Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz (...)”
Balada do Louco – Mutantes (1972)
Nunca prestei muita atenção nos Mutantes. Eu já vi seus discos em listas internacionais como algo extremamente inovador da década de 1970. E deve ser mesmo, pois, como a música da introdução, é uma banda boa de ouvir. Sei lá eu se há inovações absurdas no disco. Não gosto de relativismos de uma época que não vivi. Sempre há dois discursos: o de hoje e o da época. Lembro do Raul Seixas, inclusive de uma de suas músicas numa novela da TV Globo. Logo vê-lo como alguém distante da “indústria” fonográfica é uma tolice. Ele é produto e até hoje. E as pessoas que defendem algo contrário, acredito eu, estão equivocadas. Ele era um independente, mas é produto. Não é nenhum “pensador filosófico”, “guru” ou coisas do gênero. E os Mutantes? Normalmente, quem gostava da banda à época, segundo depoimentos (e todos são muito semelhantes, diferente dos a respeito de Raul Seixas), o som deles era moderno, algo que nunca haviam escutado. Era alucinante, em uma única palavra. E a influência de música internacional era grande (a influência das pessoas, não da banda). Então, acho eu, que a banda é interessante e mereceu o destaque que tem até hoje. Essa coisa de mito que não se justifica pela sua própria música...
Numa palestra, Arnaldo Jabor falou a respeito das Megastores e da qualidade dos produtos. Disse, não exatamente dessa forma, de que nem tudo que está na mesma prateleira tem o mesmo valor. É importante saber qual o valor dado para certas manifestações artísticas. A música mais que outras traz isoladamente revelações interessantes para músicos e público de formas diferentes. Eric Clapton disse ter tido influência de Jimi Hendrix; os Beatles também. Para o público, não sei dizer, talvez a influência dos Beatles seja maior, muito maior, que a influência de Hendrix para a guitarra, de modo geral. Difícil demais escrever sobre isso. É claramente aquele momento de reflexão que não consigo explorar ao máximo. E pensar que tudo isso começou ao fazer uma lista de dez filmes que mais gostei de ter visto.
Essa lista seria a postagem, mas não consegui concluir. Diga-se de passagem, lia um amigo, escritor, a respeito de textos de gaveta. No passado, antes dos blogs, os textos ficavam numa gaveta, num caderno, lidos por um pequeníssimo grupo, normalmente simpatizantes, amigos e familiares. Se pérolas ou não dificilmente se saberia a não ser que o autor acreditasse muito no potencial daqueles textos. Nisso uma infinidade de livros nunca foram publicados, filmes nunca foram rodados e musicas nunca foram executadas. Com as inovações tecnológicas muitas coisas nesse sentido ficam disponíveis, como esse rascunho de texto. E disponível para qualquer pessoa. Para qualquer um criticar, achar ruim, e, o melhor de tudo, dar luz a soluções. Mas muita coisa fica ainda na gaveta, como a lista dos filmes.
E logicamente a listinha vai ficar lá até que eu tenha a segurança de saber quanto a lista é mais ligada às indicações que tive ou às sensações que tenho a respeito. Por não ser um apaixonado por cinema meu repertório no assunto não é grande e tenho interesse por críticas bem feitas. Os filmes vagam a respeito de momentos, de ingenuidade. Um dos filmes que poderia falar a respeito é Lost Boys. Um filme sobre vampiros, poderia afirmar. Um tema que não tenho nenhum conhecimento maior, mas me disperta curiosidade. E nesse tema lembrei-me também de Entrevista com Vampiro. Outro filme que gostei, mas nunca estaria nessa minha lista. Para mim não tem a mesma importância que Lost Boys, mesmo sendo, em teoria, melhor filmado, melhor produzido. São momentos diferentes, filmes diferentes.
Enquanto não tiver a certeza de detalhes eu não consigo analisar o tema. Já tentei simplesmente montar a lista sem justificar as escolhas, e aí que mora outro perigo, o de ser julgado por uma escolha sem maiores justificativas. E isso tudo tem uma história, uma fase até romântica da minha vida. Por sinal, mais interessante a escrever.
