junho 23, 2007

Sobre o aborto

Não tenho muito a dizer sobre o aborto. Sou contra. Pronto. Não seria necessário dizer mais nada, o assunto se encerra em si. Não vou nem colocar questões de cunho religioso aqui, mas só de lógica.

Digamos que algum dia eu entre nesse debate, coisa pela qual só teria a dizer que em todas as questões colocadas em favor do aborto eu não creio que alguma delas seja suficientemente boa para se tentar discutir, deixaria claro que as palavras religião e moral não poderiam ser utilizadas por nenhum dos lados. Isso deixaria o debate bem pouco produtivo do lado favorável. Pois, se religião é uma das maiores inimigas do aborto, a moral seria ligada diretamente a ela. Tiramos isso e vemos que a lógica terminaria por fazer a outro argumento favorável ao aborto.

O aborto é, em suma, a saída de uma gravidez não desejada. O fato é como essa gravidez aconteceu. Por estupro? Esta prevista em lei esta prática já. Nada de novo. Aliás, eu defenderia a pena de morte para os estupradores. Isso sim seria um ganho. O problema é exatamente esse: eu creio na pena de morte como conceito, mas não como prática. Afinal, um assassino nunca teria castigo igual ao que conferiu a sua vítima, mas na prática como se pode matar alguém? É terrível. Quem seria o carrasco a fazer isso? Em suma, talvez a idéia de deixar o sujeito mofando pelo resto da vida numa cadeia é a solução mesmo. Mas voltando, e se for por descuido ou por ignorância? O problema esta em como resolver isso. As pessoas querem correr riscos e depois não assumir as conseqüências? Imaginem que não seja gravidez e sim AIDS. Como seria solução final? Bem, seria só a morte do individuo irresponsável e não a vida em jogo de um inocente. Seria essa a lógica se não custasse muito ao Estado esse tratamento. Um indivíduo inocente poderia custar mais? Sim, poderia. Para as duas questões existem as políticas de esclarecimento, as políticas de informação, a saúde preventiva. Prevenir continuaria sendo o maior objetivo de todos. Então para que liberar uma prática que em nada mudaria a situação? Ou melhor, pioraria. Se o caos na saúde já esta assim, imaginem com um número maior de cirurgias de aborto?

Em suma, tirando o aspecto religioso e só usando a lógica chego à conclusão que esta política nada tem a ver com as condições atuais, já que se pode haver planejamento familiar, métodos contraceptivos e informações subsidiadas pelo governo. A gravidez indesejada é produto de inúmeros fatores e entre eles estão escolhas individuais. Num estado de direito, democrático, estas escolhas sempre são respeitadas. Até mesmo em desacordo com a lei. Exemplo: o uso de drogas é individual. Tanto das livres como das ilícitas. Assim como sexo. Seus resultados e suas responsabilidades também são ações individuais. O aborto seria então uma ação individual da mulher? Não. Pois para ela produzir o feto, teve ajuda de um homem. Ele é parte desse processo também. Se em comum acordo decidem que não era esse o resultado que desejavam, deveriam rever suas atitudes, pois, agora, põe em jogo a vida de uma terceira pessoa (o inocente). Seria tudo fácil se fosse um simples cachorro, não? – manda ele pro abrigo de animais. Infelizmente não é (e nem com o cão eu acho que seja).

Finalizando, vou colocar uma frase de um texto de uma pessoa que gosto de ler, mas, como não concordo com ela a respeito do aborto, deixarei de fornecer a fonte: “(...) A campanha pela descriminalização do aborto não deixa de ser uma redundância. Tornar legal o que desde há muito é tolerado por lei? Isto é coisa de igrejeiros que, sabe-se lá por quais razões, continuam crendo na ficção jurídica de que aborto é crime. Fosse assim considerado, faltaria cárcere para mais de milhão de pessoas por ano. (...)”

Qual minha opinião após isso tudo? Continuo contra.
Agora, com um pouquinho de religião. É sabido que a Igreja Católica Apostólica Romana fala para os fieis (e somente a eles) que não deveriam “fazer amor” antes do casamento. Método 100% eficaz (antes do casamento), diga-se. Se você não faz nada, não poderia nem ser infectado com o vírus HIV e nem ter uma gravidez inesperada. Agora, será que os não fiéis conseguem seguir este método?

Um comentário:

João Batista disse...

“continuam crendo na ficção jurídica de que aborto é crime. Fosse assim considerado, faltaria cárcere para mais de milhão de pessoas por ano.”

Eu não entendi. O Aborto não é um crime porque é impossível de puní-lo? Então pirataria também não é crime, ora bolas, e isso porque roubar propriedade intelectual não envolve nenhuma morte intencional, e muito provavelmente nenhuma morte...não-intencional também.

Agora, de quem é esse número? Quem fez a conta? Não existe uma bela flutuação nesses números? Onde posso arranjar os números das últimas décadas para checar se alguém está inventando números fora dos padrões, e mesmo até que ponto esses padrões são bem apurados e precisos.

Pirataria é crime e aborto também é crime. Se milhões de pessoas estão praticando ambos é claro que toda conversa sobre crimes já perdeu sentido, pois é uma sociedade doentia, entupida de criminosos, da qual um pragmatista desumano poderia mesmo cogitar começar a reescrever o código penal de acordo com a dificuldade de encarcerar cada grupo de criminosos.

Assim, pirataria não seria mais crime (ignoro o aborto pela imprecisão dos números), exceto a pirataria seguida rapto e seqüestro, com estupro e tortura, além de estelionato e para terminar falso testemunho. Os bandidos que cometerem o maior número de infrações entrarão num grupo minoritário de fácil prisão. Então para não ser preso, basta estuprar mas não matar, relaxar e gozar. Cometa um assassinato e talvez você escape devido a super-lotação. Mas não ouse cometer dois assassinatos, senão suas chances aumentam. Veja que maravilha, não é justo? Só teremos de arcar com alguns homicídios e estupros a mais, mas apenas um por cidadão. Veja isto como uma política de inclusão social: todos terão o direito ao crime. Cada cidadão tem uma cota de crimes a cometer. Desde que limitado a essa cota, não irá para a cadeia. Isso acabaria fazendo com que, a posteriori, se tornasse verdade a absoluta falta de espaço para encarcerar milhões de cidadãos. É isso que eles pretendem com esse golpe baixo, Fernando. Uma vez que milhões e milhões de abortos acontecessem, seria inviável praticamente torná-lo crime.

Eles pervertem a sociedade para depois alegar ser impossível combater a perversão. Gente esperta, gente da pior espécie. Uma coisa é certa: sabem produzir uma montanha de cadáveres como ninguém, mesmo que estatisticamente [e falsa].

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