fevereiro 28, 2008

Homem-aranha curte metal... II

Estes desenhos indicam “mensagens subliminares”... E depois querem dizer que não há profundidade em “um grande poder requer uma grande responsabilidade”... O que é pior que se discute e muito sobre o grande Homem-Aranha, aquele que nunca bate e sempre apanha. E uma discussão séria, sobre o que nossas “crianças” andam vendo. Tem gente que diz ser o grande Pica-pau muito violento para a educação das criancinhas. O que é estranho que parece tudo isso ter mais de cinqüenta anos e nada me diz ter “piorado” a vida das criancinhas por causa do Pica-pau, Homem-aranha, Hulk e outros. O que não deixa de ser sério, mas é um tanto de exagero e de falta do que fazer.

Já até pensei em relacionar isso a aqueles perseguidores anti-americanos. De relacionar isso a conspirações que tentam impor outras porcarias no lugar. Mas não. Nada substitui o Pica-pau, Batman, Superman e o Homem-aranha. Até os bandidos são caricatos. Imagine um Pingüim ou um Coringa na vida real? Outros bons desenhos não me parecem que vão ter a durabilidade temporal destes. Citaria “a Vaca e o Frango” e “Johnny Bravo”, além de “Meninas Superpoderosas”. Mas não acredito que consigam ir em frente. Eu ainda gosto muito de outros de cerca de uma década atrás: “Pink e o Cérebro”, “O laboratório de Dexter” e, o que achei que iria ser muito mais lembrado, “Freakazoid”; hoje um quase desconhecido.

Tenho a impressão que algo está em fase de construção, mas tomara que não seja uma coisa chatíssima como foram “a Família Dinossauro” e o pentelho “Bob Esponja”. Detesto os dois, em tudo. E eles foram populares. Popular e bom, só o Chaves mesmo. E olha que é quase um Pica-pau já...

O único brasileiro que tem a possibilidade de se tornar acessível a muitas e muitas gerações é o “Sítio do Pica-pau Amarelo”, de Monteiro Lobato. Além de ser uma obra de fôlego, Lobato trás nela muito do imaginário popular de outros tempos, quase folclórico, como o saci-pererê, além de ir muito além com suas personagens. Mas, essa atual versão da Rede Globo deixa muito a desejar a que vi na minha infância.

Bem, o que quero dizer que entre Sitio e Homem-aranha não me parece ter lá muita diferença, a não ser que o Homem-aranha gosta de um heavy metal e o no sítio se escuta Gilberto Gil...

Homem-aranha curte metal...

É... O Homem-aranha curte um heavy metal... Melhor ele ao Hulk. Só falta saber se ele é também corintiano... Pela roupa, pode ser que torça pelo Grêmio...

fevereiro 24, 2008

1001 discos para ouvir antes de morrer

Escrito com a colaboração de noventa jornalistas e editado por Robert Dimery, o livro “1001 discos para ouvir antes de morrer” é uma coletânea de comentários sobre os discos mais vendidos e que de certa forma foram mais marcantes desde a década de 1950 aos anos 2000.

As passagens pelos anos 1950 mostram os princípios do rock´n roll e R&B, além de inúmeros álbuns de jazz e blues. O livro até as décadas de 1980 é bastante interessante. Nas décadas de 1990 e anos 2000 o livro perde o fôlego e começa a, digamos, se perder em besteiras absurdas! Uma delas foi colocar uns discos de 1996 brasileiros, se não me engano um de Caetano, que não tem nada a ver. Discos que se pode morrer sem ouvir que não faria diferença alguma. E também nem sequer menciona bandas de heavy metal com vocais femininos, como Nightwish e Evanescence.

Nos anos 1970 (ou será 1960?) faz uma ótima e muito esperada citação do disco dos Mutantes. Mesmo eu não gostando de nada dos Mutantes sou obrigado a dizer que o disco é realmente inovador e merece sim constar desta lista. Cita nos anos 1960 discos de Francis Albert Sinatra com Antonio Carlos Jobim, como também disco de João Gilberto com Stan Getz. Faz menção a um disco de Elis Regina também. Em suma, o livro tem uma qualidade incrível para o que já foi consagrado pelo tempo, mas a aposta do que ficará para o futuro me parece muito, mais muito ruim.

Isso também pode parecer um fenômeno maior, da perda dos rumos na música pop atual. O que foi padrão desde os anos 1970 até meados dos 1990 hoje não vale mais como critério. O livro, nas entradas de cada década, mostra aparelhos representativos de cada década. Nos anos 1980, aquele rádio toca-fitas com os botões em acrílico transparente; na década de 1990 um toca-cd´s e nos anos 2000 já mostra um iPod. Muito, muito bem produzido o livro. E dou destaque para a melhor fotografia do livro: na década de 1970 um foto de Elton John praticamente mergulhando no piano. Vale a pena conferir, principalmente por seu visual, com cabelos anos 1970, óculos e botas, naquela pose fantástica. Outras duas fotos fantásticas são a de Jimi Hendrix com duas loiras fazendo top less e Iggy Pop (The Stooges) numa cena também fantástica, sendo segurado pelo público.

O livro faz uma ótima passada pelos discos dos Beatles, nos anos 1960, fazendo uma bela retrospectiva histórica dos discos da banda, não se importando muito com “os mais vendidos”, mas com os mais citados como influencia. Uma das coisas mais significativas foi avaliar que George Harrison fez o melhor disco de um ex-beatle.

Nos anos 1960 e 1970 faz muito boa passagem pelos movimentos punk e para o final dos anos 1970 também marca a entrada da New Wave, ou melhor, cita Sting e the Police. E uma das críticas mais interessantes foi a respeito de Michael Jackson com os três álbuns: "Off the Wall" (1979), "Thriller" (1983) e "Bad" (1987). Aquilo se pode chamar de crítica, o resto é profissional de resenha...

Não é o livro que eu compraria, mas é, sem dúvida, um bom livro para quem gosta de música. Às vezes acho que para tentar fazer um compêndio de tudo, acaba sendo superficial demais. E, de fato, acho que a idéia de Nelson Motta no livro “Vale Tudo”, biografia de Tim Maia, de fazer um site com as músicas citadas no livro é interessantíssima. No caso, deveria ter algum jeito de se escutar algumas músicas que constam como destaque no livro.

fevereiro 23, 2008

Monk

Outro dia coloquei uma capa de disco (que volto a repetir nesta postagem) e falava de como eu via alguns músicos de jazz. E o disco não poderia ser mais significativo: “Underground” (1967) de Thelonious Monk.

Jazz não é para mim uma paixão, mas sempre gostei de influencias de jazz na música pop ou no rock. E Monk eu praticamente não conhecia até cerca de uns dois anos. E não conheço todas suas fases, mas já dá para saber que é um músico extremamente criativo. O jazz tem muitas histórias e inúmeros documentários. No Brasil jazz ficou sendo um grupinho dos que torcem o nariz para tudo e só reclamam. Povo bem chato, por sinal. Insuportáveis. E se ainda fossem realmente a metade do que acham que é...

O legal de locais que tocam jazz é que os públicos são relativamente mais tranqüilos. Quando não são aqueles chatos de sempre, são pessoas que acreditam no poder econômico acima das relações pessoais e culturais. A maioria nem sequer ouviu Thelonious Monk, mas crê que Ray Charles e B.B. King são deuses! Repetições sem tamanho da total falta de cultura.

