números de audiência, fazendo um mix de humor, ficção, polêmica e uma gota qualquer de realidade, como no caso de uma dos personagens de Tony Ramos atingida por bala perdida no Leblon. Aliás, essa fórmula atual da Globo de fazer uma novela de época, uma de humor e a da polêmica e da “crítica social” (sic) é algo desgastante e chato demais. Mesmo assim, muito melhor que suas concorrentes todas que nem sequer tem algum horário ou atração que se possa considerar como sua, como no passado existiu um Luciano Huck, na Band, um Serginho Groisman ou um Jô Soares, no SBT. A dúvida está em quanto tempo isso vai durar, pois até a Globo terá que se reciclar em breve.

The sound of silence...

Do filme “A primeira noite de um homem” (The Graduate, 1967), duas músicas me são marcantes: “The sound of silence” e “Mrs. Robinson”. Além do contexto todo do filme, acho que é realmente um clássico, as músicas de Paul Simon e de Arthur “Art” Garfunkel são a parte mais interessante do filme. O filme foi inspirado num livro de 1963, do escritor Charles Webb, e apresenta Dustin Hoffman.

Bem, prefiro o Paul Simon daqueles tempos...

agosto 18, 2007

Informação

Uma música inicia bem esta postagem:

“(...) é muito engraçado
que todos tenham os mesmos sonhos
e que o sonho nunca vire realidade

é muito engraçado
que estejam do mesmo lado
os que querem iluminar
e os que querem iludir

é muito engraçado
que todo mundo tenha
armas capazes de tudo
de todo mundo acabar
no dia “d”, na hora “h”(...)”


A verdade a ver navios – (Gessinger)

Eu realmente me decepciono quando alguém me fala que é bem informado porque lê jornais. Eu também leio um jornal: “O Estado de São Paulo”. Por que nele no caderno 2 escreve o Daniel Piza. No passado escrevia o Arnaldo Jabor. Também escrevia Mário Prata às quartas-feiras. Escrevem Dora Kramer e João Mellão Neto e já li muitas vezes Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Paulo Renato Souza e Ipojuca Pontes.

Não me importa muito o jornal em si, mas que traga algumas matérias de cunho informativo. Não gosto da “Folha”. Nunca gostei. Não sou fã de “Veja”, mas sou obrigado a dizer que já li coisas interessantes lá. As versões eletrônicas dos portais normalmente têm coisas interessantes. A principal delas são os blogs. Leio alguns com freqüência e outros esporadicamente. Mas, além disso, para me informar de assuntos específicos sempre busco saber as fontes além daquele pouco resumido em linguagem jornalística. Aliás, em questão técnica sempre esta linguagem deixa muito a desejar. Nisso entram os livros.

A televisão também acrescenta muito. Quem não vê televisão perde a chance de se informar de forma espontânea. Nisso sou obrigado a dizer que gosto de certos jornais da Globo: Bom Dia Brasil e Jornal da Globo. Gosto do Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo e às vezes até dá para assistir algumas outras atrações como Jô Soares, Canal Livre (raro) e o programa do Milton Neves, domingo a noite (estou sendo irônico, lógico, mas eu gosto de ver, afinal, gosto de futebol). Mas sempre vendo que isso tudo serve somente para se informar. Teve uma frase que escutei outro dia fantasticamente bem colocada: “Os jornalistas são aqueles que separam o joio do trigo, jogando fora o trigo e ficando com o joio.” Para isso não acontecer, o melhor de tudo é sempre tomar cuidado com o que se esta lendo.

Mas voltando aos livros, neles estão muito mais aprofundados os assuntos de interesse. Após somente a leitura de vários sobre o assunto que podemos ter digamos uma opinião a respeito de certos assuntos. Mesmo assim, essa opinião não vale lá muita coisa. Nem sempre ter “uma opinião formada sobre tudo” é bom. Importante é ter opinião daquilo que lhe interessa. O problema esta exatamente aí. Muito pouca gente se interessa por uma gama grande de assuntos. E dão opinião a respeito dos assuntos dos quais não tem conhecimento. O Dr. Dráuzio Varella, por exemplo: em termos de medicina e saúde é ótimo, mas falando sobre a igreja católica um desastre. José Saramago e Oscar Niemeyer falando sobre política então, melhor escutar a ser surdo. Esse é o problema, dar “pitaco” sem saber do que fala. Eu realmente não saio por ai tagarelando sobre tudo. Principalmente por que isso vai parecer opinião. Fatos são fatos, não opiniões. As leituras de George Orwell, Aldous Huxley e mais recentemente Ortega y Gasset, me coloca numa posição de que essas pessoas não eram somente informadas, mas sentiam “as marés e os ventos”. Quando se descobre qual caminho tomar, encontra aí uma direção. Não é o fim. Não é uma conquista garantida. Mas existe lógica. Dois textos sérios a respeito disso são: “A tragédia do estudante sério no Brasil” e “Se você ainda quer ser um estudante sério...”, de Olavo de Carvalho. Leiam aqui e aqui. Importante saber que não somente a leitura, mas aqueles passos que estão lá nada mais são do que um caminho. Não vai ser lendo a “Folha” que alguém chegará a algum lugar. Outro livro que deveria ser a fonte primária de todo leitor é “How to read a book”, de Mortimer Adler, que aguardo a tradução para o português (já existe uma esgotada há anos).

Bem, isso basta para dizer um pouco da onde me informo, mas também para dispor que muita coisa do meu blog é opinião. Na maioria são dúvidas. Interesso-me por diversos assuntos, assim como tem assuntos que falo pouco. O que não falo é por que não sei ou não me interessa. Mas, só para lembrar um pouco de Arthur Schopenhauer, escrevo pouco e tento caprichar muito nisso. E o melhor de tudo é refletir sobre aquilo que estudo.

