(escrito em 22/06/2008)
Outro dia li uma resenha bastante interessante sobre o novo livro de Leonardo Benevolo, “A Arquitetura do Novo Milênio”. Roberto Segre, o autor, publicado no portal Vitruvius, é um autor cujo texto é bastante interessante, principalmente por ser bastante crítico e tentar entender o que acontece com a arquitetura brasileira. É talvez um dos bons críticos de arquitetura atualmente. Esta resenha mostrou muito do que acredito ser realmente a arquitetura do novo milênio e que o livro de Benévolo deixa um tanto a desejar.
É estranho falar de Benevolo, pois é um autor que admiro muito. Mas realmente nesta publicação deixou muitos aspectos fora do debate. Não posso nem afirmar que seja uma visão européia, pois mesmo dentro dos arquitetos europeus deixou um tanto deles sem análise crítica. Quem me dera ter tido tempo para ler todo o livro, mas fico um pouco decepcionado com o resultado do que li. Espera ver o mesmo Benevolo que tão bem escreveu o breve prefácio, mas muito profundo, de um dos livros mais importantes já escritos sobre a história da cidade de São Paulo: “São Paulo: Três cidades em um século”, de Benedito Lima de Toledo. Eu até fico mais surpreso que a obra não seja um fechamento da arquitetura do século passado, assim como foi o livro de Roberto Segre, lançado em 2003, a respeito da arquitetura moderna brasileira.
Ando um pouco preocupado com minhas fontes teóricas da arquitetura. Fico a encontrar certos fragmentos que possibilitem o entendimento de certas passagens e rupturas ocorridas nas obras e na forma de pensar de certos arquitetos e, mais ainda, na possibilidade de não haver uma forma de pensar, somente uma forma de materializar, de construir, de executar, até de aparecer. Ando meio entediado com o discurso de “elite” da arquitetura e ao mesmo tempo desprezo o discurso social medíocre dos alinhados dogmáticos. Há espaço entre estes dois pólos, é evidente. E há até muito mais espaço do que parece. Primeiramente existe um ar de falta de auto-estima arquitetônica em uma parcela dos arquitetos (aqueles que trabalham com arquitetura) em dizer o que é e o que não é arquitetura. Obviamente o livro de Benevolo e mesmo o de Segre mostram somente obras de arquitetura que eu poderia chamar de “perenes”. Aquelas feitas para durar. Aqueles que os estudantes de arquitetura chamam de “arquitetura de verdade”. O que é bem restrito, mesmo. Há de se dizer que também precisamos da arquitetura da padaria, do botequim, da loja de celulares, da loja de roupas, da agência bancária, da agência de viagens, etc. Isso nunca deixou de ser arquitetura...
Durante os estudos de teoria da arquitetura na Universidade Mackenzie, nos meus anos de graduação, houve um professor que tocou e com muita ênfase nesse aspecto da arquitetura. Sua teoria, desenvolvida provavelmente durante os seus estudos de pós-graduação nos Estados Unidos ou no mestrado, se revelou como uma das formas muito possíveis de se entender a diversidade cultural nos projetos de arquitetura. Era baseada na identificação de modelos arquiteturais. Seria muito difícil explana-los aqui por se tratar de no mínimo um semestre de aula sobre os modelos e outro semestre fazendo estudos de casos utilizando como método os tais modelos. Mas ali estava uma das chaves do mistério da atual falta de auto-estima arquitetural. Muitos arquitetos consideram menos importantes os trabalhos que fazem por não serem novos Paulos Mendes, Niemeyers, Artigas, etc... Claro que há neste aspecto muito de uma educação arquitetônica ou de um ensino de arquitetura um pouco desvinculados das realidades do mercado. Eis aí, mais uma vez, um efeito de paralaxe cognitiva. Quanto mais vejo nas artes sua verdadeira perda de sentido por estar ela a serviço de ideais em vez de representar os valores da sociedade, mas se vê a ruptura e a falta de critérios para avaliar a qualidade das obras. Nessa hora que me decepciona que estudiosos da arquitetura não possam ser mais o caminho do que há de novo no mundo e na atual sociedade. No livro "História da Cidade”, de Leonardo Benevolo, a principal contribuição é entender quais eram os valores daquelas sociedades a respeito das suas cidades e, portanto, quais critérios eram utilizados para conceber as arquiteturas daquelas cidades. Tudo isso só faz sentido se conectado a realidade dos fatos. A interpretação deles só faz sentido mesmo com o tempo. E quanto mais distante estamos dos fatos, mais conseguimos compreender onde estão os erros, os acertos, as crenças, os mitos e os paradigmas. Mas também corremos o risco de não preservar certos valores que talvez fossem importantes. Exemplos não nos faltam. Um dos maiores deles é a preservação tardia de edifícios antigos, como os de autoria de Ramos de Azevedo ou mesmo aqueles anteriores a estes, isso tomando como exemplo a cidade de São Paulo. Esta demora quase foi devastadora para a arquitetura, e com certeza foi desastrosa em termos urbanísticos.