Outro fato são os populares “velhões”. Normalmente um bar de jazz é considerado local para o pessoal da “velha guarda”, o que tira muito da qualidade da música para uma geração que simplesmente ignora que se pode tomar cerveja e se divertir muito com o pessoal das antigas. Essa idéia de rotular as coisas é bem típico de pessoas sem cultura. Só basta ver a história do jazz para ver que muitas gerações se formaram ouvindo as outras gerações. Talvez essa busca pelo “novo” é que tenha feito acabar as novas safras de músicos de jazz.

Essa coisa do “novo” e a busca do novo são bem típicas de quem sequer sabe do que está falando. Algo como Monk não é novo, mas não faz mais do que dois anos que o escutei pela primeira vez e gostei muito. Para mim anda sendo uma descoberta. E assim são as coisas, cíclicas. E quem me falou dele foi um jornalista cultural, nada de músicos profissionais. Muitas vezes na música não encontramos as respostas para as perguntas que temos da própria música.

Um cara sem sorte...

Uma das coisas mais impressionantes é a história do primeiro baterista dos Beatles. É o cara que saiu da banda antes de ficarem famosos. Mas se fosse só um ficar famoso... Mas não, é simplesmente a banda mais conhecida no mundo (o ocidental, ao menos...).

Seu nome é Pete Best. Sem dúvida o cara mais sem sorte no mundo. Hoje os Beatles se resumem aos dois integrantes ainda vivos, mas ninguém sabe ao certo o que motivou sua saída. Uma reunião dos Beatles sempre foi esperada, mas depois da morte de Lennon em 1980, tudo se resumiu a Paul McCartney reunir os outros três integrantes. Lendo a biografia de Eric Clapton, vejo que seu casamento em 1979, foi uma das poucas oportunidades de reunião do quarteto, se não fosse a ausência de Lennon. Eu sou obrigado a dizer que não sou um fã de Beatles e lendo artigo de Rodrigo Constantino a respeito de “Imagine”, creio que aquele “idealismo” deles (mais de John Lennon) estava um pouco “fora do esquadro”. É interessante ver como as coisas não andam tão alinhadas com a política e que quem não defendia “certos ideais” era considerado um tanto quanto “alienado” ou “vendido ao sistema”...

Lendo um artigo de George Orwell que compõe o livro “Dentro da Baleia”, organizado por Daniel Piza, vejo sua angustia de ser um policial a serviço do Império Britânico na Birmânia, e a constatação de muitos anos depois que outros “impérios” seriam muito piores que aquele. Eu realmente entendo que a longevidade de certos intelectuais faz com que as cobranças de seus textos do passado sejam óbvias. Contra o tempo pouca coisa pode ser tão firme como a idéia clara tomada no momento certo e sob critérios de ética e moral universais. Nada de defesas tortas ou de utopias vagas.

Mas voltando a falta de sorte de Best, esse entra para a história como “o cara que nunca foi”. Eu tenho certeza que ele questiona isso há muito tempo e mais: deve se incomodar com os jornalistas que toda hora querem tirar uma palavrinha torta de sua boca, que possa dar novas manchetes nos jornais. Se é que ele ainda não escreverá um livro de memórias daqueles anos. Em 1988 foi escrito um livro sobre sua saída. Não lembro se houve maiores repercussões, além de tentar vender umas revistas e jornais a mais. Sempre querem saber o que por trás de grandes mitos. Como se os Beatles foi algo incompreensível...

Imagino, como certa feita li num blog desses defensores de ideologias tortas, que a Sandy, da ex-dupla de irmão Sandy & Junior, não tem o direito de cantar músicas de jazz. Se sua defesa fosse embasada na qualidade musical de Sandy, conforme uma boa cantora da MPB me disse certa feita, entenderia e aceitaria como “mais uma” opinião. Mas não, a idéia era a de proibi-la de cantar jazz. Algo autoritário, como toda a ideologia torta. Essa coisa de achar “intocável”, “imutável” ou “perfeitas” certas produções musicais é coisa que só pode sair da cabeça de dinossauros retrógrados que costumam chamar de “conservador” qualquer um que simplesmente discorde de suas idéias tortas. Como se ser conservador seja algo pejorativo.
Realmente eu entendo que a vontade de ser mais livre é diferente da vontade de oprimir o mundo. E o que se pode discutir sobre isso vai desde a música, onde ninguém é obrigado a gostar de Beatles ou ter por eles a “mais alta estima” até a arte moderna. Isso é coisa de gente “unânime”, segundo critérios de unanimidade de Nelson Rodrigues.

fevereiro 22, 2008

Dias cheios...

Uma semana cheia de fatos a refletir. Mas não uma reflexão rápida. Os resultados só virão mesmo em longos anos. Com a tal renúncia de Fidel Castro podemos começar a pensar numa Cuba realmente livre um dia. Não creio que seja em breve, mas o que é insuportável dessa história é ficar aparecendo o rosto de Fidel toda hora na televisão. E os comentários de nossos “intelectuais”? Cada um... Nem dá para comentar...

E o outro fato é a independência de Kosovo. Aquilo está em pé de estourar outra guerra desde há muito tempo. Hoje, a região dos Bálcãs está multifacetada em inúmeros pequenos países. O que um dia foi a Iugoslávia hoje vive um momento de enorme convulsão social. Mas Kosovo é o ponto neural de todo o conflito. Não sei se será resolvido um dia, mas essa independência tem mais lados que um poliedro... Hugo Chaves, que nunca se cala, resolveu dizer que não reconhece Kosovo, pois acredita ser pressão dos EUA. A Espanha não reconhece, pois teme o aumento interno das pressões dos bascos por sua independência. E o povo de Kosovo?

Em suma, a vontade de todos parece ser criar uma nova Israel, o que não vai acontecer. Assim como se acredita na hipótese de se criar um novo Vietnã com o Iraque. Tenho a impressão que os comentaristas estão todos errados e que na verdade a solução será outra, tanto no Iraque quando em Kosovo. E que os chutes dessa vez estão passando dos limites do suportável.

É nítido que Cuba vai tentar seguir um caminho como a China, porém com a indústria do turismo. Não haverá crescimento muito acelerado e nem muito menos uma Cuba forte economicamente. Será, mais uma vez, propaganda de um sistema para continuar com uma Cuba sem liberdade para os cubanos e formando mais gente igual. Mais gente mais igual que as outras... “Todos iguais, uns mais iguais que os outros”. No fundo será mais uma republiqueta, mas com o diferencial de ter tido um passado que será propagado como “glorioso”. Ohhh! Que óbvio!

E Kosovo? Bem, deve seguir o caminho do leste europeu. Não ter grande coisa a oferecer além de mão-de-obra barata especializada ou a imigração. Nos dias atuais não creio que exista possibilidade de conflitos armados ou novas ditaduras. Pode ser que existam ditaduras referendadas por votos. Ditaduras “legitimadas” por pseudo-democracia. Isso deve ser comum no leste europeu. Não tenho lá grandes informações, mas parece que alguns paises ainda vivem sob governos não democráticos, como a Bielorrússia. Mesmo que muitos brasileiros ainda tenham suas enormes afinidades com a região, motivada talvez por fantasias, acho difícil também surgir uma força economicamente forte em toda a região. Ou seja, tudo vai ficar muito igual nos próximos anos, sem lá grandes avanços, nem sociais e nem econômicos. Fica a cargo do Brasil (ai, ai, não fica então?), da China, que pode sofrer recessão, Índia, que parece ser mesmo o grande país para os próximos cinco anos, e quem sabe a Rússia, que acredito ser o único país do leste europeu com alguma importância. De resto, parece que tudo continuará muito igual.

