dezembro 13, 2010

Bêbados e loucos

Wittgenstein chama minha atenção a respeitos dos dois passageiros sentados nas longarinas do terminal de embarque do aeroporto. Um sujeito baixo, com uma protuberância abdominal avantajada, cabelos grisalhos e postura de um nouveau riche, e seu provável colega de trabalho, alto, magro com cabelo militar. Pegaríamos os quatro o mesmo avião, até aquele momento aparentemente vazio. O ar de Vitória estava bastante agradável para o inverno que tinha saído pela manhã, na São Paulo gelada. Tinha passado um ótimo dia naquela cidade e encontrar com o amigo Wttt, a forma carinhosa que chamava o professor Wittgenstein, no saguão do aeroporto enquanto esperava a aeronave que substituiria a considerada “insegura” – como se algum avião fosse seguro – para irmos a Belo Horizonte.
Witt falava da falta de segurança da pista do aeroporto de Vitória, quando algo naqueles dois homens o desviava do assunto. Tinha acabado de lhe falar da minha ligeira má impressão dos aeroportos Santos-Dumont e Congonhas, com suas pistas curtas e suas histórias de acidentes, quando também comecei a fitar aqueles dois homens.
Witt era um observador nato. Pelos sapatos conseguia dizer se o homem poderia ter ou não algum desvio de coluna. Se tivesse se dedicado a medicina com certeza teria sido um grande médico, mas acabou por preferir as letras e confeccionar seus poemas quase enigmáticos e dar as melhores aulas a respeito de William Shakespeare que alguém poderia assistir. Se não fosse por Witt muito provavelmente não estaria hoje participando destas visitas maravilhosas a novos escritores e entender como eles trabalham; suas manias, suas superstições. O trabalho de um jornalista é para alguns o divertimento, uma vida de badalações e ostentações, mas sempre esquecem que há muito trabalho para selecionar e compreender o que se pode e o que não se pode mostrar, o que faz a audiência subir e é supérfluo, e o que é essencial e ninguém se interessa. As entrelinhas são, em muitos casos, horas e mais horas de preparação, leituras, cursos e um sem fim de paciência, para às vezes meia hora de um papo fútil. Certa vez, um jornalista famoso disse que nossa profissão era separar o joio do trigo, mas ficar só com o joio... Mas Wiit não era jornalista. Era um dos que ninguém queria saber, e inúmeros poetas famosos o citavam como inspiração máxima. Era o Sergio Mendes no Brasil sem a carreira internacional. Mas um bom sujeito, de papo interessantíssimo, culto, refinado e mais que tudo: simples de coração.
Mas olhávamos aqueles dois sujeitos e praticamente não trocamos mais nenhuma palavra. Eu os observava na ânsia de entender o que se passava para chamar a atenção dessa forma de Witt. E ele os olhava, olhava e nada. Nenhuma palavra. Eu os via, olhava para a camisa listrada com a ostentação daquele crocodilo bordado que não deixava suspeita de se tratar de uma ostentação, podendo até mesmo ser uma falsificação, e nada via de interessante.
Reparo nesta hora a passagem de outro ilustre capixaba de nascimento, mas paulista de todo sempre, indo para o outro terminal com destino a cidade que moramos. O havia encontrado na rua outro dia. Cumprimentei-o naquele dia, mas parecia estar um tanto alterado pelo consumo de álcool. Agora estava mais sereno. Fitei-o sem a intenção de deixar de fazer a minha observação a aqueles dois homens para cumprimentá-lo. Certa feita, quando apertou minha mão pela primeira vez, achei que havia recebido fluxos mágicos de sua energia pulsante e que tudo, dali para frente, seria diferente. Nada... Tudo continuou igual, mas que sua imagem ainda permeia meus pensamentos permeia. Numa outra ocasião, este mesmo ilustre capixaba de nascimento, estava recebendo um dos maiores prêmios que um artista pode receber e estava feliz, falante, simpático, alegre. Foi muito bom vê-lo aquele dia. Noutra ocasião, que estava rodeado de “insufladores”, passei sem dar-lhe nem um aceno. Um livro sobre sua obra está entre os que mais tenho apreço, assim como também aprecio suas obras. Mas estava ele também naquele aeroporto, naquele mesmo dia.
Havia estado somente uma vez em Vitória, de passagem, para uma cidade muito conhecida por conta de seu filho mais ilustre. Mas Vitória está no meu coração. Assim como outros estados do Brasil, aquele foi um dos que sempre tive curiosidade.
Quando estudava na Europa, durante minha primeira pós-graduação, um rabino protestante budista me disse acham um absurdo um banco se chamar Espírito Santo. Mas, disse ele, que depois que descobriu que há um pueblo no Brasil com este nome, entendeu o nome do tal banco. Nem perdi meu tempo de explicar-lhe que era um estado e não um “povoado” e que o tal banco era europeu, português, e não brasileiro. Mas ficou na minha imaginação aquele estado da região sudeste que ainda não conhecia. Já havia ido uma porção de vezes para as Minas Gerais, e duas vezes para o Rio de Janeiro, mas não havia ido para o Espírito Santo, até surgir esta primeira oportunidade. Havia ido uma semana antes para o Rio de Janeiro, mais especificamente para Volta Redonda, e agora conseguia ir novamente para o Espírito Santo e mais que tudo, ficaria em Vitória mesmo. Certo que no mesmo dia, ao anoitecer, embarcaria para Belo Horizonte, mas só o fato de poder conhecer a capital do estado me deixou bastante contente. Como sempre, ao visitar uma capital, tento saber de seus museus e principalmente de suas bibliotecas. No Rio de Janeiro ainda não fui à Biblioteca Nacional, mas numa próxima oportunidade lá estarei, assim como numa certa livraria onde tudo acontece.
Mas os dois homens estavam eufóricos. Estavam conversando sobre o que serviriam no avião. Notei que a ansiedade dos dois estava na possibilidade deste vôo noturno oferecer bebidas alcoólicas. Notei então que Witt prestava atenção em como estavam em solo, para tentar entender ao máximo suas possíveis reações ao consumo de álcool durante o vôo. Notei então que o que interessava a Witt estava na possibilidade de perda do controle e a exaltação dos sentimentos, da selvageria talvez, que surgisse naqueles dois após o consumo de álcool nas alturas dos céus de Minas Gerais e do Espírito Santo. Pensei em como será ótimo estar longe de Witt dentro do avião. E mais que tudo, longe daqueles dois. Começava a me dar calafrios os três, os dois bêbados e o louco, fazendo uma arruaça no céu. Naquela altura, que tanto tenho receio. Fiquei feliz de poder sentar-me longe de Witt no vôo. Ele seria louco o suficiente de estimular aqueles dois a “realçar” suas sensações no céu. Witt era um louco, na verdade. Um inconseqüente. O que seria de mim e de outros passageiros, ou mesmo da tripulação, nessa quase macabra experiência sobre sensações? Achei melhor parar de pensar. Ainda passaria a noite toda em Belo Horizonte e muito provavelmente teria que estar bem para jantar com um editor local que me pegaria naquele aeroporto distante de tudo.
Enfim começaram a chamar os passageiros para o vôo. Os três comissários falavam intensamente entre si sobre a Copa do Mundo, sobre as seleções com maiores possibilidades de vencer. Nem sequer deram conta do lhe esperavam. Começaram a chegar passageiros sabe-se lá de onde e o avião começou a ficar lotado. Fui um dos primeiros a entrar e pedi aos pilotos se poderia entrar na cabine. Foi a primeira vez que me permitiram e explicaram todos os relógios e luzinhas para mim. Ao retornar ao assento o avião parecia bem lotado. Pensei em como seria agora ainda mais difícil para a tripulação controlar aqueles dois, depois do álcool. Quase falei aos pilotos o que estava por acontecer, mas não poderia precisar com total convicção que isso fosse algo realmente importante.
Já no meu assento, pensava agora na pista do aeroporto. Por que Wittgenstein me falou sobre a falta de espaço dessa pista? Estava agora praticamente agarrado ao banco, olhando pela pequena janelinha o avião taxiando. É chegada a hora e o avião sobe, sem nenhum problema, sem nenhuma trepidação. Pego o meu caríssimo Saramago que havia comprado na lojinha do aeroporto pouco antes de me encontrar com Wittgenstein e retomo o primeiro capítulo. Logo seria servido o serviço de bordo e então já imaginava que não teria condições de voltar a ler o Saramago neste vôo.
Bem, como nem tudo são flores, começo a ver a movimentação dos comissários. Para minha sorte, a única bebida mais “exótica” a ser servida era o novo guaraná com açaí... Nenhuma experiência nova ao professor Wittgenstein. Pude ler prazerosamente o Saramago até a descida em Confins.
Na sala de desembarque, enquanto tomava o rumo da saída, encontro com Wittgenstein novamente e ele pergunta com a cara espantada:
- Reparou naqueles dois?

outubro 10, 2010

17 anos depois...