30 anos... Elvis

Esta semana foi o aniversário de 30 anos da morte de Elvis Aron Presley. Nem tive a oportunidade de escrever sobre no dia 16, porém deixo registrado hoje. Como sempre falo para quem não sabe exatamente por que eu gosto de Elvis, indico sempre o filme “Estrela de Fogo”. É um filme simples, um tanto quando western, mas de uma sensibilidade bastante nítida. Elvis fez muitos filmes. A grande maioria ficava mesmo no lugar certo na “sessão da tarde”. Mas isso não é o importante. O importante que ele cantou “Viva Las Vegas”, cantou “My Way”, tão bem quando Sinatra. Ele era um artista popular, bastante ligado à suas origens do sul dos Estados Unidos. Tinha raiz. Seria mais uma questão de começo, meio e fim. Eu me pergunto se artistas populares de hoje tem a coerência que ele teve. Ser inovador não é tudo.

Mas mudando de assunto e lembrando da sessão da tarde, nada melhor que lembrar dos filmes de Jerri Lewis. Não por nada, mas acho que ver Elvis e Jerri Lewis é mais legal do que a pseudo-educação cultural revolucionária dos tempos atuais. Quem me dera falar daqui a trinta anos de algum artista popular, que canta e faz cinema.

Saudades

Estou saudades de Fernando Henrique Cardoso. Seus discursos eram menores e até faziam sentido. Do seu governo, não sei mais o que dizer. Era ruim, eu achava à época, mesmo assim votei no Serra em 2002 (lógico...).

O dólar tava quase no valor correto: R$3,00. Não vejo como benéfico deixar o dólar mais baixo do R$2,40. A “doença” que passa o Brasil de hoje, é muito semelhante à que passava a Holanda de outra década (busquem: doença holandesa). Se com dólar à R$2,40 a indústria brasileira não ia para frente, não vai ser com menos de R$2,00 que irá avançar. Isso é difícil de entender, óbvio. Afnal é muito melhor viajar para Europa e para os Estados Unidos com dólar abaixo dos R$2,00 e comprar tralhas em dólar. Mas ai vai só um detalhe de lógica: O que importa no bolso do produtor de soja brasileiro? Um dólar ou um Real? Melhor três Reais... Com três Reais ele pode pagar o salário mínio para os seus com menos sacas de soja. E com eles ele pode gastar na indústria brasileira de implementos agrícolas e não na indústria alemã nem na americana. Não é uma questão de xenofobia, mas uma questão de lógica. Aqui é produzida a leguminosa (se não me engano maior exportador mundial e segundo maior produtor mundial) e por que não se produz a máquina para ela aqui também? Com dólar à R$3,00 ficaria bem mais difícil comprar uma máquina importada. O que é bom. Não são para isso que se formam aos montes engenheiros mecânicos, agrônomos, melhoradores e cientistas? Se não se formam com qualidade, é ai o foco do problema. E não no dólar a menos de R$2,00. Isso serve para a indústria de calçados de Novo Hamburgo, de Franca, para os produtores de café, açúcar, álcool, suco de laranja, para os suinocultores, para o agro negócio ligado ao frango e carne bovina, em suma, tudo aquilo que realmente é importante no Brasil. Para aquilo que realmente representa o PIB brasileiro. O que faz o Brasil ser alguma coisa. E mais: é muito melhor também para o turismo interno. Vai dizer que não é ótimo ir para a Argentina no momento atual? Quem foi sabe do que estou falando.

Por outro lado, todos pensam imediatamente na questão eletrônica: os computadores ficam mais baratos com dólar a menos de R$2,00. Sim, ficam. Ai que o governo tem que entrar (já que é um “entrão” em tudo) e exonerar impostos naquilo que faz sentido para os interesses de crescimento nacional. Pra que PAC? Esse governo Lula pensa mais no Geisel do que no seu “povo”. As idéias de PAC, assim como a idéia de fazer Angra III, nasceram no mesmo governo Geisel. E isso é fato. Não é questão de opinião. Pergunto a vocês em que governo fora criado o pró-álcool? Em que governo foi criado os projetos nucleares brasileiros? Realmente com Lula, o máximo de avanço que teremos é que na época do Regime Militar de Exceção, apitos e nariz de palhaço não eram instrumentos de subversão. Lembro bem que durante o governo FHC, um manifestante jogou um ovo no ministro da saúde, José Serra. A investigação concluiu que o rapaz que havia jogado o ovo não fazia parte de nenhum grupo de pessoas ligadas à facção dos “jogadores de ovos” e nem muito menos fora coroado pela mídia como “golpista”. Já os rapazes com apitos e nariz de palhaço, que fizeram protesto em Campos (RJ), foram revistados pela guarda do Novo Príncipe.
Dá saudades de algumas coisas, e do Fernando Henrique é uma. Realmente quem quebra um paradigma sempre será lembrado. (O paradigma é este: Ao sair João Figueiredo, pela porta dos fundos, sem passar a faixa presidencial a José Sarney, falaram que nada poderia ser pior que Figueiredo. Vieram plano Cruzado, Cruzado II, fiscal do Sarney e hiper-inflação. Da eleição de 1989, eleito Collor de Mello. Nada poderia ser pior que o Sarney. Veio Casa da Dinda, PC Farias, Lada, Plano verão e sabe-se mais lá o que, culminado em Itamar Franco. Nada poderia ser pior que Collor. Itamar, realmente não foi pior, mas refez o Fusca, e fez o Plano Real, satanizado pela “petralha”. Foi então que o paradigma se rompe, e FHC com certeza foi melhor que seu antecessor. E Lula não poderia ter feito igual. Não, resolver seguir a linha daqueles que eram seus pares. Ou melhor, seus aliados atualmente: Collor, Maluf, Sarney.)

agosto 17, 2007

Sobre as origens?

