março 29, 2008

Jorge Amado...

A Companhia das Letras lançou recentemente uma coleção com a republicação de muitos títulos de Jorge Amado. Era de esperar que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde. Acho até recente a republicação de sua obra. Sua morte ocorreu a menos de 10 anos e não acredito que nesse meio tempo sua obra tivesse um “novo olhar”, para ser lançada nesse momento. Eu creio que o valor de uma obra literária só pode ser dado com o tempo. Jorge Amado enquanto vivo manteve presença no meio cultural brasileiro, e mais que tudo, teve participação direta na militância política. Não sei se isso foi bom para avaliar sua obra, mas com certeza a adaptação à teledramaturgia lhe garantiu reconhecimento do grande público, que mesmo sem o ter lido tinha conhecimento de seu nome e do contexto de suas obras.

Talvez o tal microcosmo que escrevia a respeito esteja fora de moda. Talvez aquele discurso meio do pé quebrado sobre a ditadura, com a distancia da mesma e uma democracia comandada pela esquerda um tanto mequetrefe, tenha deixado de fazer eco. Talvez tenha deixado um rótulo cansativo, de um nordeste que hoje talvez não faça mais sentido. É duro ter que avaliar a vida do escritor em vez da qualidade de sua obra. Mas como acontece com José Saramago, Jorge Amado sofre do mesmo mal. Sua obra literária passa pela biografia do autor para ser criticada. Acho que seria estranho tentar falar da biografia de um autor do século XIX para avaliar sua obra escrita, porém, como em certo momento a atitude política tinha mais força que o objeto cultural, tem uma enorme falha na critica literária, simplesmente, no caso de Jorge Amado, sendo ausente ou precária. E hoje, é quase um afronto tentar criticar sua obra; parece intocável. Pode-se criticar Machado de Assis, mas não Jorge Amado.
Não vejo estudos sobre sua obra (digo popular, fora das academias). Eu duvido que entre “Capitães da Areia” (1937) e “O Sumiço da Santa” (1988) seu estilo tenha sido imutável. Mas parece que não se discute sobre literatura, principalmente quando se fala sobre Jorge Amado. Não aparece naturalmente para um estudante essa diferença. Durante meu curso de graduação somente uma vez Jorge Amado foi citado. E o foi por causa do lançamento de um livro de sua esposa. Creio que estudar nos anos 1990 não era o mesmo dos anos 1960. Só sei que falar de Jorge Amado e José Saramago no mesmo dia não é pura coincidência. Os dois formam coleções da Companhia das Letras; os dois são escritores de língua portuguesa; os dois foram militantes da esquerda; os dois geram muita discussão sobre a qualidade de suas obras; os dois possuem um discurso complexo e contraditório. Bem, se já tinha dúvidas a respeito de Saramago, agora as tenho em relação a Jorge Amado também

José Saramago... E o ano de 1993...

Lançado ano passado no Brasil pela Companhia das Letras, o livro “O ano de 1993”, escrito em 1975 por José Saramago, é para mim uma dúvida. Diz nas sinopses que li que se trata de um estilo diferente do que veio depois e muitas histórias de outros de seus livros estão lá esboçadas. Que trata de um mundo distante, de um mundo futuro.

José Saramago é o único autor em língua portuguesa a ganhar um Nobel de literatura. Não que isso seja o que define uma boa de uma má qualidade de produção literária, mas lembrando que um dos meus escritores prediletos, Albert Camus, ganhou o Nobel de literatura de 1957, imagino ser o prêmio uma forma de pensar sobre a obra desde português, que já tive a chance de ouvir pessoalmente mais de uma vez.

Numa das vezes que ouvi Saramago, na Livraria Cultura, ela comentou muito sobre seu livro “Ensaio sobre a Cegueira” (1995), que em sua opinião é um livro bastante duro para fazer com que as pessoas se emocionassem tanto como diz ouvir pelas ruas. E o papo sempre flui para assuntos políticos onde Saramago costuma chutar um bocado. Não que chute, mas emite uma opinião um tanto quando complexa para alguém de sua idade dizer que a “contradição” não é ainda algo que consegue compreender...

