Eu acho que a eleição de 2002 foi a das mais importantes desde 1989. Digo isso por que Fernando Henrique Cardoso, depois de ter acabado com os planos do PT, por ter fortalecido as instituições democráticas e estar de certa forma esgotado politicamente e ter feito um trabalho de transição democrática, não usou a máquina pública para fabricar um candidato do PSDB. Diga-se de passagem, foi um dos poucos políticos a não usar desde artifício.
Vejamos casos do estado de São Paulo: Em 1986 o vice-governador (1983-1986) Orestes Quércia sucedeu o então governador André Franco Montoro. Franco Montoro ganhou uma eleição difícil em 1982, porém é o único nome lembrado, além de Lula e Jânio Quadros, que participaram daquela eleição que sucedeu Paulo Maluf, governador biônico (na verdade Maluf foi candidato a deputado federal em 1982, para disputar a eleição indireta de 1984 e tinha se afastado do governo deixando para seu vice, José Maria Marin, o governo do estado). O candidato lançado por Maluf e Marin foi Reynaldo de Barros e Montoro ganhou.
Já em 1986, havia como candidatos Antonio Ermírio de Moraes e Paulo Maluf, agindo pelos bastidores, com campanha fortíssima no interior paulista, o PMDB elegeu seu sucessor: Orestes Quércia. Também com o artifício da campanha no interior e a exposição na mídia em casos onde a secretaria de segurança pública tinha agido com enorme competência, o candidato de Quércia, o então secretário e segurança Luis Antonio Fleury, ganhou a eleição de 1990 que contava com José Serra e Paulo Maluf como candidatos.
Em 1994 não havia candidatos e mesmo assim Mário Covas foi para um segundo turno com o ex-prefeito de Osasco e atual deputado federal Francisco Rossi (cujo sonho, acredito eu, era ser prefeito de São Paulo, pelas tantas vezes que concorreu e, detalhe, saindo em inúmeras vezes nas pesquisas primarias em primeiro lugar). Para não dizer que não havia candidatos, o PT tinha lançado José Dirceu e o PP (sei lá como chamava à época o partido do Maluf) lançou o sindicalista Medeiros. Até Paulo Maluf apoiou Covas naquela eleição. O PMDB havia lançado o então secretário da agricultura Barros Munhoz, atual deputado estadual pelo PSDB e ex-prefeito de Itapira (SP). De novo a força do interior, porém desta vez Covas estava alinhado com Fernando Henrique Cardoso e o PSDB era o principal partido em praticamente todos os estados, elegendo os governadores do Rio e Janeiro (Marcello Alencar), de Minas Gerais (Eduardo Azeredo) e do Ceará (Tasso Jereissati).
E verdade seja dita, Maluf se estivesse naquela eleição tinha possibilidades de segundo turno e uma pequena chance de vitória, por isso provavelmente preferiu se ausentar e terminar o mandato executivo de prefeito, seu primeiro eleito. Este também um caso óbvio de máquina governamental, onde Maluf “fabricou” seu sucessor, Celso Pitta. A emenda constitucional da reeleição vigoraria somente a partir de 1998, e Maluf foi, digamos, um dos não privilegiados por esta emenda. A certeza era tão grande de sua vitória na eleição de 1996, que José Serra foi procurado por Maluf para fazer uma aliança para aquela eleição. Sendo recusada lançou Celso Pitta e Serra nem sequer disputou o segundo turno. Falando em segundo turno, em 1988, Maluf também foi prejudicado por não haver na ocasião segundo turno, perdendo uma eleição para Luiza Erundina, que por sua vez perdeu em 1996 para Celso Pitta, num segundo turno. Em 1992, Maluf também não tinha oponente e o sucessor de Erundina era Eduardo Suplicy. Nem com a máquina pública a seu favor conseguiu Suplicy vencer Maluf.
Mas voltando, em 1998, a reeleição de Mário Covas teve uso da mídia e da maquina governamental para assegurar um local no segundo turno. Mas sua política foi de extrema competência, fazendo uma esplendida vitória de segundo turno. Única eleição em que ocorreu o fenômeno do candidato que teve segundo lugar no primeiro turno ganhar no segundo turno. Podem ver, nenhuma eleição isso ocorreu de novo.
Em 2002, Geraldo Alckmin, que assumiu o governo de São Paulo após a morte de Mário Covas, nem se pode dizer que fez uso da máquina, ele nem sequer tinha concorrentes. Era de novo Paulo Maluf e no segundo turno disputou com o despreparado deputado petista José Genoino.
Exatamente ai que entra toda a parte importante desta postagem. José Genoino só foi parar no segundo turno porque o PSDB estava em enorme desgaste por conta do segundo mandato de Fernando Henrique. Segundo mandato este que foi bastante engessado pela oposição sistemática petista e pela perda de boa parte da base de apoio, como os não reeleitos governadores Eduardo Azeredo (MG) e Marcello Alencar (RJ). Além da morte de Eduardo Magalhães e Sergio Motta, que eram seus maiores articuladores. Este segundo mandato de FHC e Mário Covas desapertam em mim a maior antipatia pela reeleição. Certo que a política econômica de FHC ainda não estava pronta em 1998 para entrada de um desastrado como Lula e o PT, mas a continuidade de certas políticas – principalmente a de segurança pública - no governo estadual, somente alterada no segundo mandato de Alckmin, foi um dos piores reflexos da reeleição.
