junho 04, 2007

Why the world needs a hero?

Vou narrar uma história ocorrida em 1994. Estava com um amigo e este veio até minha casa e fomos juntos fazer uma entrevista coletiva para emprego. Não sei se mudou muito isso até hoje, não trabalho com recursos humanos. Não conheço também especialista em recursos humanos, só caio de vez em sempre na mão dessas pessoas. Enquanto o emprego esta em crise, o profissional de recursos humanos esta em alta. Normalmente muito pouco preparados especificamente tentam abstrair de conceitos subjetivos perfis adequados às funções específicas. Tenho eu certa dúvida a respeito de seu jogo da incerteza.

Vamos por partes. A primeira situação que me surge sempre é o quanto este profissional conhece a área específica de atuação do possível candidato. Muito diversas entre si, os currículos são baseados nelas e não em perfis. Logo alguém pode me dizer que isso não importa, e sim os aspectos subjetivos. Já chego neles. Ou seja, não se pode ser especialista em algo, pois este conhecimento é tido pelo profissional avaliador somente como uma, e somente uma, qualificação. Não importa para ele a prova material disso, é só mais um critério. Um plus. Veja bem, nada contra esse critério, mas a minha dúvida esta na natureza da qualificação. Um mestrado, não é simplesmente um plus. Deve-se avaliar a especialidade daquele tema tratado serve ou não ao melhor desempenho na vaga a ser preenchida. Isso faz sentido. Vamos a um exemplo: um médico com a cara feia e antipática, mas que sabe diagnosticar um remédio e um tratamento moderno é muito mais eficiente que um médico super-simpático e solícito que nada entende além de uns poucos procedimentos clínicos básicos. Por que uso esse exemplo? Pois no profissional de medicina ninguém tenta ludibriar sua capacidade ou põe em cheque sua competência ou mesmo tenta distorcer suas funções baseadas na sua “experiência pessoal”. Pode desconfiar, pedir segunda opinião com outro médico, mas nunca e em nenhum momento se satisfaz com a explicação rasteira, pois ou a dor, a doença, o sintoma ou até pior que isso (mas ai já é tarde), não deixa. Quanto ao segundo aspecto, os subjetivos, quanto menos especialização, mais fácil se torna a avaliação geral. Ai então, os subjetivos critérios têm mais valor. Pois, a partindo do princípio que os candidatos tendem a igualdade, nada mais importa que então seus aspectos psicológicos. Não confundir ai aspectos psiquiátricos. Ou seja, se o sujeito é doente psiquiátrico não se enquadra, por exemplo, em ambiente socialmente aceitável, não é de jeito nenhum candidato a nada. Só se for uma vaga para homem-bomba, por exemplo.

Mas voltando a cena de 1994. Fomos nós a esta reunião. Foi num prédio próximo de casa onde estava uma multidão. Preenchemos uma ficha, com nome e dados. Uma pessoa passou recolhendo e então se formou um círculo, todos em pé e ao centro a avaliadora. Ela deu então uma pergunta a todos e esta seria respondida individualmente para todo o grupo. Era: qual sua opinião a respeito de Ayrton Senna ser um herói nacional? Algo assim. Lembrando que isso foi pouco tempo após a morte de Senna, no acidente em Ímola. Foi então ela chamando alguns candidatos pelo nome e pedindo para responder. O chavão das respostas era exatamente que Senna era um herói nacional e que tinha muito orgulho de ser brasileiro por causa disso. Logo via que ninguém ali sequer alterava algo. Até meu caro amigo ser chamado e respondendo que não acompanhava as corridas de Formula 1 e não tinha então nenhuma opinião sobre as contribuições sociais dele ao Brasil. Praticamente desconhecia as atividades sociais dele. Por um momento notei todo mundo um tanto quando reflexivo. Com uma cara de indignação e ao mesmo tempo tentando ver se existia ali naquela resposta a chave do mistério da questão apresentada. Não fui nem convocado a responder, nem todos os candidatos o eram, mas não concordaria com meu amigo. Mas também não iria dizer que ele era um herói nacional. Era uma personalidade do esporte, que até hoje, mesmo passados mais de 13 anos de sua morte, motiva exemplos de boa conduta. Nada mais. Sei lá em que subjetividade isso poderia se enquadrar. Uma questão como essa quer mostrar o que do candidato? Sua simpatia ao ídolo do esporte? Sua coragem “brasilianista”? Sua sensibilidade a respeito de uma noticia que parou o Brasil? Essa talvez a mais adequada. Mas significaria que alguém fazer uma análise racional, seria então balizar sua insensibilidade? E se o rapaz não tem interesse nenhuma em corridas? Por que seria o herói dele? Ele estava informado do que ocorrera, mas nada impede de não ser ele fã do homem. Essa política de moldar perfis é como o carnaval ser a representação da alegria geral do povo brasileiro do ano todo. Ou pior, dizer que o samba é a única música do brasileiro.

