Bem vindos à terra do nunca
Editorial da revista Engenharia (n. 587 / maio 2008)
Nada mais perfeito para descrever o Brasil de hoje que o mundo criado por J.M. Barry e imortalizado por Walt Disney. Em nossa triste adaptação, autoridades, parlamentares, promotores, magistrados e até jornalistas comportam-se como verdadeiros Peter Pans, fugindo do amadurecimento e do comportamento responsável. Para viver na terra do faça-o-que-quiser. Não bastando a total incapacidade de realizar qualquer investimento em infra-estrutura, desperdiçando preciosas oportunidades de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, de oferecer condições estruturais favoráveis às empresas e da otimização dos recursos públicos, nossos governos passaram a desmontar sistematicamente o pouco que funcionava. Esse sucateamento das estruturas técnicas de autarquias, estatais, secretarias e ministérios, fruto da idiocracia sindicalista, tem produzido além de acidentes, decisões desastradas de investimentos e planejamento, bem como a paralisação dos investimentos públicos e privados no Brasil. Na terra do nunca tupiniquim, o papel do Capitão Gancho foi reservado aos “adultos” de plantão: militares, engenheiros, empresários e todos aqueles que procuram por os argumentos técnicos acima da emoção, tomando a responsabilidade de criticar e impedir as sandices com o patrimônio público.
Hoje, reservas indígenas são demarcadas para reparar erros de 400 anos herdados de uma cultura de colonização ultrapassada; cotas raciais tentam atenuar o abandono da educação pública; barragens são projetadas de acordo com o ciclo reprodutivo dos peixes, desconsiderando-se tanto o potencial quanto as necessidades energéticas da região; privatizações são anunciadas com dinheiro público, e participação majoritária de estatais; investimentos em transportes e trânsito privilegiam automóveis e motoristas irresponsáveis. O governo brasileiro desenvolveu duas competências únicas, enquanto abandonava tudo que construiu no milagre de 70. Criar e arrecadar impostos e distribuir dinheiro por meio de cartões eletrônicos à população desprovida de serviços públicos. Como até Peter Pan sugeriria, pague-se uma mesada e tudo estará bem. Apesar das declarações ufanistas dos palanques, das promessas de campanha, das teorias conspiratórias sobre aqueles que discordam do otimismo eleitoral, os problemas estão chegando. O famoso PAC já dá sinais de ser mais uma campanha de marketing bem sucedida do que um programa responsável, bem planejado e exeqüível. Seu formato, concentrando a responsabilidade do projeto nos municípios, fortalecendo o partido do governo para as próximas eleições, falhou ao encontrar governos e prefeituras despreparadas, desestruturadas e sem pessoal. A prevenção do apagão elétrico está agora nas mãos dos pajés, pois os engenheiros não conseguiram fazer valer seus argumentos técnicos e a única esperança que nos resta é o excesso de chuva. Enfim, enquanto o mérito acadêmico é desprezado pelo político, fica claro que o plano atual de vôo do Brasil depende muito mais de pós mágicos e bons pensamentos do que uma iniciativa séria e tecnicamente competente. Algo muito próximo à bizarra aventura aérea do padre Adelir de Carli.
Editorial da revista Engenharia (n. 587 / maio 2008)
Nada mais perfeito para descrever o Brasil de hoje que o mundo criado por J.M. Barry e imortalizado por Walt Disney. Em nossa triste adaptação, autoridades, parlamentares, promotores, magistrados e até jornalistas comportam-se como verdadeiros Peter Pans, fugindo do amadurecimento e do comportamento responsável. Para viver na terra do faça-o-que-quiser. Não bastando a total incapacidade de realizar qualquer investimento em infra-estrutura, desperdiçando preciosas oportunidades de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, de oferecer condições estruturais favoráveis às empresas e da otimização dos recursos públicos, nossos governos passaram a desmontar sistematicamente o pouco que funcionava. Esse sucateamento das estruturas técnicas de autarquias, estatais, secretarias e ministérios, fruto da idiocracia sindicalista, tem produzido além de acidentes, decisões desastradas de investimentos e planejamento, bem como a paralisação dos investimentos públicos e privados no Brasil. Na terra do nunca tupiniquim, o papel do Capitão Gancho foi reservado aos “adultos” de plantão: militares, engenheiros, empresários e todos aqueles que procuram por os argumentos técnicos acima da emoção, tomando a responsabilidade de criticar e impedir as sandices com o patrimônio público.
Hoje, reservas indígenas são demarcadas para reparar erros de 400 anos herdados de uma cultura de colonização ultrapassada; cotas raciais tentam atenuar o abandono da educação pública; barragens são projetadas de acordo com o ciclo reprodutivo dos peixes, desconsiderando-se tanto o potencial quanto as necessidades energéticas da região; privatizações são anunciadas com dinheiro público, e participação majoritária de estatais; investimentos em transportes e trânsito privilegiam automóveis e motoristas irresponsáveis. O governo brasileiro desenvolveu duas competências únicas, enquanto abandonava tudo que construiu no milagre de 70. Criar e arrecadar impostos e distribuir dinheiro por meio de cartões eletrônicos à população desprovida de serviços públicos. Como até Peter Pan sugeriria, pague-se uma mesada e tudo estará bem. Apesar das declarações ufanistas dos palanques, das promessas de campanha, das teorias conspiratórias sobre aqueles que discordam do otimismo eleitoral, os problemas estão chegando. O famoso PAC já dá sinais de ser mais uma campanha de marketing bem sucedida do que um programa responsável, bem planejado e exeqüível. Seu formato, concentrando a responsabilidade do projeto nos municípios, fortalecendo o partido do governo para as próximas eleições, falhou ao encontrar governos e prefeituras despreparadas, desestruturadas e sem pessoal. A prevenção do apagão elétrico está agora nas mãos dos pajés, pois os engenheiros não conseguiram fazer valer seus argumentos técnicos e a única esperança que nos resta é o excesso de chuva. Enfim, enquanto o mérito acadêmico é desprezado pelo político, fica claro que o plano atual de vôo do Brasil depende muito mais de pós mágicos e bons pensamentos do que uma iniciativa séria e tecnicamente competente. Algo muito próximo à bizarra aventura aérea do padre Adelir de Carli.
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