Quanto ao Iraque, o problema se chama Irã. De resto deverá continuar sob intervenção dos Estados Unidos. Coisa que o novo presidente (John McCain, muito provavelmente) não irá mudar (mesmo sendo Obama ou Hillary).

Para tristeza de todos nós, a África, caminha para um caminho de conflitos e guerras civis e não o do desenvolvimento, com raras exceções. Se hoje me fosse perguntado qual continente teria a melhor possibilidade de crescer, diria ser a África, onde creio que existem (sempre existiram) possibilidades de se fazer turismo, de se implantar empresas (em vez da China), e de se estender a democracia e a paz como na América do Sul.

Rodapé

Se John McCain teve ou não um caso com uma lobista trinta anos mais nova é de uma irrelevância absurda... Se for assim que chamem Mitt Romney outra vez... É fogo... A inveja demonstra realmente como são sujos os meios para a política.

fevereiro 17, 2008

Propaganda para quê?

Sempre que vejo um comercial na TV da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil me pergunto sempre qual é a idéia destas instituições de fazer propaganda? Não vejo nenhuma necessidade, visto que não creio que estejam lá muito interessados em concorrência. Aliás, vejo algumas agências com acabamentos bastante interessantes, o que continuo a me perguntar para quê? Quem um dia já teve conta nestes bancos sabe que o atendimento é ruim, desde o operacional, com auto-atendimentos que não funcionam em fins de semana, até com a própria agência com filas e desorganização.

Bem, o que seria do time de vôlei da seleção brasileira sem o BB? Ou o que seria do atletismo, ginástica olímpica sem a CEF? Mas o que eu acho é que o crescimento destes bancos é ruim para o Brasil. Estes bancos tinham que ser estruturas mínimas com focos específicos, bastante transparentes para evitar corrupção e uso indevido. Mas não... São certo tipo de “orgulho” para o “povo” brasileiro... E tem gente ainda que se diga contraria a entrada de bancos estrangeiros como o Santander ou o HSBC. Não que eu morra de amores por qualquer um deles, mas com mais bancos de qualidade (ou seja, ai que está o problema) a concorrência e os serviços tenderiam a melhorar.

O problema é também de ordem moral. O “povo” não se importa com serviços ruins na maioria das vezes. Basta ver que a telefonia celular oferece serviços muito parecidos em termos de preços e opções, não se importando lá muito com os clientes. Os preços são ruins e o que mais vejo são os Mersalts(*) se “divertindo” com seus celulares com toques engraçadinhos. Pior é quando começam a falar da Telefônica. Insistem em dizer que a empresa é uma porcaria... Só esquecem como era antes a TELESP e outras. Quando custava um telefone? Tinha que ir até para o imposto de renda... As contas estão caras? Sim, estão. É hora de fazer uso reduzido e deixar rolar a concorrência. O que vejo de gente mudando para o Net Fone é um começo. Mas como tudo no Brasil, a reação é retardada, lenta, bem típica de país subdesenvolvido que espera que o Estado lhe dê tudo. Não muito diferente que paises famintos da África. Claro, não falo de uma South África, que espero que ultrapasse o Brasil em mais índices...

Em suma, eu vejo que a telefonia fixa evoluiu muito mais que a celular e mesmo assim a crítica geral é em relação a fixa. Mais uma das enormes inversões dos valores desse “povo” tão estimado por populistas. Uma vez me disseram que é porque não havia telefonia celular feita pelo Estado, por isso não se consegue comparar. Mas muito pelo contrario: não havia porque o Estado não tinha capacidade para fazer uma, de tão ruim que era.

Mas voltando aos bancos que eram na verdade o foco deste texto, vejo que suas campanhas não têm objetividade e nem muito menos mostram “diferenciais” de serviços (claro, seria então um caso de polícia). E os bancos privados são piores ainda. Um diz que “nem parece banco”; outro diz ser o “banco do planeta”. Se alguém leva isso em conta na hora de pedir um empréstimo é que eu não sei. Tem uma campanha de banco que teve momentos muito interessantes, com uma faixa na calçada do banco escrito que o banco queria você como cliente. Bem, se não me engano é da Agência DPZ. É um banco que por sinal faz seu trabalho bem feito; e cobra por ele muito bem também.

(*) Mersalt – Personagem principal do livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus.

fevereiro 10, 2008

Odeio Odiar

“Odeio Odiar” é praticamente uma categoria do pensamento politicamente correto. Na verdade o que difere os bárbaros da civilização reside em muito no fato de barrar os ódios. Ódios de todo tipo, desde aqueles nacionalistas (o que é bem diferente de patrióticos) até aqueles em que se há uma categoria ou até mesmo uma pessoa para ser odiada. Agora tem certas coisas que mereceriam ser odiadas. Mas, como na música de Humberto Gessinger, “eu não consigo odiar ninguém” (*).

Cada dia que passa vejo que pessoas que nunca simpatizei justamente por parecerem cães raivosos com o tal “status quo”, quando lá chegam parecem piores ainda dos que lá estavam. Parece uma inversão histórica e quando alguém fala nessas “verdades” logo vem essa mesma corja acusa-lo de cão raivoso. O que eu acho estranho que na hora que existia a hipótese de um debate, a corja sumiu. O tal cão raivoso deles é para mim um professor e não por sua raiva a estes infelizes, mas por sua inteligência mesmo. Sua inteligência real. À corja nunca sequer dei atenção a suas lamentações, talvez seja o ponto de hoje não ter ódio deles; nunca lhes dei ouvido. Nunca acreditei no seu preço por um outro mundo possível. Passei até por um “alienado”, mas nunca sequer entrei no seu pequeno debate forjado. Muitas dúvidas ainda tenho hoje, mas as certezas são luzes que só foram acesas pela busca de respostas e não pela aceitação das “verdades forjadas” da corja.

Não acredito em bem coletivo, mas em idéias individuais que formatam padrões do que se espera ser coletivo. O que me faz escrever este texto sem nomes e com breves pausas pode residir na hipótese de existir pessoas mal intencionadas que, segundo Robert Musil, podem usar qualquer coisa contra você. Falando em bem coletivo, um parque não é um bem coletivo. São agrupamentos individuais que só são possíveis graças ao espaço projetado para ele. Não acho que um atleta ou casal de namorados tendem a ser “coletivos”, mas sim individuais. O próprio agrupamento urbano é de certa forma individual. São muitas as questões acerca de como se pode ou não ser pejorativo o termo “individualista”. De certa forma, muitas pessoas preferem deixar o destino de suas vidas nas mãos de outras pessoas. E muitas delas acreditam que com isso fazem a melhor escolha e não acreditam na hipótese que outros possam não compartilhar disso. Sem contar aqueles que em seu pensamento conseguem ver vantagens nessas trocas.

Como gostaria de só falar de música, acho que algo novo está nascendo nas minhas convicções. Não diria que seja como naqueles músicos de jazz dos anos 1930, 1940, que compunham temas e saiam pela vida a tocá-los e dividir suas graças com outros sem um destino. Isso levou a muitos a se perder pelo caminho. Talvez uma nova etapa que se compõe de idéias mais antigas, que em certas horas foram completamente esquecidas.

