setembro 10, 2008

Música do seu tempo...

Acho que nunca manifestei tal indignação a respeito da idéia do “homem o seu tempo”, ou “a frente do seu tempo”. Uma coisa é certa: algo que passa pelo tempo e consegue dialogar com outros tempos e com outros interlocutores é algo que merece ser lembrado e relembrado.

Uma idéia de música de nosso tempo é tão vazia que me deixa até aflito por não conseguir identificar o que se quer dizer com isso. A sensação de flash back é interessante, músicas dos anos 50, 60, 70, 80, 90, etc. Mas isso não significa que você tenha que ter gostado das ditas cujas na época em que eram tocadas (e nem muito menos gostar delas muito tempo depois).

Escrevo isso pensando nas músicas que agora já passam de dez anos, e eram trilhas do período de faculdade, porém mal sei eu quem as cantava. Lembro-me de pouca coisa, mas o que me chamou atenção foi a inclusão de uma música daquele período no segundo disco da cantora Maria Rita. Eu escutei, tentava lembrar e não menos que repentinamente lembrei do que se tratava. Estava ali o meu exemplo de “música do seu tempo”. Eu não escutava aquela banda que ela pode ter tido até influencia. Fico a pensar se me faltou “aquele” pedaço de tempo; se não o vivi ou o observei com o devido cuidado. Mas não; continuo a pensar da mesma forma como naquele tempo: música de protesto, sem fundo musical, sem estrutura; o que valem são as letras, ou melhor, o que as letras querem dizer; o despertar das consciências.

Mas para que se queria despertar? Volto aqui ao discurso furado das conscientizações de manada. Nessa hora penso no Zé Ramalho, me permitindo dizer que não gosto dele e nem de sua música, mas que ele sabe do que está falando sabe:

“Vocês que fazem parte dessa massa,
Que passa nos projetos, do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar, muito mais do que receber
E ter que demonstrar, sua coragem
A margem do que possa aparecer.
E ver que toda essa, engrenagem
Já sente a ferrugem, de comer.
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz (...)”


Admirável Gado Novo (1997) – Zé Ramalho

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