Em 2002, o PT aderiu ao “Lulinha paz e amor”. Ao PT menos vermelho e mais cor-de-rosa. Colhia certos feitos de uma Marta Suplicy eleita em 2000 (onde, de petistas, havia muito pouco nos cargos que exigiam competência). O senador Suplicy estava em alta na mídia. Lula havia disputado já três eleições e Ciro Gomes, desde 1998 na oposição ao PSDB, e a articulação do PFL em lançar uma candidata própria, filha de um ex-presidente da República (Roseana Sarney era no momento governadora reeleita do estado do Maranhão). A articulação dos petistas para inviabilizar qualquer outra candidatura que não fosse a de Lula se mostrava muito forte. Atua em todos os bastidores possíveis. Quando se apresentaram somente quatro candidatos – José Serra (PSDB), Ciro Gomes, Antony Garotinho e Lula - os petistas asseguravam ali uma grande possibilidade de polarizar a eleição com o PSDB. Levando em conta ainda que a informação sobre o que era realmente o PT (que se mostrou depois em escândalos como o “mensalão”, “dólar na cueca” e etc.) era praticamente nula na mídia. Como se informar se, por exemplo, as informações sobre os governos petistas no Rio Grande do Sul foram simplesmente não utilizadas pelos candidatos e nem sequer comentada na mídia? Lendo a “Vanguarda do Atraso”, editada pelo jornalista Diego Casagrande, nota-se a total falta de informações que se tinha sobre Lula e o PT. Foi talvez em grau pior que a desinformação sobre Collor em 1989. Primeiro que Collor saiu em 1992 e Lula se reelegeu em 2006 usando absurdamente a máquina estatal. Tudo hoje no Brasil se aposta para 2010. O atual governo vai se arrastar até lá, se não tentar no meio do caminho o Lula III. Falei a um tempo atrás que tinha saudades de FHC (aqui), mas na verdade, tenho é saudades de morar em um país um pouco mais civilizado (aparentemente), o que representava FHC e o PSDB no poder. O fato de se ter enganado tantas pessoas e comprado a consciência de outro tanto, mostra um país mais do que atrasado; mostra é um dos piores conceitos que se tem da América Latina, o de tiranetes e republiquetas de bananas... Que é exatamente isso que o Brasil se tornou, uma republiqueta com quase nenhuma expressão internacional. E quando Olavo de Carvalho fala no prefácio da reedição de seu livro “O Futuro do Pensamento Brasileiro”, que poderia tirar o imperativo, é uma verdade indiscutível.
Vejamos casos do estado de São Paulo: Em 1986 o vice-governador (1983-1986) Orestes Quércia sucedeu o então governador André Franco Montoro. Franco Montoro ganhou uma eleição difícil em 1982, porém é o único nome lembrado, além de Lula e Jânio Quadros, que participaram daquela eleição que sucedeu Paulo Maluf, governador biônico (na verdade Maluf foi candidato a deputado federal em 1982, para disputar a eleição indireta de 1984 e tinha se afastado do governo deixando para seu vice, José Maria Marin, o governo do estado). O candidato lançado por Maluf e Marin foi Reynaldo de Barros e Montoro ganhou.
Já em 1986, havia como candidatos Antonio Ermírio de Moraes e Paulo Maluf, agindo pelos bastidores, com campanha fortíssima no interior paulista, o PMDB elegeu seu sucessor: Orestes Quércia. Também com o artifício da campanha no interior e a exposição na mídia em casos onde a secretaria de segurança pública tinha agido com enorme competência, o candidato de Quércia, o então secretário e segurança Luis Antonio Fleury, ganhou a eleição de 1990 que contava com José Serra e Paulo Maluf como candidatos.
Em 1994 não havia candidatos e mesmo assim Mário Covas foi para um segundo turno com o ex-prefeito de Osasco e atual deputado federal Francisco Rossi (cujo sonho, acredito eu, era ser prefeito de São Paulo, pelas tantas vezes que concorreu e, detalhe, saindo em inúmeras vezes nas pesquisas primarias em primeiro lugar). Para não dizer que não havia candidatos, o PT tinha lançado José Dirceu e o PP (sei lá como chamava à época o partido do Maluf) lançou o sindicalista Medeiros. Até Paulo Maluf apoiou Covas naquela eleição. O PMDB havia lançado o então secretário da agricultura Barros Munhoz, atual deputado estadual pelo PSDB e ex-prefeito de Itapira (SP). De novo a força do interior, porém desta vez Covas estava alinhado com Fernando Henrique Cardoso e o PSDB era o principal partido em praticamente todos os estados, elegendo os governadores do Rio e Janeiro (Marcello Alencar), de Minas Gerais (Eduardo Azeredo) e do Ceará (Tasso Jereissati).