Mas voltando a sua obra literária, o que me deixa em dúvida de sua qualidade não está no escritor Saramago, mas na sua obra publicada. Certa vez um crítico disse que “O ano da Morte de Ricardo Reis” (1984) é o melhor livro de Saramago. Outros dizem que a polemica em torno de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) fez com que Saramago fosse retirado de alguns círculos e colocado em outros, assim como sua militância política. Mas não observam a respeito das qualidades literárias deste livro.

Durante a época chata de vestibular li “Memorial do Convento” (1982). Não sei se por causa da pressão ridícula daqueles tempos de vestibular ou por causa do livro mesmo, eu não guardo deste título grandes recordações. Guardo de outro, que prefiro esquecer...

Eis que tenho vontade de ler “Ensaio sobre a Lucidez” (2004) e “As Intermitências da Morte” (2005). E acho que muito se deve pela leitura de “Ensaio sobre a Cegueira”. Eu tenho digamos um pouco de anticorpos para expurgar as opiniões pessoais de Saramago, mas tenho dúvidas a respeito da metafísica de seus romances. É ainda muito curto o tempo para entender se Saramago estará entre os escritores que serão lembrados no futuro. Mas creio que muito do que escreve tenho vontade de ler. Não sei se é marketing, pois se o for sou a vítima de um marketing contrario, pois de certa forma ele é hoje um escritor “globalizado”. Gosto que seus livros são publicados no Brasil com a grafia original de Portugal. É interessante ler o original de uma obra, seja ela qual for. Sinto isso na hora de ler Tolkien em “O Silmarillion”. Bem, são coisas distintas, porém leitura sempre demanda paciência e “uma fé cega”...
Mas voltando ao “O ano de 1993”, tenho simpatia por seus títulos. Não posso acreditar que nesses tempos onde tudo que se encontra numa prateleira de uma Megastore promete ter o mesmo valor, encontrar toda a obra de José Saramago editada com edições de luxo, é até positivo, mas seria melhor ainda que se pudesse ter acesso a isso por um preço menor; e se títulos de outros autores pudessem ser também acessíveis ou pelo menos editados. Um exemplo é uma pessoa que comentou a respeito de “O ano de 1993” teria uma enorme proximidade com “1984” de George Orwell. Não sei até hoje quais as influencias de Saramago, mas creio que Orwell poderia estar entre elas. Mas não creio que seria uma das maiores influencias. A língua portuguesa é bastante complexa por si só, e Saramago teria outras enormes influencias em sua própria língua, o que de modo nenhum não impede a influencia estrangeira. Bem, conforme comecei, termino: “O ano de 1993” continua me deixando em dúvida.

Revista Veja e a Rede Globo...

Não sei dizer, mas a Veja vem se mostrando uma revista de qualidades diferenciadas nos últimos anos, fazendo jornalismo e informando de forma muito mais interessante que no passado (recente). Eu tinha enorme “bico” em relação à revista Veja nos anos 1990. Ainda hoje não aceitaria ser assinante, pois para assinar algo é querer conhecer em profundidade seu conteúdo e sua linha editorial, o que não sei se aprovaria no contexto geral. Não sou lá fã de muitas seções de Veja. Gosto mesmo é do Diogo Mainardi e do Reinaldo Azevedo. De vez em quando encontro ótimas matérias em Veja, mas outras vezes vejo algumas que não tenho o menor interesse, como uma sobre Charles Darwin.

Não vou falar aqui do meu total desinteresse por Darwin, pois não é bem sobre ele, mas sobre seus entusiastas. Surge no meu horizonte que muitos entusiastas apelam a pontos de vista baseados na idéia original, mas que da idéia original só tiram uma particularidade para provar o ponto de vista, sem ter por causa a verdadeira opinião do autor. E esses tipinhos vêm surgindo aos montes. Comento um pouco mais sobre isso num próximo tópico sobre José Saramago.