Por cerca de quatro anos desisti de assistir qualquer filme de lançamento. Melhor dizendo, de ir ao cinema. Nunca gostei da sala de cinema. E essa foi uma revolta contra o gênero. Era mais ou menos como dizer que não vou escutar música por um ano. Uma revolta produtiva para aquele momento, hoje avalio. Era uma febre por vídeo locadoras. Nunca vi fenômeno tão burocrático. Como a TV a cabo engatinhava no Brasil, os filmes eram coisas quase “inacessíveis”. Basta ler em algumas postagens de Zeca Camargo a respeito de uma série chamada Twin Peaks. Ele afirmava que se pedia quando alguém ia ao exterior para trazer episódios inéditos da série em VHS. Era uma espécie de pequeno tesouro.
O vídeo era então uma forma de “modismo”. Isso se mantém (ou se manteve) em termos até hoje. Assistir a todas as indicações do Oscar é ainda hábito (saudável) para muitos amigos. Mas a febre é bem menor. Alguns hoje tentam me convencer a assistir peças de teatro modernas. Eu só vou assistir a certos clássicos do gênero. Estou para ver Antígona de Sófocles. Por sinal é comum encenarem peças do teatro grego nos cursos de teatro. Há cerca de dois anos fui à Praça Roosevelt assistir De Profundis, de Oscar Wilde.
Saindo de Oscar Wilde e voltando aos Mutantes, o interessante é como a literatura clássica permeia quase todas as manifestações artísticas. No caso dos Mutantes, um de seus discos chama A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, sem contar as inúmeras citações nas letras das músicas. O fato de se desconhecer os clássicos faz tudo ter o mesmo valor. Quando tento entender por que a literatura me chama mais a atenção do que o cinema, dos que as séries de televisão, das artes plásticas, eu somente tenho a dizer que ela me acompanha desde sempre, enquanto que a todo o resto eu já tive manifestações de amor e ódio mais intensas. A literatura para mim sempre foi o equilíbrio e a melhor das introspecções. Nunca pensei em ser cineasta, mas escritor é algo que tenho quase que por ambição, por estilo de vida. Um dos filmes que tenho dúvida a colocar na lista é Encontrando Forrester, justamente por se tratar de um escritor, de um estilo de vida, de dúvidas existenciais muito além da literatura. Um filme que até hoje quando pego na sessão Corujão me mantém acordado, além da minha insônia. Bem, o importante é “ser feliz, mas louco é quem me diz e não é feliz”.
Balada do Louco – Mutantes (1972)
Nunca prestei muita atenção nos Mutantes. Eu já vi seus discos em listas internacionais como algo extremamente inovador da década de 1970. E deve ser mesmo, pois, como a música da introdução, é uma banda boa de ouvir. Sei lá eu se há inovações absurdas no disco. Não gosto de relativismos de uma época que não vivi. Sempre há dois discursos: o de hoje e o da época. Lembro do Raul Seixas, inclusive de uma de suas músicas numa novela da TV Globo. Logo vê-lo como alguém distante da “indústria” fonográfica é uma tolice. Ele é produto e até hoje. E as pessoas que defendem algo contrário, acredito eu, estão equivocadas. Ele era um independente, mas é produto. Não é nenhum “pensador filosófico”, “guru” ou coisas do gênero. E os Mutantes? Normalmente, quem gostava da banda à época, segundo depoimentos (e todos são muito semelhantes, diferente dos a respeito de Raul Seixas), o som deles era moderno, algo que nunca haviam escutado. Era alucinante, em uma única palavra. E a influência de música internacional era grande (a influência das pessoas, não da banda). Então, acho eu, que a banda é interessante e mereceu o destaque que tem até hoje. Essa coisa de mito que não se justifica pela sua própria música...
Numa palestra, Arnaldo Jabor falou a respeito das Megastores e da qualidade dos produtos. Disse, não exatamente dessa forma, de que nem tudo que está na mesma prateleira tem o mesmo valor. É importante saber qual o valor dado para certas manifestações artísticas. A música mais que outras traz isoladamente revelações interessantes para músicos e público de formas diferentes. Eric Clapton disse ter tido influência de Jimi Hendrix; os Beatles também. Para o público, não sei dizer, talvez a influência dos Beatles seja maior, muito maior, que a influência de Hendrix para a guitarra, de modo geral. Difícil demais escrever sobre isso. É claramente aquele momento de reflexão que não consigo explorar ao máximo. E pensar que tudo isso começou ao fazer uma lista de dez filmes que mais gostei de ter visto.
