junho 29, 2008

Bueno, a revelação!

Falar mais da televisão. Falar do melhor programa de entretenimento da televisão aberta atualmente é fácil. E mais ainda quando a espontaneidade de seu programa ultrapassa o limite do arrumado para acontecer. Bom apresentador, boa pauta, bons quadros. Uma regra que faz um programa ser bom, sem dúvidas. Este é o “Caldeirão do Huck”.

Neste sábado de 28/06 o quadro “Lata Velha” trouxe para um carteiro de Bragança Paulista a possibilidade de reforma de seu “possante” Corcel II 1980. A reforma e tudo mais foram dentro do esperado. O que surpreendeu foi a prova a que o carteiro tinha que passar para pagar o mico: Um strip-tease em grupo imitando a famosa cena do filme “Ou tudo ou nada”.

Para ajudá-lo a pagar o mico nada melhor que os carteiros companheiros de trabalho ajudarem na tarefa. Mas eis que o companheiro de trabalho do felizardo, cujo nome é Bueno, se destacou. Não como o de maior habilidade, justamente o contrário: o mais travado de todos os tempos! Mas ele se superou. Todos adoraram sua participação. Mas agora é o Bueno! O destaque revelação do Calderão! Viva o Bueno!

Veja mais aqui.

Um Jô um quanto Soares...

(escrito em 28/06/2008)

Faz certo tempo que não falo sobre a televisão. Aquela que segundo Arnaldo Antunes te deixa burro, burro demais... Aquela mesma que tem o canal Futura, cujo ex-companheiro de Antunes tem um programa... Aquela que adoram falar mal, mas não largam mão de ver. E eu que até gosto de assistir, ando muito ausente. Não assisto nada, não acompanho nada. Há pouco fiz uma tentativa de acompanhar a disputa do Aprendiz 5 para a vaga de sócio de Roberto Justus. Nem a esse programa tive a possibilidade de acompanhar em detalhes. Pode-se até ver nos arquivos deste blog como acompanhei com muito mais entusiasmo a edição de 2007. Muito bom ter mais de um ano de blog para poder comparar o quanto não acompanho nem o campeonato brasileiro de futebol, a F1 e outras coisas que via e vejo na televisão. Que graça tem em saber a corrida de F1 lendo na internet? Assim como os jogos.

Mas ontem eu acabei assistindo um pouco do programa do Jô Soares. Por coincidência o primeiro entrevistado era Roberto Justus. Não vi a entrevista, somente a introdução do programa. E na introdução Jô tenta ainda ser engraçado, sem sucesso. Seu programa lá pelo meio da década de 1990 era algo quase imperdível, mesmo sendo muitas vezes já sem graça. Mas Jô era considerado um entrevistador que dava opinião, que formava opinião, além de ter um tanto de humor em entrevistas até históricas. Não à toa foram tantas as pessoas que passaram por seu programa que acabou por ser referencia e copiado a exaustão e de maneira às vezes um tanto quanto piorada. E em muitos casos ele realmente colocou algo a mais, acrescentou alguma novidade, alguma informação culturalmente válida, além de também mostrar aquele lado hipocondríaco, maníaco por besteiras, chato e a falta de jeito com os entrevistados que em muitos casos não tinham oportunidade de falar; só ele falava.

Depois dessa breve introdução, o que eu queria dizer é que Jô Soares está com problemas para se reinventar. Copia certas brincadeiras, como a do caso de introdução de seu programa de ontem, que eram “as pérolas” dos alunos em redações. Uma dela me chamou a atenção, por qual Jô simplesmente saiu-se como grande “filósofo” deixando passar uma percepção um tanto quanto interessante. O lado mais estranho da educação atual é o de se repetir a exaustão certos princípios e quanto uma criança, adolescente mira num alvo e acerta, mesmo com um português muito mal escrito (caso de 99% dessa brincadeira), há de mensurar que se perdeu um momento delicado, do qual a falta de percepção de Jô arrasou algo que poderia ser uma verdadeira pérola.