Voltando à revista Veja, hoje ela não tem concorrentes. Não vejo a Isto É com a mesma multiplicidade de fatos, até mesmo de anos atrás. A revista Carta Capital não passa de uma revista de curiosidades e política, não chegando a ser concorrente, mas sim tentando pegar um público divergente de uma parcela da multiplicidade de Veja. A revista Época sim, pode ser dita como uma concorrente em termos de diversidade de conteúdo, mas não da qualidade. É bastante superficial. Nesse aspecto prefiro a revista do Fantástico.

E exatamente ai que entra a Rede Globo. O Fantástico produz muito material e a revista vem a ser um prolongamento do programa. Um prolongamento que qualquer pessoa consegue enxergar com bons olhos, pois é um programa que passa há décadas no ar produzindo muito conteúdo de qualidade indiscutível. E isso já gerou livros. Poderia citar pelo menos três ou quatro, mas poderiam ser muitos. Acredito ser a revista um enorme acerto editorial. Só acho que o site globo.com também poderia ser muito melhor. Chegou depois de muitos outros como UOL e Estadão e acredito que tem um conteúdo muito protegido demais (pouco disponível) a quem não é assinante. Mas é isso. Líder em televisão aberta, não consegue ter uma estrutura rentável para ser líder no espaço virtual. Acho também pouco acertada a parceria entre Folha e Editora Abril, mas já passa de década e quem seria eu para dizer que detesto a Folha e gosto muito da Abril; até dos álbuns de figurinhas eu gostava mais dos da Abril.

Mais que tudo, gosto muito do Estadão. Mas o que importa aqui não é o meu gosto pessoal, mas a liderança destes dois veículos de comunicação. É fácil se fazer líder? É fácil manter os índices? É fácil inovar tendo um público acostumado a sua grade e seu “estilo” de fazer televisão? Nesse aspecto acho que a Veja consegue ser mais dinâmica. Não tem uma responsabilidade com um formato estético tão grande como a Globo, mais ainda tem a possibilidade de ser mais pragmática, já que cada matéria tem um viés muito mais amplo que a teledramaturgia da Rede Globo, por exemplo. A Rede Globo poderia inovar trazendo novos formatos à televisão, como fez a MTV de outros tempos. Falta talvez um pouco de ousadia; mas também diria que falta um momento democrático e cultural melhor. Não é culpa da Globo. Outras redes de televisão inovam menos ainda. Um programa como “Pânico na TV” parece ser um das poucas novidades trazidas pela televisão aberta nos últimos anos. E não seria de estranhar que os componentes desse grupo fossem se separando com o tempo, já que nada os liga, entre si, diferentemente de um programa como Zorra Total, que deixa lá uma grande parte dos humoristas em quadros muitas vezes sem a menor graça, onde talentos são simplesmente colocados lado a lado com “novidades”; e se de lá sair algo interessante ganha sobrevida na emissora, de acordo com a possibilidade de se anexar à grade rígida da emissora.

Isso é fazer um trabalho sério e com estrutura. Nenhum dos dois veículos conta com estruturas mínimas e despreparadas. São muitos anos investindo na qualificação e num conceito subjetivo de qualidade, indisponível no restante das concorrentes. Como fazer qualidade se de certa forma esta qualidade não está presente no discurso geral. É como uma frase que escrevi dia desses noutro local: “não há como tentar oferecer caviar para o que mal consegue tomar tubaina.”

Eu exijo qualidade. Eu gosto de cultura pop. Mas nunca em nenhum momento desprezo a alta cultura. A cultura formadora do ocidente, que dá forma a abstração da cultura pop atual. É fácil para falar dos 1001 melhores discos ou das 100 músicas que mais gosto; assim como é fantástico discutir sobre a qualidade literária da obra de José Saramago. A verdade é que busco em tudo isso o que mais me satisfaz. Não há aí um trabalho de busca centrada, como no meu trabalho acadêmico, onde as hipóteses são múltiplas e dificultadas por encontrar problemas de derivadas ordens, seguindo uma metodologia de trabalho. Muita das minhas leituras atuais tem sentido de aprimorar as metodologias de trabalho cientifico, como o encontrado em Karl Popper ou Umberto Eco. E com certeza muito do que leio indica caminhos contraditórios. E quem disse que a contradição não é uma das ações humanas mais complicadas de se explanar? Eu quero ver um real pensador sem nenhuma contradição, todo coerente em seu caminho intelectual... E, claro, tenho que deixar claro que não passo de um estudante. Não busquem em mim as respostas de suas dúvidas e não tendem debater comigo, pois o melhor caminho do debate de fé cega é o silêncio; mesmo porque de idiossincrasias o mundo está repleto.