Em 1993 assisti pela primeira vez o Bon Jovi ao vivo. Em 2006, quando morava nos Estados Unidos, era para ter visto pela segunda vez. Na minha adolescência o Bon Jovi não era a minha banda predileta. Para ser mais exato, até hoje não é uma das bandas que mais gosto. Mas talvez seja uma das únicas daqueles anos que ainda está em atividade com a mesma formação. O show de 1993 foi um show bastante interessante à época, não tenho enormes lembranças, mas foi o show da turnê Keep the Faith. Lembro bem mais das músicas do álbum Slippery When Wet e New Jersey. Diria que gosto mesmo destes dois álbuns. Era o show de reunião da banda e Jon Bon Jovi cantou uma música de seu álbum solo: Blaze of Glory. Este álbum solo foi o único álbum que comprei até hoje do Bon Jovi. Era ainda em vinil, no longínquo ano de 1991. Ainda hoje gosto muito das faixas Miracle e Santa Fe. É um álbum bem divertido e gosto de escutá-lo de vez em quando até hoje.

Agora, 17 anos depois, nesta semana, tive o prazer de ver novamente a banda tocando. Agora o palco não era o estádio do Pacaembu, como em 1993, e sim o estádio do Morumbi. Não fiquei até o final do show, em virtude do horário avançado para uma quarta-feira e do meu cansaço pessoal, já que tinha chego de uma viagem de trabalho no dia do show. Soube depois que o show se estendeu por pelo menos uma hora depois da minha saída, com mais de três horas de duração. Mas tudo bem... Já haviam tocado as música que queria ouvir de novo... Para mim estava mais do satisfeito. Foi realmente um show que atendeu aos anseios de todos ali presentes. Um show que contemplou muito da carreira da banda, tocando os sucessos do passado e as músicas que fizeram sucesso já na década dos anos 2000. A produção do show estava sensacional, com imagens impressionantes nos telões, inclusive até com a imagem projetada de Pelé e outras personalidades, durante uma canção. Os cinco elementos ainda sabem fazer 65 mil pessoas pularem...

Agora, que saudades de ver um show nos Estados Unidos... O brasileiro precisa entender que conforto não é nada de mais, e que o preço do ingresso deveria atender a isso. Eu tive que ver um show da escada e ter que empurrar as pessoas – diga-se suadas, sabe-se eu lá de que substâncias, pois tava uma temperatura de menos de 20ºC – para conseguir sair. Ou o brasileiro é realmente muito mal educado, ou a organização é muito ruim, ou as duas coisas... Sem contar que essa mania de ficar 100% do tempo de pé, na arquibancada, é algo um tanto quanto idiota... Num jogo de futebol, que são 90 minutos mais 15 de intervalo, todo mundo fica sentado durante a maior parte do jogo...

Pra frente Brasil...

Dilma pode ser a primeira mulher a ser eleita presidente do Brasil. Ninguém sabe quem vai ganhar a eleição, nem mesmo os institutos de pesquisa afirmam seus números com convicção. A prudência parece ter aparecido depois dos resultados “estranhos” do primeiro turno, onde as urnas mostraram resultados bem diferentes dos dados das pesquisas – aparecendo hipóteses das mais diversas para explicar o inexplicável. Agora trabalham na hipótese da campanha de Dilma ter alguma fadiga e que Serra estaria fortalecido. Mas uma unanimidade é que Marina Silva foi o fator decisivo para se ter o segundo turno. Discordo em parte desse pensamento, mas com certeza sua terceira via foi importante para o debate democrático, aquele que Dilma e o PT não queriam – eles queriam é um debate entre Fernando Henrique Cardoso e Lula, que não concorrem nesta eleição e é um debate ainda por ser escrito e discutido, mas não é cacife eleitoral de nada e de nenhum dos dois candidatos, explico mais para frente este fato.

Porém, como a eleição está indefinida, vale ressaltar que a campanha está ainda muito aquém de outras eleições passadas. Outro dia ao perguntar para um amigo sobre quais eram as reais propostas de Marina Silva houve aquele mesmo vazio de que quando se pergunta quais os pontos positivos do governo Lula: o total discurso cinzento, cheio de temas gerais e poucos números e poucas reais propostas concretas. Marina ainda consentia em fazer plebiscitos sobre vários temas, inclusive o tema da moda do início da campanha do segundo turno, a legalização do aborto. Não há muita discussão desse tema, primeiramente porque se hoje fosse feito o tal plebiscito muitas das máscaras cairiam por terra – e os petistas sabem do que eu estou a falar. E mais uma derrota para as esquerdas no geral não está na pauta. Sempre é bom lembrar: a legalização do aborto é uma temática de esquerda, da esquerda atual, que também defende o casamento homossexual, a liberação das drogas, a repressão religiosa (poderia usar outro termo, mas nada é mais preciso como “repressão”, que é o que a esquerda quer ao proibir o uso de símbolos religiosos, seja onde for) entre outras temáticas que são o completo oposto das “incríveis” idéias marxistas universalistas. Hoje a esquerda tem uma agenda bem pouco universalista e bastante contraditória. É, deve ser por conta da queda do muro de Berlim e da extinção da União Soviética que os planos universalistas, da sociedade perfeita, se transformaram em causas assim tão pequenas e numa agenda a ser seguida com viés antidemocrático e defendida quase na ilegalidade (na verdade, nenhum partido de esquerda no Brasil fala destas temáticas de forma clara, obviamente – se não iriam ter menos votos ainda... E político no Brasil pensa antes nos votos do que nos princípios).

Mas deixando de lado “a verdade sobre a esquerda”, que todo mundo sabe, vamos ao ponto que me chama a atenção: estão novamente tentando abrir o debate sobre as privatizações. Outro dia, no vôo de volta para São Paulo, um senhor me disse que o Serra é a favor da privatização da Petrobras. Não li isso em nenhum lugar e tenho a carta de intenções de Fernando Henrique Cardoso da eleição de 2006, onde falava claramente que as privatizações da Petrobras, da Caixa e do Banco do Brasil nunca estiveram nos planos de governo do PSDB. Haviam falado a mesma coisa sobre Geraldo Alckmin naquela ocasião. Serra já foi contundente ao dizer que se fosse ruim Lula teve oito anos para reverter. Se não o fez é porque deve ter tido algum detalhe que ele não quer contar para nós, talvez por ser extremamente positivo ao PSDB... Minha posição neste tema é bem diferente. Sim eu sou a favor da privatização e do Estado Mínimo. Mas o PSDB não é... Quase um problema votar no Serra por conta disso. Sem contar que a lei sobre o cigarro, que é também bem popular, nada mais é que uma arbitrariedade. Mas tirando estes detalhes que eu vejo como negativos e a grande maioria da sociedade brasileira vê com bons olhos, Serra vai indo muito bem em seus discursos para as pessoas civilizadas... Basta agora falar aos selvagens...

Em política, muitas vezes, o conceito maior, o que realmente conduz o debate político, tende a ser suprimido por uma avalanche de distorções, tanto de um lado como de outro. Enxergar estas qualidades intrínsecas leva além de muitos anos de democracia, muito mais discussão sobre a sociedade do que a campanha política é capaz de fazer. Hoje não se discute o que se quer para o Brasil. E não se discute isso desde o governo militar. O Plano Real, do governo Itamar Franco, idealizado e executado por Fernando Henrique Cardoso, levou o Brasil a um patamar mais avançado de discussões. O controle da inflação era situação primaria para que então se discutisse uma visão de Brasil. O Plano Real mostrou-se eficiente e conduziu a este debate, que além do PV – Partido Verde, não existe ainda sequer menção disso nos outros partidos. O DEM, antigo PFL, iniciou seu debate interno, mas ainda não tem sequer bandeiras assumidas e um plano de Brasil para defender. As universidades, os intelectuais e de forma geral o empresariado brasileiro, também não tem um plano, uma proposta. Parecem viver o dia-a-dia, na eminência de alguma luz. Uns fingem dizer que o Brasil se acertou no governo Lula, desprezando a etapa conseguida pelo Plano Real. E eis então que chego naquele momento de dizer o porquê nem Serra e nem Dilma são defensores de seus respectivos antecessores FHC e Lula: porque Lula é de certa forma o continuador da obra de FHC. Ou seja: desprezar que Lula é um governo de continuidade é o mesmo que dizer que tanto Dilma ou Serra farão mudanças estruturais... Não. Marina Silva estava correta: será a continuidade dos últimos dezesseis anos de governo - em todas as suas partes positivas e negativas. Não há planos, não há bandeiras, não há nada mais que melhorias e maquiagens, que politicagem e “gestão”, que negociações e tentativas de autoritarismos e a continuidade de um Brasil – país do futuro, que nunca chega...

Então qual seria a grande diferença entre Dilma e Serra? Como certa vez um professor nos alertou, fazendo uma alegoria musical, a diferença entre o PSDB e o PT não está partitura. A partitura é a mesma, mas o PSDB é um quarteto de cordas e o PT uma banda de pagode. São questões estéticas que os diferenciam, mas há duas macro-questões que me impedem de dizer que não haverá diferença na condução dos governantes.