A educação no Brasil vai muito mal. E vai mal não porque o governo “não investe”. Mas vai mal porque muito da política educacional é tratada como simples atividade escolar de repetição sem cobrança e sem um professor que oriente. Eu já sentia isso durante meus anos de Primeiro Grau, cursado praticamente na escola pública. Nessa escola pública tive uma das melhores professoras de português. Foi ela que me incentivou a escrever melhor e a entender morfologia e sintaxe. Até hoje quando escrevo as orações penso nas subordinadas e coordenadas e onde está o sujeito, o predicado e busco na gramática, no guia de redação da Folha e nos dicionários as dúvidas que aparecem. Tudo isso incentivado por ela naqueles anos de leituras e interpretações que fazia com a classe e que muitas vezes aquele conceito “C” era muito maior que o rendimento real dos alunos. Ela era uma das poucas professoras que se poderia chamar de “idealista”. Mas não. Eu a chamaria de professora, simplesmente; e todo o resto de pseudo-professores.
Errar é questão de fazer. Corrigir o erro e tentar melhorar é o que se deve ter em mente. Mas, acredito, essa brincadeira do Jô não acrescenta muito a esse debate. Principalmente quando não se confrontam certos “conceitos” adotados nas “cartilhas” dos professores. Vamos ao fato direto: Jô brincava com uma redação que dizia, em português errado, que a ecologia e o progresso nunca conseguiriam agradar a todos. E é verdade. Podre desse aluno que além de ver a incoerência nos textos dos seus livros didáticos não tem português suficiente para se defender dessas políticas educacionais.

Imagine só. Se o aluno segue ou acompanha algum telejornal (provavelmente não) vê um dia o presidente defendendo o etanol. No outro dia sendo o “rei do petróleo”. Mais que isso, vê que o desmatamento da Amazônia aumentou e a ministra do meio ambiente pede demissão. Só a falta de visão de Jô que não conseguiu perceber do que o aluno, em total desgoverno mental, tentava escrever ali naquela redação com seu português fraco. Falar do seu português era a única coisa menos lamentável a falar de certas incoerências da realidade confrontadas com os discursos dos professores. Como poderia ele (o aluno) escrever sobre ecologia se nem sequer pode-se pedir o mesmo ao Ministério do Meio Ambiente? Até acho a percepção do aluno mais interessante às desculpas do Ministério.

São coisas que muita gente não sabe distinguir: má educação com posicionamento político e ideológico. E Jô quase Soares não sabe. Não sabe em que barco está. Em poucos anos não haverá mais intelectuais que estejam livres de muletas. Um das principais muletas é a Universidade; a Academia. Jô, que eu saiba não se formou em faculdade alguma, mas teve uma educação privilegiada, culturalmente muito mais rica que a da “elite” atual. Aliás, o que é “elite” atualmente? São aquelas pessoas que tem recursos financeiros ou aqueles que têm conhecimento e cultura? Hoje essa linha é de uma cor cinza, pois dá medo aos dois lados. É duro falar de televisão principalmente que nos pequenos detalhes é que se encontram os verdadeiros problemas. E é lógico que Jô não se incomoda com eles. Afinal, como já escutei várias vezes, “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo”.

junho 25, 2008

Mais do mesmo...

(escrito em 22/06/2008)

Outro dia li uma resenha bastante interessante sobre o novo livro de Leonardo Benevolo, “A Arquitetura do Novo Milênio”. Roberto Segre, o autor, publicado no portal Vitruvius, é um autor cujo texto é bastante interessante, principalmente por ser bastante crítico e tentar entender o que acontece com a arquitetura brasileira. É talvez um dos bons críticos de arquitetura atualmente. Esta resenha mostrou muito do que acredito ser realmente a arquitetura do novo milênio e que o livro de Benévolo deixa um tanto a desejar.

