novembro 24, 2007

PSDB e seu momento atual...

Foto de Patrick Grosner.
Continuo achando que umas das poucas pessoas a fazer política de verdade no Brasil é ainda o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele falou muito claramente estes dias sob sua postura contraria à CPMF. Finalmente alguém dentro do PSDB falou alguma coisa com sentido. No ano passado, durante a campanha eleitoral, escreveu aquela carta, que se fosse seguida pelo partido o resultado da eleição poderia ter sido melhor. Pelo menos entrariam em discussão alguns temas que nem sequer passaram no debate.

Eu sou contra a cobrança do CPMF por inúmeros motivos, mas o principal é pagar R$180,29 todo mês de meu plano de saúde. Só por este já bastariam todos os outros. E pago o plano, pois ano passado (2006), ao levar minha prima para ser atendida num hospital público federal, tive a impressão de estar sendo tratado num país africano qualquer. Não havia esparadrapo e nem aquele metal de imobilização para os dedos que ela havia quebrado. Engessaram a mão toda. Uma lástima. Desde então resolvi aderir a um plano de saúde, já que minha saúde não andou lá muito bem este ano.

Ou seja, o tal imposto para a saúde, nem sequer chega à saúde. Mas o governo federal está mais preocupado com o que as pessoas assistem na TV, pois assinou uma medida provisória criando a tal “TV Pública”. São, imaginem, 350 milhões de Reais ao ano... Acho que dava para comprar esparadrapos com essa graninha. E o detalhe que o tal hospital federal é “referencia” de atendimento... Não me falaram que tipo de referencia...

Depois falam que eu não gosto do governo do PT por motivos ideológicos... Como se eles fossem competentes em alguma coisa. Certo que aqui cabe uma afirmação positiva: Por mais incrível que possa parecer o governo Lula não errou em manter a mesma política econômica do PSDB. Dentre todas as coisas que pioraram – a educação, a saúde, a segurança – a economia se manteve estável. Talvez em parte por um momento mundial sem maiores crises (aqui cabe colocar o debate ocorrido no blog do Daniel Piza sobre os mitos do governo Lula). Em suma, o PSDB deixou tudo acertado para Lula obter sucesso, no entanto, o seu governo é pífio e cada vez mais populista e antidemocrático.

Mas voltando ao PSDB, com certeza, desde 2002, o partido está longe e não esta falando à sociedade como deveria. Sendo este um dos tópicos discutidos no congresso nacional do partido, esta semana em Brasília. Lula em 2002 teve dois sustos. O primeiro com Roseana Sarney e o segundo com Ciro Gomes. Roseana, que até hoje não apurei o momento histórico com todos os dados só perdeu por um detalhe de convicção moral, que se fosse hoje o PT nem sequer poderia contestar. Mas foi um susto somente. Levando em conta que Lula teve que disputar sua candidatura com o senador Eduardo Suplicy em 2002, esses dois sustos só mostram como nem o PT acreditava mesmo que conseguiria chegar tão fácil o governo. Eu, para me informar à época fiz a besteira de comprar um livro – A candidata que virou picolé – editado pela Caros Amigos. Era lógico que lá só tinha um lado da força (the dark side of the moon... by Pink Floyd).

Em 2002, José Serra era o candidato que representava as mudanças esperadas pela sociedade em geral (o tal “povo”). Mas como mostrar isso, se o partido, como só agora em 2007, está discutindo a distância que tem do povo e das entidades de classe? Muita gente se enganou com Lula, isso é óbvio, mas como também não se enganar se os planos de PSDB e PT na verdade são muito parecidos? Que a cada votação no Congresso fica mais clara a falta de diferenças entre os dois partidos, mostrado pelo discurso do “bem do Brasil”, e não por fazer política de oposição, conforme foram eleitos. E são essas as diferenças que fazem do PSDB o democrata inocente útil para a derrocada democrática. Os eleitores do PSDB querem é oposição. Não à toa os Democratas (DEM) estão muito mais afinados com suas bases – que são ainda pequenas, mas com boa possibilidade de expansão. Fazer política é uma arte e é para poucos. Com a saída de Fernando Henrique Cardoso da política do dia-a-dia o partido perdeu rumo e talvez venha a se reencontrar logo mais. Tomara que sem fazer enormes besteiras, como candidato próprio (Geraldo Alckmin) para a prefeitura de São Paulo ano que vem...

