março 10, 2008

As máscaras...

Lembro dia desses de lembrar de uma sucessão de “personalidades” criadas pela criativa mente de Luciano Huck nos anos 1990. Era “Tiazinha”, “A Feiticeira” sei lá quem que ficava na internet (nessa época o apresentador era Otaviano Costa) e depois “Dani Bananinha”, criando uma enorme quantidade de outras “fantasiadas” plagiadas como a “enfermeira do funk”. Isso sem contar de musicas ligadas a danças e objetos (dança da manivela, dança da boquinha da garrafa, dança da motinho, do bambolê).

Mas a Tiazinha, personagem da atriz Suzana Alves, é um emblema a ser explorado sob a ótica do comportamento. A pergunta que se pode repetir é: qual sua máscara? Muita gente não leva máscara alguma vida afora. Isso é ótimo. Mas em muitos momentos as pessoas se escondem embaixo de uma máscara, seja por falta de conteúdo, lembrando aquela propaganda de jornal que ironizava a “cara de conteúdo”, mas no fundo seria a diferença conceitual entre “substância” e “essência”. Tudo parece tão igual ao primeiro olhar, não? Mas exatamente aí que mora o perigo do “ser informado” em relação ao “ser formador”. Seria a velha divisão do mundo entre pastores e ovelhas.

Mas vamos falar mais da Tiazinha a aludir sobre inúmeros conceitos que de certa forma podem ser mais ou menos universais; mas que sem dúvida são referencias de um mundo ocidental. Suzana Alves é bonita. Isso é fato; e ao mesmo tempo é ligado a uma cultura da estética, que pode até ser a mesma dos gregos antigos ou da atual fixação pelo esporte. Pode também ser ligado a uma idéia de exploração do sexo feminino. Mais correta seria a expressão “exposição” a exploração. A exposição de suas curvas fazia com que a audiência subisse, principalmente entre jovens e adolescentes, cujas fantasias ainda rondam as novas descobertas. Mas pensando na moça, na Suzana, nada mais era que um trabalho honesto e oportunidade ligada a um aspecto físico que ela possui. Quem duvide da honestidade dela que vá reclamar ao pároco de sua igreja... Como sempre, ser honesto quando o que está em jogo é uma imagem que tende a sexualidade, sempre estará sobre algum tipo de dúvida. Afinal, nem ela e nem ninguém vão falar que aquilo não passava de uma estratégia de marketing e nada mais. Ou vão me dizer que as garotas da propaganda da Kaiser estão lá porque no fundo acham que se deva liberar as drogas e o álcool? Mas a máscara dava um ar ao mesmo tempo de personagem e de impessoalidade. Qualquer mulher poderia ser a Tiazinha. As pessoas sabiam que a personagem poderia ser representada por qualquer um, inclusive, durante certo carnaval a fantasia mais vendida foi esta. Fora criado um fenômeno de curta duração.

O problema é sempre este: qual o dia seguinte da Tiazinha? As replicas, cópias, plágios, seguem sua vida anterior, praticamente jogando ao esquecimento ter vivido um dia de Tiazinha. Mas a Suzana não; ela tem que ser o personagem além da tela. Até certo ponto foi fácil. Mas, ao participar de um programa sério de TV como o “Provocações”, de Antonio Abujamra, na TV Cultura, teve que refletir forçosamente e da pior forma possível o outro lado da Tiazinha. O lado de pensar que em várias borracharias do Brasil sua foto estaria lá, exposta, conforme veio ao mundo, sem uma peça de roupa sequer além da máscara. Por despreparo, não respondeu nada.

Hoje Suzana é uma atriz, ainda não muito livre de responder por Tiazinha, mas espera ganhar espaço para mostrar outros talentos artísticos. Espero que lhe seja dado espaço e que saiba aproveitar dele para algo de maior valor cultural. Espero que seja muito melhor que Luana Piovani ou Daniela Cicarelli. Ás vezes sua beleza pode ser sua Fortuna (*), assim como sua derrota. Vida longa à Tiazinha... opps... Suzana Alves!

Agora, longe da Tiazinha, falando mais sobre as máscaras que muitos põem em seus rostos por medo ou por preguiça de pensar, ter um dia de Tiazinha talvez seja melhor que ser um portador “das verdades absolutas do politicamente correto”. Eu, em muitos momentos, sou tolerante a estas pessoas. Deveria fazer o que? Cuspir-lhes no rosto? Não, minha civilidade ainda não me permite esse tipo de coisa. E pior: não acho que quem faz essas coisas esteja lá muito errado; tenho dúvida. Na dúvida, melhor não fazer. Mas o pouco que faço já me faz parecer lutar contra Golias. Parece um abismo de falta de vontade de tentar entender o mundo, como se isso fosse uma forma “estranha” de se comportar em relação ao mundo. Tentar buscar respostas nesses tempos parece estar “fora do eixo”. Como se o eixo desce respostas que durassem ao tempo. Quem tem o mínimo de auto-reflexão e tentasse refletir sobre “suas verdades” adquiridas e defendidas aos quinze, aos dezoito, aos vinte anos de idade, chegaria à conclusão que se erra e se engana muito. Faz parte da vida. E esse processo parece diminuir com a maturidade. Basta também não se esvaziar num discurso (mascarado) do “só se vive uma vez na vida” que se sabe das enormes besteiras e das grandes oportunidades que tivemos. E também aí não se pode desanimar na palavra “se...”. O equilíbrio dessa equação é complexo mesmo. Mas de certa forma a busca da resposta é muito diferente da militância da resposta pronta. A dinâmica do mundo sempre foi mais imprevisível que os discursos dos defensores do caos (futuro) e as Polianas (futuristas, progressistas).

(*) Fortuna = Sorte

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