maio 18, 2008

O Efeito Orloff

Recebo sempre o Newsletter do Instituto de Engenharia, com a programação mensal dos encontros e seminários. Nele também vêm boas mensagens como a que reproduzo abaixo.

Um mundo melhor
Por Edemar de Souza Amorim

Há alguns anos surgiu, de um anúncio de bebidas, o conceito do “Efeito Orloff”. A referência se devia ao consumidor daquela específica marca de vodca deparar-se com sua imagem no dia seguinte sem aparentar os devastadores efeitos do consumo alcoólico de baixa qualidade dizendo a si mesmo: “eu sou você amanhã”.

O “Efeito Orloff”, aplicado pelos papos de botequim e jornalismo econômico aos países em desenvolvimento, mostrando que a crise de uma nação seria da outra no futuro, foi sucesso de crítica nos anos 80 e 90 e volta à cena quando o assunto é trânsito.
São Paulo enfrenta hoje gravíssimos problemas de tráfego de veículos, numa situação considerada surrealista por cidadãos de outras metrópoles brasileiras que, exclusivamente por sua diferença de tamanho, ainda não se conscientizaram da aplicação do “Efeito Orloff” à medida que suas frotas de veículos crescem em ritmo igual ou superior ao paulistano.
Na mídia florescem soluções radicais, milagrosas ou estapafúrdias com um único ponto em comum: a vocação para o fracasso se tomadas isoladamente, pois ignoram um princípio simples da humanidade, a relação custo benefício, acreditando numa máxima da educação infantil arcaica, a proibição pura e simples.
Ora, num país em que sua população já deixou claro que a legislação sem sentido é ignorada, que as autoridades não têm força moral ou operacional para aplicar a legislação existente e os governos preocupam-se mais com o resultado das urnas do que com a segurança e o bem estar dos cidadãos, é de se esperar que o futuro seja um grande engarrafamento.
A solução do trânsito paulistano e, conseqüentemente, brasileiro não será simples, mas seu princípio é claro, o transporte individual com um automóvel tem de custar caro o suficiente para que as pessoas optem pelo transporte público. Devemos, então, tomar um conjunto de medidas que, juntas produzirão esta mudança cultural. Medidas como: priorizar a qualidade e a quantidade do transporte público; proibir o estacionamento no leito carroçável de ruas praças e avenidas; exigir de edifícios e estabelecimentos comerciais áreas disponíveis para caçambas de entulho; levar a Zonal Azul do leito carroçável para terrenos especialmente criados para estacionamento; proibir o tráfego de veículos de carga no horário de rush; restringir operações de descarga ao período noturno; extinguir o rodízio e criar o pedágio urbano; implementar a inspeção veicular anual completa (segurança e ambiental); retirar de circulação em caráter permanente carros velhos e sem condições mínimas de segurança e fiscalizar com rigor o pagamento de tributos, licenças e multas apreendendo os veículos irregulares.
Para completar, o governo federal deve deixar a política eleitoreira fora dos corredores da Petrobrás e aumentar o preço da gasolina, pois o maior inibidor dos deslocamentos supérfluos é custo do quilômetro rodado.
A Lei Cidade Limpa do prefeito Gilberto Kassab mostrou que a população pode até reclamar na implantação de medidas duras e drásticas, porém é madura o suficiente para perceber, reconhecer e agradecer as melhorias geradas.
Enfim, aos motoristas brasileiros que insistirem em usar o carro, fica o recado da Daslu: “Existe sim um mundo melhor, porém é caríssimo”.
Edemar de Souza Amorim

Um comentário:

Anônimo disse...

"aumentar o preço da gasolina, pois o maior inibidor dos deslocamentos supérfluos é custo do quilômetro rodado."

Realmente. As pessoas que ficam 2h por dia no trânsito de São Paulo, todas os inícios de manhã e fins de tarde (as horas onde ocorrem os maiores congestionamentos) estão fazendo deslocamentos supérfluos. Com certeza elas estão indo passear. Tem cada um... Tentar restringir a mobilidade para diminuir o congestionamento é uma idéia estúpida. O problema é que os últimos governos estaduais não fizeram a lição de casa, que era construir Metrô. Você, como arquiteto, deveria apoiar soluções para melhorar a mobilidade, e não para restringí-la.

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