Ainda a respeito do tema da TV Globo e da Editora Abril, muita gente tenta dizer que eram veículos omissos durante o período do Regime Militar de Exceção. O que ninguém esclarece é qual era o grau de liberdade que existia naquele momento. Só há ataques políticos; nunca são debatidos os temas concretos da apologia e nem da crítica. Os fatos são todos esfumaçados. Pois quem deveria dar rumo ao debate são aqueles que se dizem derrotados pelo Regime, não os que lá estavam defendendo seus pontos de vista. Fácil, novamente, dizer que não se fez sem ter o menor senso crítico com a verdade daqueles anos. E o mais estranho que aqueles grupos que faziam críticas contra a “ditadura” brasileira se calam a respeito das outras ditaduras da América Latina, consolidada e em curso. O “silêncio da fé cega”...

Realidade Virtual – Engenheiros do Hawaii (1993)

”É preciso fé cega e pé atrás
Olho vivo, faro fino e... tanto faz...
É preciso saber de tudo e esquecer de tudo:
Fé cega e pé atrás

Tá legal, eu desisto: tudo já foi visto
Olhos atentos a qualquer momento: é preciso acreditar
Tudo bem, eu acredito: tudo já foi dito
Olhos atentos a todo movimento: é preciso duvidar
Viver não é preciso e nem sempre faz sentido
É preciso muito mais fé cega e pé atrás

A neblina encobre o cristo e a lagoa se ilumina
Com edifícios de cabeça pra baixo e refletores do jockey club
Na outra janela o sol sempre brilha
O risco é calculado: videoguerra,
Vídeoreinodoscéus

É preciso fé cega e pé atrás
Olho vivo, faro fino e... tanto faz...
É preciso saber de tudo e não pensar em nada
Fé cega e pé atrás”

março 24, 2008

As cidades vivas, viva as cidades!


A Editora Senac e a Livraria Cultura convidam para o lançamento do livro “As cidades vivas, Viva as cidades!”, de Sérgio Teperman. Será dia 10 de abril na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Sempre é bom ler crônicas falando sobre as cidades brasileiras. Um livro que muito tempo atrás tratava do mesmo tema foi “A cidade desvendada” de Paulo Casé, no ano 2000. Era um agrupamento de crônicas do arquiteto publicadas nos jornais do Rio de Janeiro.

março 21, 2008

Eu e o Leo Jaime

Entrei no orkut em 2004. devo sair em 2008... O orkut não é mais o mesmo. Se não fosse por poucas pessoas sérias que ainda estão lá já teria saído, assim como desisti de usar o MSN Messenger. Quando quero falar com os amigos eles nunca estão lá, ou estão “ocupados” ou estão sei lá o que fazendo que nunca respondem. É melhor deixar um e-mail ou recado no orkut. Anda dando certo.

Do orkut tendo a dizer coisas boas. Comunidades de pessoas que normalmente discutem assuntos interessantes, mesmo com muito ruído e muito erro de português, o que me irrita muito. Normalmente vejo nos leigos dos assuntos que as comunidades se relacionam não mais que um ruído, pois se realmente eles quisessem entender melhor o assunto não seria o orkut um dos melhores lugares. Muita opinião em forma de “expressão da verdade”. Um exército de discípulos da “Al Qaeda Eletrônica” (by Reinaldo Azevedo) e muitos a cultuar a própria inteligência. No meio disso tudo ainda encontro muitos bons textos de pessoas desconhecidas que são interessantíssimos. Ás vezes pego algum gancho num assunto que me leva aos meios de comunicação já consagrados. Mas lembro bem do início do orkut. Muito estrangeiro, o inglês como primeira língua e comunidades de sucesso com pouco mais de cem integrantes. Lógico que gosto mais da situação de hoje onde posso escrever para meus parentes que estão longe, aos amigos que não via há tempos e ser encontrado por pessoas que fizeram parte do meu passado. Este é até uma face romântica do orkut.

