fevereiro 26, 2009

Por uma política “brasileira”...

Estava escrevendo sobre outro assunto, mas logo no meio do texto acabei tendo mais um milhão de idéias. E pensei numa política verdadeiramente brasileira. Imaginei uma política de fomento real ao turismo. Também por influência do feriado próximo, o Carnaval, muitas questões que nunca me interessam me incentivaram a um questionamento. Seria uma política estritamente focada em cultura, entretenimento e em defesa da liberdade.

O Carnaval é um ótimo período de reflexão. Faz lembrar dos carnavais que eu viajei pelo país atrás simples e especificamente de entretenimento (traduzindo: diversão). Depois, e muito tempo depois, que comecei a viajar para descansar, para conhecer lugares e “culturas” diferentes, até chegar ao caso de não sair de casa no Carnaval, lembrando a boa crônica de Mário Prata: Férias é melhor voltar logo para casa! (17/10/1995).

Porém, uma nova ocasião me deixou surpreso: uma amiga desfilou na escola de samba pela primeira vez e disse ter sido uma das maiores emoções da vida dela. Isso me deixou curioso. Nunca prestei muita atenção aos desfiles, principalmente em 2005 e 2006, cuja escola que mais gostei simplesmente caiu para a “segunda divisão”... Logo notei que não entendo nada do assunto. Mas eu gosto, e muito, das letras dos sambas-enredo. Teve uma, em especial, de 1989, da escola de samba Camisa Verde e Branca que até hoje me recordo: Sandolar. Era algo como “São João meteu a mão/ e sobrou para D. Pedro a primeira inflação”... Era um tema atual, e foi campeão daquele ano. Desde então tento prestar atenção aos sambas. As marchinhas sempre me despertaram curiosidade e sempre invoco aquela gravada por Silvio Santos – o homem do baú: “A pipa do vovô não sobe mais”.

Eis que me pergunto: existe um museu do Carnaval? Onde são publicadas as letras, os discos, os sambas-enredo? Deveria existir um museu do Carnaval. Ou uma publicação sobre os sambas, tipo periódico, não livro. Sobre sambas, escolas de samba, turismo do carnaval, festas das quadras, tudo organizadinho. Mas não. Nada é organizado, nem os sites das escolas de samba são bons. Se o samba faz parte da cultura popular de um povo, porque ele não tem interesse maior para uma publicação em periódico? Se já existiu até publicação especializada em cavalos, uma sobre samba não seria nenhuma complicação, levando ainda em conta os grupos de pagode, e carnavais e festivais Brasil afora, tais como Parintins, Carnaval da Bahia, Concurso de Marchinhas, etc.

Os patrocinadores são também muitos: as redes de hotéis, as companhias aéreas e rodoviárias, os fretamentos privados, colônias de férias, clubes, restaurantes, museus e outros. Não entendo como a viabilidade desse tipo de revista, com um público interessado enorme, ainda não é uma realidade, nem que eu saiba um projeto naufragado. Como já disse acima, não sou fã de samba ao ponto de ser talvez um assinante da revista, mas esta podia ser algo muito maior culturalmente. Uma política de estado que fosse uma política de fomento ao turismo faria com que a rede hoteleira fosse sim um ingrediente para “aquecer” o mercado de trabalho. A concretização de um museu do Carnaval, assim como o Museu do Futebol, seria um passo a ser dado por qualquer secretaria da cultura... Até quando vamos ver cultura sendo tratada somente como gastos? Vamos fazer a cultura desenvolver o resto... A idéia de desenvolver o Brasil para em seguida pensar na cultura é simplesmente uma idiotice. E isso por que falo da cultura popular, não daquela erudita, que realmente traz muito mais implicações.

De fato, gostaria eu de projetar um museu do Carnaval. Mas, a própria prefeitura do Rio de Janeiro, um dos maiores símbolos do Carnaval, priorizou outro projeto... Não que o projeto seja ruim, muito pelo contrário, mas é, novamente, uma postura distante daquela adotada por um país em desenvolvimento.

Em São Paulo, o Museu do Futebol, projeto do escritório Mauro Munhoz, trouxe uma novidade para os amantes da bola. Futebol recebe pouco investimento estatal, mesmo que se reclame que só o futebol recebe mais dinheiro que outros esportes todos juntos. Mas qual estádio já está em perfeito estado para a Copa de 2014? Outra vez os governantes não investem onde o seu povo gostaria. São demagogos demais para fazer até mesmo políticas populares. E os centros de treinamento? Fora o São Paulo Futebol Clube, qual outro centro de treinamento está próximo de um padrão internacional? Padrão próximo àqueles encontrados em países cujo esporte tem uma política de estado. Existe no Brasil um ministério do esporte, quais seus grandes méritos?
Coisa bastante simples que gera uma riqueza sem igual, com muito menos milhões do que os gastos atualmente em, em, em que mesmo? Saúde precária, ensino precário... Fica um pouco difícil ver onde se está investindo todos aqueles impostos recolhidos. Redução da pobreza se faz dando alternativas. Se o Brasil não vai ser um grande país industrializado, se a agricultura não consegue gerar empregos, o grande universo que sobra é o fomento ao turismo e a estruturação dos pólos esportivos. Se estas políticas fossem implementadas, com certeza se teria resultados muito melhores. Mas como pensar na diversão do Carnaval ou na diversão dos jogos de futebol e deixar de lado saúde e educação (como se fosse realmente prioridade)? Muito simples: por que se chama ESCOLA de samba? Porque lá se ensina a sambar e a fazer samba, tocar instrumentos, atelier de costura, organização, disciplina e espírito de competição. Isso tudo pode ser ampliado para história, para enriquecer as letras dos sambas; para moda, se pensarmos nas fantasias e na maquiagem; para a competição saudável, visto que as escolas de samba não costumam ter os problemas das torcidas organizadas. Quanto ao fomento do esporte, já falei do futebol, mas com certeza o vôlei brasileiro poderia ser outro esporte com a mesma intensidade do futebol. Não falta idéia, falta parar de fazer políticas rasteiras e começar a pensar em “imperialismo” esportivo em vez de “imperialismo” econômico e industrial.