E como volto à dúvida: afinal se busca um perfil adequado ou se busca adequar os perfis para as vagas? Busca-se um ator de perfil adequado ou a verdadeira face do candidato? Ai nesse momento mora um conceito. O candidato estar interagindo com o mercado, saber ter visão do mercado e da situação geral, de ser empreendedor, agressivo ou cauteloso é diferente de forjar a si esse perfil, embasado numa “estética de mercado”. Poderia ainda adicionar a essa “estética de mercado” um “modismo”. Esta na “moda” ser agressivo, ser empreendedor, ser conservador, ser sei lá o que... Mas ser você mesmo esta aonde?

Fora estes dois aspectos, o fato de o “entrevistador profissional” não ter conhecimento especifico sobre a área de atuação do candidato e se basear em aspectos subjetivos de análise, este terceiro aspecto de se formalizar um perfil ideal pela mídia ou academia (não creio que faculdades formem algum perfil, que não o oriundo de sua tradição, mas...) são os atuais critérios de uma futura colocação no mercado. Quem nunca passou por isso, não?

Além disso, num planejamento de carreira, também existem aquele boatos sobre os perfis relacionados ao tempo de permanência nos empregos. Se ficar muito tempo é acomodado. Se ficar pouco tempo é oportunista. Claro, ai começa as inúmeras pequenas condições: se ficou muito tempo mudando de cargo dentro da empresa, então é investimento. Se ficar no mesmo cargo, não. Mesmo sendo este cargo dinâmico e tendo passado por inúmeras mudanças. Exemplificando: Um web designer que fica cinco anos no mesmo cargo, mas durante esse período no exercício desse cargo somente, absorveu todas as mudanças tecnológicas, é ou não um acomodado? Veja que é muito relativo, mas a exposição é essa: cinco anos no mesmo cargo, sem promoções. As atribuições mudaram? Não. Mas absorveu a tecnologia nova para continuar na mesma função. Isso é fácil de se expor, se o entrevistador conhecer as especificidades do cargo. Se não, simplesmente pode voltar à afirmação inicial de um acomodado.

No fundo, o que quero relacionar se é ou não válida a existência desse profissional de recursos humanos. Se ela causa ruído ou clareia as alternativas. Como disse inicialmente, se a criação de empregos estivesse em alta, a demanda estaria equilibrada e os “ruídos” estariam eliminados por uma questão de qualificação específica. Mas com a opção na “Economia do Mais” ou “O Reino da Quantidade e o Final dos Tempos” o mundo padece mesmo é de um herói.

2 comentários:

passaportecultura disse...

eu era fã do Senna e sempre assistia as corridas de F1. Chorei qdo ele morreu. Acho que o Senna foi exemplo de luta, garra, trabalho árduo e perseverança, eu teria citado esses fatores para dizer que ele foi um herói, além claro, do destaque da profissão dele que era talento, técnica e sensibilidade nas pistas.
eu particularmente odeio esses testes e dinâmicas que os psicologos fazem, acho uma invasão de privacidade, esse tipo de avaliação deveria ser proibida por lei.
mas que justiça funciona no Brasil? rs
beijo

João Batista disse...

“Vamos a um exemplo: um médico com a cara feia e antipática, mas que sabe diagnosticar um remédio e um tratamento moderno é muito mais eficiente que um médico super-simpático e solícito que nada entende além de uns poucos procedimentos clínicos básicos.”

Já assistiu a algum episódio do seriado House M.D.?

“nada mais importa que então seus aspectos psicológicos. Não confundir ai aspectos psiquiátricos... Só se for uma vaga para homem-bomba, por exemplo.”

Rsrs...seus posts tem sempre uma pérola escondida para nos surpreender quando menos esperamos. Deve ser coisa de arquiteto. Tipo o lençol-de-concreto-protensionado-que-parece-que-vai-ceder-a-qualquer-momento.

Quanto ao RH, não sei, mas e o marketing? O Marketing está para o mercado como o funcionalismo público está para o Estado: são um bando de chupins! Sim, pois apesar de ainda existirem publicitários, tantas outras agencias foram tomadas pelos primos modernos de Simão Bacamarte. Cineastas frustrados? Não sei, mas é fácil notar que tem muito publicitário dando golpe em seus clientes, apresentando como genial, brilhante, infalível, propagandas que nos fazem ou chorar ou odiar o produto anunciado. Aquele maldito sabonete que tocava as quatro estações de Vivaldi, por exemplo. E as Casas Bahia? A sorte daquele garoto-propaganda é que todos os terroristas do mundo estão ocupados no Iraque. Parece que como o Doutor Bacamarte, enlouquecem-nos primeiro para depois nos acusar de loucos. Sim, os publicitários descobriram que podem abocanhar uma parcela do lucro das empresas mantendo as aparências de normalidade, esta construída com muito afinco ao longo dos anos. O que eu sei é que antes fazer a barba era coisa de homem. Hoje já não sei mais. Toda propaganda de Gilette envolve algum modelo metrossexual sem-camisa e só de toalha na cintura que acabou de acordar ou tomar banho mas que miraculosamente já está com o cabelo todo penteado. O barbeador é como a penteadeira automatica dos Jetsons?

Claro que estou brincando, existem publicitários excelentes e propagandas idem. Mas que é uma área de resultados nebulosos, isto é.

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