A primeira diz respeito ao saber conviver com a democracia. Serra e o PSDB sabem receber críticas e nunca saíram pautando jornalistas ou desrespeitando a constituição em detrimento de suas vontades e nem estão ligados a movimentos internacionais e dirigentes de outros países que ferem direitos civis e humanos. Além disso, nos anos de FHC, as agências reguladoras, órgãos de defesa institucional, foram fortalecidas e de certa forma houve maior fortalecimento institucional geral, o que dá transparência ao governo e ordem com critérios técnicos. Já Dilma e o PT tem suas ligações com líderes da América Latina com enfoque um tanto quanto pitoresco. Ligações internacionais que custaram ao Brasil desgaste desnecessário ao andamento da política externa. Na política interna, desgaste nas mesmas agências reguladoras e nas questões institucionais, criando um novo movimento, o Lulismo. Hoje o Lulismo, que pauta jornalistas, que esmaga a oposição de forma antidemocrática, é muito maior do que o Petismo. O populismo do governo Lula escurece o debate de idéias e fomenta as decisões tomadas no pior tipo de politicagem possível, a dos interesses privados. Os discursos não são claros quanto às suas intenções e contraditórios, estruturados para cada público ouvinte. Lula já foi o rei do etanol, agora o príncipe do petróleo do pré-sal. Dilma não mostra quais são suas idéias, é mais em cima do muro do que os tucanos já foram um dia. Faz defesa do governo Lula sem sequer citar os inúmeros casos escandalosos que inundam o aparelhamento petista do Estado, como se isso não fosse de sua responsabilidade.

A segunda macro-questão se baseia na condução da política econômica e do aparelhamento estatal. Como já citei, no governo Lula, Estado e partido se confundem e há pouca transparência. Os gastos do governo aumentam de tal forma a preocupar os cientistas econômicos quanto ao controle da inflação. Uma crise eminente é alarmada por muitos economistas, mas, se a economia mundial permanecer como está, sem mais crises e sem maiores tropeços, o Brasil deve continuar a crescer pouco e se desenvolver conforme o ritmo atual, que não é lá grande coisa - principalmente se compararmos o crescimento de países como China e Índia. Não se pode dizer que com Serra na presidência as crises não virão. Aliás, muito pelo contrário, as crises não escolhem dirigentes. Mas o ajuste fiscal defendido pelo PSDB parece ser mais apropriado e cauteloso do que o aumento dos gastos público defendido por Dilma. Não se espera uma crise, mas se alguma atitude impopular não for tomada, tanto de Dilma como de Serra, tentando quebrar o tripé econômico hoje formado de altos juros, alta carga tributária e baixo investimento estatal, será o caos em alguns anos. Lula foi relapso a esta situação, herdada também de FHC. Nesse quesito Serra tem mais experiência administrativa e já era crítico destas medidas em 2002. Outra situação que para Dilma e o PT pode custar muito caro é o apoio do PMDB. Nas disputas de cargos e outras políticas, isso pode gerar dificuldades homéricas na realização de ajustes fiscais.

Em suma, para que arriscar a continuidade de governo com maiores riscos de descontrole a um novo que já demonstra saber onde há problemas e que pode ser mais eficiente? Sim, vamos com Serra, pra frente Brasil! Mesmo porque a oposição durante o governo FHC era muito mais aprimorada e as discussões muito mais interessantes... Não vejo a hora de começar a perturbar o governo Serra! O desastre que Dilma pode representar – que tem a mesma possibilidade de dar certo quanto se ganhar na loteria – é muito mais arriscado que apostar em um político que já era a mudança em 2002. Logicamente, a memória fraca do brasileiro não recorda que em 2002, se FHC fosse candidato, também teria ganhado a eleição... O terceiro mandato seria dado pelo povo brasileiro a FHC, que, como defensor da democracia, não avançou neste sentido – o qual Lula quis sim, só não foi à frente porque ainda há oposição. Serra já defendia muitas mudanças fiscais que faziam parte do programa de governo de Alckmin. Lembrem-se na hora de votar: em 2006 o PSDB não foi convincente em apresentar as deficiências de Lula e perdeu uma eleição com um escândalo muitas vezes maior que o que derrubou Collor. Agora, em 2010 há uma candidata que ninguém sabe ao certo quem é e o que pensa, nem muito menos o que vai fazer. Muito diferente de Lula que estava em sua quarta eleição, Dilma não representa nem sequer a maioria no PT, que agoniza sem nomes fortes para a sucessão nos estados e municípios - assim como praticamente todos os partidos no Brasil. Aliás, isso é uma constância no debate político atual.

Por fim, Dilma pode ser eleita a primeira mulher a ser presidente do Brasil. Isso não muda nada, não diz nada e nem sequer está na pauta além da campanha política que nada tem a dizer. A página em branco da capa de Veja na semana passada é realmente algo mais do importante para o Brasil; é o símbolo máximo dessa eleição, em que os candidatos nada dizem a não ser que vão continuar a fazer o que fazem ou faziam.... Nada novo, nada que faça realmente acender uma nova vela de esperança no debate político brasileiro. Cabe aos anos Lula a divisão do Brasil entre ricos e pobres, fomentando a divisão social que custa cada vez mais caro ao contribuinte brasileiro, fazendo com que o Brasil seja ainda um país em que o governo tenha que por a mão em tudo, fazer tudo, tirando do povo brasileiro sua capacidade de agir sozinho. Governos não geram riquezas. Governos não dão empregos. Quem faz isso é a iniciativa privada que é cada vez mais dificultada de se estabelecer por conta da ação da pesada carga tributária quanto da convulsão social desenfreada, como o aumento da violência. Tanto Dilma quanto Serra não vão mudar isso. Em suma, a partitura é sempre a mesma... Dá certa preguiça de publicar este tipo de texto... Defender a candidatura Serra é algo como fazer a barba e cortar o cabelo; a cabeça fica mais bonita, mas continua sendo a mesma...

outubro 01, 2010

Lançamento e a minha curiosidade...

Há pouco tempo houve uma série de livros de inúmeros autores lançados durante a FLIP – Feira Literária Internacional de Paraty. Porém, um lançamento, que ainda não sei ao certo como foi, me chama muito a atenção por pura curiosidade. Este é o livro do padre Sertillanges, A Vida Intelectual.

Tenho curiosidade por este livro há um bom tempo, porém, não havia uma edição em português nova. E nem antiga, na verdade. Achei um pdf há um bom tempo. Mas, como lia na coluna de Lya Luft, ainda não temos um modo de ler na tela da mesma forma como lemos nossos livros.

Esta edição já está na minha lista de compras. Não consigo falar mais sem ter lido o livro, mas a indicação foi tal que não me contenho em iniciar o mês de outubro falando sobre mais um livro. E, claro, falando mais de mim.

Tenho pensando em “o que falariam de mim” ao falar de mais um livro que deverá ser daqueles que só eu conheço ou quem mais conhece já leu e nada mais eu posso acrescentar. Na verdade isso não me importa, pois quem já leu este livro – e alguns outros que tratei aqui – me dá um apoio que me é mais do importante, principalmente pelo período em que passo atualmente, cheio de coisas e novidades, e nada consigo escrever aqui...

Este mês tenho a ambição de voltar a escrever – no blog - todos os dias. São mais de 700 postagens nestes mais de 3 anos de blog.

setembro 12, 2010

Sobre as coleções de livros...

Poucos meses atrás a Abril lançou uma série de clássicos da literatura, com ótimo acabamento, conforme comentei aqui. É, basicamente minha segunda coleção de livros. A primeira foi uma que ganhei do jornal O Estado de São Paulo, contendo 20 volumes. Acabo de ver que a Folha lançará, no próximo domingo, dia 19, a coleção Livros que mudaram o Mundo. É uma coleção interessante se não fosse por alguns volumes que lá estão simplesmente para preencher espaço. Os títulos da colação da Abril tratavam da literatura mundial trazendo clássicos a um preço realmente satisfatório. Alguns até bastante difíceis, pois já em edições esgotadas. Já da Folha alguns dos volumes são realmente desnecessários, ou melhor, estão na minha listinha de que um dia, se tiver tempo, não tiver outros livros na fila, nem nada mais importante, os leria. Alguns são interessantes, mas mesmo assim não recomendo o investimento, principalmente por não saber a qualidade da publicação. Sem contar que há edições condensadas e parece ser uma coleção burocrática demais. Vejam os títulos selecionados:

A Origem das Espécies - Darwin

O Príncipe e Escritos Políticos - Maquiavel

A Interpretação dos Sonhos - Freud

Riqueza das Nações (ed. condensada) – Adam Smith

Apologia de Sócrates, O Banquete e Fedro - Platão

Discurso sobre o Método e Princípios de Filosofia - Descartes

A Utopia – Thomas More

A Metafísica dos Costumes - Kant

Principia - Princípios Matemáticos de Filosofia Natural (livro III) – Isaac Newton

O Livro Vermelho – Mao Tse-Tung

A Política - Aristóteles

Confissões – Santo Agostinho

O Capital (ed. condensada) – Karl Marx

Do Contrato Social - Rousseau

Pensamentos - Pascal

A Democracia na América – Alexis de Tocqueville

Cândido ou O Otimista - Voltaire

Bíblia Sagrada

Alcorão Sagrado

Discursos que mudaram o Mundo

Já os 35 volumes da Abril (já que são edições completas, muitos dos títulos tem dois volumes):

Crime e castigo, V.1 - Fiódor Dostoiévski

Crime e castigo, V.2 - Fiódor Dostoievski

Madame Bovary - Gustave Flaubert

O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

A divina comédia – Inferno - Dante Alighieri

Os sofrimentos do jovem Werther - J. W. Goethe

O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha, V.1 - Miguel de Cervantes