É estranho falar de Benevolo, pois é um autor que admiro muito. Mas realmente nesta publicação deixou muitos aspectos fora do debate. Não posso nem afirmar que seja uma visão européia, pois mesmo dentro dos arquitetos europeus deixou um tanto deles sem análise crítica. Quem me dera ter tido tempo para ler todo o livro, mas fico um pouco decepcionado com o resultado do que li. Espera ver o mesmo Benevolo que tão bem escreveu o breve prefácio, mas muito profundo, de um dos livros mais importantes já escritos sobre a história da cidade de São Paulo: “São Paulo: Três cidades em um século”, de Benedito Lima de Toledo. Eu até fico mais surpreso que a obra não seja um fechamento da arquitetura do século passado, assim como foi o livro de Roberto Segre, lançado em 2003, a respeito da arquitetura moderna brasileira.

Ando um pouco preocupado com minhas fontes teóricas da arquitetura. Fico a encontrar certos fragmentos que possibilitem o entendimento de certas passagens e rupturas ocorridas nas obras e na forma de pensar de certos arquitetos e, mais ainda, na possibilidade de não haver uma forma de pensar, somente uma forma de materializar, de construir, de executar, até de aparecer. Ando meio entediado com o discurso de “elite” da arquitetura e ao mesmo tempo desprezo o discurso social medíocre dos alinhados dogmáticos. Há espaço entre estes dois pólos, é evidente. E há até muito mais espaço do que parece. Primeiramente existe um ar de falta de auto-estima arquitetônica em uma parcela dos arquitetos (aqueles que trabalham com arquitetura) em dizer o que é e o que não é arquitetura. Obviamente o livro de Benevolo e mesmo o de Segre mostram somente obras de arquitetura que eu poderia chamar de “perenes”. Aquelas feitas para durar. Aqueles que os estudantes de arquitetura chamam de “arquitetura de verdade”. O que é bem restrito, mesmo. Há de se dizer que também precisamos da arquitetura da padaria, do botequim, da loja de celulares, da loja de roupas, da agência bancária, da agência de viagens, etc. Isso nunca deixou de ser arquitetura...

Durante os estudos de teoria da arquitetura na Universidade Mackenzie, nos meus anos de graduação, houve um professor que tocou e com muita ênfase nesse aspecto da arquitetura. Sua teoria, desenvolvida provavelmente durante os seus estudos de pós-graduação nos Estados Unidos ou no mestrado, se revelou como uma das formas muito possíveis de se entender a diversidade cultural nos projetos de arquitetura. Era baseada na identificação de modelos arquiteturais. Seria muito difícil explana-los aqui por se tratar de no mínimo um semestre de aula sobre os modelos e outro semestre fazendo estudos de casos utilizando como método os tais modelos. Mas ali estava uma das chaves do mistério da atual falta de auto-estima arquitetural. Muitos arquitetos consideram menos importantes os trabalhos que fazem por não serem novos Paulos Mendes, Niemeyers, Artigas, etc... Claro que há neste aspecto muito de uma educação arquitetônica ou de um ensino de arquitetura um pouco desvinculados das realidades do mercado. Eis aí, mais uma vez, um efeito de paralaxe cognitiva. Quanto mais vejo nas artes sua verdadeira perda de sentido por estar ela a serviço de ideais em vez de representar os valores da sociedade, mas se vê a ruptura e a falta de critérios para avaliar a qualidade das obras. Nessa hora que me decepciona que estudiosos da arquitetura não possam ser mais o caminho do que há de novo no mundo e na atual sociedade.
No livro "História da Cidade”, de Leonardo Benevolo, a principal contribuição é entender quais eram os valores daquelas sociedades a respeito das suas cidades e, portanto, quais critérios eram utilizados para conceber as arquiteturas daquelas cidades. Tudo isso só faz sentido se conectado a realidade dos fatos. A interpretação deles só faz sentido mesmo com o tempo. E quanto mais distante estamos dos fatos, mais conseguimos compreender onde estão os erros, os acertos, as crenças, os mitos e os paradigmas. Mas também corremos o risco de não preservar certos valores que talvez fossem importantes. Exemplos não nos faltam. Um dos maiores deles é a preservação tardia de edifícios antigos, como os de autoria de Ramos de Azevedo ou mesmo aqueles anteriores a estes, isso tomando como exemplo a cidade de São Paulo. Esta demora quase foi devastadora para a arquitetura, e com certeza foi desastrosa em termos urbanísticos.

junho 24, 2008

Sobre as idéias...

