Estive lendo um fórum de arquitetos onde aconteceu, é inevitável, a pergunta de qual é seu arquiteto preferido. Bem, uma enorme quantidade de nomes foi citada, normalmente invocando sua genialidade e relacionado com o tempo em que viveram alguns dos arquitetos, tais como Gaudi e Louis Kahn. O que me incomoda nessas preferências nem está no fato das obras construídas, pois eu mesmo já havia feito uma pequena lista aqui de arquitetos que muito me agradam as obras e uma breve justificativa.
Mas o que mais me preocupa, isso didaticamente, se é que alguém tinha dúvidas que meu objetivo é a carreira docente, é quais arquitetos apresentam caminhos para o futuro. Isso tem muito de adivinhação, mas o que é fato não se pode mais discordar. Não sou adepto da atual “corrente do urbanismo sustentável”. Primeiro por ver que muita coisa hoje é modismo e a pesquisa costuma ser meio truncada em alguns pontos polêmicos, politicamente falando.
Estou numa fase de pesquisar alguns arquitetos, dos quais não conheço muito as obras. Entre eles estariam Peter Zumthor e Nicholas Grimshaw. É um tanto quanto complexo entender que a obra de Artigas, que muito estudei, não seja hoje, em termos de utilização de materiais, algo que pode servir de exemplo. Primeiramente que compor uma obra em concreto armado aparente, com a tal liberação de CO2, oriunda da confecção química do concreto, e as formas em madeira são dois processos longe de serem ecológicos para nossos dias. Outra questão estaria relacionada à industrialização das técnicas de construção. Não há mais condições de ter operários em condições adversas nas obras. Assim como hoje não se pode deixar de pensar em uso inteligente da ventilação e iluminação naturais. Sem contar também sobre acesso universal das construções.
Se estes são os tais fatores do “urbanismo sustentável” eu até entenderia sua divulgação. Mas não; muito do que se chama de ecológico hoje não passa de enganação; uma propaganda de uso ecológico. Não uma divulgação conceitual. Tanto é que não se tem hoje pesquisas a respeito de onde se está desperdiçando água e energia. Não se sabe quais materiais são mais ou menos ecológicos. Eu diria que aqui se podia lembrar do “dilema do vegetariano”. O vegetariano não come carne bovina, suína, aves ou peixe? Mas seus sapatos são de couro? A pulseira do seu relógio é de couro? Toma leite ou come ovos? Come bolos que levam leite ou ovos? Come pão que leva banha de porco? Da mesma forma é a construção arquitetônica. Se ao utilizar tubulação de PVC ou se a faz em cobre, qual é menos prejudicial ao meio ambiente? Se utilizar tijolos de barro cozido ou tijolos naturais crus? Se fizer uso do bambu ou se usa o alumínio? E assim vai longe. Em muitos processos se pode questionar se é mais ecológico escavar uma mina para exploração do alumínio ou aço, ou mesmo o uso de subprodutos do petróleo, ou se faz uso e renovação de madeira certificada. O que não se pode esquecer é a escala para qual se pretende construir. Não há como conceber em um centro urbano uma vila de casas em bambu. Imaginaram um escritório com alta tecnologia de informática ou um laboratório, então?