Achei... "ditabranda"... de C# é R*&%

Achei o tal editorial. Mas o pior de tudo que não tenho certeza ser ele, já que não tenho acesso aos arquivos da Folha. Gostaria que os (des)informadores antes de darem suas milhares de opiniões tivessem antes de mais nada ter colocado o editorial completo. Agora fico eu tendo que acreditar num blog, um dos poucos que resolveu colocar o editorial completo. E pelo que trata no editorial é da ascensão da ditadura na Venezuela e numa infeliz passagem chama de “ditabranda” o período militar brasileiro.

O mais interessante e mais importante do editorial, ninguém prestou atenção: de acabar com a democracia por meio da democracia. Isso sim é que é importante. O “relativismo” da ditadura é uma infelicidade que no fundo é culpa de todos os “relativistas”, os colocadores de “contextos”, que por sinal estão no poder hoje no Brasil. Esta expressão é o lado negativo de dizer que no Brasil toda a “política é corrupta”, que é “culpa do sistema”, “por a mão na merda”. Infelizmente a culpa disso é da classe intelectual. Pois, em suas alegações, Fidel Castro consegue ter “ótimas” participações nas Olimpíadas, mesmo sendo um país pobre, enfrentando as grandes potencias! É até poético, se fosse verdade. O que querem que se diga sobre a ditadura? Se o Brasil, um país à época com pouco mais (ou menos) de 90 milhões de pessoas e nem sequer tiveram mais do que 500 mortos diretos (da esquerda)? E durou “só” vinte anos... Há quantos anos Cuba está sob uma ditadura? E, claro, não é muito bom “relativizar” esses dados, não é? Relativismo só serve quando tem um lado, não é?

O problema dessa discussão não está no termo utilizado, mas sim de se confrontar a realidade das coisas. A ditadura foi sim execrável. Foi um período terrível para as liberdades individuais e até mesmo para o progresso do país. Não saberia dizer se preferiria um país pobre e miserável que não tivesse tido a ditadura de 1964 a 1985, ou um país pobre e miserável que se orgulha de ser “o país do futuro” que nunca chega. Até os atuais governantes não existiriam se não tivesse existido uma “ditadura”. Tudo de ruim no Brasil se deve a ditadura. Até mesmo aqueles que acham que a infra-estrutura do Brasil foi conseguida pelos militares (foi mesmo, mas até aí qual era o palno? Valeu a pena?) e por isso o Brasil é um “gigante”. Tudo leva a crer que a idéia de ”imperialismo”, coisa que abomino com todas as letras, faz parte desse pensamento. A idéia de ver o Brasil como o “imperialista” da América do Sul, nasce dessa idéia de “um Brasil grande”. Felizmente eu não vejo motivos para o Brasil ser motivo de ódio de nossos vizinhos, mas se as idéias de “Brasil Grande” continuassem... Não sei não. Será isso que os brasileiros querem? No geral eu acho que não. Mas se continuarem insistindo nisso, de que o Brasil deve ser “importante” no conflito do Oriente Médio; que o Brasil deve ser “importante” no comércio mundial; que o Brasil deve ser “importante” além das Copas do Mundo, essa realidade tende a piorar e muito.

Eu sou favorável à abertura completa do comércio com o Mercosul. Tirar todas as restrições, até para trabalho, mesmo que isso não seja bilateral. Abrir o Brasil para comércio mundial. Fazer o Brasil importante pólo de comércio, e se a indústria prosperar com a importação de tecnologia, muito bem. Liberar os jogos e os cassinos, como entretenimento e fomentar o turismo. Ter segurança nacional contra ladrões, evitar ser também o pólo de comercio de drogas, e fazer o que mais o BRASIL sabe fazer: se divertir! Enquanto os outros fazem guerra, nós nos divertimos. Seria realmente o melhor lugar do mundo: tudo de melhor entraria aqui. Bastaria aos brasileiros deixar de ter o espírito de vira-lata e começar a pensar em se divertir em vez de fazer o que o mundo quer. Se o Brasil fosse realmente o país do Futebol, todo político prometeria uma estádio novo e pólos de treinamento de atletas. Se existissem dez centros de treinamento igual ao do São Paulo Futebol Clube, metade dos jogadores na Itália e na Inglaterra seria brasileiro. Todos se divertindo... E a pobreza aqui seria muito menor. Mas como sempre, aqui a prioridade é “ser o país do futuro”... Que as idéias imperialistas e as idéias de relativismo morram todas no mesmo lugar: no inferno!

Ditabranda????

Não achei ainda o editorial da Folha falando sobre essa tal de “ditabranda”. Mas as atividades de repúdio já chegaram até meu e-mail... Quem será o louco que botou a mão na toca das formigas? Pois uma coisa é dizer que “RELATIVAMENTE” a ditadura militar brasileira foi o regime ditatorial mais brando ocorrido em todo o mundo durante o século XX (podemos comparar com a ditadura de Getulio Vargas, as da Argentina, Chile, Cuba, URSS, China, Iugoslávia e Camboja para chegar a essa composição). Mas dizer que foi branda... Nunca uma ditadura é “branda”. Algo que mata é ruim não importando a intensidade. Algo que acaba com a liberdade é ruim, não importando se acabou pouco ou muito. O relativismo é sempre uma besteira. Mais do que isso, quem realmente defendia a democracia em 1964?