Somente uma vez não segui aquele meu lema adolescente que é “retroceder nunca, desistir jamais”. Tive que voltar atrás. Bem, uma vez só e porque era na verdade um passo mal dado. Tinha dado outros passos mal dados antes, mas esse foi o que chamam de “maior”. E de tão maior só tive que retroceder. Nem esse foi digamos “prejudicial”. Mas preciso dar outros passos e estou numa sinuca. Como é difícil estar motivado a isso. E o pior que talvez tenha que estar próximo a corja... Urg! Isso não é nada animador...

(*) “Não quero seduzir teu coração turista
Não quero te vender o meu ponto de vista
Eu tive um sonho e há muito não sonhava
Lembranças do futuro que a gente imaginava
Nem sempre foi assim, outro mundo é possível
Pode até ser o fim mas será que é inevitável

Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só por que não consigo odiar ninguém
Do goleiro ao centroavante
Do juiz ao presidente
Eu não consigo odiar ninguém


Não consigo odiar ninguém – Humberto Gessinger - 2007

Aniversário

Dia 8 agora recebi muitos abraços e comprimentos pelo meu aniversário. Este ano resolvi não comemorar. Tinha (sempre tenho) vontade de comemorar, mas minha agenda não colaborou. Comecei então meu novo ano todo enrolado, não conseguindo comparecer a um curso que é fantástico no dia 9... O mais legal foi uma frase minha de uns 20 dias atrás, que de certa forma será bastante eterna...

Sarah

E ontem a noite no “Altas Horas” nada melhor que ver a fantástica Sarah Oliveira, apresentadora do “Vídeo Show”. Nem prestei muita atenção ao programa, mas foi bom vê-la. Gosto muito de seu trabalho, desde os tempos de 89 FM. Acho que estar na Globo é um bom lugar para desenvolver mais ainda todo seu talento. Consegue passar uma boa imagem e nem parece ser aquelas defensoras do politicamente correto e nem muito menos parece fazer apologia das porcarias... Até gostaria de ter prestado mais atenção a suas falas para pegar no seu pé, mas o sono me impediu... Hoje acabei vendo um arquivo da MTV de 2002, 2003, onde comandava um programa de verão. Mandava muito bem. Parece-me bastante espontânea e mais que tudo parece que se emociona com o que faz. Gosto de pessoas que gostam do que fazem. E mais que tudo, ela parece ser muito mais do que apresenta. Bem, isso é padrão da Rede Globo, de suas apresentadoras possuírem muito mais potencial do que aparentam... E mais que tudo, acho que ela fala de tudo, aquilo que se pode dizer superficial, com uma ótima qualidade informativa, lembrando que na vida um pouco de entretenimento não faz mal a ninguém.

fevereiro 09, 2008

Uma verdade sobre os anos 80...

Neste ano de 2008 serão comemorados os 25 anos de lançamento do talvez mais vendido disco da história da música: “Thriller”, de Michael Jackson. Lembro do dia que este disco, em vinil mesmo, entrou na minha casa, como presente de sei lá quem para meu irmão. Tinha sete anos de idade e lembro até hoje das músicas deste álbum. Muitos anos depois é que soube das participações especiais de Eddie Van Halen, em “Beat It”, e de Paul McCartney em “The Girl is Mine”. Inesquecível é a risada no final da faixa título. Quase um disco infantil... Uma verdade seja dita sobre os anos 1980: quem nunca tentou andar para trás, imitando aquele famoso passo de Michael Jackson, não viveu os anos 1980...
Agora, quem um dia iria dizer que aquele Michael Jackson de 25 anos atrás iria se tornar esse Michael Jackson dos dias atuais? Ninguém imaginaria que “Thriller” fosse o sucesso que foi. Nem Paul McCartney...

fevereiro 04, 2008

“Flying in a blue dream”

O mais legal das praias, de Santa Catarina, Rio de Janeiro como do Guarujá ou litoral norte de São Paulo, é que cada pedacinho de areia parece sempre diferente. Desde a praia do Tombo, até Laranjeiras, tudo parece flutuar... E nada melhor que escutar o meu disco predileto do Sr. Satriani...
Lá no começo dos anos 1990, quando ia constantemente para a Vila Caiçara, na Praia Grande, costumava fazer este disco ecoar na quadra da minha casa. Se não era Satriani, era Steve Morse e suas “Tumeni Notes”... Em dias menos inspirados, fazia uma seleção de fitinhas K7 com sons variados, entre clássicos como “Born to be Wild” de Steppenwolf, “Cocaine” de Eric Clapton, principalmente uma versão ao vivo de 1977, “Hey You” de Bachman-Turner Overdrive e “My Generation” do Who, ou baladas como “Hotel California” dos Eagles, “Behind Blue Eyes” do Who ou “Love Hurts” do Nazareth.

O engraçado que muita coisa que ouvia no final dos anos 1980, como Manowar, Metallica e Slayer, naqueles anos de praia, quase todos os finais de semana, não rolavam muito bem... Lembro, em 1993, de fazer meus pais, tios e convidados implorarem para trocar uma fitinha K7 com a gravação do novo disco do Deep Purple, “The Battle Rages on...”. Bom lembrar desses anos... O mais interessante que tinha uma enorme quantidade de fitas K7 de cantores como Dio e Ozzy Osbourne, e bandas como Whitesnake e Van Halen, e não lembro de nenhuma vez escuta-los na praia. Lembro de escutar o “Balls to Picasso” de Bruce Dickinson, mais nada...

Se um dia escrever um diário de memórias, com certeza ele será regado de músicas e momentos, como o de ouvir “Sinner” do Judas Priest durante a aula de desenho técnico na Escola Técnica Federal. Era de uma fitinha gravada por uma amiga minha que era fã de Judas Priest. Eu não conhecia praticamente nada da banda. Ela gravou a fita para me apresentar a banda, e logo muitas das músicas que selecionou eu não parava de ouvir, como “Hell Bent for Leather”, “Exciter”, “Painkiller” e “Breaking the Law”.

Um momento mágico para mim foi assistir ao filme “Alta Fidelidade”. Não lembro nem quando foi direito, se não me engano em 2004. O filme já era, digamos, “velho”, como sempre eu vejo os filmes muito tempo depois de lançados. É um filme que o personagem principal fazia uma seleção de músicas e gravava numa fita K7 e entregava para sua “amada” da época. O interessante que ele fazia sempre um Top 5 de tudo, inclusive de suas ex-namoradas. Uma maravilha de filme! O que me identifiquei muito foi o fato de também fazer fitas K7 para presentear. Não à toa ganhei aquela do Judas Priest. Presenteei uma vez uma fita K7 com músicas selecionadas de três álbuns do Mr. Big. Foi um bom resultado! E a última fita que fiz foi em 2003, o que já estava defasado, pois os cd´s já dominavam praticamente tudo... Era uma gravação do lado A com músicas de Dave Lee Roth e o lado B com Sammy Hagar, incluindo uma única música de sua carreira fora do Van Halen: “Red Voodoo”. O pior que foi num momento que cismei em não cortar mais o cabelo até que me formasse na faculdade... Seis meses de “cachinhos castanhos”... Estava com a cara do Sammy Hagar em OU812... O pior foi um amigo que mora nos Estados Unidos de passagem por aqui disse que meu cabelo parecia o do Eric Marmo na novela “Mulheres Apaixonadas” (que passava na Rede Globo à época). Foi a fase Sammy Hagar II...