Outro dia uma pessoa me disse que o presidente Luis Inácio veio das classes humildes brasileiras. Xitãozinho & Xororó também vieram. Zezé di Camargo e Luciano também. Pelé, Robinho, Ronaldinho, Cafu e outros tantos jogadores. Senna não, ele era de “classe média”. Logo pergunto: que tem a ver a origem com o que a pessoa é? Só porque Fernando Henrique Cardoso era professor e sociólogo então não era do “povo”? As únicas pessoas que pode se dizer que não são do povo são os descendentes da família imperial brasileira. De resto, sejam filhos de imigrantes ou afros descendentes, é “povo”. Como diz o Reinaldo é um tipinho meio estranho. Logo não entendo essa imbecilidade de “elite”. Ou melhor, entendo. Mas não conto. Sou diferente do Arnaldo Jabor justamente por isso, por entender. E não consigo ficar feliz com esse “patrulhamento” ridículo. Uma frase cabe bem: “(...) os povos que perdem a Liberdade pela força, pela força haverão de recuperá-la. Mas aqueles que a perdem por descaso, é muito difícil que voltem a ser livres.” (J. Mellão Neto).

Andar com fé

“(...) Mesma a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Pelo sim, pelo não

Anda com fé eu vou
Que a fé não costuma “faia”(...)”


Gilberto Gil

Preciso falar mais alguma coisa?

agosto 14, 2007

Haydn

Neste domingo assisti pela TV Senado um ótimo concerto no programa “Quem tem medo de música clássica?”. Era um concerto para violino e orquestra de Joseph Haydn. O mais interessante do vídeo que não era aquele tradicional de mostrar a orquestra na sala de concerto, com o regente à frente e sim um vídeo bastante solto, onde os solistas estavam espalhados pelo local do concerto, com uma dinâmica de filmagem interessantíssima e com um figurino dos músicos um tanto quanto surpreendente. Como lembrou o próprio Artur da Távola, apresentador do programa, ver esse tipo de vídeo é bastante raro. E mais raro ainda vê-los no Brasil. Falou sobre a impossibilidade de passar certos concertos pedidos pelos espectadores, por falta de vídeos e também por seu alto custo. Mas este foi realmente especial, infelizmente não pude ver até o final.

Joseph Haydn
Concerto para violino e orquestra
Orquestra Juvenil da Comunidade Européia
Regente: James Judd

1930

Foi publicado em 1930 o livro de Jose Ortega y Gasset intitulado “A Rebelião das Massas”. Ortega y Gasset (1883 – 1955) é o maior nome da filosofia espanhola. Talvez não seja o maior filósofo, lembrando de Xavier Zubiri, mas com certeza é o de maior expressão internacional. Zubiri, se não me engano, fez parte de grupos de estudo organizados por Ortega y Gasset. Ainda não terminei de ler “A Rebelião das Massas”, por se tratar de um livro de densidade elevada, mas muito do que ele escreveu tem extremo valor para compreender o momento atual:

“(...) Um mundo com possibilidades de sobra (excesso e não abundância) produz, automaticamente, graves deformações e tipos viciados de existência humana – que podem ser reunidos na classificação geral de ´homem-herdeiro´, da qual o ´aristocrata´ não é senão um caso particular, e o menino mimado outro, e o homem-massa de nosso tempo um outro muito mais amplo e radical. (...)

(...) (Por outro lado, deveríamos aproveitar mais detalhadamente a alusão anterior ao ´aristocrata´ para mostrar como muitas de suas atitudes, características em todos os povos e tempos, encontram-se no homem-massa em estado latente. Por exemplo: a propensão a ter como ocupação central da sua vida os jogos e os esportes; o culto do corpo – conservação da saúde e preocupação com a beleza dos trajes; falta de romantismo na relação com a mulher; participar de diversões com o intelectual mas, no fundo, não o estimar e mandar que os lacaios ou os policiais os agridam; preferir a vida sob a autoridade absoluta a um sistema de discussão, etc, etc) (...).”

Além de escrever muito bem, explana suas idéias sobre o homem-massa de uma forma brilhante. Os trechos acima são do capítulo 11, A época do “Senhorzinho Satisfeito”. O que mais acho brilhante é o fato de ter pensando em algumas considerações, que agora depois de estudado algumas partes do livro, vejo que faz sentido aqueles pensamentos. É bom lembrar que o mundo de 1930 era diferente do nosso atual.

Numa outra parte, Ortega y Gasset fala sobre a técnica: “(...) Vive-se com técnica, mas não da técnica. (...)” Assim consegue explorar um conceito bastante interessante sobre o quanto as pessoas não entendem das origens das coisas: “(...) O novo homem deseja o automóvel e desfruta dele, mas crê que é o fruto espontâneo de uma árvore do Éden. (...)” Já até devo ter mencionado o quanto eu acho que as pessoas dão valor à certos aspectos tecnológicos, sem mesmo nem sequer cogitar suas origens. O título pode parecer algo diferente do que seu conteúdo diz, e por isso eu indico a leitura de “A Rebelião das Massas”. Estou realmente entusiasmado com o livro.

agosto 12, 2007

Sobre os cursinhos

Quando se fala de cursinho pré-vestibular muita gente lembra daquele momento da vida onde a pressão de passar num vestibular de uma boa faculdade ou naquele momento de descontração feito por um tipo específico de professor, o popular “professor de cursinho”. Aquele tipo que tinha um jeito de falar que era engraçado e ao mesmo tempo passava as informações.