Texto de João Mellão Neto sobre o episódio:

Publicado em OESP em março de 2004 (aqui).

1964 – 40 anos depois.

Se a esquerda tivesse vencido, o regime seria menos cruel?

Eu tinha apenas oito anos de idade. Não posso, portanto, dar um testemunho sobre aqueles dias. Mal sabia o sentido da palavra política. Sou um dos filhos da geração do silêncio. Meu único contato direto com o regime se deu em 1977, quando, estudante universitário, ao participar de uma passeata, fui detido, apanhei como criança da polícia e pernoitei no DEOPS, respondendo a interrogatórios.
Embora não tenha vivenciado pessoalmente os fatos daquela época, já li e reli pilha de livros e depoimentos contra e a favor daquele movimento. Tive a paciência, inclusive, de recorrer à Biblioteca Municipal para, consultando os jornais e revistas da época, ter uma noção mais vívida de tudo o que se passou. Minha visão sobre o evento é, portanto, isenta e desapaixonada.
Enquanto durou foi denominado de revolução. Depois que terminou passou a ser intitulado tão somente de golpe. Mais apropriado, a meu ver seria defini-lo como "movimento de 1964". Não foi uma revolução autêntica, pois não levantou as massas. Mas também não foi apenas um golpe, porque uma razoável parcela da população brasileira o apoiou.
Durante vinte anos o Brasil viveu um regime político autoritário, lastreado no poder emanado dos quartéis. Um "regime militar"? Não chegaria a tanto. Com exceção dos presidentes, todos eles generais de exército, os sucessivos ministérios foram ocupados predominantemente por civis. Os militares, curiosamente, tinham uma paradoxal obsessão pela legalidade. Enquanto rasgavam a constituição, por um lado, preocupavam-se, por outro, em garantir o embasamento jurídico e institucional de todos os seus atos. O princípio de revezamento no poder foi escrupulosamente mantido e o Congresso - embora expurgado de seus quadros mais combativos, permaneceu aberto a maior parte do período. Os atos arbitrários foram legitimados com a edição de uma nova Constituição e, mesmo o ato institucional número 5 - que, na prática, instaurou uma ditadura - foi cuidadosamente justificado com princípios jurídicos. Durante todo o ciclo militar em nenhum momento se pretendeu que ele viesse a durar tantos anos. Desde Castelo Branco, o primeiro general presidente, a idéia predominante nas elites militares era a de que o regime de exceção durasse apenas o suficiente para que fossem implementadas algumas reformas básicas e, feito isso, o poder seria devolvido aos civis.
Obviamente, no que tange a direitos humanos e valores democráticos, estas duas décadas foram absolutamente condenáveis. Mas a História é uma senhora caprichosa. Ironicamente, foi durante a presidência de Médici - o período mais repressivo e sanguinário do ciclo - que o governo alcançou índices máximos de prestígio e apoio popular, como raras vezes ocorrera em toda a Era Republicana. Outro paradoxo: nunca antes - como naqueles terríveis anos - a auto-estima dos brasileiros esteve tão elevada.
Não, não há como justificar aquele regime, em função de todos os males que causou à democracia e aos direitos humanos. Mas, se nosso objetivo é extrair lições da História, temos que estudá-la em todas as suas inúmeras contradições. Um delas é a de que, durante a maior parte do ciclo autoritário, nunca a governança do país foi exercida de forma tão eficiente. Durante aqueles anos de chumbo, a economia brasileira crescia a taxas médias de mais de 10% ao ano, as maiores de todo o planeta e jamais igualadas pelos governos democráticos que vieram a seguir. Se, em 1964, a nossa economia estava por volta do quadragésimo lugar no ranking mundial, 20 anos depois, ostentávamos o oitavo PIB do planeta (Atualmente não passamos do 12º ou 15º lugar...).
As elites militares - e as civis a elas associadas - desde a criação da Escola Superior de Guerra, em 1949 - vinham meticulosamente elaborando um projeto de governo, para o país. E, em 1964, ao invés de uma breve intervenção, os "esguianos" entenderam que era chegado o momento de implementá-lo. O objetivo era alcançar uma forma avançada de capitalismo.
Durante o governo de Castelo Branco, (1964-67) promoveu-se uma radical modernização de todo o nosso sistema econômico, financeiro e tributário, o que, entre outras coisas, resgatou a capacidade de investimento do Estado.
Com isso, criaram-se as condições para que, nos governos de Costa e Silva e Médici (1967-1974) se desencadeasse o fantástico "Milagre Brasileiro". O governo posterior de Geisel (1974-79), mesmo enfrentando as duas crises do petróleo, persistiu na política desenvolvimentista e, através do endividamento externo e de empresas estatais, logrou concluir a matriz industrial do país. Gostando ou não, devemos a ele o fato de o Brasil ter hoje um parque industrial completo. Nenhum outro país da América Latina logrou tal feito.
A pergunta que fica é a seguinte: será que valeu a pena?

1964 foi um "annus horribilis". Não por causa do movimento dos generais, mas porque, com o impasse criado, qualquer que fosse o desfecho, ele seria necessariamente trágico.