O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha, V.2 Miguel de Cervantes

Hamlet, Rei Lear e MacBeth - William Shakespeare

Ilusões perdidas, V.1 - Honoré de Balzac

Ilusões perdidas, V.2 - Honoré de Balzac

Orgulho e preconceito - Jane Austen

O primo Basílio - Eça de Queirós

Moby Dick, V.1 - Herman Melville

Moby Dick, V.2 - Herman Melville

O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello

O homem que queria ser rei e outras histórias - Rudyard Kipling

Os lusíadas - Luís de Camões

A metamorfose - Franz Kafka

Outra volta do parafuso - Henry James

O assassinato e outras histórias - Antón Tchekhov

O morro dos ventos uivantes - Emily Brontë

Mensagem - Fernando Pessoa

Coração das trevas - Joseph Conrad

O vermelho e o negro - Stendhal

Cândido - Voltaire

Os Malavoglia - Giovanni Verga

Os sertões, V.1 - Euclides da Cunha

Os sertões, V.2 - Euclides da Cunha

Contos de amor, de loucura e de morte - Horacio Quiroga

Infância - Maksim Gorki

Grandes esperanças - Charles Dickens

No caminho de Swann - Marcel Proust

Odisséia – Homero

Toda coleção acaba por repetir alguns dos volumes, como se pode ver que Cândido, de Voltaire, aparece nas duas. Minha primeira coleção foi em 1997, como disse acima, presente do Estadão. Chamava Ler é Aprender e guardo esta coleção com muito carinho, mas tratava de clássicos da literatura brasileira e portuguesa. Seus títulos eram:

Espumas Flutuantes - Castro Alves

Dom Casmurro - Machado de Assis

O primo Basílio - Eça de Queirós

Contos novos - Mário de Andrade

Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

O noviço - Martins Pena

A relíquia - Eça de Queirós

Auto da barca do inferno - Gil Vicente

Amor de perdição - Camilo Castelo Branco

Fogo morto - José Lins do Rego

Quincas Borba - Machado de Assis

Senhora - José de Alencar

Memórias de um sargento de milícias - Manuel A. de Almeida

Poemas escolhidos - Fernando Pessoa

O ateneu - Raul Pompéia

O cortiço - Aluísio Azevedo

A moreninha - Joaquim M. de Macedo

Policarpo Quaresma - Lima Barreto

Poesia brasileira – coletânea

Brás, Bexiga e Barra Funda - A. Alcântara

Como se pode ver, houve a repetição de dois títulos, O Primo Basílio e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Dois clássicos que acabam por permear as discussões literárias, que não poderiam mesmo estar fora das duas coleções. Ao se pensar nas coleções, sempre haveria mais algum título a complementar.

Eu realmente gosto de coleções. Já tive outras coleções, mais não fui em frente. Acho que estas, que faço uso por realmente ter um grande apreço pela literatura, faz muito mais sentido.

Lia esta semana um artigo de Lya Luft, na revista Veja, que falava sobre o livro eletrônico. Falava sobre a discussão sem fim, de que o livro, impresso, vai acabar. No fundo concluía que por enquanto não deve acabar... Cois amais do que óbvia, bastava ver o tamanho das livrarias existentes. Se alguém lembrar, basta ver que os espaços para CD´s e discos de vinil nas lojas é muito menor do que era a coisa de 5 a 10 anos atrás - no caso do vil, coisa de 20 anos. A diferença dos livros, é que CD´s, LP´s, DVD´s e outros necessitam de aparelhos para serem reproduzidos, enquanto que os livros há alguns séculos permanecem um tanto quanto semelhantes... são produtos prontos... Se tira da estante e lê.

Guterman genial!

Poucas foram as vezes que publiquei aqui no blog um artigo completo, mas Marcos Guterman conseguiu, com poucos parágrafos, expor o que talvez demorasse algumas páginas e não sei se conseguiria com tanta precisão. Se eu tenho uma opinião claramente contrária ao rumo que seguem estas eleições – e ainda não tive tempo de escrever por aqui – Guterman pegou um dos mais importantes aspectos e que considero de suma importância na transição democrática entre partidos democraticamente representados. Se há algo de positivo nesta eleição, já foi também demonstrada pelos números e por discursos como da candidata verde Marina Silva e de Plínio de Arruda Sampaio.

Explico: Maria Silva faz um discurso trazendo a continuidade dos avanços dos últimos 16 anos e a mudança do que não concorda, o que faz com que seja a “terceira opção” e pela primeira vez o PV (Partido Verde), único partido com características internacionais existente no Brasil – o que me faz pensar que ainda há algo de normal no Brasil – consegue ter um candidato representativo. Não, não vou votar na Marina, mas isso não impede de falar que sua candidatura é algo positivo ao processo democrático. Sobre Plínio de Arruda Sampaio, os números da pesquisa de intenções de voto mostram que sua participação nos debates se dá por puro respeito à sua pessoa – sua biografia e sua idade – e não às suas idéias políticas, que a população nem sequer quer saber. Isso é positivo do ponto de vista que seu discurso acabou e não há mais espaço para aventuras políticas radicais. Por mais que Dilma pareça uma radical, por sua falta de postura ao responder perguntas – parece sempre estar nervosa e que todas as perguntas estão sendo feitas para atacá-la – sempre há Plínio para nos lembrar que tudo pode ser pior...

Que coisa, não falei de Serra... Bem, o que falar sobre um dos maiores fenômenos incompreendidos da política brasileira que se tem idéia? Como pode estar em situação tão lamentável um candidato que tem a biografia que tem? Foi um bom governador do Estado de São Paulo, afinal, seu índice de aprovação passa dos 50% de bom e ótimo. Tem o que se precisa para ser um chefe de Estado: postura ética, experiência administrativa, um grupo de apoio com pessoas de bom senso e bom nível técnico administrativo e, o mais importante, não é uma unanimidade. Isso significa que sabe conviver com o espírito democrático. Só isso já valeria todos os seus defeitos. Se sua campanha de TV fosse boa – o que não é – estaria se evidenciando a falta de qualidade dos seus oponentes. A campanha de Dilma não consegue falar do impossível – suas qualidades e do governo Lula (a não ser que minta, distorcendo os números) – então sobra destacar os defeitos dos opositores. Índio da Costa, vice de José Serra, foi a melhor presença desta eleição. Espero que consiga em alguns anos formar um grupo político que represente alguma novidade no cenário nacional. Assim como Sarah Palin foi o que houve de melhor na eleição de Obama, Índio da Costa se torna um nome forte para representar uma novidade para a política brasileira, que já apresenta, como Guterman escreve abaixo, um esvaziamento do discurso político. Só lembrando o que li na The Economist meses atrás: José Serra seria o melhor presidente que o Brasil pode não ter...

Por Marcos Gurterman

Médici, Lula e a tiriricarização da política

Em seu twitter, Alncelmo Gois, colunista de O Globo, fez uma observação muito pertinente: “Lula é um democrata. Médici era ditador. Mas o clima de Brasil grande e de desinteresse pela política é o mesmo nos dois governos”.

A comparação é inevitável. O que aproxima Lula e Médici é um projeto de unanimidade, fundamentado na ideia de que é preciso união nacional para atingir o objetivo de transformar o Brasil numa grande potência. O resultado disso tudo, tanto nos anos 70 como agora, é o esvaziamento do discurso político, de que a candidatura de Tiririca é apenas seu mais símbolo mais grotesco.

Pior: a oposição é vista como algo danoso ao país. Médici dizia que era necessário “mobilizar a vontade coletiva para a obra do desenvolvimento nacional” e que, embora a unanimidade fosse algo “incompatível com o regime democrático”, o ideal era “compreender que a pátria é uma só” quando estivessem em jogo “os supremos valores da liberdade, do desenvolvimento e da segurança”. Já Lula é mais prático: chama os opositores simplesmente de “turma do contra, que torce o nariz contra tudo o que o povo conquistou nos últimos anos”, como se esses recalcitrantes não fizessem outra coisa a não ser atrapalhar a marcha brasileira rumo a seu destino manifesto.

A invenção de Dilma não é senão a melhor expressão dessa arrogância: afinal, no melhor estilo populista, Lula concluiu que o mundo político tradicional (aí incluído seu próprio partido) não poderia produzir um sucessor à altura de suas qualidades messiânicas, razão pela qual decidiu gerar sua própria candidata. A apatia alimentada por Lula transformou uma completa desconhecida numa pessoa de qualidades tão excepcionais que 50% dos eleitores já decidiram votar nela. Ao inventar Dilma, o presidente dispensou a mediação da política para impor sua vontade pessoal, a partir da percepção de que essa vontade se confunde com os desejos da maioria dos brasileiros.

Nisso, Lula e Médici são muito mais próximos do que a biografia de ambos faz supor. Embora ditador, Médici tinha verdadeira obsessão pela legitimação popular de seus atos. Logo ao tomar posse, o general discursou: “Espero que cada brasileiro faça justiça aos meus sinceros propósitos de servi-lo e confesso lealmente que gostaria que o meu governo viesse, afinal, a receber o prêmio de popularidade”.

