Começo contando uma velha piada, cheia de pormenores ideológicos e carregada de um sentimento que a cada dia vejo se esvaziar das mentes pensantes:
“Os engenheiros americanos da NASA desenvolveram uma caneta que possa escrever mesmo sem a força da gravidade. Uma caneta que pode funcionar na lua. Uma perfeição, uma esferográfica que independente da pressão atmosférica terrestre escreve. Já os cientistas do programa espacial russo adicionaram aos materiais de seus vôos um lápis...”
Essa história serve para ao mesmo tempo apresentar duas questões que passam dia sim, dia não, no meu cotidiano: certo nacionalismo bocó e a valorização de tecnologias inúteis.
Certa vez estava com um primo e este me disse que enquanto o celular dele funcionar ele estará a utilizá-lo. “Para quê celular com câmera, com música, com e-mail ou televisão? O importante é que se consiga ligar para as pessoas.” Por sinal há muito de verdade em seu pensamento. As tecnologias usadas de forma vulgar nada mais são do que meros brinquedos para adultos. Assim como muitas formas outras de tecnologia, simplesmente servem como passatempo e diversão sem praticamente nada adicionar a vida cotidiana. Hoje fico feliz com meu BlackBerry, onde posso ver e mandar e-mail praticamente o dia todo de qualquer lugar. Logicamente se este serviço me custasse muito caro eu o dispensaria. É mais uma questão de mercado do que de tecnologia. Diga-se de passagem, que desfazer esta associação entre mercado e tecnologia é condição para a “demência das ambições tecnológicas”.
Começando com a questão da caneta que escreve na lua, ela realmente existe. E hoje é algo até normal. São aquelas canetas com um refil de aço, normalmente da Parker ou outras cujo refil é um tubo vedado sob pressão. Claramente o lápis resolveria o problema, mas a caneta é de uma precisão incrível e hoje além de um sinal de tecnologia é um sinal de status. Essa questão do status ainda move muitas das relações humanas e é algo que move de certa forma a industria e assim o financiamento de novas tecnologias que podem ter utilidades muito mais amplas, entre elas, uma da moda, é o GPS. A principal questão da tecnologia é que ela sempre trás algo novo, que pode melhora a vida e uma desvantagem, muitas vezes imperceptível. No caso do GPS parece óbvio o benefício: encontrar as ruas e não se perder mais. A desvantagem, nesse caso, é moral. Com o GPS você pode ser rastreado, monitorado assim como a ficção mais absurda de George Orwell (não necessariamente, claro...).
A outra questão apresentada de forma ideológica na piadinha é a de tratar sempre de bobos os americanos, para valorizar as idéias soviéticas, aquela idéia marxista, predominante durante a Guerra Fria. Por sinal, bastante influente até mesmo no Brasil de hoje... Esse pseudo-nacionalismo demonstrado por meio de um antiamericanismo é de uma estupidez voraz. Certo que ainda existe um grande número de pessoas que ainda resistem em pensar como colonizado, simplesmente colocando o mundo sob duas visões: uma européia e outra americana. Como se fosse possível esquecer o oriente, ou mesmo a questão do Oriente Médio. E mesmo essa visão já naufraga levando em conta a diversidade cultural dos povos europeus... Ou seja, as duas questões que parecem desconexas – a tecnologia e o nacionalismo bocó – tem uma enorme conexão, principalmente ao se falar que hoje as tecnologias não são mais monopólio de americanos, ingleses ou alemães, mas também disputam os mercados os japoneses e mais recentemente os chineses e indianos. E hoje se falar em nacionalismo em termos tecnológicos é como se falar em parar de comer hambúrguer e tomar coca-cola por ser “coisa de americano”.
Mas ainda ao se falar de tecnologia existem certas questões cuja tecnologia ainda é a mesma de muitos séculos atrás. Principalmente ao se cogitar o conceito de sustentabilidade, como na construção civil, onde hoje há a valorização de materiais naturais, como as pedras e as madeiras, por sua menor agressão ao meio ambiente. Mas pedras e madeiras nada mais são que os materiais utilizados à séculos nas construções... Como numa letra do primeiro disco dos Engenheiros do Hawaii (achou que eu não citaria nada deles, sempre surpreendo em encontrar nas letras do Humberto alguma pertinência...) “Você/ que tem idéias tão modernas / é o mesmo homem / que vivia nas cavernas (...)” (Crônica – 1986), como também não podemos esquecer que nem toda a tecnologia pode substituir a presença humana. De que adianta um edifício finamente projetado na mais alta precisão tecnológica se ainda hoje muito do trabalho é feito de forma artesanal? Sabe-se que a industrialização teve suas fases, como as descritas nos trabalho de CIRIBINI, dos anos 1960, assim como a tecnologia, hoje são indiscutíveis seus benefícios na vida atual. Mas dizer que hoje se vive muito melhor que em séculos passados não é de jeito nenhum dizer que se evoluiu. Simplesmente há descobertas que se traduziram em conforto, o que só vai ser avaliado nos próximos séculos, onde alarmistas como Al Gore e outros serão lembrados (se forem lembrados) como mais alguns malucos que se recusavam a aceitar a lógica de que “não há ganho sem dor” (esta frase data de uma palestra que assisti em 1993, do inglês No pain, no gain). E a cada vez que entro nessa questão tenho em mente o que certa vez Zeca Camargo comentou sobre qual a diferença entre nascer aqui no Brasil ou num lugar como aqueles que visitou em suas duas voltas ao mundo. São estas pequenas sementes que me fazem pensar que ainda existe algo por entender além desses clichês todos, e que há vida sem essa parafernália tecnológica que parece aprisionar as pessoas, ou fazer delas pessoas como Mersault, de O Estrangeiro de Albert Camus.