Chegou um momento em que todos, indistintamente, ansiavam por um golpe. Brizola, à esquerda, pregava o fechamento do Congresso para que se implantassem as reformas de base. Lacerda, à direita, pregava que o Congresso fosse fechado para viabilizar as reformas modernizantes. A direita venceu.
Indagação pertinente: se as esquerdas tivessem vencido, o regime subseqüente seria menos cruel ou autoritário? Com certeza, não.
Vale lembrar que as esquerdas de então não eram "light" como hoje. Vivia-se o apogeu da Guerra Fria e o vezo stalinista ainda predominava. Direitos humanos não constavam de suas bandeiras e pregava-se abertamente a revolução armada, a supressão da burguesia e a ditadura do proletariado...
A democracia, em 1964, não acabou por acaso. Simplesmente não havia uma única voz que a defendesse. É uma antiga e recorrente lição da História: os povos que perdem a Liberdade pela força, pela força haverão de recuperá-la. Mas aqueles que a perdem por descaso, é muito difícil que voltem a ser livres.

Comento
Este texto foi escrito em 2004. Alguma coisa já mudou desde lá. Como se pode ter outro mundo em 5 anos? Como os “indícios” de ditadura na Venezuela, a falta de “transparência” na Rússia (alguém lembra como chamava na época de Mikhail Gorbachev? Chamava de glasnost...) e a “abertura” somente econômica da China, sem direitos humanos, sem abertura cultural, sem liberdade (essa já é até meio velha).

O novo livro de Robert Kagan, The Return of History and the End of Dreams (2008), aborda a questão das autocracias como a China e a Russia, e a composição de uma nova ordem, que não se parece em nada àquela do começo da década de 1990. Mais do que isso, fala das barbaridades ocorridas no século XX. Fala muito pouco, praticamente nada, sobre América Latina e quanto ao Brasil fala somente ao final do livro, na sua proposta de liga das nações democráticas. É um livro anterior à crise econômica mundial. É um livro que consegue fazer bom diagnóstico da posição atual dos paises pós-Guerra Fria. Mas ainda há muito em processo no mundo. Claro, só vamos conseguir ver isto dentro de algum tempo; a história não é imediata.

Mas não nos enganemos. Não devemos deixar de estudar a ditadura militar brasileira, ou como gosto de declarar: período militar de exceção. Ela é pouco estudada e existem mitos de todas as formas ainda rondando seus estudos. Um deles é a clara apologia à esquerda, que não era nada “muito melhor” que aquela da Rússia e da China ou de Cuba, que juntas fizeram milhares de pessoas morrerem. No dia que vir um desses esquerdistas dizendo os reais planos de sua “luta” vou poder achar que chegamos a um estado de “isenção” para poder criticar a Folha com seu “ditabranda”. Enquanto isso vamos vivendo de “relativismos”...

fevereiro 23, 2009

Blackmore...

Neste vídeo, Ritchie Blackmore faz bela improvisação passando de um blues para uma versão de Beethoven. Era muito comum nos shows do Rainbow a introdução da nona sinfonia de Beethoven, e o mais interessante dessa formação é a presença de Roger Glover no baixo e Joe Lynn Turner tocando base de guitarra. Foi a fase já mais próxima da reunião do Deep Purple anos mais tarde para a gravação de Perfect Strangers (1984).

Poderia falar por horas do quanto gosto de ver Blackmore improvisando ao vivo. Claro, estas performances ao vivo datam muitas vezes dos anos 1970 e esta do começo dos anos 1980. Acredito que desde os anos 1990 vem adotando uma atitude de palco bem mais comedida. No show de 1997, da ultima formação do Rainbow, com Doogie White no vocal, vi um Blackmore bastante recolhido. No show do DVD de seu mais recente projeto Blackmore´s Night (com mais de 10 anos ainda pode ser recente?), Blackmore inova com os instrumentos, com a sonoridade da banda e de certa forma apresenta um novo trabalho, praticamente inédito e diferenciado.

Street of Dreams

Conheci Joe Lynn Turner num álbum de Yngwie Malmsteen, de 1988, Odissey. Logo em 1991 (ou era 1990?) veio ao Brasil para os shows com o Deep Purple. Fui conhecer o trabalho com o Rainbow muito tempo depois, nos meados dos anos 1990. Assisti ao Rainbow remodelado em 1997. O que acho de mais interessante nessa história é que praticamente a banda permanece “meio desconhecida”, principalmente por muito amigos. Isso também acontece com outras bandas. Resolvi colocar este vídeo que não conhecia, para colocar uma amostra do que foi esta formação do Rainbow com Joe Lynn Turner, bastante diferente da fase com Ronnie James Dio, o período mais conhecido da banda.

E, claro, ao lado de algumas outras músicas, a voz de Lynn Turner está gravada na minha memória com uma grande “carga emocional”... São aqueles momentos que não tem muita explicação.

A versão original é de 1983, do álbum do Rainbow Bent Out of Shape. E há regravação no álbum do Blackmore´s Night Village Lanterne (2006). Na verdade são suas regravações, uma de Candice Night e outra com Candice Night e Joe Lynn Turner. Incrivelmente fantástica.

fevereiro 19, 2009

Ronnie Von é o mestre!

Estava assistindo ao programa do Ronnie Von (não contem a ninguém, pois pega mal). Estava ele entrevistando a jornalista Nina Lemos, autora do recente lançamento A Ditadura da Moda, romance que comentei outro dia. O papo estava ótimo. Ronnie como sempre é um cavalheiro. Uma elegância em pessoa. Não sei se isso se justifica pessoalmente, tenho uma ótima imagem dele, é o que interessa.

No papo entre os dois, Nina falou que pertence à geração que nasceu nos anos 1970 (mais especificamente nasceu em 1970), da qual Ronnie disse que seu filho também faz parte, e que é uma geração “sem ideologias”. Ela disse que seus pais eram comunistas e que quando ela observa o trabalho com a moda, algo que nenhum comunista acreditaria nos anos 1970 que tivesse a importância que tem hoje, se formaram algumas das idéias para escrever o romance. Ronnie disse que ele fazia parte da esquerda francesa, a que tomava champagne francesa, pois existia a esquerda escocesa, que tomava uísque escocês e assim por diante...

