Estava escrevendo sobre outro assunto, mas logo no meio do texto acabei tendo mais um milhão de idéias. E pensei numa política verdadeiramente brasileira. Imaginei uma política de fomento real ao turismo. Também por influência do feriado próximo, o Carnaval, muitas questões que nunca me interessam me incentivaram a um questionamento. Seria uma política estritamente focada em cultura, entretenimento e em defesa da liberdade.O Carnaval é um ótimo período de reflexão. Faz lembrar dos carnavais que eu viajei pelo país atrás simples e especificamente de entretenimento (traduzindo: diversão). Depois, e muito tempo depois, que comecei a viajar para descansar, para conhecer lugares e “culturas” diferentes, até chegar ao caso de não sair de casa no Carnaval, lembrando a boa crônica de Mário Prata: Férias é melhor voltar logo para casa! (17/10/1995).
Porém, uma nova ocasião me deixou surpreso: uma amiga desfilou na escola de samba pela primeira vez e disse ter sido uma das maiores emoções da vida dela. Isso me deixou curioso. Nunca prestei muita atenção aos desfiles, principalmente em 2005 e 2006, cuja escola que mais gostei simplesmente caiu para a “segunda divisão”... Logo notei que não entendo nada do assunto. Mas eu gosto, e muito, das letras dos sambas-enredo. Teve uma, em especial, de 1989, da escola de samba Camisa Verde e Branca que até hoje me recordo: Sandolar. Era algo como “São João meteu a mão/ e sobrou para D. Pedro a primeira inflação”... Era um tema atual, e foi campeão daquele ano. Desde então tento prestar atenção aos sambas. As marchinhas sempre me despertaram curiosidade e sempre invoco aquela gravada por Silvio Santos – o homem do baú: “A pipa do vovô não sobe mais”.
Eis que me pergunto: existe um museu do Carnaval? Onde são publicadas as letras, os discos, os sambas-enredo? Deveria existir um museu do Carnaval. Ou uma publicação sobre os sambas, tipo periódico, não livro. Sobre sambas, escolas de samba, turismo do carnaval, festas das quadras, tudo organizadinho. Mas não. Nada é organizado, nem os sites das escolas de samba são bons. Se o samba faz parte da cultura popular de um povo, porque ele não tem interesse maior para uma publicação em periódico? Se já existiu até publicação especializada em cavalos, uma sobre samba não seria nenhuma complicação, levando ainda em conta os grupos de pagode, e carnavais e festivais Brasil afora, tais como Parintins, Carnaval da Bahia, Concurso de Marchinhas, etc.
Os patrocinadores são também muitos: as redes de hotéis, as companhias aéreas e rodoviárias, os fretamentos privados, colônias de férias, clubes, restaurantes, museus e outros. Não entendo como a viabilidade desse tipo de revista, com um público interessado enorme, ainda não é uma realidade, nem que eu saiba um projeto naufragado. Como já disse acima, não sou fã de samba ao ponto de ser talvez um assinante da revista, mas esta podia ser algo muito maior culturalmente. Uma política de estado que fosse uma política de fomento ao turismo faria com que a rede hoteleira fosse sim um ingrediente para “aquecer” o mercado de trabalho. A concretização de um museu do Carnaval, assim como o Museu do Futebol, seria um passo a ser dado por qualquer secretaria da cultura... Até quando vamos ver cultura sendo tratada somente como gastos? Vamos fazer a cultura desenvolver o resto... A idéia de desenvolver o Brasil para em seguida pensar na cultura é simplesmente uma idiotice. E isso por que falo da cultura popular, não daquela erudita, que realmente traz muito mais implicações.
De fato, gostaria eu de projetar um museu do Carnaval. Mas, a própria prefeitura do Rio de Janeiro, um dos maiores símbolos do Carnaval, priorizou outro projeto... Não que o projeto seja ruim, muito pelo contrário, mas é, novamente, uma postura distante daquela adotada por um país em desenvolvimento.