Terminado este tempo começou a arte de se esconder dentro do orkut contra os especuladores. Desde perfis falsos até gente chata que ficava perseguindo, tentando fazer algum tipo de constrangimento. Teve a fase onde se pesquisava o perfil do orkut em entrevistas de trabalho. Teve a batalha eleitoral de 2006, entre Lula e Alckmin (ou melhor, lulistas e alckmistas). Este ano deverá ter novamente algo assim, já que a informação tem dificuldade de circular nos meios “oficiais”. Mesmo assim o que quero contar é mais uma história de orkut.

Logo que fui convidado, preenchi o tal “perfil”. Até ser convidado pela segunda vez nem havia sequer me interessado pelas funções do novo site de relacionamentos. Ao aceitar o segundo convite, um amigo apareceu e então já havia três pessoas na minha lista de amigos. Neste momento comecei a passear entre as comunidades e encontrar aquelas que faziam sentido para minha vida. Eis que me deparo com Leo Jaime. Cantor dos anos 1980, eu não tinha noticias dele desde aqueles tempos. Adicionei. Meu quarto amigo! Até ali, tinha dúvidas ao se tratar da mesma pessoa, mas continuei. Até que ele avisou de um show que faria e agitei dentro de uma comunidade a ida de todos os “amigos virtuais” dele ao tal show. E não é que era ele mesmo? Fez até menção desse show em entrevista no Programa do Jô. Foi um dos melhores momentos de orkut para mim. Depois notei que muitos perfis falsos começaram a surgir e toda a boa intenção do orkut acabou. Nem sei se ele ainda está na minha lista. Mas esta história ficou registrada para mim. E isso que importa.

De resto, acho que o “grande mal” do orkut de fazer a auto-exposição da pessoa e a possibilidade de ser “rastreado” trouxe uma outra condição analisada nos inúmeros textos que foram escritos sobre o orkut. Quem sabe ainda não farão uma biografia do orkut no Brasil, já que é o país com maior número de usuários. Mas o pior do que isso é a tal analise dos tempos de internet onde se falam de blogs, de interação e etc. sem dar conta que isso é uma das possibilidades da internet. É a forma que pessoas comuns podem declarar ao mundo que pensam alguma coisa. Acho que se eu não tivesse um blog não escreveria. E isso porque eu gosto de escrever. Acho que o blog é uma forma para mim bastante interessante. Não me interessa o conteúdo do que dizem os analistas do momento atual; eu acho que eles não sabem nada e estão chutando tanto para entender que no futuro serão lidos como aqueles que só falavam besteiras, como uma listinha que recebi de frases estúpidas de gente famosa.

Mas uma coisa é notável nessa história: hoje o mesmo Leo Jaime não conseguiria ser tão legal como foi naquele tempo, pois a popularização do orkut por gente estúpida impediria a ingenuidade daquele começo. Existe sim uma diferença de escala. Nota-se que uma comunidade bem monitorada por seus moderadores não passa dos mais que cem pessoas atuantes. Mesmo tendo mais de duas mil pessoas lá inscritas. E mesmo nessas cem pessoas, existe a repetição do mesmo comentário muitas vezes, só trazendo mais ruído e menos disposição para ler e conseqüente menor participação. E assim o fim do orkut está próximo.

março 20, 2008

O triste fim...

Um dia de chuva. Trânsito ruim. O pior está por vir. Presencio dois acidentes em pouco mais de uma hora de caminhada do percurso de volta do trabalho. Nada disso me motiva a escrever que a cidade morreu. Muito pelo contrario, está mais viva que nunca. Agora, se vão caber os carros todos nas ruas é que é a dúvida. Nunca achei que a repressão fosse solução para alguma coisa, mas está na hora de uma atitude Jânio.

