(escrito em 28/06/2008)
Faz certo tempo que não falo sobre a televisão. Aquela que segundo Arnaldo Antunes te deixa burro, burro demais... Aquela mesma que tem o canal Futura, cujo ex-companheiro de Antunes tem um programa... Aquela que adoram falar mal, mas não largam mão de ver. E eu que até gosto de assistir, ando muito ausente. Não assisto nada, não acompanho nada. Há pouco fiz uma tentativa de acompanhar a disputa do Aprendiz 5 para a vaga de sócio de Roberto Justus. Nem a esse programa tive a possibilidade de acompanhar em detalhes. Pode-se até ver nos arquivos deste blog como acompanhei com muito mais entusiasmo a edição de 2007. Muito bom ter mais de um ano de blog para poder comparar o quanto não acompanho nem o campeonato brasileiro de futebol, a F1 e outras coisas que via e vejo na televisão. Que graça tem em saber a corrida de F1 lendo na internet? Assim como os jogos.
Mas ontem eu acabei assistindo um pouco do programa do Jô Soares. Por coincidência o primeiro entrevistado era Roberto Justus. Não vi a entrevista, somente a introdução do programa. E na introdução Jô tenta ainda ser engraçado, sem sucesso. Seu programa lá pelo meio da década de 1990 era algo quase imperdível, mesmo sendo muitas vezes já sem graça. Mas Jô era considerado um entrevistador que dava opinião, que formava opinião, além de ter um tanto de humor em entrevistas até históricas. Não à toa foram tantas as pessoas que passaram por seu programa que acabou por ser referencia e copiado a exaustão e de maneira às vezes um tanto quanto piorada. E em muitos casos ele realmente colocou algo a mais, acrescentou alguma novidade, alguma informação culturalmente válida, além de também mostrar aquele lado hipocondríaco, maníaco por besteiras, chato e a falta de jeito com os entrevistados que em muitos casos não tinham oportunidade de falar; só ele falava.
Depois dessa breve introdução, o que eu queria dizer é que Jô Soares está com problemas para se reinventar. Copia certas brincadeiras, como a do caso de introdução de seu programa de ontem, que eram “as pérolas” dos alunos em redações. Uma dela me chamou a atenção, por qual Jô simplesmente saiu-se como grande “filósofo” deixando passar uma percepção um tanto quanto interessante. O lado mais estranho da educação atual é o de se repetir a exaustão certos princípios e quanto uma criança, adolescente mira num alvo e acerta, mesmo com um português muito mal escrito (caso de 99% dessa brincadeira), há de mensurar que se perdeu um momento delicado, do qual a falta de percepção de Jô arrasou algo que poderia ser uma verdadeira pérola.
A educação no Brasil vai muito mal. E vai mal não porque o governo “não investe”. Mas vai mal porque muito da política educacional é tratada como simples atividade escolar de repetição sem cobrança e sem um professor que oriente. Eu já sentia isso durante meus anos de Primeiro Grau, cursado praticamente na escola pública. Nessa escola pública tive uma das melhores professoras de português. Foi ela que me incentivou a escrever melhor e a entender morfologia e sintaxe. Até hoje quando escrevo as orações penso nas subordinadas e coordenadas e onde está o sujeito, o predicado e busco na gramática, no guia de redação da Folha e nos dicionários as dúvidas que aparecem. Tudo isso incentivado por ela naqueles anos de leituras e interpretações que fazia com a classe e que muitas vezes aquele conceito “C” era muito maior que o rendimento real dos alunos. Ela era uma das poucas professoras que se poderia chamar de “idealista”. Mas não. Eu a chamaria de professora, simplesmente; e todo o resto de pseudo-professores. Errar é questão de fazer. Corrigir o erro e tentar melhorar é o que se deve ter em mente. Mas, acredito, essa brincadeira do Jô não acrescenta muito a esse debate. Principalmente quando não se confrontam certos “conceitos” adotados nas “cartilhas” dos professores. Vamos ao fato direto: Jô brincava com uma redação que dizia, em português errado, que a ecologia e o progresso nunca conseguiriam agradar a todos. E é verdade. Podre desse aluno que além de ver a incoerência nos textos dos seus livros didáticos não tem português suficiente para se defender dessas políticas educacionais.
Imagine só. Se o aluno segue ou acompanha algum telejornal (provavelmente não) vê um dia o presidente defendendo o etanol. No outro dia sendo o “rei do petróleo”. Mais que isso, vê que o desmatamento da Amazônia aumentou e a ministra do meio ambiente pede demissão. Só a falta de visão de Jô que não conseguiu perceber do que o aluno, em total desgoverno mental, tentava escrever ali naquela redação com seu português fraco. Falar do seu português era a única coisa menos lamentável a falar de certas incoerências da realidade confrontadas com os discursos dos professores. Como poderia ele (o aluno) escrever sobre ecologia se nem sequer pode-se pedir o mesmo ao Ministério do Meio Ambiente? Até acho a percepção do aluno mais interessante às desculpas do Ministério.
São coisas que muita gente não sabe distinguir: má educação com posicionamento político e ideológico. E Jô quase Soares não sabe. Não sabe em que barco está. Em poucos anos não haverá mais intelectuais que estejam livres de muletas. Um das principais muletas é a Universidade; a Academia. Jô, que eu saiba não se formou em faculdade alguma, mas teve uma educação privilegiada, culturalmente muito mais rica que a da “elite” atual. Aliás, o que é “elite” atualmente? São aquelas pessoas que tem recursos financeiros ou aqueles que têm conhecimento e cultura? Hoje essa linha é de uma cor cinza, pois dá medo aos dois lados. É duro falar de televisão principalmente que nos pequenos detalhes é que se encontram os verdadeiros problemas. E é lógico que Jô não se incomoda com eles. Afinal, como já escutei várias vezes, “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo”.
Um comentário:
O pior é que não há graça nenhuma em destroçar estudantes, acima de tudo, brasileiros. Ora, coloque um macaco para competir num teste de matemática e suspeito que o símio tenha boas chances de, no mínimo, empatar. Na melhor das hipóteses, porque se ganhar ou perder ficará difícil, de qualquer maneira, identificar quem é o estudante e quem é o macaco. É engraçadinho se considerarmos as palavras vindo da boca do próprio Jô, do que se esperaria de um adulto, de nós mesmos. Mas se lembrarmos que se trata de um pobre coitado estudando em algum buraco-negro que teimam chamar de escola, não tem mais graça, porque não se poderia esperar diferente. Ó glória! Eu sei mais do que um moleque de colégio público! Parabéns a mim! Só faltava...
Na prova dos melhores alunos não há nenhum brilho, apenas a imitação mais perfeita da propaganda ideológica que lhe foi transmitida como a verdade dos fatos. Sua prova nota dez não é menos engraçada do que a do palhaço da classe, não é diferente em nível de baboseira. E como você ressaltou, alguns dos “reprovados” é que estão com a razão. Talvez porque prestem menos atenção às aulas, não façam o dever, não leiam o livro didático... rsrs...
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