março 29, 2008

Revista Veja e a Rede Globo...

Não sei dizer, mas a Veja vem se mostrando uma revista de qualidades diferenciadas nos últimos anos, fazendo jornalismo e informando de forma muito mais interessante que no passado (recente). Eu tinha enorme “bico” em relação à revista Veja nos anos 1990. Ainda hoje não aceitaria ser assinante, pois para assinar algo é querer conhecer em profundidade seu conteúdo e sua linha editorial, o que não sei se aprovaria no contexto geral. Não sou lá fã de muitas seções de Veja. Gosto mesmo é do Diogo Mainardi e do Reinaldo Azevedo. De vez em quando encontro ótimas matérias em Veja, mas outras vezes vejo algumas que não tenho o menor interesse, como uma sobre Charles Darwin.

Não vou falar aqui do meu total desinteresse por Darwin, pois não é bem sobre ele, mas sobre seus entusiastas. Surge no meu horizonte que muitos entusiastas apelam a pontos de vista baseados na idéia original, mas que da idéia original só tiram uma particularidade para provar o ponto de vista, sem ter por causa a verdadeira opinião do autor. E esses tipinhos vêm surgindo aos montes. Comento um pouco mais sobre isso num próximo tópico sobre José Saramago.

Voltando à revista Veja, hoje ela não tem concorrentes. Não vejo a Isto É com a mesma multiplicidade de fatos, até mesmo de anos atrás. A revista Carta Capital não passa de uma revista de curiosidades e política, não chegando a ser concorrente, mas sim tentando pegar um público divergente de uma parcela da multiplicidade de Veja. A revista Época sim, pode ser dita como uma concorrente em termos de diversidade de conteúdo, mas não da qualidade. É bastante superficial. Nesse aspecto prefiro a revista do Fantástico.

E exatamente ai que entra a Rede Globo. O Fantástico produz muito material e a revista vem a ser um prolongamento do programa. Um prolongamento que qualquer pessoa consegue enxergar com bons olhos, pois é um programa que passa há décadas no ar produzindo muito conteúdo de qualidade indiscutível. E isso já gerou livros. Poderia citar pelo menos três ou quatro, mas poderiam ser muitos. Acredito ser a revista um enorme acerto editorial. Só acho que o site globo.com também poderia ser muito melhor. Chegou depois de muitos outros como UOL e Estadão e acredito que tem um conteúdo muito protegido demais (pouco disponível) a quem não é assinante. Mas é isso. Líder em televisão aberta, não consegue ter uma estrutura rentável para ser líder no espaço virtual. Acho também pouco acertada a parceria entre Folha e Editora Abril, mas já passa de década e quem seria eu para dizer que detesto a Folha e gosto muito da Abril; até dos álbuns de figurinhas eu gostava mais dos da Abril.

Mais que tudo, gosto muito do Estadão. Mas o que importa aqui não é o meu gosto pessoal, mas a liderança destes dois veículos de comunicação. É fácil se fazer líder? É fácil manter os índices? É fácil inovar tendo um público acostumado a sua grade e seu “estilo” de fazer televisão? Nesse aspecto acho que a Veja consegue ser mais dinâmica. Não tem uma responsabilidade com um formato estético tão grande como a Globo, mais ainda tem a possibilidade de ser mais pragmática, já que cada matéria tem um viés muito mais amplo que a teledramaturgia da Rede Globo, por exemplo. A Rede Globo poderia inovar trazendo novos formatos à televisão, como fez a MTV de outros tempos. Falta talvez um pouco de ousadia; mas também diria que falta um momento democrático e cultural melhor. Não é culpa da Globo. Outras redes de televisão inovam menos ainda. Um programa como “Pânico na TV” parece ser um das poucas novidades trazidas pela televisão aberta nos últimos anos. E não seria de estranhar que os componentes desse grupo fossem se separando com o tempo, já que nada os liga, entre si, diferentemente de um programa como Zorra Total, que deixa lá uma grande parte dos humoristas em quadros muitas vezes sem a menor graça, onde talentos são simplesmente colocados lado a lado com “novidades”; e se de lá sair algo interessante ganha sobrevida na emissora, de acordo com a possibilidade de se anexar à grade rígida da emissora.