O interessante de gostar muito de música que em certo ponto se tenta começar a tocar. Descobri logo de cara que tinha certa tendência para tocar blues, mesmo gostando muito mais de rock´n roll. Até hoje, quando toco, por puro hobbie, acabo indo para um formato blues. Tentei em três momentos formar uma banda. No terceiro fiz três shows e descobri que não era o que eu queria. Compor e tocar são coisas interessantes, mas fazer show nem tanto. Um tanto de nervosismo e outro tanto de insegurança, mas o que mais eu não gostei foi da exposição. No primeiro show, fiquei sentado num banquinho o tempo todo. Nos poucos momentos que meus solos apareceram eu queria era me esconder. Só havia amigos vendo, o que foi ótimo. Nos outros dois shows foram numa feira de artesanato chamada Festart. Onde havia mais gente e muito menos gente prestando atenção no que tocávamos. Chegamos a tocar a mesma música por quatorze minutos, entre solos e improvisos. E no segundo show da Festart tocamos uma música da Legião Urbana. Foi ali que comecei a pensar em quanto estava fugindo do que eu imaginava tocar. Eu detesto Legião Urbana e tocar “Será” estava sendo estranho, ainda mais porque a versão ficou péssima. Depois disso resolvi que não teria banda, pelo menos por um tempo. Imaginava eu tendo uma banda e tocando “Flying in a blue dream”...

O que achei maravilhoso de tocar no Festart que era uma local ao ar livre, numa praça, e o meu amplificador Fender ecoava no meio daquele cenário. Uma sensação incrível! Toquei de chinelos, como sempre sonhei. Acredito que por ter visto em 1999 um show de Gilberto Gil (show fechado, em homenagem por ter ganhado o Grammy) fiquei impressionado com todos os músicos tocando descalços e todos vestidos de branco. Desde então acho que tenho que tocar sempre de chinelo ou descalço. Ano passado, ao assistir o “Altas Horas”, a cantora Luiza Possi também tocou descalça. Não vou dizer que é 100% original, mas me agrada muito a idéia.

Bem, passada a idéia de ser músico, tive também a oportunidade de fazer um teste para ser apresentador de televisão. Nem deveria ter ido em frente para fazer o teste. Duas outras oportunidades que tive de aparecer na TV foram péssimas. Uma foi uma entrevista para MTV em 1998, no workshop do guitarrista Yngwie Malmsteen e a outra foi uma participação num programa de mesa redonda na AllTV, onde fiz o teste. Na entrevista travei e não conseguia falar coisa com coisa, além disso, estava emocionado por ter visto o Malmsteen tocar “Too Young To Die Too Drunk To Live” minutos antes, música da época em que tocava na banda Alcatraz, que para um fã como eu tinha sido um momento mágico. A mesa redonda eu simplesmente fiquei quieto. O coração batia desesperadamente e não conseguia emitir nenhuma frase com mais de três palavras, algo como “muito bem”, “é, eu gosto” e “ta bom”. O teste foi interessante. Gostei muito de fazê-lo, na verdade. Fiz uma pauta interessante sobre política, mas com os três minutos que tinha, falei tudo em 45 segundos, muito rápido e sem técnica alguma, ainda mais que não estava nem um pouco acostumado a ouvir minha própria voz no fone de ouvidos, o que dá uma sensação de ser extraterrestre ou estar participando de um filme de ficção científica. Logicamente eu não passei, mas a história entra para minha lenda pessoal.

Após estas duas experiências que foram muito próximas até, eu resolvi que se um dia fosse trabalhar com algo diferente que a arquitetura seria a escrita. Pensei no rádio, mas quando me dei conta que nunca escuto rádio, a não ser quando o jogo do Corinthians não vai passar na televisão (mesmo assim, às vezes só assisto aos gols no Jornal da Globo) ou quando vou escutar rádio, posiciono na CBN... Logo, eu não escuto a tão falada rádio Kiss FM que é um das poucas rádios segmentadas (em classic rock) de São Paulo e nenhuma outra. O que da margem aquela cara de “não sei do que está falando” quando me falam de uma música nova, que “toca direto no rádio”. Já a escrita me dá margem de escrever só dependendo de mim. Não existe a idéia de uma banda. Mas na verdade o meu erro é não ter estudado música num conservatório. Ter estudado algum instrumento de orquestra, como violino ou piano. Esta seria uma base muito melhor para mim que o estudo dos violões e das guitarras. Mostra disciplina e trabalha o que mais eu tenho problemas que é fazer atividades coletivas. Quando jogava futebol era goleiro. Detestava jogar basquete na escola e o vôlei só é interessante por não haver contato físico entre os jogadores. No fundo prefiro muito mais assistir a jogar. Gostava mesmo de natação e agora estou na minha fase de “atletismo”. Já passei pela de ciclismo, e quem sabe um dia ainda não faço triatlo. Como sempre digo, felizmente sou arquiteto... Não sei se conseguiria ser um atleta profissional ou um músico profissional. Não vou dizer como às vezes é chato demais compatibilizar o forro com o ar condicionado ou mesmo adequar os montes de quadros de energia, relógios de água e luz, tomadas, etc. Mas faço com um prazer que não sei da onde vem. Se todo mundo trabalhasse assim... Seria escutar “Flying in a Blue Dream” o tempo todo...

fevereiro 03, 2008

Born to be Wild

Get your motor runnin'
Head out on the highway
Lookin' for adventure
And whatever comes our way
Yeah Darlin' go make it happen
Take the world in a love embrace
Fire all of your guns at once
And explode into space
I like smoke and lightning
Heavy metal thunder
Racin' with the wind
And the feelin' that I'm under
Yeah Darlin' go make it happen
Take the world in a love embrace
Fire all of your guns at once
And explode into space
(...)”

Born to be Wild – Mars Bonfire (1968)

Nos dois textos anteriores, que este tenta complementar, falava de uma revolta sobre não conseguir estudar tudo, a tempo de expor as idéias. Isso lembra um pouco sobre Arthur Schopenhauer, que desenvolveu um sistema filosófico ainda muito jovem e por toda sua vida escreveu sobre ele, complementando-o. É um sistema que respondia uma parcela de suas dúvidas filosóficas. Existem duas formas de um filosofo se concentrar: é fazendo por toda sua vida um estudo e quando chega à maturidade mostra um sistema filosófico mais apurado, onde as hipóteses estejam em profunda concordância com a experiência do filosofo; ou razoavelmente jovem, apresentando parte do que seria um sistema completo, sendo complementado posteriormente. No Brasil existe uma terceira forma, que é o “especialista” em outro filosofo. Uma pessoa que escreve sobre o sistema filosófico de outro. Sim, é estranho... Mas acontece. É novamente aquela situação de “realidades”. Ainda voltando a Schopenhauer, talvez isto explique a maior influência sobre escritores, como Thomas Mann, a outros filósofos.