(escrito em 22/06/2008)

Uma coisa comum em textos autorais é que aquelas idéias ali representadas são idéias do autor. Não. Na verdade o autor pode usar idéias de outras pessoas, mesmo concordando em parte ou discordando. Não há problema algum nisso, desde que expressas as fontes, quando idéias de outro autor.

Vejamos por parte: um comentário anônimo que recebi, em parte irônico, em parte inquisidor, sobre um texto que publiquei aqui, com as devidas fontes citadas, foi entendido como texto de minha autoria e mais ainda, mal lido. Digo isso porque no comentário a pessoa parece ter lido um parágrafo e imediatamente esquecido o anterior.

O comentarista deu atenção à frase que dentre todas as soluções anteriores apresentadas era talvez a de menor importância e de mais complexa implementação, com, agora dando minha opinião, talvez menor possibilidade de resultados concretos. Vamos à frase: “Para completar, o governo federal deve deixar a política eleitoreira fora dos corredores da Petrobrás e aumentar o preço da gasolina, pois o maior inibidor dos deslocamentos supérfluos é custo do quilômetro rodado.”

Esta frase junta com a incrível frase (que também já li nas dependências da famosa loja) – “Enfim, aos motoristas brasileiros que insistirem em usar o carro, fica o recado da Daslu: Existe sim um mundo melhor, porém é caríssimo.” – faz total sentido para o texto e para a frase anterior. Já, sobre outros aspectos, tinha escutado a frase de uma maneira menos arrogante, e com um autor, Thomas Edson, que se referia a um futuro onde somente os muito ricos poderiam utilizar velas para sua iluminação.

O texto em si é muito bom, coeso e sincero, e a ironia do comentarista a respeito das pessoas que utilizam o automóvel para trabalho e não para passear, é tão válida quanto a de que uma mulher não pode viver sem diamantes. É uma visão um tanto curta e ainda justificada com o velho truque de por a culpa no governo, que era exatamente o que o parágrafo anterior do texto tratava. (“Medidas como: priorizar a qualidade e a quantidade do transporte público; proibir o estacionamento no leito carroçável de ruas praças e avenidas; exigir de edifícios e estabelecimentos comerciais áreas disponíveis para caçambas de entulho; levar a Zonal Azul do leito carroçável para terrenos especialmente criados para estacionamento; proibir o tráfego de veículos de carga no horário de rush; restringir operações de descarga ao período noturno; extinguir o rodízio e criar o pedágio urbano; implementar a inspeção veicular anual completa (segurança e ambiental); retirar de circulação em caráter permanente carros velhos e sem condições mínimas de segurança e fiscalizar com rigor o pagamento de tributos, licenças e multas apreendendo os veículos irregulares.”)

Era como se o comentarista discordasse concordando. Aquelas coisas bem cruas, de alguém que lê algo muito por cima e mais que tudo, insiste em ter “uma opinião formada sobre tudo”. E claro, essa opinião tem que ser sempre a de que “soi contra”, mesmo que seja favorável. É típica do “país dos petralhas”. O que poderia ser desculpa, a de que estava lendo por alto, não se justifica, pois até a cópia da frase executou para preencher seu comentário com mais caracteres.

Se fosse um comentário bem formado, como o feito por uma amiga, que dizia ter isso uma implicação muito maior na economia, muito mais incomoda que o trânsito, eu até entenderia e mais, era o que eu esperava. Os comentários ao meu blog são em muitas vezes proferidos pessoalmente a escritos nele, por um motivo quase óbvio: ele é de leitura restrita e bastante confuso. Não sei como melhorar isso, se não já teria feito... E mais que comentários, os textos são abertos e não dogmas fechados.