Isso é fazer um trabalho sério e com estrutura. Nenhum dos dois veículos conta com estruturas mínimas e despreparadas. São muitos anos investindo na qualificação e num conceito subjetivo de qualidade, indisponível no restante das concorrentes. Como fazer qualidade se de certa forma esta qualidade não está presente no discurso geral. É como uma frase que escrevi dia desses noutro local: “não há como tentar oferecer caviar para o que mal consegue tomar tubaina.”

Eu exijo qualidade. Eu gosto de cultura pop. Mas nunca em nenhum momento desprezo a alta cultura. A cultura formadora do ocidente, que dá forma a abstração da cultura pop atual. É fácil para falar dos 1001 melhores discos ou das 100 músicas que mais gosto; assim como é fantástico discutir sobre a qualidade literária da obra de José Saramago. A verdade é que busco em tudo isso o que mais me satisfaz. Não há aí um trabalho de busca centrada, como no meu trabalho acadêmico, onde as hipóteses são múltiplas e dificultadas por encontrar problemas de derivadas ordens, seguindo uma metodologia de trabalho. Muita das minhas leituras atuais tem sentido de aprimorar as metodologias de trabalho cientifico, como o encontrado em Karl Popper ou Umberto Eco. E com certeza muito do que leio indica caminhos contraditórios. E quem disse que a contradição não é uma das ações humanas mais complicadas de se explanar? Eu quero ver um real pensador sem nenhuma contradição, todo coerente em seu caminho intelectual... E, claro, tenho que deixar claro que não passo de um estudante. Não busquem em mim as respostas de suas dúvidas e não tendem debater comigo, pois o melhor caminho do debate de fé cega é o silêncio; mesmo porque de idiossincrasias o mundo está repleto.

Ainda a respeito do tema da TV Globo e da Editora Abril, muita gente tenta dizer que eram veículos omissos durante o período do Regime Militar de Exceção. O que ninguém esclarece é qual era o grau de liberdade que existia naquele momento. Só há ataques políticos; nunca são debatidos os temas concretos da apologia e nem da crítica. Os fatos são todos esfumaçados. Pois quem deveria dar rumo ao debate são aqueles que se dizem derrotados pelo Regime, não os que lá estavam defendendo seus pontos de vista. Fácil, novamente, dizer que não se fez sem ter o menor senso crítico com a verdade daqueles anos. E o mais estranho que aqueles grupos que faziam críticas contra a “ditadura” brasileira se calam a respeito das outras ditaduras da América Latina, consolidada e em curso. O “silêncio da fé cega”...

Realidade Virtual – Engenheiros do Hawaii (1993)

”É preciso fé cega e pé atrás
Olho vivo, faro fino e... tanto faz...
É preciso saber de tudo e esquecer de tudo:
Fé cega e pé atrás

Tá legal, eu desisto: tudo já foi visto
Olhos atentos a qualquer momento: é preciso acreditar
Tudo bem, eu acredito: tudo já foi dito
Olhos atentos a todo movimento: é preciso duvidar
Viver não é preciso e nem sempre faz sentido
É preciso muito mais fé cega e pé atrás

A neblina encobre o cristo e a lagoa se ilumina
Com edifícios de cabeça pra baixo e refletores do jockey club
Na outra janela o sol sempre brilha
O risco é calculado: videoguerra,
Vídeoreinodoscéus

É preciso fé cega e pé atrás
Olho vivo, faro fino e... tanto faz...
É preciso saber de tudo e não pensar em nada
Fé cega e pé atrás”

Nenhum comentário:

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...