Uma história narrada pelo jornalista João Mellão Neto, conta como Jânio Quadros conseguiu melhorar o transito na cidade. Não sei, mas esse artigo (aqui) começa dando a dica do que fazer... Mas a parte realmente interessante, a que chamo de medida Jânio acima, é a que segue:

“(...) Lá pelo terceiro mês, Jânio decidiu lançar uma campanha de educação no trânsito.
Verba, nenhuma. Anunciou pelo Diário Oficial que daria o exemplo, indo pessoalmente às ruas aplicar multas. Manchetes em todos os jornais. Cumpriu a palavra. No dia seguinte estava armado o cortejo: o carro oficial, uma viatura de polícia, um caminhão-guincho e dezenas de veículos da imprensa. Multou, apreendeu habilitações e guinchou veículos até o último dia de seu mandato. O trânsito de São Paulo, como por milagre, melhorou...(...)”

Onde estão eles?

“Vamos falar a verdade pra vocês
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
A fim de saber a verdadeira verdade
Estamos a fim de saber, a fim de saber
Estamos a fim de saber, a fim de saber (...)”

Falar a verdade – Cidade Negra (1991)

E onde estão eles para falar a verdade? Possivelmente mentindo por aí... Se não me engano acho que o Cidade Negra de hoje nada tem a ver com aquela banda de radicais do inicio dos anos 1990. Mas fazer o que... É a música deles que queria “dizer a verdade”. Se bem que deveria ser algum recalque de 1989, o ano que nunca termina... Até hoje tem gente que não entendeu que em 2002, 1989 já tinha terminado (infelizmente, por mim agüentaria mais 20 anos de 1989...).

Agora, a tal “verdade” já era dita naqueles anos e com mais letras do que o normal, mas uma onda, de atitudes que não consigo nem saber se era “politicamente corretos”, “militantes engajados” e “questionadores do status quo alheio”, tornavam qualquer debate sério e o acesso às informações mais complicados, criando meios de distanciar as realidades dos discursos, descrevendo “dias de glória” que nenhum ficcionista conseguiria criar.

Em muitas horas entendo porque as pessoas no começo dos anos 1990 torciam o nariz para os Engenheiros do Hawaii... Eles, em 1986, já mostravam que a “face oculta” não era mais que mais uma “mentira repetida” e mais: mostram o que é a “verdadeira verdade”:

“(...) Fidel e Pinochet tiram sarro de você
Que não faz nada
Começo a achar normal que algum boçal
Atire bombas na embaixada (...)
(...) Toda forma de poder
É uma forma de morrer por nada
Toda forma de conduta
Se transforma numa luta armada
A história se repete
Mas a força deixa a estória mal contada (...)
(...) O fascismo é fascinante
Deixa a gente ignorante e fascinada (...)”

Toda Forma de Poder – Engenheiros do Hawaii (1986)

Obs: Outro dia um amigo, muito próximo, me perguntou o que quero dizer com as palavras das músicas. Nada além do que as palavras das músicas dizem. É leitura... Sei que parece óbvio, mas é que nos tempos atuais alguém “dizer” algo que está escrito parece um pouco fora do normal... Falar sem meias palavras é algo raro num momento em que se tem medo de “forças ocultas”. Brasileiro, de uma forma geral, gosta de achar que tudo está errado, até mesmo quando está certo...

março 10, 2008

Rápidas XIII

Nossa! Acabo de ler na Wickpedia que a personagem “Tiazinha” era inspirada na mulher-gato... É ter pouco ou nenhuma vivencia de anos 80 para falar isso... É claro que a Tiazinha é uma reinterpretação de “Mara Tara”, personagem do cartunista Angeli. Tanto por ser “Mara Tara” ligada ao estilo sádico que a Tiazinha tentava interpretar no programa H. Já a mulher gato era outra coisa. Outra proposta. Confusão sem pormenores, mas é sempre bom dar nomes aos bois. E é nítido também que “a feiticeira” era uma alusão ao seriado criado por Sidney Sheldon (sim, ele mesmo) de enorme sucesso também nos anos 80: “Jennie é um gênio”!

As máscaras...