É fantástico existir um Ronnie Von, que depois dessa passa ser odiado pelas esquerdas por simplesmente dizer a verdade de como era a verdadeira cara dos “estudantes de esquerda”. Uma elite, com um bom dinheiro no bolso, que pretendia “mudar o mundo”. Na minha época eram os “comunistas de boteco”. Esse povo não muda mesmo... Certa vez um amigo da minha família falou que na sua juventude se discutia a seca no nordeste bebendo uísque doze anos com pedras de gelo de água de côco. Talvez este fosse da esquerda escocesa já mais “tropicalizada”...

O interessante que este tipo de comentário dá margem a aquelas situações “mas quem é o Ronnie Von para falar sobre isso?” O mais interessante é que ele é o Ronnie Von, que foi um cantor, segundo o Almanaque do Rock, escrito pelo Kid Vinil, um dos principais cantores psicodélicos nacionais. Acho que nem o Ronnie Von sabe disso... Há de se dizer uma boa coisa de Ronni Von: sempre trabalhou e nunca pediu dinheiro para governo nenhum...

Como disse na postagem de A Ditadura da Moda, só o fato do livro existir já é uma boa noticia. Alguém já refletiu! Em tempos de aceitação de absurdos (nada mais incrível que aquele comercial da Oi), existir alguém refletindo é sempre boa notícia. Logo na primeira vez que escuto falar do livro já tenho uma grata surpresa: Ronni Von! Adorei!

Por que nos Estados Unidos?

Sinto dizer, mas o óbvio começa a me irritar. Bem gostaria eu de ter paciência para com os desavisados repetidores de detalhes de notícias que não fazem a menor diferença. Em relação aos Estados Unidos então, parece que certos brasileiros pararam de pensar, se é que um dia o fizeram; se não meros repetidores foram por todo o tempo. A minha falta de elegância ao não ter paciência com os seres desavisados já é pública, há muito tempo, desde 2006, ao apontar o dedo na cara daqueles que não fizeram como eu de votar no senhor José Serra em 2002, já é cousa de um passado recente, do qual querem esquecer, claro. Votaram no outro candidato com um discurso de “bater no peito”, de uma total hipocrisia e agüentaram o que veio depois. Eu fiz a malas e fui para a “terra de Bush”, com muito mais orgulho a aquele apresentado pelos eleitores “daquilo”. Voltei. E as esperanças estavam renovadas, mesmo me enganando com Geraldo Alckmin, de quem guardo enorme respeito e compreendo que não podia ter feito nada mais. Foi uma eleição que o PSDB poderia ter ganhado, e como Reinaldo Azevedo afirmou há poucos dias, não foi uma eleição que Lula ganhou, mas que o PSDB perdeu. E isso faz muita diferença. Não como foi em 2002, que era difícil o PSDB se manter, afinal ali terminava por vez a “assombração” dos anos 1990, dos quais eu concordo plenamente com os estudiosos que foi um período mais perdido que os anos 1980, onde ainda existiam agentes na política e na elite (que à época era mesmo elite) que faziam diferença no debate.

Desde então a coisa vem se arrastando no Brasil. E a crise internacional veio para derrubar de vez o que já não ia muito bem por total incapacidade administrativa. Isso se prova a cada dia, onde a grande imprensa se esquece de fazer seu trabalho, de apontar as coisas que nunca acontecem anunciadas diariamente, como o tal PAC, que até hoje não vi nada além de muita propaganda e pouco desdobramento. Sem contar que este programa soa muito parecido com as obras do tão falado “período da ditadura”, onde o governo sempre estava “investindo” em alguma forma de completar o tal projeto de Brasil que tinham (e só eles tiveram desde então). E o simples fato de perceber isso já é motivo de bestialidades. Bons tempos na América, onde só brasileiros desinformados achavam alguma coisa interessante do Michael Moore...

Mas por que falar do Brasil, se a noticia que me desperta a atenção é sobre Barack Obama? E não é notícia, é detalhe de noticia. Porque é interessante falar um pouco das besteiras que as pessoas fazem ao esquecer que quando comento algo é porque acho extremamente importante. Queria eu ter um blog há três, quatro anos atrás para falar o que achava do mercado imobiliário americano! Iria esfregar na cara das pessoas, como farei com este texto, se eu estiver certo... E se errado estiver escreverei com a mesma intensidade, que estava errado. Não pretendo perder este blog nos próximos cinco, seis anos, principalmente para reescrever tudo aqui escrito, sempre. E reescrever é concordar com o que já penso e adicionar algo e, claro, corrigir o que achava à época sempre questionando. Um exercício perfeito. É assim que se estuda; é assim que se aprende. E deixar público então...

Não consigo visualizar ainda como Barack Obama vai levar seu governo, se será uma completa catástrofe, como é o de Lula, e será encoberto pela imprensa, como o de Lula, ou será algo muito pior. Até agora os limites de sua elasticidade não foram postos a prova, mas mandar mais 17 mil homens para o Afeganistão não me parece estar em concordância com sua campanha. Uma coisa é certa: ao falar de George Bush, disse que o homem ia embora para o Texas, conforme se deu. Assim como em 2012 haverá outra eleição para presidente e Barack Obama pode ou não ser reeleito. Eu ainda tenho dúvidas se terminará seu mandato, já que a situação é bastante complexa e exigira mais do que vejo de empenho. Israel a beira de sua posse fez uma “guerrinha” com o Hamas, um grupo terrorista que não merece sequer respeito, e a resposta de Washington foi vazia. Assim como eram vazias as ações de Bill Clinton.