Hoje passados muito tempo desse período, que para mim foi péssimo, tenho sérias dúvidas quanto à eficiência daquele modelo de professor. Acredito que ele só serve mesmo para aquele período do cursinho. Tive um professor de matemática, durante o meu curso de segundo grau, que achava aquela postura de professor de cursinho algo comparado a um circo. Claro, radical sua opinião, mas não toda errada. Aquele período de cursinho não pode ser grande, pois como sempre levantei essa hipótese, o que não foi estudado nos três anos de segundo grau não conseguira ser apreendido em um ano de cursinho. O estudo dirigido de alguns tópicos é de suma importância para “passar no vestibular”. Disso não tenho dúvidas, mas a formação do indivíduo não é somente “passar no vestibular”. Quando se reduziu o segundo grau a somente uma preparação para o vestibular, se perdeu o que se chamava de formação cultural. A importância maior que está na formação de uma cultura para, no mínimo, se preparar para uma profissão futura.

O que mais acho interessante é que a leitura dos livros das listas do vestibular não passa de mera tarefa de literatura. Não existe num cursinho a idéia de se pensar nessa lista como formação de uma cultura. Sem contar que a escolha dos livros diferentes para cada vestibular gera praticamente um número humanamente impossível de ser apreendida. Se deveria, primeiro, escolher algo como 12 livros (4 por ano, um por bimestre) para serem lidos em todas as escolas públicas (e consequentemente nas privadas também) e estes serem a base do vestibular para no mínimo três anos. E mais: estes deveriam ser distribuídos gratuitamente aos estudantes ou ter enorme subsídio. Ou então, de uma vez se estudar trechos ou contos. O estudo das obras não pode se dar por volume (quantidade) e sim pela qualidade de apreensão de cada uma das obras. O importante não é saber matar as questões no vestibular, mas criar uma mínima biblioteca, um mínimo universo literário para o aluno. Uma pequena formação de cultura através da literatura. A cultura está em muitos aspectos da sociedade, desde seus costumes, como nas artes, na literatura, na arquitetura e, claro, nas ciências. Por isso a formação geral, de artes, ciências, literatura, matemática, tanto no hoje chamado ciclo básico, como no secundário, é de suma importância. Este conteúdo é o mínimo que uma pessoa deve saber para partir para um caminho próprio, onde já sabe que existe algo além daquilo. E a idéia de vestibular esta baseada nisso. Seria o mínimo que um aluno precisaria saber para freqüentar uma faculdade.

Com a maior procura por cursos superiores, derivada de inúmeras causas, entre elas a colocação em um emprego melhor e a desvalorização do que seria o homem médio (desvalorização essa derivada de um processo de decadência na educação - um processo bastante estranho, já que hoje temos muito mais gente dentro de escolas e muito menos cultura – ou seja, uma óbvia questão de quantidade e não de qualidade). O que acabou por acontecer foi uma banalização dos cursos superiores e logo a maior demanda por pós-graduação. Logo, o processo de pós-graduação tende também a se banalizar. Isso gera o incrível fenômeno de “analfabetismo universitário”. O que piora todas as relações desde trabalho até as relacionadas quanto às especificidades das profissões.

No passado minha opinião era positiva, acreditava que aumentando o número de pessoas com cursos superiores se estaria aumentando também a possibilidade de se ampliar os horizontes culturais do país. Mero engano. A meu ver, somente ocorreu substituição de certos profissionais. Hoje dentro do campo da arquitetura, para ser mais específico, temos uma questão de profissionais com mesma titulação, mas com características diferentes. E estas não são dadas dentro do escopo de conhecimentos. Para ser mais específico, antes onde poderíamos ter um técnico em edificações ou somente um desenhista, temos um arquiteto. Existem certos trabalhos que não exigiriam maior especialização do profissional e este está a ocupar estes postos por estes dois únicos motivos: falta de emprego e despreparo, oriundo de sua faculdade. Se todas as faculdades realmente tivessem qualidade em seus cursos, esta relação de trabalho seria a melhor possível, pois você teria um profissional de melhor gabarito para uma função inferior, o que sim, traria a minha idéia (utópica) de aumento da qualidade. O que temos hoje são a banalização e uma total desqualificação do profissional, ou para ser mais exato, a não qualificação do profissional por sua titulação, pois, ai sim, se entra no mérito individual de cada aluno. Não importando tanto as estruturas formais da faculdade, o aluno pode sim se diferenciar em sua formação. Seria como uma especialização autodidata dentro da própria faculdade. Isso é extremamente visível, é fato, não opinião, nem muito menos teoria. Logo temos este quadro: mesma faculdade, formações diferentes.

Voltando ao tema dos cursinhos, estes já conduzem o aluno a sua primeira decepção e pior: a prévia desqualificação. Num cursinho só entram em discussão as faculdades de primeira linha, como se somente dentro delas possa existir vida universitária séria. Eu não posso falar muito das possibilidades de se encontrar ótimos profissionais oriundos de faculdades secundárias, tanto por ter freqüentado faculdades de primeira linha e segundo por tratar de entender em que ponto se encaixa aqueles outros profissionais. É difícil avaliar as questões de formação com trabalhos específicos, sendo que muitos deles eu mesmo busquei as especificidades fora do ambiente universitário. Posso dizer que fui também autodidata em muito do que conheço, não podendo creditar isso a formação, mas a ela posso creditar o mérito maior de indicar os caminhos possíveis para isso. E mais: não era na aula que isso acontecia e sim nos corredores e no contato com os professores fora da sala de aulas.