O sabor das idéias é exatamente a reflexão lenta delas. As idéias executadas, a identificação das origens conceitos que nortearam as medidas tomadas, tanto relacionados com a mentalidade da época em que foram elaborados, como quão estranhos lhe parecem hoje, são questões muito mais complexas que a exposição nua delas. Se eu tivesse a incrível solução para o trânsito eu acredito que estaria lutando muito mais por elas. Tornaria-me um ativista. Mas não, somente relaciono as questões de ordem temática para alguma solução, algum debate. Não faz parte do meu tema de estudos e nem mesmo da minha atual atuação profissional estudar o caos do trânsito paulistano, mas é um tema muito interessante. È de se entender que no “país dos petralhas” as pessoas devam ter uma opinião para tudo e a “solução final”. Afinal, as “cartilhas” negam a existência da pluralidade das idéias.

Eu ironicamente perguntaria ao comentarista se já leu Jane Jacobs. Se Kevin Lynch tem a solução. Se Aldo Rossi mostraria algum caminho. Se desde os anos 1960 já se estudava a problemática destes temas relacionados e não se tem soluções completas, é de se esperar que a contribuição seja complicada mesmo. Há ainda de lembrar o pequeno livro de Jaime Lerner – Acupunturas Urbanas – cujo “efeito Orloff” pode ser encarado de maneira mais aberta. Para melhor dizer, o trânsito de Curitiba de amanhã pode ou não pode ser o de São Paulo hoje? A reflexão sobre este pequeno texto de editorial do newsletter do Instituto de Engenharia pode ser muito mais amplo que uma simples crítica a governos anteriores.

Sejamos mais claros ainda. Paulo Maluf quando prefeito biônico de São Paulo inaugurou o metrô, projetado por seu antecessor Faria Lima. Somente com Gilberto Kassab tivemos outra vez investimento da prefeitura de São Paulo nas obras do metrô. Em trinta anos o metrô não cresceu o que se esperava e mais ainda teve enormes dificuldades de implantação dentro do tecido urbano. A linha 4, linha amarela do metrô, mostrou muitas destas dificuldades invisíveis aos olhos de leigos repetidores de slogans “pseudo-revolucionários” com poucos miolos derretidos por doses elevadas de poluidores mentais. Vou somente levantar uma delas: os trens de metrô são projetados para subirem inclinações na base de 4% a 5%. Qual é a inclinação existente no tecido da cidade entre a Estação da Luz (quase às margens do Rio Tietê, afastado na borda da antiga área de várzea do referido rio) e a Avenida Paulista, mais especificamente a Estação Consolação do metrô (no Espigão da Paulista, um dos pontos de mais elevada cota de São Paulo, não à toa o bairro se chama Bela Vista...)? É muito simples pensar em “planta”, como num guia de ruas. Mas a realidade da topografia é outra.
Ser leigo não é problema algum a nenhum tipo de sociedade. O problema são os “palpíteres”. Para palpitar sobre a linha 4 amarela eu tive ao menos contato em mais de algumas vezes com todos os projetos, inclusive aqueles além da Vila Sônia. No fundo meu interesse mesmo estava na linha 5 lilás... Fazer o que, como Umberto Eco já afirmou (não exatamente com estas palavras), todo estudo pode servir a alguma coisa, mesmo que você ainda não saiba para quê.

junho 03, 2008

Expedições pelo Mundo da Cultura 2008


Textos e mais textos...

Não sou adepto de publicar textos inteiros de outros autores, mas certos detalhes são bastante importantes (para mim). O interessante que não busco colocar um texto para simples discussão. Isso me irrita um bocado no blog do Ricardo Noblat. E bem por isso prefiro o blog do Reinaldo Azevedo. Fora o aspecto político, o que me faz ler os dois blogs está no fato de falarem além da política, com assuntos como arquitetura, música, literatura e o já famoso poema da noite, que Noblat sempre seleciona. Reinaldo Azevedo publicou “Contra o Consenso”, que utilizo muito como referencia em assuntos literários, principalmente as fontes que cita. Um bom agrupado de textos publicados nas páginas de Bravo! e Primeira Leitura. Espero meio ansioso o lançamento de “O país dos Petralhas”.

Não me sinto ainda um “blogueiro”, no sentido mais amplo. Mas sim um curioso dos assuntos culturais. Está bom, por enquanto. O futuro é ser mesmo um escritor, crítico, entusiasta e o que for possível pela cultura.