De certa forma eu não sou e nunca fui entusiasta do PSDB. Em muitos momentos não entedia qual seu lado e onde é que estavam suas diferenças com o PMDB. No fundo, todos sabem que era um esvaziamento do PMDB, pois ninguém queria ser o candidato do governo Sarney. Um engano enorme, pois a divisão em muitas frentes deixou um candidato de bom marketing e boas relações interpartidárias (conforme pode ser avaliado por seu vice) tomar a frente numa eleição onde os candidatos que estavam presentes na defesa das Diretas Já tinham perdido o momento político. Mais especificamente, o PMDB foi o grande partido das eleições de 1986, da abertura política, mas em 1989 era o partido da desilusão da abertura, dando margem a candidatos novos, como Lula e Collor. Isso pode ser visto por duas telenovelas: Roque Santeiro, a entusiasta da abertura, e Vale Tudo, a da desilusão com a democracia. Aliás, as referencias são muitas e acho que a melhor novela (até certo ponto profética) é Que Rei Sou Eu? – que mostrava como seria a futura articulação política, no papel do consultor do Reino de Avilon, personagem de Antonio Abujamra.

Muito bem, mas eu ainda tenho, por assim dizer, certo receio que o PSDB atendendo aos pedidos de seus eleitores, ainda caia no discurso moldado pelo PT. Que é em muito um discurso originalmente feito pelo PSDB. Para ser mais exato, são mesmo poucas as diferenças entre PT e PSDB, mas umas delas, a mais evidente, é que os intelectuais do PSDB são muito, muito melhores do que os do PT. E, como diz Fernando Henrique, “o partido de Lula escolheu os escândalos” (aqui). De resto, precisam é se livrar dos dogmas do marxismo arcaico e talvez passarem a ser mais liberais.

Para finalizar, é tão óbvia a noção que Serra seria o candidato mais adequado para fazer as mudanças estruturais que FHC não conseguiu executar que o atual governador de São Paulo esta fazendo ótima gestão, de um estado que já era muito bem gerido. Lógico, esta acertando parâmetros que estavam defasados e sempre uma nova gestão tem novos conceitos e metas. Ainda cedo para avaliar todos os resultados, mas já é fato de que estar prendendo mais bandidos (atuação iniciada na gestão Alckmin) anda dando bons resultados na segurança pública. O que gosto de avaliar, que a não continuidade da segurança pública do governo do PMDB por Mário Covas é um dos fatores da problemática desde tema hoje em São Paulo. Mas como Geraldo Alckmin avaliou durante debate nas últimas eleições, não é o PSDB o partido do PCC... (aqui)

2 comentários:

Anônimo disse...

Fer, saudades de vc, beijos ! Adri

João Batista disse...

Sempre imaginei que os remédios vendidos sem receita na internet eram contrabandeados do Paraguai, roubados nas estradas ou oriundos de alguma trama ou conspiração elaborada. Nada disso. Vêm dos hospitais públicos: sacolas cheias de medicamentos são entregues de uma só vez para evitar que o sujeito fique voltando e fazendo fila quando a caixinha de remédio acabar. Então sai com um bolo de uma vez. Se não for honesto, vai revender. Isto é que é referencia: havendo remédio no estoque, este choverá nas mãos de quem o necessite. Sendo isto procedimento normal, é facílimo esvaziar as prateleiras dos hospitais sem levantar suspeita, bastando forjar os doentes e corromper um ou outro funcionário. Para encontrar o funcionário corrupto basta procurar os apadrinhados petistas. Para o falso doente, basta um doente real que nunca receba alta formal e seja subornado para continuar voltando à fila. Pode faltar esparadrapo, mas remédio desviado para o mercado negro não faltará. Imagine a festança que seria com a expansão da “redução de danos”. Chegou o pacote de maconha medicinal e cocaína para redução de danos? No dia seguinte já está vendido no eBay e os corruPTos clamando por mais verbas, culpando a falta de verbas pela falta de “medicamentos”.

Serra parece ser nosso G.W. Bush: até da para engolir, por certo tempo, mas acaba deixando a desejar, no mínimo.

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