A segunda decepção, após não ter passado nas faculdades de primeira linha, se encontra quando inicia o curso na faculdade de segunda linha, sempre tentando achar as qualidades que ultrapassem aquelas dentro dos conteúdos conhecidos das faculdades de primeira linha. Como uma competição, o aluno vai tentando acreditar que esta tendo um curso ao mesmo nível. O problema não está no aluno acreditar, mas simplesmente não é necessário. Ele deve entender que será diferente e essa diferença não é um problema, e sim o começo de tudo. A tal comparação é totalmente inútil. Terá sim um curso distinto, de preferência em igual valor qualitativo. Se não o for, o aluno deve saber o que ele precisa dentro da própria instituição, por instinto. O aluno sabe quando não lhe é exigido o máximo. Sabe quando não fez o que tinha que ter feito. Logicamente existem questões específicas, como certos laboratórios técnicos, certos professores e a maior de todas: o perfil do aluno em relação ao perfil da instituição de ensino. Isso esta no âmbito individual. Da mesma forma, o cursinho pode fazer uma pessoa ter ótimos resultados quanto não auxiliar em nada. O fator brasileiro de achar que não se pode deixar de tentar mesmo já prevendo uma pequenina possibilidade de esperança transforma uma condição sem o menor sentido em mais uma prévia decepção. As pessoas não são iguais. Isso é fato. Mas isso não significa que são pires ou melhores. Em 1990, quando fiz o curso pré-vestibular para as escolas técnicas, o professor de química disse à classe que não se decepcionassem com seus resultados, pois, um garçom pode ter resultados financeiros iguais a um médico ou dentista, pois poderia trabalhar no Leopoldo´s, por exemplo. Todas as funções são dignas e todas podem levar ao sucesso ou insucesso.

Eu sou um defensor do autodidata, mas sempre acho que este conhecimento tem que ser trocado com outras pessoas, a fim de ampliar o próprio repertório. A pior condição de um autodidata é desenvolver aquilo que já existe. Pode-se cair muito facilmente nisso, pois esse é o fator que gerou a formação de faculdades e escolas. Assim como o vestibular foi ganhando uma forma e esta acabou por pautar a escola e não contrário. È o mesmo caso de se ter um “perfil” ideal para o mercado, ou se ter a “postura” ideal nas entrevistas. Seu perfil é seu, individual. Nada mais é você do que você mesmo. Suas posturas são aquelas, derivadas de uma cultura adquirida (educação familiar) e moldada por questões de convivência social (educação social), que juntas são a tão famosa educação. Ser educado é o que difere o homem de um animal selvagem. Mas seu instinto, este continuará sendo seu. Ser autodidata todo mundo é um pouco. Desde aprender a mexer no caixa eletrônico do banco até mesmo instalar um vídeo cassete na televisão. Estudar é um ato solitário. A direção desse estudo que pode ser ou não.

Tomando por base estes aspectos, não sei dizer se a melhor forma de se avaliar um aluno para ingresso em faculdade (ou, mais tarde, num concurso público) é uma prova num determinado dia com determinado número de questões, ou se avaliar a história pessoal deste aluno, seu desenvolvimento e suas metas atingidas ao longo de sua vida escolar. Se a vida do aluno seria um cursinho eterno ou se as características individuais (e por tabela seus perfis) deliniariam suas maiores possibilidades. A prova é a mais liberal possível, pois não importa se o aluno é um mini-Einstein ou uma Anta Malaia Matemática, terão as mesmas possibilidades de estudar os conteúdos programáticos daquela instituição a qual se propuseram a fazer o vestibular. Na avaliação da vida escolar, uma derrapada, oriunda talvez até por fatores externos, pode ser o entrave para uma brilhante carreira.

A solução dada pelo cursinho é preparar alguém sem a bagagem necessária para atingir uma meta. Esse esforço em trabalhar mentes para simplesmente cumprir uma meta, transformou de certa forma as relações da educação. Se este esforço tivesse sido usado para criar novas instituições teria sido muito melhor aplicado. E este é o fenômeno que já vem acontecendo. Lembrando que a UNIP – Universidade Paulista - é a instituição de terceiro grau oriunda dos cursinhos OBJETIVO, assim como o curso ETAPA buscou fazer uma faculdade de engenharia de produção (se não me engano). A minha dúvida é por que isso não aconteceu mais cedo? Se existia demanda de pessoas pelos cursos superiores, por que vários cursinhos investiram somente nas estratégias de vestibular? E se havia esta demanda por que as instituições não ampliaram suas vagas? Eu creio em algumas hipóteses de resposta. A primeira que é mais fácil e mais rentável preparar para o vestibular um classe de cem alunos pagantes, onde nem dez por cento deles tem real possibilidade de sucesso. A segunda que uma nova instituição teria um custo elevado e um êxito demorado. Mas assim se formaram algumas escolas, pensando na qualidade, sem pesar o custo. Um dos exemplos disso é a Escola da Cidade, que foi criada por professores e possui o curso de arquitetura e urbanismo, com características próprias. As instituições ampliaram suas vagas, com o passar do tempo. Tem lá suas dificuldade para isso. Mas acho que a motivação financeira e fazer da educação um negócio é muito mais forte do que fazer uma instituição de desempenho cultural (mesmo que esta seja também um bom negócio como exemplo pode-se citar os inúmeros centros de idiomas, como a Cultura Inglesa e a Aliança Francesa, que eu acredito não trabalharem por utopia).

Em suma: a existência de cursinhos esta ligada a uma questão de demanda, mas depois se tornou simplesmente a regra do jogo, pautando a educação e, infelizmente, sendo desvirtuada, tanto em qualidade como em objetivo.

agosto 05, 2007

Arquiteturas Portuguesas

Pensando no pós-segunda guerra mundial qual era o panorama da arquitetura na Europa?