Na arquitetura acontece um caso mais exótico: alguns urbanistas desprezam a construção arquitetônica; como se fosse possível uma cidade sem a construção arquitetônica. São pessoas presas a números e índices. Talvez seja por isso que o urbanismo no Brasil passe por certa crise. E não responde nem a crise dos anos pós-guerra, que era a dos “números”, do déficit habitacional, e nem da crise dos “indivíduos”, que é a da questão da qualidade ambiental das construções.

Muito do que hoje é considerado cult vem principalmente dos anos 1960. Foram anos, digamos, revolucionários. O que mais intriga, que além, claro, da música, que teve uma grande influencia, principalmente pela música pop (desde Elvis, anos 1950, a Beatles, anos 1960), muito do pensamento filosófico e da música erudita não teve expoentes significativos como até os anos 1950. No Brasil isso foi até mais grave. E hoje temos um sistema acadêmico e não mais um centro de excelência de estudos. Um norte que poderia ser a universidade vem desde os anos 1960 perdendo importância. Um pouco disso tem a ver com o comportamento “mais livre” que se tomou desde então. Por isso ilustrar essa terceira parte com “Born to be Wild” é interessante. Pois mostra um lugar para a aventura, para a liberdade. Muito daqueles anos 1960 e 1970.

Esta música foi tema do filme Easy Rider, e praticamente foi a primeira vez que surgiu a expressão “heavy metal”. De certo modo formaliza uma terceira via de pensamento. Um pouco de “sociedade alternativa” mais um tanto de liberdade de escolhas. De uma forma um pouco diferente, é a maneira como se pode viver alternativamente. Isso serve para um publicitário, um arquiteto, um jornalista, um artista gráfico, um escritor. Não é nem o caminho dos acadêmicos e nem o caminho da carreira executiva. Muito disso se pode notar com quem trabalha com televisão. A idéia é ser descolado e trazer temáticas interessantes para a tela, sem cair no academicismo chato. Mas é importante destacar que se produz cultura, e de qualidade. Porém qual o meio de qualificá-la? Tendo uma academia que acha a televisão “muito burra, burra demais”, que em nenhum momento ajuda a encontrar um caminho da qualidade, nos resta “acreditar” em algum “selvagem” (born to be wild) que produza algo que nos desperte. O maior problema disso é dar igual valor a coisas que não têm mesmo valor. Numa palestra com Arnaldo Jabor, em dezembro de 2006, na livraria Saraiva do Shopping Morumbi, ele destacou essa idéia da indústria cultural, que coloca na mesma prateleira coisas que tem valores completamente diferentes. A indústria cultural não é ruim, na sua visão, mas que é necessário dar cultura para saber separar o joio do trigo.

Bad Love

"Oh what a feeling I get when I'm with you
You take my heart into everything you do
And it makes me sad for the lonely people
I walked that road for so long
Now I know that I'm one of the lucky people
Your love is making me strong (...)


Bad Love – Eric Clapton (1989)

No texto anterior falei das realidades que vão de Xuxa, Sandy até o programa Balão Mágico, que tinha como apresentadora a tal Simoni (será com “y”? Pouco importa...). São questões populares que um intelectual não deve, segundo o padrão, se interessar. Na verdade um intelectual, novamente segundo o padrão, deve achar a “televisão muito burra, burra demais”. Mesmo que ele tenha crescido sob sua total influência... Falar de futebol, então? Imagine então ser torcedor do Corinthians? Mas falar de amor pode. Ainda mais se misturar o tal amor ao sexo e com isso formalizar uma teoria psicológica. Ok, estou sendo exagerado. É, “exagerado, jogado aos teus pés, eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado...” (por que eu lembrei dessa música?).

Então, a influencia que se tem de outros meios nunca tem valor, segundo o tal padrão (isso ta ficando chato...). Logo se deve dar valor relativo a tudo? Claro que não... É exatamente neste momento que entra muito bem essa minha busca que está, na verdade, no livro “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, que são as três perguntas: Quem é você? De onde você veio? Para onde você vai? Na verdade o livro se destina a uma introdução à filosofia e me foi indicado em 1996, no primeiro semestre que fiz de faculdade. Hoje diria que a melhor indicação para iniciar na filosofia é o livro de Boécio, “Consolação da Filosofia”. Nem sempre as indicações são as melhores possíveis, fazer o que...

Assim como também não se pode achar que o amor não faz parte dos temas que gostaria de tratar aqui. Gostaria muito de falar horas do “good love”, mas para tal seria necessário me expor mais. Logo, negativo... Mas está música de Eric Clapton, que não foi a primeira que escutei dele na vida, me marcou por um tempo. Ela tem uma contradição nela mesma, pois é uma música alegre sobre uma alegria que faz menção a momentos ruins anteriores (bad loves). Nos tempos atuais poderia se dizer que é uma música de auto-ajuda, até... E é de uma fase de Clapton já dos anos 1980, não das fases do Cream, dos anos 1970, por exemplo. É interessante, de novo, o fato de misturar duas situações contraditórias, como a filosofia e a tal música (rock´n roll). Mas tenho uma simples explicação para isso: é que gosto das duas coisas, e bastante. E escrevendo desta forma fica parecendo uma busca de um estilo, mas não; é a falta completa de um.

É natural que eu escreva com bastante inconstância, lembrando que nunca havia escrito sobre os temas que abordo. Tinha escrito sobre um trabalho acadêmico, que não é a mesma coisa de ter um texto curto e sucinto, abordando temas específicos e sem termos técnicos. Escrever é uma arte que se aprimora com muito tempo. O principal agora nem é escrever muito, mas tratar de escrever um pouco sempre, para também marcar idéias e conceitos que podem se perder. Uma ótima tática para avaliar suas fragilidades é colocar para fora. E não me sentiria lá muito feliz de escrever somente para mim mesmo. É bom partilhar as idéias na forma de blog, onde só tento abordar os temas sem fazer chutes e seguindo princípios. Detesto ficar dando palpite. Às vezes saem coisas da minha curiosidade, como sobre a questão da eleição presidencial americana, onde somente vejo o panorama e acompanho os fatos, sem fazer torcida. Mas fiz uma aposta em McCain. Posso errar, é claro. Mas cada vez que leio algum articulista me dá mais certeza que ele estará na disputa e com grande possibilidade de vitória.

Ou seja, além de falar de música, de televisão, falar da política exterior. E nisso tudo, no fundo, está escrito um caminho. Preocupar-me com a exposição dos textos no momento não é importante. Mas estudar os temas que se relacionam entre si me dá uma margem de desespero: de não dar tempo de estudar tudo que quero. Ás vezes tenho ficado inconformado; outras vezes simplesmente me desligo e falo de assuntos com uma superficialidade tremenda. Noutras horas fico com raiva de algo. No começo falava com um amigo que evitava escrever com raiva e ele me aconselhou a escrever e soltar o verbo. Não consegui soltar, assim, tanto quanto gostaria.

Fazendo um paralelo de “Paradise City” e “Bad Love” só tenho a dizer que em certas horas fico revoltado, não tanto como “O Homem Revoltado” de Albert Camus, mas um tanto como Axl Rose cantando no Guns N´Roses e em outras horas estou de bem com o mundo, evitando lembrar os “bad loves”.

Paradise City

Take me down to the paradise city
Where the grass is green
And the girls are pretty
Oh, won't you please take me home (...)”