O próprio Lula reconheceu, em entrevista a Ronaldo Costa Couto em 1989, que o general seria eleito se houvesse voto direto para presidente, porque “a popularidade do Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande”. É fato: naquela época, exatamente como hoje, havia emprego e a sensação de que o Brasil alçava voo, o que era suficiente para justificar todo tipo de arbítrio.

Os paralelos, contudo, vão além. Naquela época, como hoje, havia delírios de grandeza em política externa. E, sobretudo, naquela época, como hoje, o presidente julgava que a popularidade era uma espécie de chancela automática para dizimar o contraditório e a própria essência da vida política, em nome do “interesse nacional”.

setembro 03, 2010

Esses meus projetos...

Faz já pouco mais de um mês que escrevi aqui pela última vez. Escrever pouco é muito ruim, pois parece que venho “desistindo” de escrever, o que não é nem de perto verdade. Venho escrevendo outras coisas, um pouco por trabalho e outro tanto por questões relacionadas a alguns projetos. Mas um dos projetos principais está parado. Outros dois estão engatinhando... E por fim, nem sobre os costumes gerais tenho tido tempo.

Gosto de falar de futebol, F1, filmes, músicas e até de arquitetura... Imagino que muita gente entra no blog a procura de questões relacionadas à arquitetura. Uma ânsia que eu mesmo já passei tempos atrás. Não era, à época, blog, mas sites sobre arquitetura. Além do Vitruvius, que teve recente remodelação – da qual eu detestei – e o Arcoweb, não há mais sites sobre arquitetura. O próprio site da Pini, que edita a revista AU, não é lá um site muito interessante. O site Casa.com.br, da revista Arquitetura & Construção, é outro difícil de encontrar as coisas. Acredito que falta ainda alguma coisa para os sites ficarem fáceis de encontrar as obras, os arquitetos, os fornecedores, os vídeos, as entrevistas e as crônicas. A coisa mais estranha é a parte sobre perguntas, recheada de questões feitas por estudantes. Na verdade, lembro que quando saí da faculdade fui um dos poucos que continuou assinando a AU. E também foi por pouco tempo. Tem horas que penso que estas revistas são feitas para breve informação e não com a idéia de ser um objeto de pesquisa, de “acervo científico” – como se trata na área médica as revistas especializadas.

Bem, não queria ficar discutindo o mercado editorial de arquitetura, mas uma coisa me parece óbvia: há uma carência de produtos editados para arquitetura. Muitos livros foram publicados nos últimos anos e há muito ainda por aparecer.

A respeito dos livros de arquitetura, os escritórios mais consolidados dos chamados “comerciais” acabaram lançando compêndios sobre suas obras. Muitos deles são muito interessantes e há muitas coleções de livros baratos, alguns comentando somente uma obra específica. Olhando com as lentes do passado, parece que há um avanço neste sentido. Mas eu ainda sinto falta da continuidade da coleção de livros do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, que se não me engano lançou quatro livros: Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Reidy e, o mais popular, João Filgueiras Lima - Lelé. O quinto volume, sobre Oscar Niemeyer, não saiu ainda... E por muito tempo o da Lina esteve esgotado (sem contar o preço, que daria um tópico a mais...).

Se for falar a respeito dos ensaios, no Brasil parece que há uma lacuna maior. Muitas teses são publicadas, mas nada de inovador, nada de polêmico. Acho que o ultimo livro polêmico que tive oportunidade de ler foi o de Sérgio Teperman, que não passa de uma coletânea de seus inúmeros textos. Falta algum livro recente de ensaios arquitetônicos e urbanísticos. Algo que também saia um pouco do culto à arquitetura moderna brasileira. Será que não se produz nada além do que se passa nos meios acadêmicos? Será que não há mais o que se falar sobre assunto tão vago?

Poderia dizer que faço certa injustiça. Acabo de lembrar do livro – o pequeno e denso livro – do arquiteto Jaime Lerner, Acupunturas Urbanas. Nunca li críticas sobre o tal livrinho. Parece ter passado despercebido. Mas se lançassem muitos livrinhos assim, o debate ficaria bem mais interessante. Isso é uma das poucas certezas que tenho. O fato é que imagino a vontade dos arquitetos de sempre lançar os grandes livros, ilustrados, com projetos completos, textos analíticos, etc. e caros. Tem horas que se deve popularizar o debate. Achei incrível quando lançaram em português o livro Nova York Delirante, de Rem Koolhaas. Só acho que demorou muito... E assim ainda temos muitos livros que não nos chegam em português... E depois me perguntam por que eu estudo outras duas línguas...

agosto 01, 2010

Lançamento do mês passado...

Certo tempo que não escrevo, nem para este blog e nem outras coisas. Cheguei a separar alguns textos no intuito de completá-los e de formar um texto mais coeso, ou melhor, juntar partes desconexas entre vários textos aqui publicados, mas não tive este tempo. Também iniciei um projeto maior que segue em frente, mas que em junho e julho não caminhou. As leituras continuam também num ritmo muito menor. É questão de momento, mas tenho a dizer que um lançamento literário entre muitos ocorridos nos últimos meses chama muito a atenção e merece destaque: Como ler livros, de Mortimer Adler e Charles Van Doren. A importância do lançamento desta nova edição pela É Realizações, após algumas décadas, está na no debate de novos métodos de “ensino”, além por ser o segundo título com o selo Educação Clássica. Tive contato e estudei com o método de Adler e com certeza é um dos mais completos para quem iniciou ou pretende iniciar um processo de estudos. Descobri este título há pouco tempo, em 2006, logo que se iniciou, em Curitiba, o programa Expedições pelo Mundo da Cultura. Este foi um dos primeiros livros do programa. Em teoria, o programa é baseado neste método. Além deste título a coleção Educação Clássica já publicou o título Trivium, em 2008, da Irmã Miriam Joseph, que é uma coletânea de aulas de um curso estruturado pela Irmã e incentivado por Adler. Não pude participar da palestra de lançamento de Como Ler Livros que muito provavelmente explicaria muito melhor do que eu, que sou mero estudante.

abril 11, 2010

As linhas tênues do entre e o então...

Leio o blog da Norma Braga. Não a conheço, nem sei direito o que faz. Sei que é evangélica e que escreve um pouco sobre isso. Já li seus textos sobre Beatles, mais especificamente sobre Paul McCartney, e outro dia estava lendo um texto que foi publicado numa revista. Falava sobre porque ela não é de esquerda. Bem, me parece óbvio e até achei a leitura repetitiva. Mas pensei em quantas pessoas não fazem idéia do que ela esta falando. Falar sobre os reinos de Deus e de Cesar e falar a respeito de quanto a ideologia de esquerda esta impregnada nas formas de pensamento atuais é de fato algo que só é entendido quando nos damos ao trabalho de entender. Sim, requer esforço.

Também não sou de esquerda. Sou um tipo meio conservador, meio liberal, mas que antes de tudo segue alguns princípios que são inegociáveis, tais como liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade, antes de tudo. Quando morei nos Estados Unidos entendi que a liberdade tem regras. E até hoje vivo um misto entre as regras para a liberdade e a impostura que temos no Brasil. Desde os tempos de faculdade via como alguns colegas tinham dificuldade em seguir regras. O curso de arquitetura é bem livre e infestado de idealismos e cada um deles tem regras, por mais incrível que possa parecer. E o pior de tudo é a total cegueira para se entender conceitos, diretrizes, o que chega a ser algo muito aborrecido. Para ser mais exato, não tenho lá muita paciência. Fico feliz por pessoas como a Norma Braga se dedicarem a explicar certos conceitos. Não sei nem se eu teria capacidade comunicativa para explicar o que me parece óbvio. Certa feita lembro de um texto do Reinaldo Azevedo, que falava algo mais ou menos no sentido de que só usando da lógica dá para desconstruir algumas “verdades”. Em suma, se algo lhe parece estranho, basta que some as partes, analise os fatos e tire alguma conclusão. Esse pequeno esforço chega a desmistificar várias questões que parecem complexas e chatas. Aliás, por ser chato, muita gente não enfrenta esse tipo de pensamento; se incomodam, mas não enfrentam.

Eu sempre passo por um fã do Fernando Henrique Cardoso toda vez que analiso alguma “mística” do governo Lula. Não entendo muito bem o fato, pois normalmente o ex-presidente nada tem a ver com o assunto. E quando digo que a política não me interessa, mas sim as ações dos governantes e, claro, seus conceitos utilizados para a tomada dessas decisões, me falam que eu só falo sobre política. Eu, como praticamente todo arquiteto, quando começo a escrever viro um misto de sociólogo e inconformado. O problema é que nos anos da juventude sempre se quer “mudar o mundo”. Se passa um tempo e simplesmente paramos de nadar contra a maré e passamos a ”integrar o sistema”. As críticas continuam, mas descobrimos que não se muda o mundo, só no máximo conseguimos melhorá-lo. E para esta melhora, as pequenas ações são mais importantes que as grandes. Por exemplo, ao separar o lixo reciclável, uma atitude fácil de fazer e oferece, partindo da pequena escala do indivíduo, uma melhoria muito grande no mundo, apresenta no Brasil certa resistência que não consigo entender. A lógica é simples: com o lixo separado se pode fazer um processo de reutilização que por sua vez polui muito menos. Olhando com a lógica capitalista, isso gera uma nova forma de empreendedorismo, um novo mercado, uma nova oportunidade a ser explorada, a da transformação de lixo novamente em matéria prima. Nada mais racional, nada mais óbvio. E porque há tanta resistência e tanta propaganda? E aí começam as pessoas de fé duvidosa a falar sobre “novos conceitos”, sobre “como fazer um novo mundo” e por aí vai. Mas no fundo há um aspecto econômico que faz desta pequena atitude politicamente correta um instrumento de engenharia social. Assim acaba por acontecer com um monte de outras coisas, criando novos mitos, novas místicas, que também não durariam a uma boa análise lógica.