Olhemos mais especificamente nos paises que tinham uma possível escola de arquitetura. A Alemanha tinha no entre guerras chego a uma forma de fazer arquitetura abandonada pelo regime nazista, praticamente representada pela Bauhaus. Ao fim da guerra e com o fim da arquitetura institucional formalizada pelo regime nazista, representada pelo arquiteto Albert Speer, nada mais fácil do que resgatar os fragmentos daquela arquitetura moderna.

Na Itália, a arquitetura oficial do regime fascista de Mussolini era também de cunho neoclássico, representada principalmente pelo arquiteto Marcello Piacentini. Após a queda do regime fascista, a Itália tenta resgatar de sua história as questões relevantes para sua arquitetura, mas o modernismo nunca foi forte suficiente para mudar as cidades. Seus centros históricos em grande parte foram preservados e muitas teorias foram concebidas baseadas nesse passado histórico. Como mostrado no livro “A Arquitetura da Cidade”, de Aldo Rossi, assim como podemos citar Vittorio Gregotti com o livro “Território da Arquitetura”.

Na França, a partir dos anos 1970, inicia-se um processo de renovação, com a atuação de muitos arquitetos estrangeiros como podemos citar o centro Georges Pompidou, de autoria dos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers, de 1970, a estação de metrô em frente ao museu do Louvre (a pirâmide) do arquiteto I. M. Pei, de 1989, o parque de La Villette, de Bernard Tschumi até chegarmos a nova geração de arquitetos franceses, onde podemos citar Jean Nouvel e Dominique Perrault. Assim como podemos destacar na Holanda um número significativo de novos caminhos, a partir do final dos anos 1980. Na França a influencia de Le Corbusier foi tão grande que somente com a atuação de agentes estrangeiros se conseguiu modificar, ampliar ou mesmo aplicar as idéias do mestre franco-suíço.

Mas em Portugal e Espanha, após a segunda guerra, ainda permaneceram regimes autoritários, sendo Franco na Espanha e Salazar em Portugal. Da Espanha podemos citar que o retorno da democracia veio com o reconhecimento da monarquia espanhola. Muitas operações urbanas são conhecidas na Espanha, sendo as duas mais importantes a remodelação de Barcelona para abrigar os jogos olímpicos de 1992 e a instalação do museu Guggenheim, na cidade de Bilbao. A mudança na economia da Espanha foi a passagem a uma potencia turística, praticamente abandonando o parque siderúrgico que era a cidade de Bilbao, por exemplo.

Em Portugal a arquitetura buscou outro caminho, onde posso dizer que fora base de influencia também da arquitetura italiana e da espanhola. Essa influência é oriunda de uma arquitetura que sempre esteve muito ligada aos detalhes e aspectos climáticos dos povos nórdicos. Poderia se dizer que foi na arquitetura de Alvar Aalto que Fernando Távora buscou influência para atingir o que hoje podemos citar de arquitetura moderna portuguesa. Fernando Távora foi grande influência de Álvaro Siza e muito provavelmente de Eduardo Souto de Moura. Conhecida como Escola do Porto, esta escola de arquitetura tem sua história ligada principalmente a Fernando Távora.

O que importa aqui nestas notas preliminares é uma busca de como a arquitetura pode estar associada a uma idéia de governo e mesmo não sendo pauta governamental, como também podem surgir novas teorias arquitetônicas desvinculadas de apoio governamental e mesmo assim atingir seus objetivos. E mais do que isso, é justamente indicar que a arquitetura moderna não é homogênea e, portanto, pode haver inúmeras divergências entre os seus agentes. O que me interessa em particular nas arquiteturas portuguesas é que gosto muito de suas obras, desde Fernando Távora e Siza, e saber que existiu uma influencia da arquitetura Escandinávia é bastante interessante, já que eu também aprecio muito as obras de Alvar Aalto.

agosto 04, 2007

The Red Rocker

www.redrocker.com

Teve um momento da minha vida que eu achava que esta era a forma de viver. Era uma forma um tanto quanto californiana de vida, diga-se. Sammy Hagar é uma das vozes que mais gosto. Conheci pelo Van Halen, no começo torcia o nariz achando que David Lee Roth é o original, etc. Mas logo me convenci que não, só eram diferentes. Bem diferentes. O legal que era algo com nada de ideologia. Era algo que festejava a vida. Tanto é assim que quando escreveu uma letra se referindo a Kurt Cobain, o fez justamente para dizer que aquilo não fazia sentido para ele. Mesmo sabendo que Hagar tem uma marca de tequila até, eu não poderia dizer que este hábito é saudável. Primeiro porque detesto tequila, segundo que fazer apologia a algo que pode alterar a natureza de alguém é extremamente grave. Mas ter uma marca de algo que é a sua cara também não pode ser condenável. Agora em 2007, Sammy fará 60 anos de idade, logo mais, em 13 de outubro. Não é mole fazer o que ele faz sendo sexagenário. Mas que às vezes tenho vontade de largar tudo e tomar um red voodoo. Nada melhor que começar um álbum com “Hello Baby!!!!” (5150).

agosto 03, 2007

Prazer em escerver

Já imaginava que iria gostar de escrever. Não sei ainda se esta forma de blog é a mais interessante, mas é a forma mais fácil, no momento. E pensando nisso eu não consigo entender por que não comecei antes. Em 2004 já tinha uma boa vontade de escrever. Só achava que me faltava algo. Não que não falte hoje, mas felizmente eu encontrei um caminho por entre os muitos que andei. Não sei se é o certo ou errado, mas é um que me faz andar mais que os outros pelos quais passei.