A boa memória de economistas, dizem que a atual crise se deve a ação de Clinton, de baixar as condições de garantias dos créditos imobiliários. Isso foi lembrado por vários economistas, inclusive dizendo que a intervenção estatal naquele momento motivou o desequilíbrio do mercado, causando a atual crise. É algo complexo e com certeza eu não tenho todos os meios de demonstrar isso, mas que a não solução, ou soluções ruins de longo prazo, porém populares, vão ser as adotadas por Obama. É bastante óbvio que iniciar um governo onde prometeu mudanças e estas não virão por falta de propostas sérias, já bem nítidas na campanha, inclusive dos dois candidatos, e o claro receito de tomar medidas impopulares vai fazer com que ele não consiga muita coisa e talvez até piore a situação com aumento de inflação.

Nos anos 1980, mais especificamente nos fins dos anos 1970, Milton Friedman havia feito uma avaliação de que a inflação iria acontecer acompanhada de recessão, o caso do Brasil, à diferença do Chile, que se abriu economicamente. A possibilidade é que Barack Obama cometa esse erro. Afinal, não vai querer sua impopularidade logo no começo de seu governo. Ninguém quer isso. Mas temos um exemplo nacional para ele mirar: Collor! Espero estar errado nessa avaliação...

Mas o que acho realmente desnecessário é como se referem à Barack Obama: “o primeiro presidente negro dos Estados Unidos”. Onde mais eles queriam que fosse? Na Alemanha? Na Coréia do Sul? Na Polônia? Era óbvio que um dia isso iria acontecer nos Estados Unidos. Onde mais há democracia para isso? Em Cuba? Qual será o índice de negros na ilha cárcere, em relação aos Estados Unidos? Certo que há mais de cinqüenta anos ninguém ascende politicamente na ilha, um pouco maior em terras que a cidade de São Paulo. Era um pouco óbvio que só lá aconteceria isso. Não foi o primeiro candidato negro, nem muito menos é o negro de maior destaque daquele país, e nem da sua profissão (advogado). Mas é o primeiro presidente. E isso é irrelevante. Ele é presidente porque estudou, e em ótimas faculdades, e porque soube fazer uma boa ascensão política. Tomara não ser tão relâmpago em tudo...

A melhor situação dessa eleição foi para área diplomática. Hoje os Estados Unidos são reconhecidamente a maior democracia do mundo, e ninguém pode negar isso. Países como a Venezuela, que a cada dia anda em sentido contrário a isso, já começa a dar sinais de “ele não passa de mais um agente imperialista”, sendo que ele era festejado antes da posse. Para essa gente, Lula, Fidel, Chaves, Obama era melhor fora da presidência, como candidato derrotado “pelo sistema”. Podem registrar: Obama a cada tempo começara a ser criticado. Alguns por boas razões, seu governo que tende a ser ruim, e outros por puro oportunismo; Hugo Chaves é só o primeiro.

fevereiro 10, 2009

Series de televisão...

Tem momentos que acredito que dormir cedo é deixar de ver o melhor da televisão. Da americana, claro... A que vale a pena ver na televisão aberta. Depois do meu total desinteresse por produções nacionais, me detenho nas séries americanas dubladas. Um gosto duvidoso. Mas desde que não tenho mais o canal AXN tenho que me virar com o que tenho...

Sinto que a televisão brasileira precisa de um novo choque. A ultima série realmente interessante que assisti foi Capitu. E durou nada mais de 5 capítulos. E não consegui ver da forma que queria, não vejo a hora de lançarem em DVD para captar os detalhes. Claro, não posso falar de Maysa, já que nem sequer assisti a um capítulo. Mas ainda é pouco. Teve época que além de novelas bem feitas havia séries incríveis como A Casa das Sete Mulheres e seriados fantásticos como Os Normais. Gosto de A Grande Família, mas já estou um tanto saturado. Já não tenho grande paciência para assistir. Na verdade sempre tive um pouco de implicância com esta série, mas com o tempo fui gostando de detalhes. Mas hoje fico mais feliz assistindo Dr. House, CSI e até Monk, do que as séries e produtos nacionais. A Globo não consegue repetir o sucesso de Lost e trás uma série que me lembra Oz (que o SBT está reprisando... opa... esta eu assisti nos tempos de HBO). O detalhe é que não gosto de Lost... Nunca gostei. E 24 horas depois da segunda temporada não me interessava à mínima.

Nesse quesito a Record e o SBT tem se saído melhor. A Record poderia dizer que já tem até uma reputação. Lá passou Arquivo X, e o no ano passado tinha uma seleção para praticamente toda a semana, que mantém ainda hoje. Mas a madrugada do SBT é recheada de séries. Diria que os porteiros, as pessoas com insônia, e todo o bolo de gente tende a assistir o SBT madrugada adentro. Por exemplo, hoje, terça-feira, haverá a partir da 01h:45 Divisão Criminal, seguido de The O.C. e um seriado incrível chamado Estética (este exibido às 04h:00). Mas o meu predileto é Em Nome da Justiça, com a personagem de Annabeth Chase (Jannifer Finnigan – foto), uma assistente da promotoria do Estado de Indiana. Suas sombras marcantes sob seus olhos deixam qualquer um meio curioso sobre este seriado.

