Um carro: Chevrolet Kadett, ano 1996. Completamente original e em fase de restauro. Faltavam os estofamentos, alguns itens de parte elétrica e alguns detalhes de puxadores. A lataria brilhava do polimento. Estava em perfeito estado e mostrando os defeitos constatados por donos de Kadett, tais como problemas com a bomba de combustível, as travessas dos bancos entre outros. Um motor de 1.8 l e uma potência de motor de mais de 100 CV, a álcool, era um carro e tanto, ainda mais levando em conta que estava com a família desde sempre. Único dono.
Foram treze anos com o carro que desapareceu na porta do hospital Beneficência Portuguesa na noite de sábado. A sensação estranha de passar no local onde havia estacionado pelo menos mais umas cinco vezes e não entendendo o que havia acontecido. Afinal, tinha estacionado ali fazia pouco mais de uma hora. Parar na “via pública” é uma condição aparentemente normal em qualquer cidade do mundo. Parava na rua sempre, durante os anos de faculdade, ao redor do Mackenzie. Sempre parei na rua durante as aulas na pós-graduação, também em volta do Mackenzie, já que o curso de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo fica a cerca de 100 metros do Mackenzie. Também estacionava na “via pública” (assim que é identificado no boletim de ocorrência da Polícia Civil) nos meus trabalhos, tanto no Itaim Bibi, quanto na Vila Olímpia. Não tinha toca-cds, não tinha nada que fosse interessante para um ladrãozinho a não ser o próprio carro.
Não achava que o carro fosse um “objeto de desejo” dos ladrões de automóveis. Se o é, é por causa das peças de reposição e do comercio “espertalhão” das peças usadas. Mais uma mostra de subdesenvolvimento brasileiro. Subdesenvolvimento também cultural, não apenas econômico. Ter uma “caranga” velha para trabalhar e mesmo assim o carro sumir é o fim da picada. Certo que o carro estava bonito, mas era velho e estava com vários defeitinhos. Sei que isso acontece o tempo todo, o que é pior ainda. E esse meu desabafo é mais uma vez uma história que será somada a outras tantas e nada vai mudar.
Como dizia o Humberto em 1987, “nossos sonhos são os mesmos/ há muito tempo/ mas não há mais muito tempo pra sonhar” e não adianta nada falar sobre por que não parou no estacionamento. Por que não fui embora antes. Por que e mais porquês. E lembrar de um amigo que perdeu o carro, sem seguro, por conta de dez minutos entre sua descida do carro e volta ao lugar onde havia estacionado. Teriam os mesmo porquês? São cousas dadas pelo Fortuna, como diriam o gregos antigos (ou seriam os romanos?). Claro que sempre trabalhei nos limites, de sempre estacionar na rua. Talvez um pouco mais de investimento em cuidado, eu não tivesse que passar por este transtorno.
Por fim o que mais incomoda são os pneus Michelin de pouco mais de seis meses, o que me arrependo agora de não ter “ralado” mais, os fazendo cantar com graça (coisa que donos de Kadett sabem ser comum em saídas um pouco mais bruscas). Era uma parte da história da minha vida de motorista aquele carrinho, que agora deve estar sendo despedaçado em algum ferro-velho. Os sentimentos se vão; ficam as histórias. E como no final de “E o Vento Levou”, amanhã será um novo dia.
Foram treze anos com o carro que desapareceu na porta do hospital Beneficência Portuguesa na noite de sábado. A sensação estranha de passar no local onde havia estacionado pelo menos mais umas cinco vezes e não entendendo o que havia acontecido. Afinal, tinha estacionado ali fazia pouco mais de uma hora. Parar na “via pública” é uma condição aparentemente normal em qualquer cidade do mundo. Parava na rua sempre, durante os anos de faculdade, ao redor do Mackenzie. Sempre parei na rua durante as aulas na pós-graduação, também em volta do Mackenzie, já que o curso de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo fica a cerca de 100 metros do Mackenzie. Também estacionava na “via pública” (assim que é identificado no boletim de ocorrência da Polícia Civil) nos meus trabalhos, tanto no Itaim Bibi, quanto na Vila Olímpia. Não tinha toca-cds, não tinha nada que fosse interessante para um ladrãozinho a não ser o próprio carro.
Não achava que o carro fosse um “objeto de desejo” dos ladrões de automóveis. Se o é, é por causa das peças de reposição e do comercio “espertalhão” das peças usadas. Mais uma mostra de subdesenvolvimento brasileiro. Subdesenvolvimento também cultural, não apenas econômico. Ter uma “caranga” velha para trabalhar e mesmo assim o carro sumir é o fim da picada. Certo que o carro estava bonito, mas era velho e estava com vários defeitinhos. Sei que isso acontece o tempo todo, o que é pior ainda. E esse meu desabafo é mais uma vez uma história que será somada a outras tantas e nada vai mudar.
Como dizia o Humberto em 1987, “nossos sonhos são os mesmos/ há muito tempo/ mas não há mais muito tempo pra sonhar” e não adianta nada falar sobre por que não parou no estacionamento. Por que não fui embora antes. Por que e mais porquês. E lembrar de um amigo que perdeu o carro, sem seguro, por conta de dez minutos entre sua descida do carro e volta ao lugar onde havia estacionado. Teriam os mesmo porquês? São cousas dadas pelo Fortuna, como diriam o gregos antigos (ou seriam os romanos?). Claro que sempre trabalhei nos limites, de sempre estacionar na rua. Talvez um pouco mais de investimento em cuidado, eu não tivesse que passar por este transtorno.
Por fim o que mais incomoda são os pneus Michelin de pouco mais de seis meses, o que me arrependo agora de não ter “ralado” mais, os fazendo cantar com graça (coisa que donos de Kadett sabem ser comum em saídas um pouco mais bruscas). Era uma parte da história da minha vida de motorista aquele carrinho, que agora deve estar sendo despedaçado em algum ferro-velho. Os sentimentos se vão; ficam as histórias. E como no final de “E o Vento Levou”, amanhã será um novo dia.