Os caminhos da
arquitetura nos levam desde estudante a viver num ambiente cultural,
bastante crítico, rico e criativo. Durante a vida profissional vamos
perdendo um pouco disso e caindo em algumas rotinas. As vezes, a
impressão é que tudo aquilo ficou num lugar distante. E, quando
menos esperamos, tudo reaparece. Reaparece a vontade de fazer, de
realizar e de novidades, sempre aprendendo.
Na academia é também
uma constante. Aprender. Tem certas horas que me perguntam o que eu
farei com esse “acúmulo” e na hora que alguém cita, numa
reunião ou num contato comercial, um dos pintores prediletos de meu
pai – segundo minha opinião – conseguimos levar para outro clima
um breve comentário. Um clima onde o abstrato toma vulto e alimenta
a alma. Carente é aquele que não sabe o valor da cultura ou seu
prazer abstrato que alimenta mesmo na fome. A felicidade nunca é
completa se não existe a abstração.
Nos caminhos da vida, fui
aprendendo a entender, ou melhor, a tentar entender as perdas. Dizem
que quando alguém querido se vai, continua a viver um pouco dentro
de nós. Eu acho que morremos um pouco também. E quanto a morte,
esta parece sempre ser algo incompreensível. Aceitar não é
compreender. Conviver com a falta é, como diz o poeta português em
inspiração, uma dor que doí no peito. Passam as décadas e a perda
continua lá, tão intocada quanto no momento em que a perdemos.
Quando é recente e buscamos nela compreender todos os seus valores e
sua natureza, buscamos também tentar dar o melhor de nós e o que de
melhor podemos dar. Encaramos a fragilidade humana, entendemos o quão
simples é o ser humano. E vemos o tempo passar, inseridos na
história, com a nossa história.
A recordação, a
lembrança, a homenagem, o simples pensamento. Um ato, uma simples
palavra. Tudo tem a emoção e a história daqueles momentos que nos
acompanharam. Tudo o que nos alimenta no caminho da vida. Lembrar da
escola, do colegial, da faculdade, da pós e de tudo que nos
acompanhou e nos pequenos momentos do dia a dia, dos sabores, das
massas e das maças, como dizia a letra daquela música. Uma música
que ouvia no rádio antigo junto com outras e uma mais especial, na
voz da Elis Regina, que dizia para iluminar a mina escura e funda, o
trem da minha vida. Mesmo nos últimos tempos, ao ouvir as músicas
do seu músico predileto, ia vendo que se distanciava e abstraia,
relembrando aqueles caminhos que foram traçados, caminhados,
trilhados, vividos.
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