Lembro dia desses de lembrar de uma sucessão de “personalidades” criadas pela criativa mente de Luciano Huck nos anos 1990. Era “Tiazinha”, “A Feiticeira” sei lá quem que ficava na internet (nessa época o apresentador era Otaviano Costa) e depois “Dani Bananinha”, criando uma enorme quantidade de outras “fantasiadas” plagiadas como a “enfermeira do funk”. Isso sem contar de musicas ligadas a danças e objetos (dança da manivela, dança da boquinha da garrafa, dança da motinho, do bambolê).

Mas a Tiazinha, personagem da atriz Suzana Alves, é um emblema a ser explorado sob a ótica do comportamento. A pergunta que se pode repetir é: qual sua máscara? Muita gente não leva máscara alguma vida afora. Isso é ótimo. Mas em muitos momentos as pessoas se escondem embaixo de uma máscara, seja por falta de conteúdo, lembrando aquela propaganda de jornal que ironizava a “cara de conteúdo”, mas no fundo seria a diferença conceitual entre “substância” e “essência”. Tudo parece tão igual ao primeiro olhar, não? Mas exatamente aí que mora o perigo do “ser informado” em relação ao “ser formador”. Seria a velha divisão do mundo entre pastores e ovelhas.

Mas vamos falar mais da Tiazinha a aludir sobre inúmeros conceitos que de certa forma podem ser mais ou menos universais; mas que sem dúvida são referencias de um mundo ocidental. Suzana Alves é bonita. Isso é fato; e ao mesmo tempo é ligado a uma cultura da estética, que pode até ser a mesma dos gregos antigos ou da atual fixação pelo esporte. Pode também ser ligado a uma idéia de exploração do sexo feminino. Mais correta seria a expressão “exposição” a exploração. A exposição de suas curvas fazia com que a audiência subisse, principalmente entre jovens e adolescentes, cujas fantasias ainda rondam as novas descobertas. Mas pensando na moça, na Suzana, nada mais era que um trabalho honesto e oportunidade ligada a um aspecto físico que ela possui. Quem duvide da honestidade dela que vá reclamar ao pároco de sua igreja... Como sempre, ser honesto quando o que está em jogo é uma imagem que tende a sexualidade, sempre estará sobre algum tipo de dúvida. Afinal, nem ela e nem ninguém vão falar que aquilo não passava de uma estratégia de marketing e nada mais. Ou vão me dizer que as garotas da propaganda da Kaiser estão lá porque no fundo acham que se deva liberar as drogas e o álcool? Mas a máscara dava um ar ao mesmo tempo de personagem e de impessoalidade. Qualquer mulher poderia ser a Tiazinha. As pessoas sabiam que a personagem poderia ser representada por qualquer um, inclusive, durante certo carnaval a fantasia mais vendida foi esta. Fora criado um fenômeno de curta duração.

O problema é sempre este: qual o dia seguinte da Tiazinha? As replicas, cópias, plágios, seguem sua vida anterior, praticamente jogando ao esquecimento ter vivido um dia de Tiazinha. Mas a Suzana não; ela tem que ser o personagem além da tela. Até certo ponto foi fácil. Mas, ao participar de um programa sério de TV como o “Provocações”, de Antonio Abujamra, na TV Cultura, teve que refletir forçosamente e da pior forma possível o outro lado da Tiazinha. O lado de pensar que em várias borracharias do Brasil sua foto estaria lá, exposta, conforme veio ao mundo, sem uma peça de roupa sequer além da máscara. Por despreparo, não respondeu nada.

Hoje Suzana é uma atriz, ainda não muito livre de responder por Tiazinha, mas espera ganhar espaço para mostrar outros talentos artísticos. Espero que lhe seja dado espaço e que saiba aproveitar dele para algo de maior valor cultural. Espero que seja muito melhor que Luana Piovani ou Daniela Cicarelli. Ás vezes sua beleza pode ser sua Fortuna (*), assim como sua derrota. Vida longa à Tiazinha... opps... Suzana Alves!