“Os engenheiros americanos da NASA desenvolveram uma caneta que possa escrever mesmo sem a força da gravidade. Uma caneta que pode funcionar na lua. Uma perfeição, uma esferográfica que independente da pressão atmosférica terrestre escreve. Já os cientistas do programa espacial russo adicionaram aos materiais de seus vôos um lápis...”
Essa história serve para ao mesmo tempo apresentar duas questões que passam dia sim, dia não, no meu cotidiano: certo nacionalismo bocó e a valorização de tecnologias inúteis.
Certa vez estava com um primo e este me disse que enquanto o celular dele funcionar ele estará a utilizá-lo. “Para quê celular com câmera, com música, com e-mail ou televisão? O importante é que se consiga ligar para as pessoas.” Por sinal há muito de verdade em seu pensamento. As tecnologias usadas de forma vulgar nada mais são do que meros brinquedos para adultos. Assim como muitas formas outras de tecnologia, simplesmente servem como passatempo e diversão sem praticamente nada adicionar a vida cotidiana. Hoje fico feliz com meu BlackBerry, onde posso ver e mandar e-mail praticamente o dia todo de qualquer lugar. Logicamente se este serviço me custasse muito caro eu o dispensaria. É mais uma questão de mercado do que de tecnologia. Diga-se de passagem, que desfazer esta associação entre mercado e tecnologia é condição para a “demência das ambições tecnológicas”.
Começando com a questão da caneta que escreve na lua, ela realmente existe. E hoje é algo até normal. São aquelas canetas com um refil de aço, normalmente da Parker ou outras cujo refil é um tubo vedado sob pressão. Claramente o lápis resolveria o problema, mas a caneta é de uma precisão incrível e hoje além de um sinal de tecnologia é um sinal de status. Essa questão do status ainda move muitas das relações humanas e é algo que move de certa forma a industria e assim o financiamento de novas tecnologias que podem ter utilidades muito mais amplas, entre elas, uma da moda, é o GPS. A principal questão da tecnologia é que ela sempre trás algo novo, que pode melhora a vida e uma desvantagem, muitas vezes imperceptível. No caso do GPS parece óbvio o benefício: encontrar as ruas e não se perder mais. A desvantagem, nesse caso, é moral. Com o GPS você pode ser rastreado, monitorado assim como a ficção mais absurda de George Orwell (não necessariamente, claro...).
A outra questão apresentada de forma ideológica na piadinha é a de tratar sempre de bobos os americanos, para valorizar as idéias soviéticas, aquela idéia marxista, predominante durante a Guerra Fria. Por sinal, bastante influente até mesmo no Brasil de hoje... Esse pseudo-nacionalismo demonstrado por meio de um antiamericanismo é de uma estupidez voraz. Certo que ainda existe um grande número de pessoas que ainda resistem em pensar como colonizado, simplesmente colocando o mundo sob duas visões: uma européia e outra americana. Como se fosse possível esquecer o oriente, ou mesmo a questão do Oriente Médio. E mesmo essa visão já naufraga levando em conta a diversidade cultural dos povos europeus... Ou seja, as duas questões que parecem desconexas – a tecnologia e o nacionalismo bocó – tem uma enorme conexão, principalmente ao se falar que hoje as tecnologias não são mais monopólio de americanos, ingleses ou alemães, mas também disputam os mercados os japoneses e mais recentemente os chineses e indianos. E hoje se falar em nacionalismo em termos tecnológicos é como se falar em parar de comer hambúrguer e tomar coca-cola por ser “coisa de americano”.
Mas ainda ao se falar de tecnologia existem certas questões cuja tecnologia ainda é a mesma de muitos séculos atrás. Principalmente ao se cogitar o conceito de sustentabilidade, como na construção civil, onde hoje há a valorização de materiais naturais, como as pedras e as madeiras, por sua menor agressão ao meio ambiente. Mas pedras e madeiras nada mais são que os materiais utilizados à séculos nas construções... Como numa letra do primeiro disco dos Engenheiros do Hawaii (achou que eu não citaria nada deles, sempre surpreendo em encontrar nas letras do Humberto alguma pertinência...) “Você/ que tem idéias tão modernas / é o mesmo homem / que vivia nas cavernas (...)” (Crônica – 1986), como também não podemos esquecer que nem toda a tecnologia pode substituir a presença humana. De que adianta um edifício finamente projetado na mais alta precisão tecnológica se ainda hoje muito do trabalho é feito de forma artesanal? Sabe-se que a industrialização teve suas fases, como as descritas nos trabalho de CIRIBINI, dos anos 1960, assim como a tecnologia, hoje são indiscutíveis seus benefícios na vida atual. Mas dizer que hoje se vive muito melhor que em séculos passados não é de jeito nenhum dizer que se evoluiu. Simplesmente há descobertas que se traduziram em conforto, o que só vai ser avaliado nos próximos séculos, onde alarmistas como Al Gore e outros serão lembrados (se forem lembrados) como mais alguns malucos que se recusavam a aceitar a lógica de que “não há ganho sem dor” (esta frase data de uma palestra que assisti em 1993, do inglês No pain, no gain). E a cada vez que entro nessa questão tenho em mente o que certa vez Zeca Camargo comentou sobre qual a diferença entre nascer aqui no Brasil ou num lugar como aqueles que visitou em suas duas voltas ao mundo. São estas pequenas sementes que me fazem pensar que ainda existe algo por entender além desses clichês todos, e que há vida sem essa parafernália tecnológica que parece aprisionar as pessoas, ou fazer delas pessoas como Mersault, de O Estrangeiro de Albert Camus.
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