E verdade seja dita, Maluf se estivesse naquela eleição tinha possibilidades de segundo turno e uma pequena chance de vitória, por isso provavelmente preferiu se ausentar e terminar o mandato executivo de prefeito, seu primeiro eleito. Este também um caso óbvio de máquina governamental, onde Maluf “fabricou” seu sucessor, Celso Pitta. A emenda constitucional da reeleição vigoraria somente a partir de 1998, e Maluf foi, digamos, um dos não privilegiados por esta emenda. A certeza era tão grande de sua vitória na eleição de 1996, que José Serra foi procurado por Maluf para fazer uma aliança para aquela eleição. Sendo recusada lançou Celso Pitta e Serra nem sequer disputou o segundo turno. Falando em segundo turno, em 1988, Maluf também foi prejudicado por não haver na ocasião segundo turno, perdendo uma eleição para Luiza Erundina, que por sua vez perdeu em 1996 para Celso Pitta, num segundo turno. Em 1992, Maluf também não tinha oponente e o sucessor de Erundina era Eduardo Suplicy. Nem com a máquina pública a seu favor conseguiu Suplicy vencer Maluf.
Mas voltando, em 1998, a reeleição de Mário Covas teve uso da mídia e da maquina governamental para assegurar um local no segundo turno. Mas sua política foi de extrema competência, fazendo uma esplendida vitória de segundo turno. Única eleição em que ocorreu o fenômeno do candidato que teve segundo lugar no primeiro turno ganhar no segundo turno. Podem ver, nenhuma eleição isso ocorreu de novo.
Em 2002, Geraldo Alckmin, que assumiu o governo de São Paulo após a morte de Mário Covas, nem se pode dizer que fez uso da máquina, ele nem sequer tinha concorrentes. Era de novo Paulo Maluf e no segundo turno disputou com o despreparado deputado petista José Genoino.
Exatamente ai que entra toda a parte importante desta postagem. José Genoino só foi parar no segundo turno porque o PSDB estava em enorme desgaste por conta do segundo mandato de Fernando Henrique. Segundo mandato este que foi bastante engessado pela oposição sistemática petista e pela perda de boa parte da base de apoio, como os não reeleitos governadores Eduardo Azeredo (MG) e Marcello Alencar (RJ). Além da morte de Eduardo Magalhães e Sergio Motta, que eram seus maiores articuladores. Este segundo mandato de FHC e Mário Covas desapertam em mim a maior antipatia pela reeleição. Certo que a política econômica de FHC ainda não estava pronta em 1998 para entrada de um desastrado como Lula e o PT, mas a continuidade de certas políticas – principalmente a de segurança pública - no governo estadual, somente alterada no segundo mandato de Alckmin, foi um dos piores reflexos da reeleição.
Em 2002, o PT aderiu ao “Lulinha paz e amor”. Ao PT menos vermelho e mais cor-de-rosa. Colhia certos feitos de uma Marta Suplicy eleita em 2000 (onde, de petistas, havia muito pouco nos cargos que exigiam competência). O senador Suplicy estava em alta na mídia. Lula havia disputado já três eleições e Ciro Gomes, desde 1998 na oposição ao PSDB, e a articulação do PFL em lançar uma candidata própria, filha de um ex-presidente da República (Roseana Sarney era no momento governadora reeleita do estado do Maranhão). A articulação dos petistas para inviabilizar qualquer outra candidatura que não fosse a de Lula se mostrava muito forte. Atua em todos os bastidores possíveis. Quando se apresentaram somente quatro candidatos – José Serra (PSDB), Ciro Gomes, Antony Garotinho e Lula - os petistas asseguravam ali uma grande possibilidade de polarizar a eleição com o PSDB. Levando em conta ainda que a informação sobre o que era realmente o PT (que se mostrou depois em escândalos como o “mensalão”, “dólar na cueca” e etc.) era praticamente nula na mídia. Como se informar se, por exemplo, as informações sobre os governos petistas no Rio Grande do Sul foram simplesmente não utilizadas pelos candidatos e nem sequer comentada na mídia? Lendo a “Vanguarda do Atraso”, editada pelo jornalista Diego Casagrande, nota-se a total falta de informações que se tinha sobre Lula e o PT. Foi talvez em grau pior que a desinformação sobre Collor em 1989. Primeiro que Collor saiu em 1992 e Lula se reelegeu em 2006 usando absurdamente a máquina estatal. Tudo hoje no Brasil se aposta para 2010. O atual governo vai se arrastar até lá, se não tentar no meio do caminho o Lula III. Falei a um tempo atrás que tinha saudades de FHC (aqui), mas na verdade, tenho é saudades de morar em um país um pouco mais civilizado (aparentemente), o que representava FHC e o PSDB no poder. O fato de se ter enganado tantas pessoas e comprado a consciência de outro tanto, mostra um país mais do que atrasado; mostra é um dos piores conceitos que se tem da América Latina, o de tiranetes e republiquetas de bananas... Que é exatamente isso que o Brasil se tornou, uma republiqueta com quase nenhuma expressão internacional. E quando Olavo de Carvalho fala no prefácio da reedição de seu livro “O Futuro do Pensamento Brasileiro”, que poderia tirar o imperativo, é uma verdade indiscutível.
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