Paradise City – Guns n´Roses (1987)

Esta postagem poderia se chamar como se desviar do assunto sem fazer muita força... Uma das formas de se falar de assuntos banais é justificar uma letra como a de “Paradise City” e pedir para me levar a uma cidade paraíso, onde a grama é verde e as garotas bonitas... Mas não... Eu prefiro mesmo estar na “selva de concreto” e trilhar os caminhos da urbanização e seus reflexos de dinâmica muitas vezes não assimilável.

É uma força de expressão a de encontrar caminhos dentro da estrutura existente e não criar uma “sociedade alternativa”. Como já afirmou inúmeras vezes um grande professor, o importante é por a cabeça no mundo e não o mundo na cabeça. Esse texto inicial, de três, mostram que a certa superficialidade mostra uma busca muito maior que uma exposição. Na verdade a busca por exposição é algo que não entendo. Com a minha timidez tenho até amigos que sequer sabem o que faço profissionalmente (que é desenhar edifícios, para ser mais exato e simplista). O engraçado é confundir meu lado extrovertido com falta de timidez. Na prática ninguém crê na minha timidez e que sou somente extrovertido em pouquíssimas ocasiões, mas basta eu mesmo reler meus textos e notar a minha total timidez neles também. E o pior quando ocorre a tal exposição indesejada, como no caso da minha postagem que foi parar no blog Atlântico. Poxa! Tantos textos meus mais interessantes, até mesmo um sobre uma das hipóteses da influência das arquiteturas portuguesas, muito mais interessantes do que o péssimo textinho sobre o quanto eu desconheço Portugal. Já me disseram para focar mais em assuntos no blog, o que já disse que não é hora e nem tempo para tal. É melhor estar definido como blog de assuntos diversos a um de “assuntos ligados a arquitetura”, somente. Não sei se quero discutir somente assuntos de arquitetura, ou de música, televisão, etc. Não tenho interesse em permanecer num mesmo assunto e nem fazer um diário, mas sim de tentar ver os caminhos feitos pelos inúmeros assuntos abordados.

Por exemplo, se “Paradise City” for real? Seria então a cidade ideal? Não é fácil imaginar uma cidade ideal? Crianças normalmente desenham uma casa com chaminé e fumaça, com uma árvore à frente. Mesmo num país tropical... Que é a tal chaminé nos desenhos? Mesmo quem mora em apartamentos desenha uma casa com telhadinho... O engraçado que não passa disso a “educação artística” que se tem na escola. Imagine discutir uma obra de Van Gogh... Afinal, para que serve mesmo a pintura? E nessas horas que vejo que quando se pensa assim é que existe mais a se descobrir do que uma simples letra de música e uma simplificação dos temas...

A aparência de se fazer sério, como certa vez li num blog desses críticos de críticos do atual governo, é que se tenta disponibilizar um padrão. Tudo que estaria fora deste padrão seria então “satanizado” (detesto usar esta palavra, mas no caso ela tem força expressiva significativa...). Era o que o tal crítico fazia a Sandy cantando o “standards” de jazz. Na opinião dele, ela não serve para a coisa. O fato que nem sequer falou para que possa servir ela então. São aqueles pseudo-intelectuais que nunca vão entender que uma geração cresceu ouvindo Sandy & Junior e que eles não são a Xuxa, que mais parece professora de terceira série (Explicando: Um criança gosta de Xuxa aos 6 anos, mas aos 12 a Xuxa continua somente agradando a outras crianças de 6 anos, enquanto que Sandy agradou a galera em varias fases da vida... Uma raridade. Basta lembrar da Simoni do Balão Mágico, que ao crescer simplesmente não tinha espaço e nem público). Em nenhum momento esse crítico da “burguesia”, da “música comercial sem profundidade”, pensou (eu também estou querendo demais, eles só seguem o tal padrão... Pensar não é com eles) que com ela cantando antigas canções consagradas de jazz poderia abrir caminhos para pessoas buscarem no jazz o que ela tanto se encantou a ponto de tentar cantar. Em nenhum momento passa na cabeça desses intelectuais que uma música popular pode despertar interesse em outros assuntos? Parece esquecer que um dia ele também não conhecia jazz e alguém mostrou a ele, ou encontrou um caminho que o levou. Esse caminho é mais importante do que ficar criticando a moça que tem seu público e canta para ele (não somente para ele, mas garanto que se tentou agradar alguém não foi a tal crítica). Certa vez lembro de perguntarem ao guitarrista dos Mamonas Assassinas o que achava das crianças estarem escutando sua música e respondeu que se soubesse que as crianças gostariam tanto não colocaria os palavrões nas músicas. Mas a culpa não é dos Mamonas de que as crianças gostaram deles. Por isso e outras coisas que entendo porque intelectual no Brasil sempre fala em “realidades”... Em suma, não entende que a realidade dos fatos nem sempre corresponde ao que foi projetado e isso tem algum motivo. Estou novamente justificando “Paradise City”, pois eu bem que podia perguntar por que não se estuda seriamente o aumento da religiosidade do brasileiro. Bem que eu gostaria de saber as causas. Mas parece que o assunto não é muito interessante para os “acadêmicos” que preferem escrever sobre a mitologia da globalização e dos revolucionários brasileiros... É realidade demais para suas “realidades”...

fevereiro 02, 2008

Quantidade de informação...

Certa vez, para ser mais exato dia 2 de setembro de 1995, fui a um workshop de um guitarrista chamado Marty Friedman. Na época tocava no Megadeth, uma banda que definiria como speed metal, trash metal, ou sei lá, megadeth, ta bom... Já diz tudo... E nesse workshop Friedman mostrou muito do que se chama de carisma. Conversou com todo mundo, tocou guitarra, executou muitas músicas de seus álbuns, que entre outros produtores tem Kitaro. Na sua obra, Friedman coloca inúmeros orientalismos em seus temas e é basicamente uma obra instrumental, tocada com violões, sendo a guitarra como moderadora, valorizando os temas. Já sua obra anterior, junto ao guitarrista Jason Becker, que parou de tocar com problemas de saúde, fez dois álbuns históricos: “Speed Metal Symphony”, de 1987 e “Go Off!”, de 1988. A banda se chamava Cacophony. E seu álbum de estréia chamava “Dragon´s Kiss”, de 1988, que inclui a participação de Jason em duas faixas. Nesse período tocava bem pesado: “Speed metal”... Após a entrada no Megadeth em 1990, seus álbuns “Scenes” (1992) e “Introduction” (1993), não contemplavam nenhuma música que tivesse qualquer relação com o Megadeth. Eram praticamente álbuns instrumentais com grandes doses de violões e temas que lembravam muito a temática “new wave”, de canções como as da cantora Enya.

Durante aquele workshop fora perguntado a Friedman, sobre o porquê da decisão de fazer discos que nada tem a ver com o trabalho do Megadeth, e ele disse com todas as letras que não era um trabalho de complemento do Megadeth e sim aquilo que ele sentia. E, claro, como sempre acontece no Brasil, querem fazer intriga e concorrência com outros guitarristas e fora perguntado o que achava de Steve Vai, Malmsteen e outros. O que ele foi “politicamente correto” respondendo que gostava dos sons, mas que havia muita informação naqueles álbuns. O que ele tentava deixar mais claro, mais limpo, diria. Esta informação é de uma maturidade incrível. Acho que demorei esses anos todos para entender o que ele dizia com aquilo... O que não me faz gostar menos de Malmsteen e Vai...