Imaginar que a preferência de um arquiteto é o caminho que muitos estudantes podem querer seguir como meta é também um tanto quanto de exagero. No movimento moderno existiu a ruptura quase que total com o antigo método de construção e planejamento. Não sei agora isso também se tornaria necessário. Sei que obras concebidas em concreto armado ainda são comuns e arquitetos como Niemeyer não faz menção a estes novos fatos em seus discursos ou obras recentes. Assim como também tenho dúvidas a respeito das conclusões urbanísticas de Zara Hadid, Peter Eisenman e outros, baseadas na estética da desordem. Aí vale a pena citar um trecho de um texto de Roberto Segre:
“(...) Na América Latina, o reflexo dos modelos do Primeiro Mundo incidiu negativamente nas grandes capitais, com a destruição do centro histórico tradicional, a expansão descontrolada dos subúrbios - pobres e ricos -, os condomínios fechados ou as ocupações irregulares dos assentamentos precários da população de baixa renda, a prioridade do transporte privado sobre o público, o consumismo desenfreado, a segregação social, funcional e formal dos espaços públicos e privados, o abandono das tradições locais e a continuidade da malha urbana. (...) A reação à desintegração da forma urbana assumiu diferentes propostas, em geral baseadas em intervenções pontuais e limitadas a soluções concretas no espaço nobre da cidade. Nos anos 1960 e 1970, nos Estados Unidos, Kevin Lynch e Lawrence Halprin elaboram projetos para obter fragmentos de boa forma como alternativa ao caos e à feiúra do desenvolvimento descontrolado das estruturas urbanas. Christopher Alexander imagina um design by patterns que relacione a qualidade do espaço público com os desejos e as necessidades dos moradores e usuários. Jane Jacobs tenta resgatar a vida social urbana nas estruturas tradicionais da centralidade, e o movimento new urbanism propõe românticas soluções de desenho das comunidades residenciais suburbanas como alternativa ao anonimato generalizado das Levittowns. Na Europa, Aldo Rossi e os irmãos Krier defendem o valor simbólico dos monumentos e da malha original ainda existente nas cidades européias, como representação do genius loci dos lugares, e a necessidade de novas inserções que dialoguem com as preexistências ambientais. Finalmente, a partir dos anos 1990, Rem Koolhaas, Zaha Hadid, Daniel Libeskind, Frank Gehry e Peter Eisenman, com postura crítica e agressiva baseada na estética da desordem, surgida da assimilação das contradições reais existentes na vida urbana, imaginam formas e espaços antagônicos à tradição histórica e à cidade “nobre”, renovando radicalmente o pensamento arquitetônico e urbanístico do século 21. Acabou o planejamento globalizante e totalizador, substituído pelas intervenções restritas à transformação dos fragmentos parciais do tecido urbano, são ou doente, regular ou irregular, culto ou popular.(...)”
Se há hoje algo que não se sabe é como serão as construções do futuro. E nesse caminho parece que muita gente está ainda, dentro do universo da arquitetura, perdidos em romantismos que nada poderiam lhes ser úteis num futuro bastante próximo. Em muitos momentos também não entendia e tinha comigo muita curiosidade sobre obras da antiguidade. Mas em que elas hoje servem para entender as construções do Movimento Moderno? Tudo é interessante culturalmente, mas não se pode perder de vista qual a atual (ou sempre foi) função do arquiteto.
Mas o que mais me preocupa, isso didaticamente, se é que alguém tinha dúvidas que meu objetivo é a carreira docente, é quais arquitetos apresentam caminhos para o futuro. Isso tem muito de adivinhação, mas o que é fato não se pode mais discordar. Não sou adepto da atual “corrente do urbanismo sustentável”. Primeiro por ver que muita coisa hoje é modismo e a pesquisa costuma ser meio truncada em alguns pontos polêmicos, politicamente falando.
Estou numa fase de pesquisar alguns arquitetos, dos quais não conheço muito as obras. Entre eles estariam Peter Zumthor e Nicholas Grimshaw. É um tanto quanto complexo entender que a obra de Artigas, que muito estudei, não seja hoje, em termos de utilização de materiais, algo que pode servir de exemplo. Primeiramente que compor uma obra em concreto armado aparente, com a tal liberação de CO2, oriunda da confecção química do concreto, e as formas em madeira são dois processos longe de serem ecológicos para nossos dias. Outra questão estaria relacionada à industrialização das técnicas de construção. Não há mais condições de ter operários em condições adversas nas obras. Assim como hoje não se pode deixar de pensar em uso inteligente da ventilação e iluminação naturais. Sem contar também sobre acesso universal das construções.