Mas eu não vou falar aqui das atitudes politicamente corretas, mas do que faz as pessoas se entreterem muito mais com abstrações do que com ações reais. Ás vezes penso em como a realidade está à nossa frente e me falam algo que não faz sentido, baseado numa abstração qualquer.

Ando escrevendo um pouco de ficção. Gosto de escrever ficção. É um gosto que esteve adormecido por anos, que nem sabia que era capaz (não sei se sou bom, isso também não vem ao caso), mas que venho me dedicando, escrevendo, anotando e lendo. Lendo muito. Descobri que um escritor não pode não ter lido os clássicos. Dedico um tempo para esta minha “abstração”. Mas o conceito é justamente o mesmo que norteia a minha profissão: conhecer o que já se fez para poder trabalhar novos conceitos, superar novas exigências, sempre com muita criatividade. Nunca recebi um comentário negativo para os pequenos textos aqui postados. Mas ao falar da arquitetura já recebi de tudo. Descobri que escrever sobre Oscar Niemeyer dá ibope ao meu blog...

Fiz uma postagem em 2007 sobre uma profunda questão, que é o déficit habitacional brasileiro, onde criticava a saída de Niemeyer desta discussão (aqui), a partir dos anos 50 e 60, quando parou de projetar as mega-estruturas (não utilizo o conceito aqui, mas a idéia dos grandes complexos habitacionais, tais como o conjunto Pedregulho, de Reidy, e o Copan, alvo da tal postagem). Os comentários traziam questionamentos de outros conceitos, como sustentabilidade, críticas a pessoa do Niemeyer, críticas ao modernismo, porém, nenhuma questão focada no assunto que me preocupa: o déficit habitacional. Ok que o texto é prolixo. Eu sou meio prolixo, mas não há estudo nenhum a respeito desse desprendimento de Niemeyer sobre este tema. Em suma, fiz um questionamento inédito. E como é inédito, sempre tem alguém que pergunta de onde tirei isso. Oras, da minha cabeça. Se Artigas e Reidy trabalharam o tema, Paulo Mendes da Rocha e Lina Bo Bardi também, não consigo entender o porquê de Niemeyer não ser questionado. Me responderam que ele (Niemeyer) diz que pensar em conjunto habitacional é dividir as pessoas em classes sociais. Conforme escrevi acima, arquitetos quando escrevem viram sociólogos...

Mas, voltando às abstrações da realidade, o texto de Norma Braga, que abriu esta postagem, me alertou como temos que lutar o tempo todo para manter nossas liberdades. Até mesmo a liberdade de pensar em algo que até então ninguém pensou.

abril 02, 2010

Jovem demais para morrer...


Num dia nada especial, numa noite sombria, resolveu que não mais deveria pertencer a este mundo. Sua resolução era reflexiva; pensava nos amigos, na tia, cuja casa dividia, na ex-esposa e na musa inspiradora de suas plácidas obras de arte, que produzia de forma quase incessante. Os quadros revelavam a verdadeira veia do artista, principalmente ao trabalhar os tons de vermelho sob o fundo branco. Seus traços eram jovens; muito mais jovens que sua verdadeira idade. Assim como o senhor Gray, sua face parece não padecer das ações do tempo.

Havia escolhido a noite para realizar o feito; o mal feito. A noite para ele era um momento mágico e ao mesmo tempo algo terrível. Mágico, pois conseguia produzir sem parar, sem atender ao telefone, sem falar com as pessoas. E terrível justamente por não perguntar para as pessoas como está indo sua produção. Sua vontade em dividir o processo criativo o amargava demais durante a noite. Como não perguntar à tia e aos amigos se gostam das cores, dos traços e se estes estão próximos ao rosto e corpo da musa, cuja inspiração não parava. Mas já havia decidido: sua vida não fazia mais sentido. Pensou em tudo, atualizou sua agenda, resolveu pendências e deixou tudo em ordem para aqueles que herdariam seu patrimônio sem valor material. Tinha seu rico dinheiro, oriundo de um marchand amigo, que vendia seus quadros. Claro, somente os que não achava perfeitos. É talvez o único artista que só vendia o que não gostava em sua produção. Sua vida era uma propaganda enganosa ambulante.

Não achava que as artes plásticas eram importantes para além do próprio artista. Mas sua maior vontade era fazer com que seus desenhos vivessem para sempre. Sempre lembrava das memórias póstumas, escritos centenários de seu autor de cabeceira, principalmente de sua dedicatória primeira. Pensava em como a matéria é imperfeita e que a condição de não poder compartilhar do mesmo solo sagrado de outros tantos não o afligia. Pensava sempre em Nicolò, proibido pelo bispo de Nice de se deitar eternamente, por conta de sua exibição de virtuosismo, como se fosse possível virtuosismo sem sua exibição.

Uma luz se acendeu no terraço com piso de pedras recobertas de uma pequena camada de musgo. Pensava em que o escuro completo não iluminaria seu caminho por entre as barcas. O tempo foi passando e ele ali parado, roendo as unhas. Já ao final da noite, próximo ao nascer do sol, decidiu que deveria mudar tudo. Não poderia ir embora antes de sua musa. Virgilio talvez o acompanhasse nas primeiras barcas, mas a principal delas somente poderia ir com Beatriz. E, num discurso semelhante ao proferido por Scarlett O’Hara, manifestou seu desejo de se livrar de seus desenhos todos e buscar a felicidade numa nova fase. Uma fase em que se sentia novamente jovem, com seu fôlego igual ao de um atleta olímpico. E no pequeno rádio tocava uma velha música conhecida...

Let's dance in style, let's dance for a while
Heaven can wait we're only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?

Let us die young or let us live forever
We don't have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The music's for the sad men

Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the Sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men

Forever young, I want to be forever Young
Do you really want to live forever?
Forever, or never 

Forever young, I want to be forever Young
Do you really want to live forever?
Forever Young (...)


Forever Young - Alphaville (1984)

abril 01, 2010

Oh! Dúvida cruel...

Escrevi a pouco que a arquitetura dos japoneses do SANAA, ganhadores do prêmio Pritzker deste ano, parece ter uma influência de Mies van der Rohe. Mas acabo de pensar na obviedade de que Mies teve uma grande influencia da arquitetura tradicional japonesa. E agora? Oh! dúvida cruel! O óbvio é que tanto a tradição japonesa como sua leitura utilizada por Mies dão a resposta a esta produção. Isso parece óbvio demais... Acho que estou sem ritmo para escrever – e principalmente sobre a arquitetura.

Na verdade, eu não sou um profundo conhecedor da obra de Mies van der Rohe. Acho que passei tempo demais com Frank Lloyd Wright... ou Alvar Aalto. Na verdade esta arquitetura não me seduz tanto, mas, sou obrigado a dizer que a transparência e quase diluição do confinamento entre o interno e externo me faz ter várias idéias até hoje.

Tempos atrás soube que havia certa ligação entre a arquitetura de Fernando Távora e os escandinavos, tendo em Aalto uma das influências. Escrevi por aqui a respeito. Estas pequenas confluências arquitetônicas são mais do que normais e, acima de tudo, demonstram a liberdade expressiva da criatividade. Nestas horas não há dúvida alguma. A liberdade de se poder utilizar de conceitos para criar algo novo é simplesmente maravilhoso.

março 31, 2010

Pritzker Prize 2010

Acabo de saber dos ganhadores do prêmio Pritzker deste ano, os japoneses do SANAA, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, dos quais não conheço nenhuma obra. Para ser mais exato, nos últimos tempos ando muito ocidental e, com a distância da faculdade, onde adorava folhar as revistas japonesas, fui ficando cada vez mais distante do que se faz do outro lado do mundo.

Mas, para serem ganhadores do Pritzker, sua obra ou é de uma forma bastante singular, como a de Zumthor, vencedor do prêmio ano passado, Paulo Mendes da Rocha, ganhador de 2006, ou Glenn Murcutt, ganhador de 2002, ou é de conhecimento mundial, como a de Renzo Piano, ganhador de 1998, ou Jean Nouvel, ganhador de 2008 (lista aqui).

Ao olhar as fotos no site oficial do Pritzker, notei que a produção do SANAA é bastante recente. Lembrou-me referências de Mies van der Rohe. Bem, Mies é uma grande referência para qualquer arquiteto que trabalhe com a transparência dos vidros, por sinal muito bem trabalhado pelos arquitetos. Como sempre o Pritzker apresenta uma produção arquitetônica de qualidade única.

março 24, 2010

Este ano tem Copa do Mundo...

