fevereiro 19, 2009

Por que nos Estados Unidos?

Sinto dizer, mas o óbvio começa a me irritar. Bem gostaria eu de ter paciência para com os desavisados repetidores de detalhes de notícias que não fazem a menor diferença. Em relação aos Estados Unidos então, parece que certos brasileiros pararam de pensar, se é que um dia o fizeram; se não meros repetidores foram por todo o tempo. A minha falta de elegância ao não ter paciência com os seres desavisados já é pública, há muito tempo, desde 2006, ao apontar o dedo na cara daqueles que não fizeram como eu de votar no senhor José Serra em 2002, já é cousa de um passado recente, do qual querem esquecer, claro. Votaram no outro candidato com um discurso de “bater no peito”, de uma total hipocrisia e agüentaram o que veio depois. Eu fiz a malas e fui para a “terra de Bush”, com muito mais orgulho a aquele apresentado pelos eleitores “daquilo”. Voltei. E as esperanças estavam renovadas, mesmo me enganando com Geraldo Alckmin, de quem guardo enorme respeito e compreendo que não podia ter feito nada mais. Foi uma eleição que o PSDB poderia ter ganhado, e como Reinaldo Azevedo afirmou há poucos dias, não foi uma eleição que Lula ganhou, mas que o PSDB perdeu. E isso faz muita diferença. Não como foi em 2002, que era difícil o PSDB se manter, afinal ali terminava por vez a “assombração” dos anos 1990, dos quais eu concordo plenamente com os estudiosos que foi um período mais perdido que os anos 1980, onde ainda existiam agentes na política e na elite (que à época era mesmo elite) que faziam diferença no debate.

Desde então a coisa vem se arrastando no Brasil. E a crise internacional veio para derrubar de vez o que já não ia muito bem por total incapacidade administrativa. Isso se prova a cada dia, onde a grande imprensa se esquece de fazer seu trabalho, de apontar as coisas que nunca acontecem anunciadas diariamente, como o tal PAC, que até hoje não vi nada além de muita propaganda e pouco desdobramento. Sem contar que este programa soa muito parecido com as obras do tão falado “período da ditadura”, onde o governo sempre estava “investindo” em alguma forma de completar o tal projeto de Brasil que tinham (e só eles tiveram desde então). E o simples fato de perceber isso já é motivo de bestialidades. Bons tempos na América, onde só brasileiros desinformados achavam alguma coisa interessante do Michael Moore...

Mas por que falar do Brasil, se a noticia que me desperta a atenção é sobre Barack Obama? E não é notícia, é detalhe de noticia. Porque é interessante falar um pouco das besteiras que as pessoas fazem ao esquecer que quando comento algo é porque acho extremamente importante. Queria eu ter um blog há três, quatro anos atrás para falar o que achava do mercado imobiliário americano! Iria esfregar na cara das pessoas, como farei com este texto, se eu estiver certo... E se errado estiver escreverei com a mesma intensidade, que estava errado. Não pretendo perder este blog nos próximos cinco, seis anos, principalmente para reescrever tudo aqui escrito, sempre. E reescrever é concordar com o que já penso e adicionar algo e, claro, corrigir o que achava à época sempre questionando. Um exercício perfeito. É assim que se estuda; é assim que se aprende. E deixar público então...

Não consigo visualizar ainda como Barack Obama vai levar seu governo, se será uma completa catástrofe, como é o de Lula, e será encoberto pela imprensa, como o de Lula, ou será algo muito pior. Até agora os limites de sua elasticidade não foram postos a prova, mas mandar mais 17 mil homens para o Afeganistão não me parece estar em concordância com sua campanha. Uma coisa é certa: ao falar de George Bush, disse que o homem ia embora para o Texas, conforme se deu. Assim como em 2012 haverá outra eleição para presidente e Barack Obama pode ou não ser reeleito. Eu ainda tenho dúvidas se terminará seu mandato, já que a situação é bastante complexa e exigira mais do que vejo de empenho. Israel a beira de sua posse fez uma “guerrinha” com o Hamas, um grupo terrorista que não merece sequer respeito, e a resposta de Washington foi vazia. Assim como eram vazias as ações de Bill Clinton.

A boa memória de economistas, dizem que a atual crise se deve a ação de Clinton, de baixar as condições de garantias dos créditos imobiliários. Isso foi lembrado por vários economistas, inclusive dizendo que a intervenção estatal naquele momento motivou o desequilíbrio do mercado, causando a atual crise. É algo complexo e com certeza eu não tenho todos os meios de demonstrar isso, mas que a não solução, ou soluções ruins de longo prazo, porém populares, vão ser as adotadas por Obama. É bastante óbvio que iniciar um governo onde prometeu mudanças e estas não virão por falta de propostas sérias, já bem nítidas na campanha, inclusive dos dois candidatos, e o claro receito de tomar medidas impopulares vai fazer com que ele não consiga muita coisa e talvez até piore a situação com aumento de inflação.

Nos anos 1980, mais especificamente nos fins dos anos 1970, Milton Friedman havia feito uma avaliação de que a inflação iria acontecer acompanhada de recessão, o caso do Brasil, à diferença do Chile, que se abriu economicamente. A possibilidade é que Barack Obama cometa esse erro. Afinal, não vai querer sua impopularidade logo no começo de seu governo. Ninguém quer isso. Mas temos um exemplo nacional para ele mirar: Collor! Espero estar errado nessa avaliação...

Mas o que acho realmente desnecessário é como se referem à Barack Obama: “o primeiro presidente negro dos Estados Unidos”. Onde mais eles queriam que fosse? Na Alemanha? Na Coréia do Sul? Na Polônia? Era óbvio que um dia isso iria acontecer nos Estados Unidos. Onde mais há democracia para isso? Em Cuba? Qual será o índice de negros na ilha cárcere, em relação aos Estados Unidos? Certo que há mais de cinqüenta anos ninguém ascende politicamente na ilha, um pouco maior em terras que a cidade de São Paulo. Era um pouco óbvio que só lá aconteceria isso. Não foi o primeiro candidato negro, nem muito menos é o negro de maior destaque daquele país, e nem da sua profissão (advogado). Mas é o primeiro presidente. E isso é irrelevante. Ele é presidente porque estudou, e em ótimas faculdades, e porque soube fazer uma boa ascensão política. Tomara não ser tão relâmpago em tudo...

A melhor situação dessa eleição foi para área diplomática. Hoje os Estados Unidos são reconhecidamente a maior democracia do mundo, e ninguém pode negar isso. Países como a Venezuela, que a cada dia anda em sentido contrário a isso, já começa a dar sinais de “ele não passa de mais um agente imperialista”, sendo que ele era festejado antes da posse. Para essa gente, Lula, Fidel, Chaves, Obama era melhor fora da presidência, como candidato derrotado “pelo sistema”. Podem registrar: Obama a cada tempo começara a ser criticado. Alguns por boas razões, seu governo que tende a ser ruim, e outros por puro oportunismo; Hugo Chaves é só o primeiro.

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