Não sei, mas esse negócio de ler livros da moda nunca me cativou. Não sou adepto de modismos. Não estou nem ai para certa literatura e achava que isso era um problema antes. E por causa disso eu deixava de escrever. Afinal, como não saber o que anda sendo escrito no momento? E esse querer conhecer o novo me levava sempre a conhecer o velho. Todo escritor falava de um livro que tinha lido ou de um autor e assim ia caminhando sempre apontando para o passado.

Durante a infância li bastante coisa. Lia uma série chamada Vaga Lume, da editora Ática. Gostava mesmo dos livros do Marcos Rey. Dessa série li “O Mistério do Cinco Estrelas”, Um Cadáver Ouve Rádio”, “A Ilha Perdida”, “Os Barcos de Papel”, “A Serra dos Meninos”, “Açúcar Amargo” e mais um monte. Lembro de uma professora da sexta série, em 1988, indicou “Os Meninos da Rua Paula” e “O Gênio do Crime”. Deve ter indicado outros, mas eu só lembro desses ai. Iniciei a leitura e nunca terminei de “O Tempo e o Vento” que era minha distração na sexta série ao lado de assistir “TV Pirata” (a série “O Tempo e O Vento”, de Érico Veríssimo, teve uma versão em mini-série na TV Globo).

Comecei a ler crônicas em 1997. Muitas crônicas. Era um texto pequeno, não tomava tempo e normalmente tratava de um assunto interessante sem muita profundidade. Mário Prata às quartas-feiras no Estadão. Ganhei um livro dele: “100 crônicas de Mario Prata - O Estado de São Paulo”. Foi uma das primeiras vezes que deu vontade de escrever, de ser escritor. Por ele comecei a ler outros livros. Ler o que ele meio que indicava indiretamente, como Nelson Rodrigues, José Saramago, Eça de Queiroz e Machado de Assis. Já tinha lido algo durante o segundo grau. Nada de leitura resumida. Dedicava-me a ler o todo do livro sempre. Tive uma enorme surpresa durante o meu terceiro ano de segundo grau, em 1993, ao ler um livro de contos de Monteiro Lobato. Dele só conhecia os escritos infantis. Foi muito bom mesmo ler Lobato. Tiveram mais outros livros, um deles que admito, foi barra para ler e que tive uma nota muito ruim na prova: “Os Lusíadas”. Esse já foi em 1991, no primeiro ano do segundo grau. Mas até 1997 eu só lia o que era indicado mesmo pela escola e uma coisinha ou outra, como “O Mundo de Sofia”, que foi já indicação no primeiro semestre da faculdade de arquitetura, em 1996.

Mas voltando às crônicas, meio que dividia meu prazer com a leitura sobre teoria e história da arquitetura, crônicas e muita música. Foi o período da faculdade que acredito ter sido o mais promissor em termos de cultura de massa, ou cultura pop. Muitas coisas da televisão também foram muito legais, como “A Comédia da Vida Privada”, ou “A Vida Como Ela É”, baseada na obra de Nelson Rodrigues. Além de “O Primo Basílio” e “Os Maias”, que li após assistir às séries. Quanto às crônicas, fui aumentando de autores. Do Mário Prata conheci o Mathew Shirts e por sua vez as séries de crônicas escritas durante a Copa do Mundo de 98, por Mário Prata, Mathew Shirts e Chico Buarque. Das influencias de Mário Prata cheguei a conhecer cronistas que ele gostava. Nessa época as crônicas de Mário Prata também eram publicadas na revista Isto É (que hoje pode ser chamada de isto era...).

Da teoria da arquitetura li “Paisagem Urbana”, de Gordon Cullen, meu predileto, “A Imagem da Cidade”, de Kevin Lynch, “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, de Robert Venturi, e “Arquitetura da Cidade” de Aldo Rossi, sem contar algumas coletâneas de textos organizadas pelo Professor Vicente Del Rio, como “Percepção Ambiental” e “O Espaço da Cidade”. Ou um livro que até hoje consulto bastante um texto em específico chamado “Os Centros das Metrópoles”. Além do Benévolo, “A História da Cidade”, e do melhor livro já escrito sobre São Paulo: “São Paulo: Três Cidades em Um Século”, de Benedito Lima de Toledo. E, claro, li muitos textos do Artigas e muitos textos de arquitetos modernistas. Muitos deles não me acrescentaram nada. No meio disso descobri um livro de crônicas do arquiteto Paulo Casé. Ele escrevia crônicas num jornal do Rio de Janeiro e estas foram reunidas num volume. Tinha crônica sobre Tom Jobim e outras particularidades e onde eu me deparei com algo terrível: quem era o Tom Jobim da minha geração?