Este ano teremos eleições e Copa do Mundo. Será que vou me encher dos dois? Muito provavelmente. Já ando meio entediado com a política e sem muitas emoções nos esportes. Se não fossem os livros e a música, mais perenes que qualquer outra atividade intelectual, estaria eu no cotidiano assunto de botequim: futebol, política e televisão. Cinema já algo elitizado demais...

Mas Copas são sempre Copas. Há emoção sempre em “ganhar”. Afinal o tal do “Hexa” é realmente importante para “a nação brasileira”... Curtir é uma coisa; usar de politicagem mixuruca para dizer que a próxima Copa será no governo do Serra é outra. Opa, falei do Serra? Pois é... Para o Lula, ganhar o Hexa é mais importante que ganhar a Copa no Brasil; ou melhor, fazer com que a Copa e a Olimpíada aconteçam no Brasil.

Lendo outro dia uma coluna do Sergio Teperman na AU, ele comentava sobre a impossibilidade de se fazer uma Olimpíada no Brasil. Mas exatamente, ele falava da força que terá que arrumar a cidade do Rio de Janeiro. Pois, Olimpíada não é bem no Brasil, mas no Rio de Janeiro. A Copa não; serão construídos elefantes brancos em vários estados brasileiros... Bem, que venha a Copa. Os problemas também virão. E as vantagens? Sim, as vantagens de sediar um evento dessa magnitude! São tantas que até hoje o Rio de Janeiro não fez o balanço do Pan-americano de 2007...

março 23, 2010

Ainda me acostumando...

Não ando tendo tempo para apreciar as novas mudanças do site e do jornal impresso do Estadão. Ainda estou me acostumando. Acho que não gostei muito do novo desenho, mas com o tempo nós nos acostumamos, não é? Acho que as coisas duram muito pouco tempo hoje. Não faz tanto tempo que o mesmo site fora remodelado. Não entendo isso. Muda, muda e sempre tem gente insatisfeita... Quem me dera ser somente um insatisfeito... Mas pelo menos os links não mudaram. Detesto quando tenho que atualizar os meus favoritos... E os meus links dentro dos textos do blog. Bem, atualmente eu já me perdi todo por aqui. Nem sei o que está ou não atualizado. Só sei que sites que lia muito antes, depois das reformulações, simplesmente deixei de ler. Com o Estadão será difícil. Tenho o jornal como referência desde há muito tempo. Bem, que o Estadão continue trazendo boa informação cultural. É, tem que se levar em conta que somente leio o Caderno 2 e o caderno de Esportes... Se o jornal fosse vendido aos pedaços eu só compraria estes dois. (Mas tem a página 2 do Primeiro Caderno! Aquela que a cada duas semanas tem um artigo do Fernando Henrique Cardoso, aos domingos... é, pelo visto o jornal é como um garimpo: você vai descobrindo uma pepita aqui, outra ali; mas no geral é muita terra e areia...).

Expedições pelo Mundo da Cultura 2010

Estava escrevendo na outra postagem falando sobre a ansiedade de ler Moby Dick, justamente por ter sido o primeiro livro do curso Expedições pelo Mundo da Cultura deste ano. O primeiro encontro foi dia 13 de março, e por um monte de motivos não pude comparecer. Bem, estarei lá para o próximo encontro. Os outros nove encontros serão:

Prometeu Acorrentado, de Ésquilo;
Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, de Goethe;
Ilusões Perdidas, de Balzac;
O Mercador de Veneza, de Shakespeare;
Terra Desolada, de T. S. Elliot;
Eumênides, de Ésquilo;
Um inimigo do Povo, de Henrik Ibsen;
O Rinoceronte, de Ionesco; e
Tristão e Isolda, com inserção da ópera de Wagner.

Bons livros na banca...

A Editora Abril lançou uma série de livros contendo títulos clássicos de várias épocas, com uma capa luxuosa e boa impressão, além de boas traduções. O primeiro da série são os dois volumes de Crime e Castigo, de Dostoievski. Ao todo são trinta livros, contendo as maiores obras da literatura mundial. Alguns títulos são repetições de outras coleções, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Já estão nas bancas até o quarto volume, o já citado Memórias... Estes vão me acompanhar nos próximos anos, já que é muito difícil ler em uma semana alguns dos títulos. Estou ansioso por começar, e ainda não sei por qual. Já dei uma boa lida em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Mas estou mesmo esperando Mody Dick, de Herman Melville. Faltariam a esta coleção as outras duas partes da Divina Comédia, de Dante; Eça de Queiroz, com O Crime do Padre Amaro; Dom Casmurro, de Machado de Assis, e, claro, Ilíada, de Homero, pois está contemplada a Odisséia. Sempre faltará algum livro... Deve ser a maldição das listas, coleções, etc.

fevereiro 18, 2010

Encontrando algum caminho...

Já era de se esperar que neste quarto ano de blog (isto mesmo, iniciei em 2007 as postagens neste espaço) eu já tivesse um caminho arquitetado. Mas não. Ainda não tenho nada. O trabalho me impediu por vezes de levar a idéia de um mestrado mais a fundo e passei por inúmeras disciplinas na FAU-USP como aluno especial, sem nunca conseguir finalizar os projetos de pesquisa. Por um lado foi muito bom. Hoje meu projeto parece mais maduro e mais que tudo, tenho um monte de informações adicionais. E mais uma vez o trabalho toma mais tempo, me impedindo de expandir ainda mais minhas pretensões intelectuais. O lado bom, outra vez, é que a cada tempo tenho firmado mais idéias e descrito mais histórias e temas por aqui. O que me leva pensar a cada tempo em o que este blog ainda pode se tornar.

Não tenho pretensões exageradas e muitas vezes fico feliz de não ter “um milhão de leitores”. Já pensou, todos eles analisando as minhas contradições existenciais? E claro, sei que muita gente não entende e nem vai entender o que faz um arquiteto gostar de literatura, de música e escrever tão pouco sobre arquitetura. O mais importante é que a “área de formação” não é a dedução fácil da “condição humana”. Ter e fazer muitas coisas ao mesmo tempo é ótimo. Se as pessoas não entendem, problema delas... Uma hora as coisas se alinham e acaba por apresentar as qualidades intrínsecas dos muitos estudos que tenho feito. É logicamente um trabalho sem começo, meio ou fim, mas de uma forma sincera e fácil de perceber que se trata de um único tema: cultura. Cultura pop, cultura arquitetônica, cultura filosófica, cultura literária... Nada melhor do ler algo e colocar um pequeno registro. Dividir com quem me conhece ou me lê um pouco do meu dia-a-dia, das minhas aflições, dos meus credos. Este meu “jardim de aflições” é o resultado de muitos anos de estudo, e que representam só um começo, um início. Muito há de se estudar e de se conhecer...

Deveria eu entrar numa luta? Não sei... Até hoje fico a pensar que devo estar muito mais fortalecido para entrar num combate de “idéias”. Vejo muitas “idéias revolucionárias” circulando nas mentes das pessoas que me dão calafrios. Mas como entrar numa guerra sozinho? Cada vez que me lembro disso penso imediatamente no escritor (e médico) Moacyr Scliar e seu já clássico livro O Exército de um homem só. O ideal daquele homem (o personagem do livro), que dá calafrios em qualquer leitor, passa a ser o “grupo dominante” (ou seria grupo ruminante?). Pois bem, eu não entrarei em batalha alguma, mesmo tendo já uma boa base e uma bibliografia muito superior ao “inimigo”. Afinal este é um blog de cultura, como escrevi acima, e não mais um palco de batalhas ideológicas, principalmente quando estas idéias estão do “lado esquerdo da força”...

fevereiro 17, 2010

Passeando por algumas bandas dos anos 1970...

Quem viveu os anos 1990 lembra que havia muita celebração em torno de bandas dos anos 1970. E muita música boa foi produzida naquela década... Para ser exato vou falar aqui de algumas bandas que não são destaques, ou melhor, não são as bandas mais comentadas daqueles tempos. São bandas conhecidas, óbvio, nunca fui um “caçador de raridades”. Mas, as músicas que falo abaixo, acabei por conhecer sem querer.

Vou começar com o Nazareth. Não tenho grandes coisas a falar deles, mas que muitas de suas músicas até hoje me fazem “ouvir música de uma forma diferente” (citando Zeca Camargo de memória).

“(...) Mama, mama, please no more jaguars
I don't want to be a pop star
Mama, mama, please no more deckhands
I don't wanna be a sailor man
Mama, mama, please no more facelifts
I just don't know which one you is
Mama, mama, please no more husbands
(I don't know who my daddy is)


It's a holiday, it's a holiday”

Holiday – Nazareth (1980)

Na verdade, começo com uma faixa de 1980, do álbum Malice in Wonderland, mas é incrível como soa igual ao Nazareth dos anos 1970. Esta música não fazia parte do “vinil” (isso, no começo dos anos 1990 ainda havia muitas lojas de vinil usado) Greatest Hits, o primeiro registro que ouvi do Nazareth. Era um disco comum nas lojas e acabei por emprestar de um amigo, gravando numa fita K7 o álbum todo.