Outro dia li uma resenha bastante interessante sobre o novo livro de Leonardo Benevolo, “A Arquitetura do Novo Milênio”. Roberto Segre, o autor, publicado no portal Vitruvius, é um autor cujo texto é bastante interessante, principalmente por ser bastante crítico e tentar entender o que acontece com a arquitetura brasileira. É talvez um dos bons críticos de arquitetura atualmente. Esta resenha mostrou muito do que acredito ser realmente a arquitetura do novo milênio e que o livro de Benévolo deixa um tanto a desejar.
É estranho falar de Benevolo, pois é um autor que admiro muito. Mas realmente nesta publicação deixou muitos aspectos fora do debate. Não posso nem afirmar que seja uma visão européia, pois mesmo dentro dos arquitetos europeus deixou um tanto deles sem análise crítica. Quem me dera ter tido tempo para ler todo o livro, mas fico um pouco decepcionado com o resultado do que li. Espera ver o mesmo Benevolo que tão bem escreveu o breve prefácio, mas muito profundo, de um dos livros mais importantes já escritos sobre a história da cidade de São Paulo: “São Paulo: Três cidades em um século”, de Benedito Lima de Toledo. Eu até fico mais surpreso que a obra não seja um fechamento da arquitetura do século passado, assim como foi o livro de Roberto Segre, lançado em 2003, a respeito da arquitetura moderna brasileira.
Ando um pouco preocupado com minhas fontes teóricas da arquitetura. Fico a encontrar certos fragmentos que possibilitem o entendimento de certas passagens e rupturas ocorridas nas obras e na forma de pensar de certos arquitetos e, mais ainda, na possibilidade de não haver uma forma de pensar, somente uma forma de materializar, de construir, de executar, até de aparecer. Ando meio entediado com o discurso de “elite” da arquitetura e ao mesmo tempo desprezo o discurso social medíocre dos alinhados dogmáticos. Há espaço entre estes dois pólos, é evidente. E há até muito mais espaço do que parece. Primeiramente existe um ar de falta de auto-estima arquitetônica em uma parcela dos arquitetos (aqueles que trabalham com arquitetura) em dizer o que é e o que não é arquitetura. Obviamente o livro de Benevolo e mesmo o de Segre mostram somente obras de arquitetura que eu poderia chamar de “perenes”. Aquelas feitas para durar. Aqueles que os estudantes de arquitetura chamam de “arquitetura de verdade”. O que é bem restrito, mesmo. Há de se dizer que também precisamos da arquitetura da padaria, do botequim, da loja de celulares, da loja de roupas, da agência bancária, da agência de viagens, etc. Isso nunca deixou de ser arquitetura...
Durante os estudos de teoria da arquitetura na Universidade Mackenzie, nos meus anos de graduação, houve um professor que tocou e com muita ênfase nesse aspecto da arquitetura. Sua teoria, desenvolvida provavelmente durante os seus estudos de pós-graduação nos Estados Unidos ou no mestrado, se revelou como uma das formas muito possíveis de se entender a diversidade cultural nos projetos de arquitetura. Era baseada na identificação de modelos arquiteturais. Seria muito difícil explana-los aqui por se tratar de no mínimo um semestre de aula sobre os modelos e outro semestre fazendo estudos de casos utilizando como método os tais modelos. Mas ali estava uma das chaves do mistério da atual falta de auto-estima arquitetural. Muitos arquitetos consideram menos importantes os trabalhos que fazem por não serem novos Paulos Mendes, Niemeyers, Artigas, etc... Claro que há neste aspecto muito de uma educação arquitetônica ou de um ensino de arquitetura um pouco desvinculados das realidades do mercado. Eis aí, mais uma vez, um efeito de paralaxe cognitiva. Quanto mais vejo nas artes sua verdadeira perda de sentido por estar ela a serviço de ideais em vez de representar os valores da sociedade, mas se vê a ruptura e a falta de critérios para avaliar a qualidade das obras. Nessa hora que me decepciona que estudiosos da arquitetura não possam ser mais o caminho do que há de novo no mundo e na atual sociedade. No livro "História da Cidade”, de Leonardo Benevolo, a principal contribuição é entender quais eram os valores daquelas sociedades a respeito das suas cidades e, portanto, quais critérios eram utilizados para conceber as arquiteturas daquelas cidades. Tudo isso só faz sentido se conectado a realidade dos fatos. A interpretação deles só faz sentido mesmo com o tempo. E quanto mais distante estamos dos fatos, mais conseguimos compreender onde estão os erros, os acertos, as crenças, os mitos e os paradigmas. Mas também corremos o risco de não preservar certos valores que talvez fossem importantes. Exemplos não nos faltam. Um dos maiores deles é a preservação tardia de edifícios antigos, como os de autoria de Ramos de Azevedo ou mesmo aqueles anteriores a estes, isso tomando como exemplo a cidade de São Paulo. Esta demora quase foi devastadora para a arquitetura, e com certeza foi desastrosa em termos urbanísticos.
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