Outro dia falava sobre Viktor Frankel. O mais interessante que conheci a obra de Frankl por meio de um texto de Olavo de Carvalho, publicado nas páginas de Primeira Leitura, não faz muito tempo. E mais que isso, foi a leitura programada de um dos seus livros (“Em busca de Sentido”) no programa “Expedições pelo Mundo da Cultura”. Engraçado é achar que estes estudiosos são considerados somente críticos da política brasileira. Um debate bastante aquém daquilo que já existiu um dia (no Brasil). Aliás, quando escrevo assim é para um público interessado nesses assuntos. Sou um pouco chato a esse respeito. No geral começo a não mais falar sobre assuntos importantes (importantes de uma forma geral por tratar da alta cultura) quando a cultura das pessoas chega próxima a um vaso de porcelana.

Bem vindos à terra do nunca

Bem vindos à terra do nunca

Editorial da revista Engenharia (n. 587 / maio 2008)

Nada mais perfeito para descrever o Brasil de hoje que o mundo criado por J.M. Barry e imortalizado por Walt Disney. Em nossa triste adaptação, autoridades, parlamentares, promotores, magistrados e até jornalistas comportam-se como verdadeiros Peter Pans, fugindo do amadurecimento e do comportamento responsável. Para viver na terra do faça-o-que-quiser.
Não bastando a total incapacidade de realizar qualquer investimento em infra-estrutura, desperdiçando preciosas oportunidades de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, de oferecer condições estruturais favoráveis às empresas e da otimização dos recursos públicos, nossos governos passaram a desmontar sistematicamente o pouco que funcionava. Esse sucateamento das estruturas técnicas de autarquias, estatais, secretarias e ministérios, fruto da idiocracia sindicalista, tem produzido além de acidentes, decisões desastradas de investimentos e planejamento, bem como a paralisação dos investimentos públicos e privados no Brasil. Na terra do nunca tupiniquim, o papel do Capitão Gancho foi reservado aos “adultos” de plantão: militares, engenheiros, empresários e todos aqueles que procuram por os argumentos técnicos acima da emoção, tomando a responsabilidade de criticar e impedir as sandices com o patrimônio público.

Hoje, reservas indígenas são demarcadas para reparar erros de 400 anos herdados de uma cultura de colonização ultrapassada; cotas raciais tentam atenuar o abandono da educação pública; barragens são projetadas de acordo com o ciclo reprodutivo dos peixes, desconsiderando-se tanto o potencial quanto as necessidades energéticas da região; privatizações são anunciadas com dinheiro público, e participação majoritária de estatais; investimentos em transportes e trânsito privilegiam automóveis e motoristas irresponsáveis.
O governo brasileiro desenvolveu duas competências únicas, enquanto abandonava tudo que construiu no milagre de 70. Criar e arrecadar impostos e distribuir dinheiro por meio de cartões eletrônicos à população desprovida de serviços públicos. Como até Peter Pan sugeriria, pague-se uma mesada e tudo estará bem. Apesar das declarações ufanistas dos palanques, das promessas de campanha, das teorias conspiratórias sobre aqueles que discordam do otimismo eleitoral, os problemas estão chegando.
O famoso PAC já dá sinais de ser mais uma campanha de marketing bem sucedida do que um programa responsável, bem planejado e exeqüível. Seu formato, concentrando a responsabilidade do projeto nos municípios, fortalecendo o partido do governo para as próximas eleições, falhou ao encontrar governos e prefeituras despreparadas, desestruturadas e sem pessoal. A prevenção do apagão elétrico está agora nas mãos dos pajés, pois os engenheiros não conseguiram fazer valer seus argumentos técnicos e a única esperança que nos resta é o excesso de chuva.
Enfim, enquanto o mérito acadêmico é desprezado pelo político, fica claro que o plano atual de vôo do Brasil depende muito mais de pós mágicos e bons pensamentos do que uma iniciativa séria e tecnicamente competente. Algo muito próximo à bizarra aventura aérea do padre Adelir de Carli.

Os três textos

Já que continuo aguardando o Renzo Piano da postagem anterior – comprar a Black Friday é isso: o melhor preço, porém, não chega nunca – aca...