Em São Paulo, o Museu do Futebol, projeto do escritório Mauro Munhoz, trouxe uma novidade para os amantes da bola. Futebol recebe pouco investimento estatal, mesmo que se reclame que só o futebol recebe mais dinheiro que outros esportes todos juntos. Mas qual estádio já está em perfeito estado para a Copa de 2014? Outra vez os governantes não investem onde o seu povo gostaria. São demagogos demais para fazer até mesmo políticas populares. E os centros de treinamento? Fora o São Paulo Futebol Clube, qual outro centro de treinamento está próximo de um padrão internacional? Padrão próximo àqueles encontrados em países cujo esporte tem uma política de estado. Existe no Brasil um ministério do esporte, quais seus grandes méritos? Coisa bastante simples que gera uma riqueza sem igual, com muito menos milhões do que os gastos atualmente em, em, em que mesmo? Saúde precária, ensino precário... Fica um pouco difícil ver onde se está investindo todos aqueles impostos recolhidos. Redução da pobreza se faz dando alternativas. Se o Brasil não vai ser um grande país industrializado, se a agricultura não consegue gerar empregos, o grande universo que sobra é o fomento ao turismo e a estruturação dos pólos esportivos. Se estas políticas fossem implementadas, com certeza se teria resultados muito melhores. Mas como pensar na diversão do Carnaval ou na diversão dos jogos de futebol e deixar de lado saúde e educação (como se fosse realmente prioridade)? Muito simples: por que se chama ESCOLA de samba? Porque lá se ensina a sambar e a fazer samba, tocar instrumentos, atelier de costura, organização, disciplina e espírito de competição. Isso tudo pode ser ampliado para história, para enriquecer as letras dos sambas; para moda, se pensarmos nas fantasias e na maquiagem; para a competição saudável, visto que as escolas de samba não costumam ter os problemas das torcidas organizadas. Quanto ao fomento do esporte, já falei do futebol, mas com certeza o vôlei brasileiro poderia ser outro esporte com a mesma intensidade do futebol. Não falta idéia, falta parar de fazer políticas rasteiras e começar a pensar em “imperialismo” esportivo em vez de “imperialismo” econômico e industrial.
Sinto dizer, mas o óbvio começa a me irritar. Bem gostaria eu de ter paciência para com os desavisados repetidores de detalhes de notícias que não fazem a menor diferença. Em relação aos Estados Unidos então, parece que certos brasileiros pararam de pensar, se é que um dia o fizeram; se não meros repetidores foram por todo o tempo. A minha falta de elegância ao não ter paciência com os seres desavisados já é pública, há muito tempo, desde 2006, ao apontar o dedo na cara daqueles que não fizeram como eu de votar no senhor José Serra em 2002, já é cousa de um passado recente, do qual querem esquecer, claro. Votaram no outro candidato com um discurso de “bater no peito”, de uma total hipocrisia e agüentaram o que veio depois. Eu fiz a malas e fui para a “terra de Bush”, com muito mais orgulho a aquele apresentado pelos eleitores “daquilo”. Voltei. E as esperanças estavam renovadas, mesmo me enganando com Geraldo Alckmin, de quem guardo enorme respeito e compreendo que não podia ter feito nada mais. Foi uma eleição que o PSDB poderia ter ganhado, e como Reinaldo Azevedo afirmou há poucos dias, não foi uma eleição que Lula ganhou, mas que o PSDB perdeu. E isso faz muita diferença. Não como foi em 2002, que era difícil o PSDB se manter, afinal ali terminava por vez a “assombração” dos anos 1990, dos quais eu concordo plenamente com os estudiosos que foi um período mais perdido que os anos 1980, onde ainda existiam agentes na política e na elite (que à época era mesmo elite) que faziam diferença no debate.
Tem momentos que acredito que dormir cedo é deixar de ver o melhor da televisão. Da americana, claro... A que vale a pena ver na televisão aberta. Depois do meu total desinteresse por produções nacionais, me detenho nas séries americanas dubladas. Um gosto duvidoso. Mas desde que não tenho mais o canal AXN tenho que me virar com o que tenho...
Adorei. Como sempre a criatividade supera as idéias pré-concebidas. Eu acho fantástico ouvir falar de uma história com nuances da realidade, tentando confrontar aqueles fragmentos humanos da vida da melhor forma. Eu sempre achei que somos formados por inúmeros fragmentos. Uns maiores uns menores. E todo o dia se luta com as arestas desses pedaços. Porém existe uma ditadura que pede coerência para tudo. Uma regra. Uma cousa um tanto quanto conservadora, mesmo para o mais rebelde de todos os revolucionários. Ao ser rebelde não pode ter tido na infância um Mickey Mouse ou um pica-pau (talvez este sim...). Ou a falta deles é a causa de sua rebeldia. Tudo tem que parecer coerente. Mas não. A vida não é assim. E para confrontar isso, nada melhor que uma boa história.