Realmente a redução da cultura brasileira é evidente. Um dos poucos autores vivos que poderíamos dizer que pertence a esse grupo seleto da literatura brasileira é Ariano Suassuna. Mas a sua obra de maior interesse não pertence ao momento atual. Jô Soares já escreveu três livros: “O Xangô de Beker Street”, “O Homem que matou Getúlio Vargas” e “Assassinato na Academia Brasileira de Letras”. Não li nenhum deles. Até tenho interesse em ler. No caso são livros com começo, meio e fim. Cansa-me um bocado essa coisa de um agrupamento de vários textos virar livro. Não tanto pelo valor dos textos, mas é que é muito chato ninguém mais escrever um livro todo. A exemplo disso li “Pornopolítica”, de Arnaldo Jabor. É pior ainda. Nem as datas de quando foram escritos os textos constam do livro. Ficou claro que ele tem tanta profundidade quando Ozzy Osbourne em suas letras. Os dois me fizeram pensar muito já. Eu achava a figura do Ozzy mística aos 15 anos de idade e aos 27 a do Jabor. Hoje com mais de trinta ainda gosto de Ozzy e de Jabor, porém lhes atribuo o devido valor que têm. Em 1994, Jô Soares fazia este papel. Era quase um momento alto de sua carreira. Após isso, cada vez mais está se perdendo em seu pouco discurso. E o pior ainda, perdendo o que tem de melhor: o humor. Jabor e Jô Soares são homens cultos. Porém não o suficiente para suprir minhas dúvidas. Encontro em Nelson Rodrigues muito mais respostas que nos dois juntos. O que encontro em Graciliano Ramos então, nem se compara. De Graciliano eu li “Memórias do Cárcere”. A indicação indireta ocorreu numa palestra do arquiteto Ruy Ohtake, em 2003, quando o arquiteto Joaquim Guedes fez praticamente um discurso paralelo, e num dado momento citou “Memórias...”. O problema é que Nelson e Graciliano não dialogam com as dúvidas do momento. Para as antigas e entender o mundo são muito bons, mas para sacar o futuro me sinto um tanto quanto órfão, se não fosse por alguns outros autores, praticamente desconhecidos do grande público.

Mas voltando ao fato, escrever se tornou para mim um grande prazer. Se eu escrevo mal pouco importa nesse momento. É basicamente um agrupado de idéias e dúvidas, das quais acabo compartilhando. Isso é bom, elas ficam aqui registradas. Assim posso mudar de idéia e afirmar os por quês de uma e da outra coisa. E o melhor de tudo é não esquecer os detalhes desse tempo.

agosto 02, 2007

Frase

Existe uma frase de autoria de Nelson Rodrigues que tem uma enorme coincidência com o momento atual: “O Maracanã vaia até minuto de silêncio”. Essa frase tem a ver com uma partida de futebol, entre Botafogo e América, em 1967, quando fora anunciada no Maracanã a morte do ex-presidente General Humberto de Alencar Castello Branco, devido a um acidente aéreo. Foi pedido um minuto de silencio e após o pedido a vaia começou. Como sempre, Nelson Rodrigues “mandando brasa”.

Fazer uma frase de efeito não é uma busca. È um efeito de quem escreve e interpreta e aprende muito bem os fatos e consegue fazer pequenas construções simbólicas em cima do contexto e não em cima de uma frase. Como o Daniel Piza sempre coloca em sua coluna, um aforismo (“aforismos sem juízo”). E este não perde o sentido no tempo.

Nunca Mais Poder...

Estive pensando naqueles momentos que não foram. Nos populares “se...”. Se tivessem acontecido, se tivessem não acontecido, se eu tivesse mudado, ou se eu fosse diferente... Mas existiu um “se...” que eu não esqueço. Não consigo entender se era medo, ou se era fácil demais para ser verdade. Igual ao pequeno texto que escrevi sobre “A Enigmática”, este “enigma” me persegue. Não entendo se ela era ou não era quem eu achei que fosse. Mas só sei que algo que era não é mais, e a lembrança é a única eternidade que me restou. Hoje somos muito distantes do que éramos naquele momento. Mas era mágico. Mágico ao ponto de nunca ter existido, o que é bom também. Não sei dizer se é melhor, porque ai o “se...” era obrigado a existir. Até hoje só consigo avaliar aquilo que aconteceu e não o que poderia ter acontecido. O “bom momento” subjetivo é sempre dúvida. Assim como aquilo que aconteceu e eu gostei de ter acontecido, mesmo não acabando bem. Mas essa é uma outra história, que nada tem a ver com essa, não vou deixar as coisas mais recentes encobrirem as mais antigas e mais, muito mais, interessantes. Ou melhor, a antiga. O detalhe desse momento mágico que ele tem em si um segredo, que nunca revelei. E não vai ser agora. Ou seja, escrever esse texto em forma de rocambole para no fundo não contar nada. Mas posso contar que outro dia fui questionado sobre o que sentia por outra menina. Um questionamento que se eu estiver certo, provavelmente foi sentido logo no meu primeiro sorriso. O mais legal é que ela teve umas historinhas a mais, muito engraçadas, regadas por palavras, talvez aquelas palavras que ficam nas mentes. Mas neste caso teve um ato que eu não fiz.

Ou seja, num pequeno texto como este, falei de três pessoas e só eu entendi o que eu escrevi. Na verdade quatro, se pensar na enigmática (que sempre espero encontrar novamente). Não sei se isso é bom, mas a lembrança de uma é mais forte que as outras. Praticamente todas as outras.

Nota de rodapé

Nunca Mais Poder – Gessinger/Licks
“(...) todo mundo é eterno
todo mundo é moderno
como um calendário do ano passado
como a coluna Prestes
as colunas do Niemeyer
como a Holanda de 1974
um símbolo sexual dos anos 60
todo mundo é moderno
todo mundo é eterno
o papa é moderno
o pop é eterno
então,? porque este medo de ficar prá trás
de não ser sempre mais
de nunca mais poder?(...)”

agosto 01, 2007

Portzamparc no Rio de Janeiro

Será que agora sai? Esse projeto já tem alguns anos...

Ex-blog do Cesar Maia, dia 31/07/2007:

RIO, CAPITAL DA AMÉRICA LATINA!

“Os equipamentos construídos para o PAN se somam a outros construídos nestes últimos cinco anos e se somarão aos que estão em grau adiantado de obras. Entre estes a Cidade da Música - investimento exclusivo da Prefeitura do RIO - num projeto do escritório do consagrado arquiteto francês Christian de Portzamparc. A Cidade da Música Roberto Marinho será inaugurada no final do primeiro semestre de 2008 e será a sala de concertos, óperas e balé mais avançada do mundo todo.”

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...