Se estes são os tais fatores do “urbanismo sustentável” eu até entenderia sua divulgação. Mas não; muito do que se chama de ecológico hoje não passa de enganação; uma propaganda de uso ecológico. Não uma divulgação conceitual. Tanto é que não se tem hoje pesquisas a respeito de onde se está desperdiçando água e energia. Não se sabe quais materiais são mais ou menos ecológicos. Eu diria que aqui se podia lembrar do “dilema do vegetariano”. O vegetariano não come carne bovina, suína, aves ou peixe? Mas seus sapatos são de couro? A pulseira do seu relógio é de couro? Toma leite ou come ovos? Come bolos que levam leite ou ovos? Come pão que leva banha de porco? Da mesma forma é a construção arquitetônica. Se ao utilizar tubulação de PVC ou se a faz em cobre, qual é menos prejudicial ao meio ambiente? Se utilizar tijolos de barro cozido ou tijolos naturais crus? Se fizer uso do bambu ou se usa o alumínio? E assim vai longe. Em muitos processos se pode questionar se é mais ecológico escavar uma mina para exploração do alumínio ou aço, ou mesmo o uso de subprodutos do petróleo, ou se faz uso e renovação de madeira certificada. O que não se pode esquecer é a escala para qual se pretende construir. Não há como conceber em um centro urbano uma vila de casas em bambu. Imaginaram um escritório com alta tecnologia de informática ou um laboratório, então?
Imaginar que a preferência de um arquiteto é o caminho que muitos estudantes podem querer seguir como meta é também um tanto quanto de exagero. No movimento moderno existiu a ruptura quase que total com o antigo método de construção e planejamento. Não sei agora isso também se tornaria necessário. Sei que obras concebidas em concreto armado ainda são comuns e arquitetos como Niemeyer não faz menção a estes novos fatos em seus discursos ou obras recentes. Assim como também tenho dúvidas a respeito das conclusões urbanísticas de Zara Hadid, Peter Eisenman e outros, baseadas na estética da desordem. Aí vale a pena citar um trecho de um texto de Roberto Segre:
“(...) Na América Latina, o reflexo dos modelos do Primeiro Mundo incidiu negativamente nas grandes capitais, com a destruição do centro histórico tradicional, a expansão descontrolada dos subúrbios - pobres e ricos -, os condomínios fechados ou as ocupações irregulares dos assentamentos precários da população de baixa renda, a prioridade do transporte privado sobre o público, o consumismo desenfreado, a segregação social, funcional e formal dos espaços públicos e privados, o abandono das tradições locais e a continuidade da malha urbana. (...) A reação à desintegração da forma urbana assumiu diferentes propostas, em geral baseadas em intervenções pontuais e limitadas a soluções concretas no espaço nobre da cidade. Nos anos 1960 e 1970, nos Estados Unidos, Kevin Lynch e Lawrence Halprin elaboram projetos para obter fragmentos de boa forma como alternativa ao caos e à feiúra do desenvolvimento descontrolado das estruturas urbanas. Christopher Alexander imagina um design by patterns que relacione a qualidade do espaço público com os desejos e as necessidades dos moradores e usuários. Jane Jacobs tenta resgatar a vida social urbana nas estruturas tradicionais da centralidade, e o movimento new urbanism propõe românticas soluções de desenho das comunidades residenciais suburbanas como alternativa ao anonimato generalizado das Levittowns. Na Europa, Aldo Rossi e os irmãos Krier defendem o valor simbólico dos monumentos e da malha original ainda existente nas cidades européias, como representação do genius loci dos lugares, e a necessidade de novas inserções que dialoguem com as preexistências ambientais. Finalmente, a partir dos anos 1990, Rem Koolhaas, Zaha Hadid, Daniel Libeskind, Frank Gehry e Peter Eisenman, com postura crítica e agressiva baseada na estética da desordem, surgida da assimilação das contradições reais existentes na vida urbana, imaginam formas e espaços antagônicos à tradição histórica e à cidade “nobre”, renovando radicalmente o pensamento arquitetônico e urbanístico do século 21. Acabou o planejamento globalizante e totalizador, substituído pelas intervenções restritas à transformação dos fragmentos parciais do tecido urbano, são ou doente, regular ou irregular, culto ou popular.(...)”
Se há hoje algo que não se sabe é como serão as construções do futuro. E nesse caminho parece que muita gente está ainda, dentro do universo da arquitetura, perdidos em romantismos que nada poderiam lhes ser úteis num futuro bastante próximo. Em muitos momentos também não entendia e tinha comigo muita curiosidade sobre obras da antiguidade. Mas em que elas hoje servem para entender as construções do Movimento Moderno? Tudo é interessante culturalmente, mas não se pode perder de vista qual a atual (ou sempre foi) função do arquiteto.
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