Agora, longe da Tiazinha, falando mais sobre as máscaras que muitos põem em seus rostos por medo ou por preguiça de pensar, ter um dia de Tiazinha talvez seja melhor que ser um portador “das verdades absolutas do politicamente correto”. Eu, em muitos momentos, sou tolerante a estas pessoas. Deveria fazer o que? Cuspir-lhes no rosto? Não, minha civilidade ainda não me permite esse tipo de coisa. E pior: não acho que quem faz essas coisas esteja lá muito errado; tenho dúvida. Na dúvida, melhor não fazer. Mas o pouco que faço já me faz parecer lutar contra Golias. Parece um abismo de falta de vontade de tentar entender o mundo, como se isso fosse uma forma “estranha” de se comportar em relação ao mundo. Tentar buscar respostas nesses tempos parece estar “fora do eixo”. Como se o eixo desce respostas que durassem ao tempo. Quem tem o mínimo de auto-reflexão e tentasse refletir sobre “suas verdades” adquiridas e defendidas aos quinze, aos dezoito, aos vinte anos de idade, chegaria à conclusão que se erra e se engana muito. Faz parte da vida. E esse processo parece diminuir com a maturidade. Basta também não se esvaziar num discurso (mascarado) do “só se vive uma vez na vida” que se sabe das enormes besteiras e das grandes oportunidades que tivemos. E também aí não se pode desanimar na palavra “se...”. O equilíbrio dessa equação é complexo mesmo. Mas de certa forma a busca da resposta é muito diferente da militância da resposta pronta. A dinâmica do mundo sempre foi mais imprevisível que os discursos dos defensores do caos (futuro) e as Polianas (futuristas, progressistas).

(*) Fortuna = Sorte

março 01, 2008

400

Nada melhor que começar o mês dizendo que esta é a postagem de número 400! É, deu trabalho para chegar aqui e ultimamente ando ausente. Mas não, não desisti. Como sempre digo meu lema, desde 1990, quando assisti ao filme de nome homônimo, “retroceder nunca, desistir jamais”.

Está semana começou muito bem, com uma sexta-feira e um sábado que tendem a ser inovadores para alguém como eu, que desde 2004 tenho tido contato com o tema do Foro de São Paulo, noticiado esta semana pela revista Veja. Espero ver os rostos daqueles que achavam que minhas poucas certezas, baseadas em fatos, não são “teorias conspiratórias”; pegando carona nas tendências nacionais do “saber oculto”.

Não uso este espaço para fazer militâncias de nenhuma forma, mas sim para mostrar caminhos, principalmente aquele que ainda não encontrei. E fico feliz de tratar de um número maior de questões do que esperava. Quando à audiência, eu não entendo o porquê quanto menos escrevo mais sou lido... Já me falaram para tomar inúmeros caminhos nesse blog ou até mesmo na vida. Mas eu continuo dialogando melhor com a pluralidade de temas a uma especialização.

Outro dia tive mais uma prova que a pluralidade me agrada mais que uma especialização. Talvez se tivesse alguma pretensão de ganhar algum dinheiro com esse meu prazer de escrever deveria tomar algum dos conselhos doados. Mas sei lá... Estou quase próximo do primeiro aniversário do blog e tenho tido altos e baixos, de uma distância absolutamente extraordinária. É fantástico falar de Eric Clapton e de Antoine Predock num mesmo espaço; um cruzamento de informações a meu ver nem tão distante.

Outra questão é que em nenhum momento eu dei lá braço para defender minha argumentação e nem muito menos entro em debates. Tem motivo para tal. E esse motivo chama-se formação. Não sou autor, mas sim um estudante. Estou num bom processo de interpretação e em nenhum momento o debate vai me “clarear” algo. O que clareia é ouvir quem tem o que dizer. Um exemplo é um dos livros lançados semana passada pela editora É Realizações: “Reflexões Autobiográficas”, de Eric Voegelin. Conforme diz sempre o grande Artur da Távola, pode-se dialogar com um autor de muitas décadas como um amigo presente de hoje.

Aos amigos, continuo a pedir que tenham paciência; que eu não sumi. Só estou trabalhando muito e com muitos planos na cabeça. Como diz uma amiga durante o processo dos 95% de suor, depois dos 5% de inspiração da arquitetura, “vamo que vamo”! Nada melhor que terminado um desenho dizer “plantâ, cortê, prontô”...

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...