Bem, o que resta é por volta da meia-noite ficar de olho no que passa nestes canais. Algumas dicas: na Record todas as terças-feiras passa CSI: Miami, quintas-feiras Dr. House e às sextas-feiras CSI: Las Vegas. E para quem fica em casa no sábado á noite, à meia-noite, Monk... Outra série que torcia o nariz e que hoje dou mais risadas do que com as trapalhadas de Agostinho Carrara...

fevereiro 09, 2009

Barracuda

Venho nos últimos tempos falando bastante de música. Não à toa, a música me acompanha nos bons e nos maus momentos da vida. Sempre há uma canção para lembrar. Dos tempos que morei nos Estados Unidos pude me aprofundar numa banda que sempre tive curiosidade e descobrir toda uma trajetória que simplesmente desconhecia.

O Heart é uma banda dos anos 1970 que tem nessa década sua maior influencia. Nos anos 1980 alcançou o sucesso com músicas como If Looks Could Kill. Uma aparência comum das bandas dos anos 1980 e era essa minha impressão. Ao ouvir os primeiros acordes de Barracuda fiquei impressionado. Tinha acabado de comprar o álbum Little Queen (1977) sem ouvir nada na livraria Borders. Coloquei para rodar no carro e instantaneamente este se tornou um dos meus álbuns prediletos. Não que If Looks Could Kill não seja uma ótima música, mas Barracuda...


Depois do álbum Little Queen, comprei o primeiro álbum da banda Dreamboat Annie (1976) e pouco depois o Bebe Le Strange (1980). E pude também assistir a um show da banda no Hard Rock Arena, em Hollywood (FL). Simplesmente não tenho palavras para descrever. A banda está em forma e a voz de Ann Wilson permanece simplesmente maravilhosa. Claro, comprei também o álbum Heart (1985) que tem a faixa If Looks Could Kill... Infelizmente não consegui encontrar os outros álbuns a venda. Mas o que conheço das duas irmãs Ann e Nancy Wilson me impressiona e muito. Foi uma das melhores coisas que conheci e por sinal não é nada novo...

Superstitious...

Esta semana terá uma quinta-feira 12... Nem falo de tanta superstição do fato que vem após toda quinta-feira 12... Quando assisti La Bamba pela primeira vez fiquei impressionado com o final do filme. O Ritchie Valens tinha pesadelos com aviões caindo... No dia 3 de fevereiro fez 50 anos que Ritchie Valens, Buddy Holly e Big Bopper morreram no acidente de avião, no conhecido dia em que “a música morreu”. Valens tinha então 17 anos.

Poderia dizer que aquela trilha sonora do filme La Bamba fez parte da minha puberdade, aquele momento pouco antes da adolescência. O filme em si não me marcou muito, diria que somente pelo fim trágico dos três e bela ótima Summertime Blues de Eddie Cochran. Pouco menos de uma década depois do filme, Alan Jackson regravou Summertime Blues numa das melhores versões que ouvi até hoje (aqui). Este clip é um dos meus prediletos até hoje...

Bem, e o que a quinta-feira 12 tem a ver com o outro assunto? Nada... Quem disse que algo precisa fazer sentido? O importante é curtir Summertime Blues...

fevereiro 07, 2009

Isay Weinfeld

Em mais um bom texto de Daniel Piza fico sabendo que o arquiteto Isay Weinfeld recebeu um premio da revista inglesa Architectural Review pelo projeto do edifício 360º. Piza foi um dos primeiros a escrever sobre Isay, talvez o primeiro livro sobre sua obra. Nos últimos tempos vem se tornando um dos arquitetos mais badalados e com uma obra de respeito e qualidade. Não à toa, em 2005, quando vivia nos Estados Unidos, vi um livro cujo nome era algo como Arquitetura dos Trópicos apresentando três residências de sua autoria como símbolos. Era o único arquiteto brasileiro da publicação.

fevereiro 05, 2009

O dia em que concordei com a Soninha...

É. Esse dia aconteceu. Tempos atrás falei sobre ela. Não exclusivamente sobre ela, mais da idéia do PT querer cassar seu mandato de vereadora (aqui). Mas agora quero falar de uma breve entrevista que assisti no programa Amaury Jr.

Soninha estava como sempre com a carinha jovem, com roupas de moleton esportivo e bem à vontade. Amaury, como sempre muito bem trajado, sempre educado e surpreendentemente fantástico entrevistador. Cercou-a com inúmeras perguntas e opinou muito bem sobre os temas tratados, se mostrando um jornalista que eu nunca havia reparado. Foi uma entrevista inédita, pois Amaury tocou em assuntos polêmicos como aborto, religião e diploma universitário de jornalismo com delicadeza e muito inteligência, digna dos grandes jornalistas. Agora que já disse minha opinião a respeito dele volto a falar dela, cuja entrevista mesmo sendo histórica não vai constar dos grandes comentaristas por puro preconceito ao Amaury.

Em outras entrevistas via uma Soninha protegida, sempre dando entrevistas com clichês, onde os jornalistas tinham total e boa vontade para deixá-la falar qualquer coisa desde que estivesse dentro daqueles assuntos de sempre, como a ciclovia e o ciclismo, o verde, os jovens, esportes, etc. Não que esta entrevista tenha fugido disso, mas foi um passinho além e sem brutalidade (de Maluf), se é que me entendem.

Dentro dos assuntos abordados o que eu concordei foi o aborto. Ela se disse contra, justamente por sua religião. Isso me deixou feliz por dois motivos: ser contra e por motivos morais religiosos. É a evolução da “vanguarda do atraso”, como comentei no longínquo outubro de 2007. Quando também se posicionou contrária à obrigação do diploma universitário foi a segunda vez que concordei com ela. No fundo eu concordo com ela, porém pelos motivos contrários, sempre, uma vez que não acredito na máxima “dos fins justificam os meios”.

