setembro 01, 2014

Os caminhos e a vida, ou, a vida e os caminhos...

Os caminhos da arquitetura nos levam desde estudante a viver num ambiente cultural, bastante crítico, rico e criativo. Durante a vida profissional vamos perdendo um pouco disso e caindo em algumas rotinas. As vezes, a impressão é que tudo aquilo ficou num lugar distante. E, quando menos esperamos, tudo reaparece. Reaparece a vontade de fazer, de realizar e de novidades, sempre aprendendo.

Na academia é também uma constante. Aprender. Tem certas horas que me perguntam o que eu farei com esse “acúmulo” e na hora que alguém cita, numa reunião ou num contato comercial, um dos pintores prediletos de meu pai – segundo minha opinião – conseguimos levar para outro clima um breve comentário. Um clima onde o abstrato toma vulto e alimenta a alma. Carente é aquele que não sabe o valor da cultura ou seu prazer abstrato que alimenta mesmo na fome. A felicidade nunca é completa se não existe a abstração.

Nos caminhos da vida, fui aprendendo a entender, ou melhor, a tentar entender as perdas. Dizem que quando alguém querido se vai, continua a viver um pouco dentro de nós. Eu acho que morremos um pouco também. E quanto a morte, esta parece sempre ser algo incompreensível. Aceitar não é compreender. Conviver com a falta é, como diz o poeta português em inspiração, uma dor que doí no peito. Passam as décadas e a perda continua lá, tão intocada quanto no momento em que a perdemos. Quando é recente e buscamos nela compreender todos os seus valores e sua natureza, buscamos também tentar dar o melhor de nós e o que de melhor podemos dar. Encaramos a fragilidade humana, entendemos o quão simples é o ser humano. E vemos o tempo passar, inseridos na história, com a nossa história.

A recordação, a lembrança, a homenagem, o simples pensamento. Um ato, uma simples palavra. Tudo tem a emoção e a história daqueles momentos que nos acompanharam. Tudo o que nos alimenta no caminho da vida. Lembrar da escola, do colegial, da faculdade, da pós e de tudo que nos acompanhou e nos pequenos momentos do dia a dia, dos sabores, das massas e das maças, como dizia a letra daquela música. Uma música que ouvia no rádio antigo junto com outras e uma mais especial, na voz da Elis Regina, que dizia para iluminar a mina escura e funda, o trem da minha vida. Mesmo nos últimos tempos, ao ouvir as músicas do seu músico predileto, ia vendo que se distanciava e abstraia, relembrando aqueles caminhos que foram traçados, caminhados, trilhados, vividos.

Quando me vejo a frente da folha em branco, vejo que cada caminho leva a um processo que deve ser o mais rico possível. De que vale a vida, sem a graça e sem a riqueza que ela pode ter?

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