junho 23, 2009

A praga das equações

Eu costumo usar a expressão “equação” para definir certas situações do cotidiano que tem começo, meio e fim. Coisas como entrevistas de emprego, dinâmicas de grupo e todo aquele teatro em que os recursos humanos acreditam realmente poder “avaliar” os candidatos. Afinal, para que ser objetivo e examinar características de meritocracia, se a subjetividade tem todo o mistério da alegoria substancial das emoções humanas? É a velha discussão ente substância e essência.

Minha ira aos profissionais dos recursos humanos veio de uma matéria da revista Você S. A. em que se afirmava categoricamente que nunca eles poderiam ser seus amigos! E, claro, por causa da arrogância de uma dita “psicóloga” que tentava avaliar os nomes dos escritórios em que trabalhei como se fossem “amigos” meus... E os cursos então? Ela deve ter imaginado que Aldo Rossi era um colega meu de faculdade... Ou como certa vez, numa entrevista, a psicóloga não tinha idéia de quem era Jack Kerouac, de On the Road – Pé na Estrada; Então, para quê pediu para falar de um livro marcante? Achou que ia falar de Onze Minutos? Certo que fiquei impressionado quando uma concorrente citou Ensaio sobre a Cegueira. Não por causa do livro, que é duro, triste e tem um argumento realmente marcante, mas em que ele modificou a vida dela? Eu posso dizer que fiquei talvez mais inconseqüente com a minha escolha, o que é péssimo do ponto de vista profissional, mas maravilhoso do ponto de vista criativo (caso específico da vaga). Mas com o livro de Saramago como a menina pode ter mudado a vida? É uma equação que não fecha para mim. Não há como somar as partes e chegar a um todo. Não há como ter um delta diferenciado. Ela enxergou melhor a vida? Seria isso? Bem, ela foi embora antes de mim do processo seletivo... O que não me diz grande coisa... Nem sobre a concorrente e nem sobre a psicóloga.

Mas voltando as equações, tive uma emoção sem limites com certa psicóloga. Era uma avaliação em grupo em que tinha que expor minha vida em cinco minutos. Fui tão prolixo que ao término tive ainda que falar mais cinco... Depois fui para uma avaliação individual em que minha resposta a uma determinada questão foi tão verdadeira que em menos de dois minutos estava falando que deveria vestir um terno para a próxima etapa... Etapa esta que acabei por passar no último minuto. Se fosse num jogo de futebol diria que fiz um golden gol no segundo tempo da prorrogação... Para ser eliminado na quarta etapa, por um excelente candidato, que continha uma experiência imbatível no ramo específico daquela empresa. Uma equação que fechava.

Fico feliz quando as equações fecham. Nem que sejam pelos mais absurdos motivos. Certa vez achei que um colega de trabalho estava a falar de algo um tanto quanto sem valor, uma ironia, uma brincadeira. Mas não: falou com certa postura e de forma simples e clara, que poucas vezes talvez tenha oportunidade de ouvir novamente. De tão simples desconfiei. Um erro. Mas era outra equação que fechava em todos os graus possíveis. Talvez tenha eu que perder certa emoção e tentar ser mais racional possível. Talvez enxergue melhor as equações, essas pragas que nos cercam de tantos lados...

2 comentários:

Anônimo disse...

Navegando entre blog's encontrei este, achando que falava de matemática,mas grata supresa, um blog de textos leves, divertidos. ironia na medida. Amei! Parabens!

Anônimo disse...

Putz Ludo,

Mto boa a tua reflexão. E é tão bom quando a equação fecha, mesmo quando a gente perde no final. Respostas não ditas, coisas mal resolvidas sempre deixam um ranço na nossa vida que involuntariamente despendemos energia.

Tive nos últimos meses várias equações sem solução (para mim). Finalmente, semana passada duas fecharam. Uma contra, a outra a meu favor.

Bjos, Karina

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