Naquele momento em que se elegeu vereadora pelo PT, este era uma outra “utopia”, da qual eu já desconfiava e se tivesse as informações que tenho hoje teria a certeza de que não passava de um cenário (por sinal aprendido com o PSDB). Na hora que saiu do PT senti que não era mais uma idiota útil. Falta ainda muito para se soltar dos pensamentos monitorados por uma “patrulha ideológica”, se é que vai conseguir. Da mesma forma que um Ciro Gomes (que também fala coisa com coisa), ela tem mérito, mas está do “lado errado da força”. Não só ela, mas os poucos que conseguiram se livrar da patrulha e permanecer em evidencia, como Fernando Gabeira, tem ao seu lado uma questão meio de pé quebrado. Diria impopular, sempre. Para ser mais exato, Gabeira em 2002 quase não se elegeu. Foi para o PT e depois voltou ao PV. Suas ultimas vitórias eleitorais se devem ao fato de justamente se opor “aos fins que justificam os meios”.

Felizmente ela segue este caminho. Gostar dela como pessoa nada tem a ver com as atitudes políticas, as atitudes como mulher pública. Se gosta de andar de bike, perfeito. Ser favorável a uma campanha para melhorar as vias e fomentar as bicicletas na cidade, mais perfeito ainda. O que não rola é tentar defender atitudes individuais e escolhas individuais, para a coletividade. Ao se posicionar a respeito união civil de homossexuais hesitou. Amaury foi um cavalheiro e a fez responder qualquer coisa sem muita importância. Foi ali o início da grande entrevista de Amaury. Foi mais sutil quando defendeu o diploma enquanto Soninha falava da qualidade dos profissionais em relação a diplomas – outra evolução. (Comentário: hoje a certificação demanda uma quantidade infernal de títulos, na maioria das vezes contestáveis, e isso implica na decisão da contratação. Fato mais presente nos cursos das ciências humanas. O fato de visualizar isso é uma grande evolução.)
Por fim tenho a dizer que é muito melhor ter inúmeras Soninhas que outras figuras do nosso cotidiano, tanto televisivo quanto político. Só o fato de ter dado a entrevista, coisa que muita gente não daria por ser Amaury um “colunista social” já é uma forma de deixar de separar os mundos. Lembro de certa vez Humberto Gessinger falar num programa da MTV (não para Soninha, acho que para a Sarah) que achava que a partir dos anos 1990 muitas vezes a música era usada como divisor. E ele achava interessante o começo da carreira dele que iam ao Chacrinha e tocavam ao lado de artistas super-populares e que esta mistura gerava mais benefício que a atual separação “dos meios”. Isso é um fenômeno da esquerda, sem dúvida. Sempre eles querem formar um “novo mundo”, não conseguindo nem melhorar este, pois desprezam quem dele faz parte (isso é o típico pensamento de esquerda: eliminar quem é diferente para conseguir um “novo mundo”). Esta manifestação também foi declarada pelo Fausto Silva, numa participação de Amado Batista em seu Domigão. Fausto declarava que Amado Batista fez a platéia do Perdidos na Noite, nos anos 1980, repleta de jovens, curtir, o que não era fácil para quem se lembra do programa. Bem, como já estou fugindo do tema. É melhor finalizar por aqui, quem sabe um dia volto a falar dos lemas de pé quebrado da esquerda. No fundo diria que Soninha não é de esquerda, mas uma liberal que não se descobriu, porém a vida é como é...

A Ditadura da Moda

Adorei. Como sempre a criatividade supera as idéias pré-concebidas. Eu acho fantástico ouvir falar de uma história com nuances da realidade, tentando confrontar aqueles fragmentos humanos da vida da melhor forma. Eu sempre achei que somos formados por inúmeros fragmentos. Uns maiores uns menores. E todo o dia se luta com as arestas desses pedaços. Porém existe uma ditadura que pede coerência para tudo. Uma regra. Uma cousa um tanto quanto conservadora, mesmo para o mais rebelde de todos os revolucionários. Ao ser rebelde não pode ter tido na infância um Mickey Mouse ou um pica-pau (talvez este sim...). Ou a falta deles é a causa de sua rebeldia. Tudo tem que parecer coerente. Mas não. A vida não é assim. E para confrontar isso, nada melhor que uma boa história.

E de boas histórias felizmente pode-se agradecer a vida. A jornalista Nina Lemos, que não conheço e nem leio suas colunas, acabou de lançar um livro: A Ditadura da Moda. Segundo a sinopse que li no site da Livraria Cultura adorei a história já mesmo sem ler o livro, que pode até ser chato, sei lá eu. Mas a idéia de se ter um livro que dê um passo além, que aja confronto destes pequenos mundos, estes pequenos universos paralelos, é algo que me interessa muito. O contexto da história é uma personagem, filha de comunistas, que perde o pai durante a revolução e hoje tem uma coluna de moda. E vão acontecendo muitas coisas inclusive o passado batendo em sua porta durante a SPFW.

São de histórias assim que se inicia um novo ciclo de reflexão. Como Daniel Piza escreveu outro dia em seu blog, os rompimentos com o pensamento dos anos 1960 começam a surgir. Com mais de 20 anos de abertura democrática, nada mais justo de por à prática um reflexão de como aqueles ideais de mais de 150 anos podem ser revisados, ao mesmo passo que faz uma crítica do mundo sem ideais, do mundo da moda, onde existe uma forma de... Aí eu deixo para a autora que conhece aquele universo.

Não posso dizer que indico, pois ainda não li, mas ativou minha curiosidade para o pequeno livro, já que são somente 120 páginas. Mas tenho a dizer que este livro e sua autora talvez tenham muito a dizer e um futuro interessante a ser escrito.

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...