Existia um precedente, que já comentei aqui, de uma fita K7 com a música Hair of the Dog. Mas o primeiro registro mesmo foi aquele vinil. Com as músicas (baladas) Love Hurts e Sunshine, ao lado de Hair of the Dog, o disco era muito bom. Nunca li e nem ouvi ninguém falando que Nazareth é a banda preferida, ou algo parecido, mas é uma banda competente e que tem muita música boa em muitos discos... Poderia dizer que é um tanto irregular sua produção musical. Talvez seja este o motivo da banda nunca ter sido colocada entre as grandes bandas dos anos 1970.

O Bachman-Turner Overdrive foi também daquelas bandas que quem viveu os anos 1970 conhecia bem, mas nos anos 1990 pouca gente falava a respeito. Hey You! era a música mais conhecida, por sinal também estava naquela fita K7, ao lado de Hair of the Dog. Mas a música que quero registrar aqui é Rock is my life, and this is my song, do álbum Not Fragile, de 1974.

“(...) When we come into a new town
Everybody's there
When we play our music
Hand are in the air
When the musics over
You wonder where we are
I'm standing in the silence
With my old guitar (...)”

Rock is my life, and this is my song – Bachman- Turner Overdrive (1974)

Com esta música que minha falta de percepção em entender o que é uma música lenta começou... Para mim, era esta uma música lenta...

Não é este um texto com profunda vocação ao passeio pelos anos 1970, mas é sim um texto sobre como desenvolvi um gosto musical praticamente isolado dos padrões daqueles anos 1990. Uma tentativa por palavras para descrever um tipo de música que nunca li ou soube que alguém mais gosta, além de mim. Não deixo de gostar de outras tantas bandas, como já falei neste espaço. Nem por isso deixo de expressar que há muita música de boa qualidade no mundo, que em momentos passa como “desconhecida”.

fevereiro 11, 2010

Deutscher ist meine Sprache!

Na verdade nem sei se a frase acima está certa, gramaticamente. Até agora tive duas aulas de alemão e uma de francês e inglês. Mas estou gostando muito das aulas de alemão. Não sei dizer, mas me parece tão familiar... Acho que sou um alemão...

A cultura alemã, aquela que pouca gente conhece, me fascina um bocado. Mais ainda em saber que um de meus bisavôs veio daquelas “terras médias”. Gosto de cerveja. Gosto de vinho (branco). Gosto de salsichas e de um monte de coisas alemãs deliciosas, cuja lista seria realmente grande. Muitos autores alemães me interessam muito. Mas (sempre tem um “mas”), há sempre um idiota para falar de Hitler, sem lembrar que ele era austríaco.

No livro de Eric Voegelin - Hitler e os Alemães - há uma grande exposição de idéias que mostram que o povo alemão e Hitler nada tem a ver. E Voegelin era austríaco, o que, no fundo, também não tem nada a ver. Não é um livro que conheço profundamente para poder falar mais sobre ele. Está na minha lista de estudos... e vai demorar para lê-lo (é a vida).

A Alemanha que eu admiro é a Alemanha moderna, pós-Muro de Berlin, unificada. Como sempre me falam que “há coisas horríveis lá”, eu também sei que há “coisas horríveis” em qualquer lugar do mundo. Entre olhar do copo com água pela metade, eu prefiro dizer que está metade cheio a metade vazio.

Bem, o que importa é apreender os princípios de novos idiomas. E vou eu escrevendo mais sobre quase nada...

janeiro 30, 2010

Mais Ramones...

Estava outro dia fazendo uma visita a um escritório de arquitetura. O local mais parecia uma caverna. Uma escadinha e estava numa das antigas sobrelojas, onde é o tal escritório. Sem contato visual com o exterior e num ambiente definitivamente desligado do contexto tropical brasileiro, estava na tal sala de espera escura daquele escritório. Não sei dizer, mas a luz hoje me anima mais que as trevas de outrora. E havia um som ambiente. Nas caixas rolava a tal Mitsubishi FM. A minha sorte foi estar na sala de espera e estar a tocar nas caixas um bom e velho Ramones. Falei tempos atrás sobre Ramones aqui. E continuo a dizer que eles fazem parte da minha vida. Ao lado de outras bandas como o Kiss, Ramones também teve sua fase na minha vida. E vejam só, ainda hoje quando escuto lembro daqueles momentos.

O mais engraçado é que em nenhum momento tento dar “valor erudito” aos Ramones. O importante é curtir e falar que gosto mesmo e era bem punk rock mesmo. Nada de “valores intrínsecos”, “expressão artística” e outras delinqüências intelectuais. Não. Ramones é Ramones. E curtir na sala de espera foi uma alegria ímpar.

Imagino eu, se um dia fosse entrevistador de RH, questionando um candidato: “Ei, qual sua opinião sobre Ramones? Sabe, nos temos uma filosofia empresarial bastante arrojada... “

The blog is back

Yes, D. Fernando is back.

Sim, estou de volta. Por que com este início em inglês? Oras, porque iniciei um projeto de longo prazo, que estava há tempos adormecido. Bem, a idéia básica é um novo começo. Mas esse novo começo está ligado a uma parte de um processo ainda maior. Está complicado de entender? Deve estar mesmo...

Vamos aos fatos: agora novamente sou estudante universitário. Com o apoio indireto do Governo do Estado de São Paulo, volto a cursar uma nova faculdade. Fazia 14 anos que não prestava um vestibular. Não estudei nada em especial. Fui ajudado por uma manobra das tais “ações afirmativas” - o que tenho a dizer é que mesmo sem elas passaria no vestibular, com o número de acertos. Mas é sempre bom ser 14º colocado. Bem, as aulas iniciam no dia 1º de fevereiro e agora tenho como estudar alemão, francês e inglês de forma sistemática a um custo bem interessante.

E para que estudar três línguas, das quais tenho algum mísero conhecimento das duas primeiras? Oras, para construir uma carreira num espaço bastante específico da pesquisa científica. Um fato sempre está ligado a outro. Se tivesse sido aluno da graduação da USP teria conseguido há muito tempo este objetivo. Como não estudei na USP... Quebrei a cabeça por anos para conseguir saber onde poderia melhorar meus conhecimentos da língua inglesa e conseguir estudar outras línguas sem um custo astronômico ou cair naqueles cursos de “conversação”. O objetivo é simples, mas antes tenho que contar uma breve história.

Fiz várias disciplinas do mestrado / doutorado na FAU-USP, desde 2004. Tenho elaborado um plano de pesquisa que trata de estudar qual a visão que o leigo (aqui entendido como o não arquiteto) tem da arquitetura realizada no Brasil, através do estudo de algumas residências unifamiliares publicadas numa determinada revista - especializada em apresentar projetos de arquitetura e construções. Durante estas disciplinas tive, obviamente, contato com vários textos de vários autores – muitos deles que nada tem a ver com o meu projeto de pesquisa, porém, textos incríveis! E, claro, muitos deles em língua estrangeira. Só tenho a elogiar os professores da USP por seus conhecimentos em línguas estrangeiras. Isso pode parecer “colonialismo” da minha parte – explicando: muitas pessoas acham que ler em outras línguas é ainda um “espírito” da “colônia”; daqueles tempos em que os pais enviavam os filhos para Europa para estudarem, porque aqui pela “colônia” não havia boas escolas. Mas não é. E é um projeto é grande envergadura – se o foco lhe for dado sob os princípios do desenvolvimento nacional. Nem sei por que ainda perco tempo explicando este tipo de coisa... E, voltando aos textos, descobri algumas coisas absurdas. Inicio por um breve livro de teoria da arquitetura, escrito em 1961, chamado The Death and Life of Great American Cities, que na tradução nacional perdeu o “american” e passou a chamar Morte e Vida de Grandes Cidades, da jornalista Jane Jacobs. Bem, a tal tradução nacional, aportou aqui em 2000. O que são 39 anos para se traduzir uma obra que teve impacto profundo nos Estados Unidos? Bem, ainda não cheguei lá. Em 2004, a editora Cosac & Naify, lançou em português o livro Precisões Sobre um Estado Presente Da Arquitetura e Do Urbanismo, escrito por Le Corbusier em 1930. Bem, durante duas aulas na USP teríamos que estudar dois textos: um de Le Corbusier e outro de Frank Lloyd Wright. O tal texto de Wright tinha uma tradução para o espanhol, dos anos 1960, argentina. É isso mesmo, na Argentina o livro já havia sido publicado há mais de 40 anos e no Brasil, nada... Nada e nem previsão para publicação. Segundo editores brasileiros parece que não vende bem...

Para este “atraso” nas publicações, o estudante sério brasileiro estuda línguas estrangeiras. Para ler na língua original estas obras. Sou um pouco mais pretensioso. Pretendo mesmo é traduzir algumas dessa obras e buscar a publicação em língua portuguesa. Bem por isso um curso de “conversação” não acrescenta nada e busquei uma faculdade; uma nova carreira praticamente. E paralelamente, continuo meus estudos para o projeto de pesquisa. Em suma, enquanto leio um monte de coisas, tive que desaparecer do blog.

Falei a pouco com um amigo e ele me disse: vai ressurgir das cinzas? Não diria que voltar a escrever um pouco no blog seja ressurgir, mas é sempre legal falar um pouco mais do cotidiano e de coisas que não aparecem na superfície. E para isso que fiz este blog, para arquitetar caminhos!

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...