Com quantidade de informações dizia é que não é necessário se colocar todos os recursos existentes para se conseguir belas melodias e que existia certo excesso no que se fazia. Eu colocaria de outra forma, que não me sinto extremamente seguro. Eu acredito que as influências orientais de certa forma tendem a deixar a sonoridade mais sensível. Um guitarrista como Malmsteen, é de certa forma mais ocidental que Friedman, que incorporou muito desse espírito oriental na sua música. Já Malmsteen não; é um promotor da cultura ocidental. Da mais alta cultura musical ocidental; de Beethoven e Mozart a Bach e Paganini. Nenhuma das duas formas de pensar a música esta errada. Mas são formas diferentes de se fazer as músicas. Incomparáveis. Não existe relativismo para tal oposição.

E com o estudo e o tempo, nada mais complexo para mim, de entender até onde existe o conflito de ocidente e oriente. Conflito este que já foi estudado por René Guenón em seu livro “A crise do mundo moderno”. O que é estranho que uma frase como a de Friedman, num workshop de música, de uma música que tem preconceito desde seu surgimento com Elvis Presley, pode suscitar debate sobre questões do oriente com o ocidente.

Por outro lado, a influencia oriental na arquitetura sempre foi grande. Desde Frank Lloyd Wright com sua viagem ao Japão, como a arquitetura de Tadao Ando, entre outros. De certa forma, o conceito de “clean” está bastante ligado ao lado oriental da arquitetura. E a quantidade de informações que são colocadas na arquitetura reflete muito essa forma de pensar. Mas como certa vez li em algum lugar, Picasso se referia a beleza clássica como a única existente. Fico por aqui, com minhas dúvidas e minhas poucas conclusões, mas o que posso afirmar que ao nascer no ocidente, muito daquilo que me cerca me forma. De certa forma consigo entender cada vez mais o que fez Guenón sair de Paris para morar no Cairo, assim como um escritor como Albert Camus se fixar em Paris. Gostaria que as fronteiras entre uma coisa e outra fossem maiores, assim como um leigo acredita ser...

Da época de faculdade...

Tenho uma recordação incrível de um dia em específico de 1999. Foi o dia em que o arquiteto francês Dominique Perrault visitou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Neste dia, no período da tarde houve um dos maiores blecautes do Brasil, onde vários estados ficaram completamente sem energia elétrica. A palestra dele foi pela manhã, algo em torno das dez horas. Foi com tradução simultânea. A tradução simultânea é interessante, pois impera um silencio incrível na sala e todo mundo parece uma ilha, pois só se presta atenção ao seu próprio fone de ouvidos e a imagem projetada nos telões. A interatividade é, digamos, comprometida, mas no caso acredito que não se perdeu tanto já que era meu primeiro contato com a arquitetura de Perrault.

Daquela palestra senti a diferença de cultura onde no Brasil a arquitetura é ainda feita sob uma ótica ainda do “arquiteto-artista”, e os escritórios que se profissionalizaram perderam muito em estética e em capacidade de inovar a arquitetura, perpetuando certas arquiteturas que não dizem nada, nem em termos regionais e nem em termos nacionais. Algo um tanto quanto sem sentido, repetido à exaustão, sem critério e perpetuando a “cidade existente” (caótica e sem rumo urbano). De certa forma ele não criticava lá muito o urbanismo, uma ótica diferente do que havia visto dois anos antes, no mesmo auditório da Escola Americana, com o também francês Christian de Portzamparc, que fazia critica mais pontuais ao urbanismo conduzido por Le Corbusier, durante seus anos de estudante. Perrault por outro lado, dava direção para o futuro, do qual atribuía dois principais caminhos para a arquitetura futura. Um deles era ligado a uma renovação do modernismo, o que chamou de neo-modernismo, e a outra uma arquitetura profundamente ligada aos conceitos de “sustentabilidade”, que na época usou o termo “ecológico”. Sendo que de uma forma ou outra a arquitetura estaria condicionada a isso num futuro que disse muito próximo, e mais que isso, que as duas formas do fazer arquitetônicos são complementares, não excludentes.

Como o tempo é uma das melhores ferramentas de análise dos discursos arquitetônicos, é bem verdade que Perrault estava mais do que certo; que ele foi basicamente um profeta no que disse. Bem, Perrault tem uma arquitetura muito interessante. Desde de sua casa até o chamado último projeto da “Era Miterrand”, que foi a biblioteca nacional de Paris, mostrou inúmeras de suas obras já terminadas nesta palestra. Mas até 1999, tudo isso era até certo ponto novo, mas o que Perrault produziu após isso é também fantástico. Ele participa de muitos concursos internacionais, onde explora de forma brilhante conceitos novos de arquitetura, além da grande exposição que estes concursos trazem, mesmo não sendo premiados. Têm de certa forma levado ao debate alguns conceitos novos, mas, porem, no Brasil, sua arquitetura não anda tendo destaque, Basicamente depois dessa passagem de 1999, não tive nenhuma notícia sobre Perrault.

Certa vez, estava numa livraria especializada em livros de arquitetura e me deparei com um livro de obras recentes de Perrault. Não foi um estudo aprofundado, mas que me instigou a buscar muito mais sobre este arquiteto. Tem trabalho em coberturas e em sistemas melhores de conservação de energia, tendo tirado partidos excelentes disso como na Universidade que desenhou na Coréia do Sul. Não só seguiu muito do que disse, mas é de uma coerência incrível; e de um profissionalismo.

Conforme falou Portzamparc, naquela palestra que me referi, em 1997, agora mais de dez anos depois, que a crise atual não é a dos números e sim dos indivíduos. E Perrault mantém também este incrível conceito. Se me fosse pedido fazer um panorama da arquitetura francesa atual, diria que os três arquitetos, Portzamparc, Perrault e Jean Nouvel, com suas inúmeras diferenças, mostram este panorama com toda a diversidade cultural que ainda existe na França de hoje. Sempre digo que uma cultura arquitetônica bastante influente, como foi a do franco-suíço Le Corbusier, que se abriu para o mundo desde os anos 1970 e 1980, com obras como o Centre Georges Pompidou e a pirâmide do Louvre, consegue se renovar com incrível qualidade.

Perrault é ainda um arquiteto jovem, por assim dizer; nascido em 1953 e formado pela Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris em 1978, já tem em seu currículo obras que o colocam como um dos arquitetos mais conhecidos do mundo.

Fico feliz quando fico sabendo da participação de arquitetos franceses atuando no Brasil, como Portzamparc na Cidade da Música Roberto Marinho, no Rio de Janeiro. Mas não sei se concordo, por exemplo, com a idéia de um museu Guggenhein no Rio de Janeiro, e muito menos com o desenho apresentado por Jean Nouvel. Gostaria muito de ver uma obra de Nouvel no Brasil, como fico feliz em ver saindo do papel a obra da sede da fundação Iberê Camargo, a cargo do arquiteto português Álvaro Siza Vieira.

Uma outra obra de Perrault, produto de um concurso, é a Casa da França, no México. Ficaria feliz se a comunidade francesa no Brasil produzisse algo semelhante. Com seus terraços jardim, acredito ser um projeto de fácil execução e de uma força arquitetônica interessantíssima, com suas transparências e inserção urbana. Bem, acho que gosto muito da obra de Perrault... Dispenso maiores comentários, mas uma frase de Ludwig Mies van der Rohe bastaria: “Menos é mais”.

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...