Essa lista seria a postagem, mas não consegui concluir. Diga-se de passagem, lia um amigo, escritor, a respeito de textos de gaveta. No passado, antes dos blogs, os textos ficavam numa gaveta, num caderno, lidos por um pequeníssimo grupo, normalmente simpatizantes, amigos e familiares. Se pérolas ou não dificilmente se saberia a não ser que o autor acreditasse muito no potencial daqueles textos. Nisso uma infinidade de livros nunca foram publicados, filmes nunca foram rodados e musicas nunca foram executadas. Com as inovações tecnológicas muitas coisas nesse sentido ficam disponíveis, como esse rascunho de texto. E disponível para qualquer pessoa. Para qualquer um criticar, achar ruim, e, o melhor de tudo, dar luz a soluções. Mas muita coisa fica ainda na gaveta, como a lista dos filmes.
E logicamente a listinha vai ficar lá até que eu tenha a segurança de saber quanto a lista é mais ligada às indicações que tive ou às sensações que tenho a respeito. Por não ser um apaixonado por cinema meu repertório no assunto não é grande e tenho interesse por críticas bem feitas. Os filmes vagam a respeito de momentos, de ingenuidade. Um dos filmes que poderia falar a respeito é Lost Boys. Um filme sobre vampiros, poderia afirmar. Um tema que não tenho nenhum conhecimento maior, mas me disperta curiosidade. E nesse tema lembrei-me também de Entrevista com Vampiro. Outro filme que gostei, mas nunca estaria nessa minha lista. Para mim não tem a mesma importância que Lost Boys, mesmo sendo, em teoria, melhor filmado, melhor produzido. São momentos diferentes, filmes diferentes.
Enquanto não tiver a certeza de detalhes eu não consigo analisar o tema. Já tentei simplesmente montar a lista sem justificar as escolhas, e aí que mora outro perigo, o de ser julgado por uma escolha sem maiores justificativas. E isso tudo tem uma história, uma fase até romântica da minha vida. Por sinal, mais interessante a escrever.
Por cerca de quatro anos desisti de assistir qualquer filme de lançamento. Melhor dizendo, de ir ao cinema. Nunca gostei da sala de cinema. E essa foi uma revolta contra o gênero. Era mais ou menos como dizer que não vou escutar música por um ano. Uma revolta produtiva para aquele momento, hoje avalio. Era uma febre por vídeo locadoras. Nunca vi fenômeno tão burocrático. Como a TV a cabo engatinhava no Brasil, os filmes eram coisas quase “inacessíveis”. Basta ler em algumas postagens de Zeca Camargo a respeito de uma série chamada Twin Peaks. Ele afirmava que se pedia quando alguém ia ao exterior para trazer episódios inéditos da série em VHS. Era uma espécie de pequeno tesouro.
O vídeo era então uma forma de “modismo”. Isso se mantém (ou se manteve) em termos até hoje. Assistir a todas as indicações do Oscar é ainda hábito (saudável) para muitos amigos. Mas a febre é bem menor. Alguns hoje tentam me convencer a assistir peças de teatro modernas. Eu só vou assistir a certos clássicos do gênero. Estou para ver Antígona de Sófocles. Por sinal é comum encenarem peças do teatro grego nos cursos de teatro. Há cerca de dois anos fui à Praça Roosevelt assistir De Profundis, de Oscar Wilde.
Saindo de Oscar Wilde e voltando aos Mutantes, o interessante é como a literatura clássica permeia quase todas as manifestações artísticas. No caso dos Mutantes, um de seus discos chama A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, sem contar as inúmeras citações nas letras das músicas. O fato de se desconhecer os clássicos faz tudo ter o mesmo valor. Quando tento entender por que a literatura me chama mais a atenção do que o cinema, dos que as séries de televisão, das artes plásticas, eu somente tenho a dizer que ela me acompanha desde sempre, enquanto que a todo o resto eu já tive manifestações de amor e ódio mais intensas. A literatura para mim sempre foi o equilíbrio e a melhor das introspecções. Nunca pensei em ser cineasta, mas escritor é algo que tenho quase que por ambição, por estilo de vida. Um dos filmes que tenho dúvida a colocar na lista é Encontrando Forrester, justamente por se tratar de um escritor, de um estilo de vida, de dúvidas existenciais muito além da literatura. Um filme que até hoje quando pego na sessão Corujão me mantém acordado, além da minha insônia. Bem, o importante é “ser feliz, mas louco é quem me diz e não é feliz”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário